
Programa - Comunicação Oral Curta - COC22.1 - Movimentos, territorialidades e Pedagogias: Experiências, Conhecimentos e Cuidado
01 DE DEZEMBRO | SEGUNDA-FEIRA
08:30 - 10:00
08:30 - 10:00
A COZINHA PARA ALÉM DA COMIDA: FACILITANDO RODAS DE ESCUTA COM AS TRABALHADORAS DA COZINHA SOLIDÁRIA DA SÉ (MTST)
Comunicação Oral Curta
1 UNIFESP Baixada Santista
Período de Realização
Desde 07/2023 na Cozinha Solidária da Sé (MTST), com apoio biopsicossocial e cultural às trabalhadoras.
Objeto da experiência
A experiência foca no cuidado em saúde mental de mulheres por meio de rodas de escuta, fortalecendo vínculos, redes e saúde comunitária.
Objetivos
O objetivo é fortalecer práticas de cuidado em saúde mental nas Cozinhas Solidárias do MTST, por meio de rodas de escuta, acolhimento e fortalecimento coletivo. Busca-se promover autonomia, cooperação, visibilizar demandas das trabalhadoras e romper estigmas sobre movimentos e territórios.
Metodologia
Mensalmente, são realizadas rodas de escuta com trabalhadoras da Cozinha Solidária da Sé (MTST). As pautas são definidas pelas participantes no dia, abordando temas como violência, saúde mental, conflitos no trabalho, luto, autocuidado, finanças, entre outros. A metodologia se baseia na escuta ativa, mediação sensível e articulação com recursos comunitários. O cuidado compartilhado e o espaço seguro fortalecem vínculos e geram ações como oficinas, práticas corporais e articulações no território.
Resultados
Os resultados incluem fortalecimento dos vínculos, melhora na comunicação, gestão de conflitos e criação de rede de apoio emocional. Houve ampliação da percepção sobre direitos e autocuidado, além da ressignificação da cozinha como espaço de cuidado, resistência e saúde. Relatos apontam melhora no clima, mais cooperação e autoestima.
Análise Crítica
A experiência evidencia a importância de políticas públicas que reconheçam espaços comunitários como dispositivos de cuidado em saúde mental. Mostra que práticas de cuidado vão além do modelo clínico, sendo construídas nos territórios. Destacam-se desafios na articulação com redes públicas e no enfrentamento de estigmas. A sustentabilidade exige reconhecimento institucional e fortalecimento das políticas de segurança alimentar, saúde e assistência, considerando gênero, raça e classe.
Conclusões e/ou Recomendações
As Cozinhas Solidárias do MTST são espaços de cuidado, resistência e promoção de saúde comunitária. As rodas de escuta fortaleceram vínculos, melhoraram relações e enfrentaram sofrimentos cotidianos. Recomenda-se ampliar essas práticas nas políticas públicas, reconhecendo territórios e movimentos como espaços legítimos de cuidado, além de investir em formação, redes comunitárias e apoio institucional.
BORDANDO SABERES: BORDADO LIVRE COMO FERRAMENTA DE EDUCAÇÃO POPULAR NOS CAMPOS DA ALIMENTAÇÃO, NUTRIÇÃO E SAÚDE COLETIVA.
Comunicação Oral Curta
1 UFRJ
2 UNIRIO
Apresentação/Introdução
Este estudo investiga o bordado livre como prática pedagógica, política e estética em projeto de pesquisa e extensão universitária, que articula alimentação, nutrição, decolonialidade e interseccionalidades no campo da saúde coletiva. Exploram-se linguagens sensíveis e afetivas, valorizando o cuidado, a memória e a produção coletiva e situada de saberes como formas de resistência.
Objetivos
Investigar o bordado livre como ferramenta crítica na formação em alimentação e nutrição, valorizando saberes subalternizados e práticas culturais, a partir de perspectivas decoloniais e interseccionais que promovem outros jeitos de fazer saúde.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa qualitativa com base na pesquisa-intervenção e metodologias participativas. Em 2024, foi realizada uma oficina piloto com três horas de duração, envolvendo rodas de conversa, escuta sensível e criação coletiva de bordados em tecido sobre alimentação, identidades e feminismos. Participam estudantes, docentes, profissionais da saúde e pessoas da comunidade externa. Os registros incluem diários de campo, fotografias e vídeos. A análise será orientada pela escrita de si (escrevivências) e pela análise crítica do discurso, incorporando referenciais da didática do sensível e das geografias afetivas. A produção de saberes é compreendida como situada, relacional e estética.
Resultados
Resultados preliminares indicam que o bordado favorece a escuta ativa, a expressão de subjetividades e a produção coletiva de saberes situados, críticos e sensíveis. A oficina piloto evidenciou o potencial do bordado para articular arte, cultura e saúde, fortalecendo vínculos entre participantes. Pretende-se sistematizar as oficinas como práticas educativas críticas, ampliando a articulação entre universidade e comunidade. Além disso, busca-se incorporar práticas artísticas, como bordados e lambe-lambes, como formas inovadoras de difusão científica, artística e cultural em espaços públicos, revelando uma geografia dos afetos que costura memórias, territórios e insurgências.
Conclusões/Considerações
O bordado se revela como recurso pedagógico potente na formação em saúde, ao articular saberes ancestrais, afetos e manualidades sob uma lente interseccional e decolonial. Valoriza saberes historicamente marginalizados, ampliando o entendimento de saúde e nutrição além do biomédico. A experiência reforça a importância de práticas populares na formação crítica em saúde coletiva, ativando o sensível como campo de aprendizagem, memória e resistência.
COZINHAS SOLIDÁRIAS: SAÚDE, PERSPECTIVAS DE CUIDADO E SABERES POPULARES
Comunicação Oral Curta
1 Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
Período de Realização
GT realizado em 13 de novembro de 2024, durante o I Encontro Nacional do Programa Cozinha Solidária.
Objeto da experiência
Grupo de trabalho com iniciativas apoiadas pelo Programa Cozinha Solidária sobre a conexão entre cozinhas, saber popular, práticas de cuidado e saúde.
Objetivos
Troca de experiências a fim de potencializar as cozinhas solidárias enquanto ambientes de promoção da alimentação saudável, da saúde, do cuidado comunitário e do fortalecimento de vínculos sociais, por meio práticas educativas e culturais contextualizadas aos territórios.
Metodologia
O grupo de trabalho “Saúde, perspectivas de cuidado e saberes populares” foi realizado na Fiocruz Brasília e contou com a participação de 10 representantes de cozinhas solidárias, movimentos sociais, instituições públicas e de ensino. A metodologia teve como base a escuta ativa e o diálogo horizontal, por meio de roda de conversa, relatos de experiências e levantamento de sugestões coletivas para o aprefeiçoamento de práticas de cuidado e saúde no âmbito do Programa Cozinha Solidária.
Resultados
"A cozinha é colo, é útero, é acolhimento." O grupo destacou o acolhimento como pilar essencial das cozinhas solidárias, que vão além da alimentação: oferecem apoio cultural, social e emocional, e constituem-se como espaços vivos de resistência e transformação. Atendem a demandas relacionadas à comida, trabalho, abrigo e medicamentos. Nascem das necessidades emergentes da comunidade e promovem autonomia, protagonismo popular e redes de cuidado coletivo e solidariedade.
Análise Crítica
Compreende-se que as cozinhas solidárias operam como núcleos de acolhimento integral, promovendo saúde, vínculos afetivos, redes de solidariedade e protagonismo popular. Defende-se o fortalecimento de parcerias com ministérios, políticas e programas governamentais, SUS e SUAS (como os CRAS), visando aprimorar a segurança alimentar e nutricional, o acolhimento social e valorizar os saberes populares e a autonomia comunitária em políticas públicas inclusivas.
Conclusões e/ou Recomendações
O GT evidenciou potência das cozinhas solidárias enquanto respostas autônomas da sociedade civil, demonstrando sua capacidade de resistir às múltiplas expressões da vulnerabilidade social. A valorização dos saberes populares e da autonomia comunitária, nesse contexto, não deve ser compreendida apenas como uma estratégia emergencial, mas como fundamento para formulação de ações de cuidado e saúde centradas nos sujeitos e territórios.
CONSULTÓRIO FARMACÊUTICO COMO ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO POPULAR E CUIDADO EM SAÚDE EM TERRITÓRIO DE VULNERABILIDADE SOCIAL
Comunicação Oral Curta
1 UFRGS
2 UFPA
Período de Realização
Agosto de 2023 a Maio de 2025
Objeto da experiência
Implantação de um consultório farmacêutico em uma ONG situada em região de vulnerabilidade social, visando a promoção da saúde e educação popular.
Objetivos
Relato de experiência em consultório farmacêutico na ONG República de Emaús (Belém/PA), com foco no acesso ao cuidado e na educação em saúde. Destaca o farmacêutico como agente de transformação social em territórios vulneráveis, fortalecendo o SUS e o empoderamento popular.
Descrição da experiência
Relato sobre as vivências no consultório farmacêutico implantado após escuta ativa com os gestores da ONG, o que evidenciou-se a necessidade de um serviço clínico voltado à comunidade. Implantou-se o consultório farmacêutico com espaço físico, estrutura mínima e protocolos adaptados. O público-alvo abrangeu usuários da ONG, familiares e comunidade do entorno, os atendimentos contemplaram aferição de sinais vitais, avaliação farmacoterapêutica, encaminhamentos e educação em saúde.
Resultados
55 pacientes foram cadastrados no consultório farmacêutico, com identificação de casos suspeitos de hipertensão, diabetes, uso incorreto de medicamentos e baixa adesão. Metade exigiu monitoramento contínuo. A atuação clínica permitiu escuta qualificada, orientações sobre hábitos saudáveis e encaminhamentos adequados. A comunidade demonstrou surpresa positiva com o papel do farmacêutico, rompendo paradigmas da prática centrada na dispensação.
Aprendizado e análise crítica
A experiência reafirma a potência da educação popular em saúde como prática formativa e promotora da equidade. A escuta qualificada e o vínculo com os usuários foram essenciais. Desafios como falta de financiamento e resistência inicial evidenciaram a importância do planejamento participativo. O consultório mostrou-se espaço transformador, integrando cuidado clínico, ensino e mobilização social em territórios vulneráveis.
Conclusões e/ou Recomendações
O consultório farmacêutico em ONG de Belém mostrou-se uma estratégia efetiva de cuidado territorial e educação popular. Recomendam-se novas experiências, com políticas que valorizem o cuidado farmacêutico e a saúde coletiva. A implantação de consultórios em territórios vulneráveis fortalece o SUS, amplia o acesso, qualifica o cuidado e promove inclusão e justiça social, contribuindo para um sistema de saúde mais equânime e resolutivo.
SAÚDE, DIREITOS E VIOLÊNCIAS: SISTEMATIZAÇÃO DE UMA EXPERIÊNCIA COM MULHERES TRABALHADORAS NO DISTRITO FEDERAL
Comunicação Oral Curta
1 Fiocruz Brasília
Período de Realização
Setembro a outubro de 2024
Objeto da experiência
Vivência de mulheres em situação de vulnerabilidade laboral no enfrentamento à violência de gênero e à negação de direitos humanos.
Objetivos
Refletir criticamente sobre os desafios enfrentados por mulheres trabalhadoras no exercício de seus direitos humanos.
Descrição da experiência
A experiência foi conduzida com mulheres trabalhadoras de um restaurante em Brasília, Distrito Federal. Através de rodas de conversa e oficinas, com base no método do Círculo de Cultura, promoveu-se a troca de saberes sobre direitos humanos, saúde e enfrentamento da violência de gênero. As participantes construíram uma cartilha educativa como produto final coletivo, que busca ampliar o alcance das reflexões e fortalecer outras mulheres em situação semelhante.
Resultados
A vivência proporcionou a construção de um espaço seguro e horizontal de escuta, análise crítica e solidariedade. A cartilha educativa, fruto da oficina participativa, sistematizou conceitos e estratégias sobre violência de gênero, redes de apoio e direitos, sendo um instrumento de multiplicação do conhecimento. A experiência favoreceu o fortalecimento da autonomia e da consciência crítica das participantes diante das opressões vividas no cotidiano laboral e familiar.
Aprendizado e análise crítica
A sistematização revelou que as violências enfrentadas por mulheres em contextos precarizados estão conectadas aos determinantes sociais e econômicos globais. A invisibilidade do trabalho feminino, o racismo estrutural e as desigualdades de gênero reproduzem um modelo de desenvolvimento que nega dignidade e direitos. A educação popular demonstrou potência como prática contra-hegemônica de saúde e justiça social enraizada nos saberes do Sul Global.
Conclusões e/ou Recomendações
Frente à mercantilização da vida e à naturalização da violência, experiências locais como esta se mostram fundamentais para descolonizar práticas em saúde. Recomenda-se o fomento a ações que integrem educação, saúde e justiça social nos territórios, valorizando metodologias participativas que promovam o protagonismo das mulheres e a articulação entre saberes populares e políticas públicas emancipadoras.
MULHERES DO MOVIMENTO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS SEM TERRA NO VALE DO RIO DOCE – SAÚDE POPULAR E EMANCIPAÇÃO FEMININA: TECENDO MEMÓRIAS E AMPLIANDO SABERES
Comunicação Oral Curta
1 Ministério da Saúde
2 UEMG
Apresentação/Introdução
A pesquisa, fruto da tese de doutorado “Mulheres do Movimento sem Terra no Vale do Rio Doce – Saúde popular e Emancipação Feminina: Tecendo Memórias e Ampliando Saberes”, aborda o protagonismo da mulher rural no centro da luta pela terra, evidenciando o papel fundamental na construção da saúde e na resistência contra as desigualdades de gênero, ao destacar suas histórias, saberes e desafios.
Objetivos
A pesquisa teve como objetivo geral compreender e analisar as práticas populares de saúde no cotidiano de mulheres assentadas e acampadas do MST em cinco municípios do Vale do Rio Doce.
Metodologia
Metodologicamente, o trabalho se desenvolveu à luz da pesquisa qualitativa, da História Oral, da História Oral de Vida e da História das Mulheres. Além disso, lançou mão da Observação Participante, onde foram realizadas visitas, encontros e oficinas de práticas populares de saúde entre os anos de 2021 e 2023. Nesse período, foram entrevistadas sete mulheres, por meio de um roteiro de entrevista semiestruturado. As entrevistas foram gravadas e transcritas conforme a metodologia da História Oral.
Resultados
A pesquisa revelou que a participação da mulher no Setor de Saúde do Movimento é preponderante. Além disso, as práticas populares de saúde ocupam espaço considerável no MST, sendo indispensáveis no seu cotidiano. A luta pela terra se conforma em um lugar de disputa em que a saúde da militância é matéria de primeira necessidade. O cuidado e a divisão sexual do trabalho são fatores que influenciam diretamente a narrativa das mulheres do Vale do Rio Doce se conformando como papel político e emancipatório no interior do Movimento. Embora essas mulheres tenham avançado na luta por direitos sociais e pela terra, o machismo ainda é um forte marcador em diversas instâncias.
Conclusões/Considerações
A presente pesquisa permitiu compreender a importância das práticas populares de saúde no cotidiano das mulheres assentadas e acampadas do MST no Vale do Rio Doce, evidenciando o papel central na luta pela terra e na construção coletiva da história dessas mulheres, marcando uma luta permeada pelo direito à saúde, igualdade de gênero e pela construção de uma sociedade mais justa e solidária, onde as mulheres são protagonistas dessa transformação.
DESCOLONIZAR O CUIDADO NA RELAÇÃO CAMPO-CIDADE. LUTAS E PROCESSOS EMANCIPATÓRIOS EM PERIFERIAS URBANAS: SALVADOR (MSTB) E RIO DE JANEIRO (CEM), BRASIL.
Comunicação Oral Curta
1 Núcleo Ecologias e Encontro de Saberes para a Promoção Emancipatória da Saúde -Neepes- Fiocruz
2 Movimento Sem Teto da Bahia (MSTB)
3 Centro de Integração na Serra da Misericórdia (CEM)
4 Instituto de Saúde Coletiva (ISC-UFBA)
Apresentação/Introdução
Este trabalho relata sobre a pesquisa realizada pelo Núcleo Ecologias e Encontro de Saberