
Programa - Comunicação Oral Curta - COC4.1 - Aspectos Teórico-Conceituais e Metodológicos da Saúde Coletiva
01 DE DEZEMBRO | SEGUNDA-FEIRA
08:30 - 10:00
08:30 - 10:00
ARTICULAÇÃO INTERSETORIAL E PESQUISA-AÇÃO NO COLABORATÓRIO POPRUA: DIAGNÓSTICO, FORMAÇÃO E CUIDADO PARA A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA
Comunicação Oral Curta
1 Fiocruz Brasília
2 FGV EAESP e Fiocruz Brasília
3 Fiocruz Brasília/ NUPOP
Período de Realização
As atividades do projeto foram realizadas integralmente entre janeiro e dezembro de 2024.
Objeto da experiência
Este relato tem como foco a experiência de pesquisa-ação realizada de forma interdisciplinar no Colaboratório Nacional PopRua - Fiocruz Brasília.
Objetivos
A reflexão visa discutir de quais formas a pesquisa-ação realizada pelo Colaboratório Nacional PopRua constrói novas perspectivas de cuidado para as pessoas em situação de rua a partir das interações com o grupo, ofertando apoio institucional e teórico para a atuação dos serviços.
Descrição da experiência
O Colaboratório Nacional PopRua reúne técnicos, pesquisadores e movimentos sociais para fortalecer políticas para a população em situação de rua. Enquanto os polos descentralizados e a escola mapeiam demandas e experiências locais, o grupo de pesquisa sistematiza e analisa os dados, promovendo formações, diagnósticos e ações integradas e interdisciplinares com foco em diversidade e troca de saberes. Essa articulação busca qualificar serviços e oferecer diagnósticos construídos de forma dialogada.
Resultados
A estrutura descentralizada do processo de trabalho, a partir da atuação de diferentes atores em campo em interface com os movimentos sociais, possibilitou ao grupo de pesquisa fornecer uma análise integral e intersetorial. Foram consideradas diferentes realidades, saberes e práticas em saúde da população em situação de rua presentes em cada território, resultando em um olhar transversal para temas como redução de danos, participação social, habitação, zeladoria urbana e intersetorialidade.
Aprendizado e análise crítica
O Colaboratório Nacional Pop Rua demonstra a potência de um projeto socialmente implicado, em que a metodologia de pesquisa-ação vai além do diagnóstico, buscando promover transformações sociais. A iniciativa não se restringe à identificação de problemas, mas promove a construção colaborativa de conhecimento conjugada com propostas de intervenção na realidade local. Contudo, a amplitude do projeto e o volume de dados desafiam o diálogo frequente com o território e o processo de devolutiva em campo.
Conclusões e/ou Recomendações
A pesquisa-ação, no Colaboratório Nacional Pop Rua, constitui-se em estratégia de construção de saberes pautados na atuação territorializada. Esse formato propõe uma abordagem co-construída com diferentes atores, em uma perspectiva integral e intersetorial da saúde, observando-a em interação com outras dimensões de acesso a direitos e propõe uma perspectiva de pesquisa engajada, orientando iniciativas de transformação das realidades locais.
DISCUTINDO A RELAÇÃO DE ORIENTAÇÃO ACADÊMICA EM CAMPOS DE CIÊNCIAS SOCIAIS E SAÚDE: CONSTRUÇÃO PROCESSUAL DE CAMPO, INSTRUMENTOS DE PESQUISA E "INSIGHTS" ANALÍTICOS
Comunicação Oral Curta
1 IFF/Fiocruz
2 ISC/UFF
3 Fiocruz e UFF
4 UFF
Apresentação/Introdução
A relação de orientação é importante para a construção do conhecimento científico, mas é pouco estudada. Compreendê-la permite abordar variados aspectos da pesquisa e da formação em campos de ciências sociais e saúde; envolve trazer para a discussão aspectos geracionais, políticos, teóricos, epistemológicos sobre a construção dos saberes e sua transmissão a partir das gerações.
Objetivos
Discutir a construção processual do campo e instrumentos a partir dos marcadores de gênero, geração, cor/raça e classe social, em 3 etapas: 1) a díade orientador/a/e-orientando/a/e, 2) apoio institucional aos discentes; 3) circuitos não acadêmicos.
Metodologia
Na etapa 1, o trabalho de campo concentra-se em entrevistas semiestruturadas, com discentes, egressos e docentes nas 5 regiões brasileiras. Os roteiros foram revisados a partir das primeiras interações. Trata-se de uma pesquisa que tem também caráter formativo: às pesquisadoras cabem a condução da entrevista, com participação discente. Cabe à/ao estudante treinar a observação participante, prestando sobretudo atenção aos não ditos. Cabe à dupla de pesquisa realizar anotações em diário de campo para posterior reflexão do grupo de pesquisa. O exercício de interpretação é feito processualmente, individual/ coletivamente, a partir de referenciais teóricos e da revisão processual de literatura.
Resultados
Os dados apontam que as relações de orientação são múltiplas e não seguem padrões de suas instituições. As histórias são singulares, mas sobressaem-se referências à parceria, transmissão de conhecimentos, hierarquia, poder, limite, cuidado, saúde mental etc. A categoria de geração tem sido útil para pensar diferenças de expectativas entre discentes e docentes. A categoria gênero tem apontado para construção desigual de sentimentos como “medo” e “vergonha” na construção do itinerário formativo de moças e rapazes, acentuando-se tais emoções quando a dupla é “orientanda-orientador”. A categoria raça mostra que discentes negras/os ressentem-se da ausência de docentes/orientadores/as negros/as.
Conclusões/Considerações
A relação de orientação é uma relação social de parceria, não igualitária, com expectativas (por vezes não cumpridas) de ambas as partes. Emoções constituem tal relação que se apresenta institucionalmente como objetiva, por vezes sendo necessários ajustes/diálogos para equacioná-las. Tais "insights" analíticos contribuem para o amadurecimento do roteiro e realização novas entrevistas, bem como para as próximas etapas da pesquisa.
EFEITIÇAR A LÍNGUA, RASGAR O MÉTODO: PRÁTICAS DE ESCRITA IMPLICADA EM SAÚDE COLETIVA
Comunicação Oral Curta
1 UNIFESP
Apresentação/Introdução
A pesquisa qualitativa ainda enfrenta desafios para acolher experiências subjetivas e saberes minoritários. Escrita cartográfica, literatura menor e o gesto de efeitiçar a língua, como propõe Nêgo Bispo, são aqui mobilizados como ética da escuta e do encontro, tensionando a linguagem acadêmica e o modo hegemônico de produzir conhecimento em saúde coletiva.
Objetivos
Investigar como a escrita cartográfica e a literatura menor podem operar como dispositivos de pesquisa e análise implicada em saúde coletiva, acolhendo o sensível, o coletivo, os atravessamentos de poder e os saberes localizados.
Metodologia
O trabalho se baseia em cadernos de campo — chamados de cesta-caderno — com registros de encontros com o Movimento Estadual de População de Rua do Recife, indivíduos e coletividades nas ruas e instituições da cidade. A literatura menor é acionada como dispositivo que subverte a linguagem dominante e abre espaço para enunciações marginais. Em articulação com a cartografia sentimental e o gesto de efeitiçar a língua, constrói-se um modo de pesquisa implicado, atravessado por afetos, rasuras e modos de existência que desestabilizam as formas tradicionais de produção científica.
Resultados
A escrita emergida nos encontros constituiu-se como rastro sensível das relações, produzindo deslocamentos tanto no campo quanto na própria pesquisadora. Os textos elaborados na cesta-caderno não buscaram representar o vivido, mas reinscrevê-lo como dobra, hesitação e gesto. A literatura menor, articulada ao feitiço da língua e à cartografia sentimental, possibilitou o surgimento de narrativas movidas por afetos e resistências, que escapam ao registro institucionalizado e compõem saberes situados. O processo revelou a potência de uma pesquisa que se escreve com os encontros, rasurando dicotomias entre sujeito e campo, entre escrita e escuta, entre análise e vida.
Conclusões/Considerações
Ao mobilizar a escrita como método, a pesquisa propõe uma prática de escuta que acolhe o inacabado, o sensível e o coletivo. Literatura menor, cartografia sentimental e o enfeitiçar da língua, mostram que conhecer também é se deixar atravessar. A pesquisa, assim, se faz rastro e composição coletiva, insurgindo contra os modos hegemônicos de produzir e narrar o saber em saúde coletiva.
EXPERIÊNCIA DO OBSERVATÓRIO DE SAÚDE URBANA DE BELO HORIZONTE NO USO DE MÉTODOS MISTOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL PARA AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E EVENTOS EM SAÚDE
Comunicação Oral Curta
1 OSUBH/UFMG
2 OSUBH/UFMT
Período de Realização
2002 até a atualidade, com atividades contínuas de pesquisa, monitoramento e avaliação em saúde urbana.
Objeto da experiência
Uso de métodos mistos (quantitativo e qualitativo) com participação social e de gestores para avaliar políticas e eventos em saúde urbana em Belo Horizonte.
Objetivos
Relatar a experiência do Observatório de Saúde Urbana de Belo Horizonte (OSUBH) no uso de métodos mistos para avaliar políticas públicas em saúde urbana, com envolvimento da comunidade e gestores na construção de evidências que subsidiem decisões para promoção da saúde.
Descrição da experiência
OSUBH surgiu em parceria da Secretaria Municipal de Saúde e UFMG. Desenvolve estudos que combinam dados quantitativos, métodos qualitativos e participativos. Destacam projetos municipais com olhar interurbano (BH Viva e MapIO-BH) e internacionais (GDAR, Change Stories e SALURBAL), que adotam abordagens metodológicas específicas como modelagem da dinâmica de sistemas baseada na comunidade, as quais fortalecem a construção de evidências e a adaptação das políticas às necessidades locais.
Resultados
O uso de métodos mistos permite captar um pouco mais a complexidade da saúde urbana, integrando análises estatísticas robustas e percepções sociais. A participação social e a articulação com gestores aumentaram a legitimidade e efetividade das avaliações e a possibilidade de repensar políticas públicas. Pela inovação e destaques na pesquisa em saúde urbana o grupo foi recentemente escolhido como estudo de caso da OMS.
Aprendizado e análise crítica
A combinação de métodos quantitativos, participativos e qualitativos, aliada ao fomento da participação social e governamental, é fundamental para entender as dinâmicas urbanas e seus efeitos na saúde. O OSUBH reconheceu a importância do diálogo constante e da flexibilidade metodológica para lidar com heterogeneidades territoriais e complexidades urbanas. O retorno das informações às comunidades e gestores reforça o engajamento e apropriação dos resultados.
Conclusões e/ou Recomendações
A experiência do OSUBH evidencia que métodos mistos integrados à participação social e envolvimento gestor são eficazes para avaliar e qualificar políticas e eventos em saúde urbana. Recomenda-se fortalecer essa abordagem em outros contextos, priorizando dados desagregados e diálogo intersetorial para enfrentar desigualdades locais. A institucionalização dessas parcerias é vital para garantir continuidade, autonomia e impacto das avaliações e intervenções.
FORMAR PARA TRANSFORMAR: ENSINO DA APS COM METODOLOGIAS ATIVAS SOB ENFOQUE DA DETERMINAÇÃO SOCIAL DA SAÚDE
Comunicação Oral Curta
1 FPP
Período de Realização
Agosto/2024 a julho/2025
Objeto da experiência
Ensino dos atributos da Atenção Primária à Saúde por metodologias ativas, com ênfase em determinação social
Objetivos
Promover a compreensão crítica dos atributos da APS através de metodologias ativas que articulem teoria e prática, valorizem a contextualização do cuidado e ampliem o olhar dos estudantes para a determinação social do processo saúde-doença.
Descrição da experiência
A unidade curricular traz conceitos teóricos inerentes à APS através de estudos de caso, roleplaying, design thinking e gallery walk. A partir da lógica do Arco de Maguarez e do Ciclo de Gibbs, os estudantes propõem soluções para problemas e situações reais do dia-a-dia da APS, construindo saberes contextualizados: organizam a agenda de uma UBS; realizam diagnósticos pontuais e longitudinais; constroem PTS à partir da compreensão de interdisciplinaridade; simulam um Conselho Municipal de Saúde.
Resultados
Os estudantes demonstraram engajamento e aprofundamento crítico nos debates, além de exemplar desempenho em avaliações formativas e somativas multimodais, especialmente nas práticas em campo, nos desenvolvimentos de Atividades de Integração Ensino-Comunidade e em seus portfólios reflexivos individuais. Foram capazes de articular vivências e teoria, com melhoria na habilidade de reconhecer determinantes sociais e nas propostas de cuidado integral e coordenado.
Aprendizado e análise crítica
A experiência evidenciou o potencial das metodologias ativas na formação crítica e comprometida com o SUS. No entanto, revelou também o desafio de alinhar as práticas docentes à lógica interdisciplinar e à complexidade da APS, demandando preparo docente e suporte institucional para continuidade e aprimoramento.
Conclusões e/ou Recomendações
O uso de metodologias ativas no ensino da APS favorece a formação de profissionais críticos e sensíveis à realidade social. Recomenda-se institucionalizar espaços de formação docente continuada, ampliar a articulação com os serviços de saúde e fortalecer a integração entre saberes acadêmicos e populares no processo formativo.
PERSPECTIVAS DECOLONIAIS NO FAZER CIENTÍFICO EM SAÚDE COLETIVA: IMPLICAÇÕES, PRÁTICAS E FUNDAMENTOS POLÍTICO-EPISTÊMICOS
Comunicação Oral Curta
1 UFMG
2 UW
3 MST
4 MLB
Apresentação/Introdução
A coprodução de conhecimento associada a discursos decoloniais vêm sendo mobilizada em pesquisas no campo da Saúde Coletiva como promessa de inclusão de grupos historicamente marginalizados. No entanto, ainda há pouca reflexão sobre essas abordagens na prática, o que pode levar ao esvaziamento de seus fundamentos político-epistêmicos e à sua mera enunciação retórica.
Objetivos
Examinar as implicações políticas, epistemológicas e práticas de adotar perspectivas decoloniais e coproduzir conhecimentos no campo da Saúde Coletiva, a partir de experiências do projeto Change Stories em Belo Horizonte, Belfast e Bogotá.
Metodologia
Trata-se de um estudo de base qualitativa e reflexiva, ancorado nas experiências produzidas pelo processo de pesquisa do Change Stories e pela inclusão no projeto de pesquisadores populares como membros efetivos. A análise partiu da observação crítica nesse processo, de oficinas formativas sobre decolonialidade com a equipe e o público externo, além de revisões bibliográficas. Foram analisadas práticas de gestão, composição das equipes, orçamento, autoria, circulação de resultados e os desafios éticos de colaboração com pesquisadores populares. A proposta se ancora na ética do desconforto, abordagens decoloniais latino-americanas e na recusa de abordagens tokenistas da participação.
Resultados
A experiência revelou cuidados e diferenças na incorporação de perspectivas decoloniais no fazer científico. A concessão de bolsas de longa duração a pesquisadores populares mostrou-se estratégica e coerente, evitando vínculos pontuais e posições subalternizadas. O envolvimento direto de representantes de movimentos sociais, agregando suas pautas coletivas e respeitando sua organização própria, diferenciou-se da atuação de pesquisadores “cidadãos” ou “comunitários” ligados ao terceiro setor ou à “comunidade”, por articular-se às demandas coletivas e ações estruturadas dos movimentos. As diferentes temporalidades entre os atores exigem negociações constantes.
Conclusões/Considerações
A coprodução decolonial exige mais que inclusão formal: demanda deslocamentos teórico-metodológicos e éticos. Reconhecer o desconforto como método é central para tensionar estruturas coloniais e construir alternativas transformadoras. Ao incorporar na pesquisa acadêmica o trabalho epistemológico de pesquisadores populares, o estudo aponta para pesquisas mais justas e implicadas, reconhecendo que não há uma receita única para a decolonialidade.
5 ANOS DE NUTRINET BRASIL: ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO PARA RECRUTAMENTO DE PARTICIPANTES
Comunicação Oral Curta
1 FMUSP
2 FSP-USP
Período de Realização
Relato de experiência realizado pela equipe de comunicação entre janeiro/2020 e dezembro/2024.
Objeto da experiência
Descrição das estratégias de comunicação da coorte NutriNet Brasil para recrutar participantes e descrever as fontes de recrutamento.
Objetivos
Relatar as estratégias de comunicação desenvolvidas pela equipe e descrever as fontes de recrutamento mencionadas pelos participantes em uma pergunta específica nos questionários da coorte online prospectiva NutriNet Brasil entre janeiro de 2020 e dezembro de 2024.
Descrição da experiência
O NutriNet Brasil foi lançado em 2020 com o desafio de recrutar 200 mil participantes voluntários. Por isso, a equipe de comunicação desenvolveu, durante a pandemia, ações de recrutamento no âmbito digital (e-mails, publicações/lives/campanhas com influenciadores nas redes sociais) e junto à imprensa divulgou o estudo e repercutiu resultados de dois artigos científicos. Entre 2022 e 2024, somaram-se a fixação de cartazes em UBS, contato com universidades e divulgação em aulas/palestras.
Resultados
Em 2020, destacaram-se os recrutamentos pela televisão (31,9% dos participantes que entraram no estudo) e redes sociais (23,5%). Em 2021 e 2023, as redes sociais (campanhas com influenciadores) foram as fontes de novos cadastros mais relevantes, representando 41,0% e 38,9%, respectivamente. Em 2022 e 2024, destacaram-se indicação de pessoas (27,3% e 28,7%) e redes sociais (26,7% e 30,8%). Aulas/palestras (8,5%) e cartaz/folheto (17,1%) ganharam peso a partir de 2022, com o atenuação da pandemia.
Aprendizado e análise crítica
As estratégias impactaram o número e perfil dos participantes recrutados. A televisão foi eficiente para disseminar o estudo pelas regiões do país. As redes sociais foram a estratégia contínua mais eficaz. As ações em televisão e redes sociais tiveram um custo baixo e retorno alto. Apesar do custo elevado, cartazes afixados em UBS ajudaram a diversificar a população. Recursos limitados inviabilizaram publicidade paga, relacionamento efetivo com figuras públicas e uso de assessoria de imprensa.
Conclusões e/ou Recomendações
Utilizar diferentes estratégias e canais de comunicação, que exigem planejamento e esforços operacionais, é recomendável para o recrutamento de participantes e o alcance de grupos potencialmente sub-representados em uma pesquisa sudestina online, como pessoas de escolaridade mais baixa e de regiões como Norte e Nordeste. Coortes de natureza similar devem reservar um orçamento específico para o desenvolvimento de ações de recrutamento efetivas.
CONCEITOS CRÍTICOS PARA UMA TRANSFORMAÇÃO DIGITAL DEMOCRÁTICA DO SUS
Comunicação Oral Curta
1 ISC/UFBA
2 FOUSP
Apresentação/Introdução
A Saúde Digital (SD) se configura como campo de transversalidades que mobiliza pesquisadores, gestores, profissionais e militantes para a consolidação de políticas públicas de saúde. Para a concretização da SD, com foco na transformação digital do SUS, devemos superar a tendência do “urgentismo reativo” que supõe resolver problemas estratégicos mediante soluções imediatas e inovações incrementais.
Objetivos
Delinear um marco teórico referencial para uma compreensão crítica da era digital e da sociedade informacional, identificando conceitos capazes de subsidiar planos, políticas, programas e estratégias visando à transformação digital democrática do SUS.
Metodologia
Pressuposto: uma base teórica sólida, formada por categorias consistentes e conceitos rigorosos, viabiliza a construção de políticas públicas para transformação profunda da realidade de saúde, com base em princípios ético-políticos e valores humanos. Para fundamentar o Programa SUS Digital, lançado em 2024, a SEIDIGI/MS revisou o conceito de SD, buscando maior rigor e precisão, a fim de superar a concepção instrumental e imediatista antes vigente. Para isso, foi realizada uma revisão sistemática de teorias da técnica e da tecnologia, com foco na contribuição do pensamento crítico latino-americano, analisada por um painel de experts, em construção coletiva com registro dialógico sistemático.
Resultados
Com base nesse levantamento-problematização, identificamos os seguintes elementos teóricos significativos: meio tecnocientífico-informacional (Milton Santos); tecnologia-ideologia (Vieira Pinto); tecnologia como cultura (Herrera); objeto técnico digital (Simondon); alienação tecnológica (Stiegler); infostrutura (Floridi); hegemonia tecnológica (Feenberg); colonialidade digital (Nélida González). A partir desses fundamentos, esquematizamos uma plataforma teórico-política mediante articulação dos seguintes conceitos-chave: apropriação sociotécnica; competência tecnológica crítica; interoperabilidade; metapresencialidade; qualidade-equidade; participação popular; sensibilidade eco-etno-social.
Conclusões/Considerações
Modelos de governança, regulação e gestão orientados pelo pensamento crítico são cruciais para uma reconstrução político-institucional profunda, realista e sustentável. Tais modelos podem inspirar horizontes institucionais e movimentos sociais para uma apropriação crítica empoderadora do conjunto de saberes, práticas e técnicas necessários para a transformação digital de sistemas públicos de saúde, reafirmando os princípios democráticos do SUS.
CONTAGEM DE PACIENTES ONCOLÓGICOS NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE: UMA NOVA ABORDAGEM METODOLÓGICA
Comunicação Oral Curta
1 Roche
2 UFRGS
Apresentação/Introdução
O Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) é uma fonte crucial de dados de mundo real (RWD) para oncologia. Apesar dos desafios relacionados à qualidade dos dados, a aplicação de metodologias transparentes e reprodutíveis são fundamentais para gerar evidências de mundo real (RWE) confiáveis para subsidiar políticas de prevenção e de controle do câncer.
Objetivos
Apresentar método reprodutível e de código aberto para contagem de casos de câncer atendidos ambulatorialmente no Sistema Único de Saúde (SUS), possibilitando o cruzamento com variáveis demográficas e clínicas.
Metodologia
A contagem de casos de câncer utiliza os dados administrativos do DATASUS para identificar pacientes por meio do código criptografado do Cartão Nacional de Saúde (CNS), aplicando deduplicação para casos com múltiplos CNS. A deduplicação utiliza uma chave composta por sexo, ano de nascimento, CEP, código da Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e data de diagnóstico. O pacote OncoDatasusR do software R foi criado para implementar a metodologia proposta. Para validação foram usados registros de tratamento ambulatorial (quimioterapia, imunoterapia ou radioterapia) de pacientes com câncer de colo do útero (CID-10 C53) diagnosticados em 2008-2022 e idade 18-99 anos.
Resultados
Foram analisados 1.119.834 registros de atendimento ambulatorial, totalizando 168.420 pacientes únicos, com 2,1% das pacientes apresentando CNS duplicado. A frequência anual variou entre 9.990 pacientes em 2009 e 12.394 em 2021. A média de idade foi de 52,3 anos, sendo que 44,8% tinham menos de 49 anos. Em relação ao estadiamento clínico, 4,4% foram diagnosticadas em estádio in situ e 11,6%, 28,2%, 39,5% e 16,3% em estádios I, II, III e IV, respectivamente. A região Sudeste apresentou maior frequência de casos, com 34,9% das pacientes, seguida da região Nordeste (30,1%).
Conclusões/Considerações
O presente estudo evidencia a importância dos dados administrativos para descrever a atenção ao câncer no SUS, identificando padrões de tratamento, características clínicas e aspectos demográficos. A disponibilização da metodologia como um pacote de código aberto em R assegura transparência, reprodutibilidade e escalabilidade na análise de RWD, contribuindo para a geração de RWE para subsidiar políticas de prevenção e de controle do câncer.
INSTRUMENTOS DE MEDIDA DA PERCEPÇÃO DA DISCRIMINAÇÃO, UMA REVISÃO DA LITERATURA.
Comunicação Oral Curta
1 UFSC
Apresentação/Introdução
A percepção da discriminação tem sido considerada um estressor psicossocial e um mediador das iniquidades sociais em saúde. Estudos epidemiológicos têm desenvolvido instrumentos capazes de mensurar a discriminação percebida. Contudo, a escassez de sustentação teórica e falhas metodológicas tem comprometido a construção de evidências cientificas sólidas no tema.
Objetivos
Propomos uma revisão da literatura sobre os instrumentos de medida da percepção da discriminação, nos seguintes tópicos: corrente teórica; atribuição ou não de uma causa para o evento discriminatório; e o estágio de desenvolvimento psicométrico.
Metodologia
Essa revisão é baseada nos estudos indexados na base bibliográfica PubMed, entre 2010 e julho de 2024. A estratégia de busca utilizou o vocabulário controlado da National Library of Medicine (NLM), bem como termos livres e as diretrizes do ¨Consensus-based Standards for selection of health Measurement INstruments¨ (COSMIN). Foram considerados como critérios de inclusão: estudos que tinham como foco principal, mas não exclusivo, o desenvolvimento ou a avaliação psicométrica de um instrumento de aferição da percepção da discriminação. A avaliação dos estágios de desenvolvimento psicométrico seguiu as etapas do modelo processual proposto por Reichenheim e Bastos (2021).
Resultados
Foram identificados 3674 trabalhos, mas apenas 55 cumpriram os critérios de inclusão, sendo 48 desenvolvidos nos Estados Unidos. Foram identificados 39 instrumentos: 12 com foco na discriminação étnico-racial; 3 na discriminação etária; 2 na discriminação de gênero; 6 na discriminação contra pessoas LGBTQIAP; e 7 não focavam em nenhuma discriminação específica. Entre as conceituações teóricas citadas se destacaram os conceitos de microagressão racial, racismo moderno, etarismo, heterossexismo e interseccionalidade. Quanto aos estágios de desenvolvimento psicométrico, a maioria das análises de validade já executadas se centralizam na estrutura configural e em estudos de validade externa.
Conclusões/Considerações
Concluímos que os instrumentos atualmente disponíveis, apresentam importantes lacunas conceituais no seu processo de desenvolvimento e avalições psicométricas incipientes, sobretudo das estruturas métricas e escalares. Reafirmamos a necessidade de mais estudos de validade psicométrica, devidamente amparados pela teoria, para o aprimoramento dos instrumentos de medida de discriminação a níveis aceitáveis de validade e confiabilidade.
PERCEPÇÃO DE REATIVIDADE NA UTILIZAÇÃO DE ACELERÔMETRO PARA MENSURAR ATIVIDADE FÍSICA EM ADULTOS PARTICIPANTES DE UMA COORTE DE NASCIMENTOS
Comunicação Oral Curta
1 UFPEL
Apresentação/Introdução
Acelerômetros avaliam com precisão a atividade física (AF) e são cada vez mais utilizados em estudos de base populacional. Contudo, o uso desses dispositivos pode alterar o comportamento dos indivíduos que percebem o monitoramento. Considerando resultados controversos e evidências concentradas em países de alta renda, é importante investigar a reatividade em estudos no contexto do Brasil.
Objetivos
O presente estudo buscou descrever a percepção de reatividade ao uso do acelerômetro em adultos participantes de uma coorte de nascimentos e sua associação com aspectos sociodemográficos, de utilização e interferência na rotina do dispositivo.
Metodologia
Estudo descritivo transversal com uma amostra do acompanhamento de 30 anos da Coorte de Nascimentos de 1993 de Pelotas. Considerando um cálculo amostral, 25% dos participantes que utilizaram o acelerômetro foram convidados a participar do estudo. A coleta de dados ocorreu de outubro de 2023 a setembro de 2024. Um questionário específico foi enviado utilizando os aplicativos de mensagens WhatsApp e Instagram. Os participantes responderam se usar o acelerômetro os fez quererem fazer mais AF, menos AF ou manter os hábitos. Dados sociodemográficos foram coletados no questionário da coorte. Foi realizada descrição das prevalências e IC95% e realizado teste exato de Fisher, adotando p<0,05.
Resultados
Dos 2505 acompanhados elegíveis da coorte, foram sorteados 633 para esse estudo. A taxa de respostas foi de 56,9%. A amostra do estudo apresentou uma maior proporção de mulheres e participantes de maior nível socioeconômico em relação aos acompanhados. Em relação à reatividade, 13,1% dos participantes relatou que o uso do acelerômetro os fez querer fazer mais AF e 1,7% fazer menos AF. Não foi observada associação da reatividade com variáveis sociodemográficas, estação do ano ou dia de início de uso do acelerômetro. Foram observadas associações com o estado conjugal (p=0,007) e a percepção de interferência do dispositivo na rotina (p=0,001).
Conclusões/Considerações
Apesar da reatividade no uso do acelerômetro ser um fenômeno presente, sua magnitude foi baixa na amostra estudada. Indivíduos sem companheiro relataram querer fazer mais AF, enquanto aqueles que perceberam interferência do acelerômetro na sua rotina relataram querer fazer menos AF, destacando a necessidade de considerar alguns fatores no planejamento e análise de estudos que utilizem acelerômetros.

Realização: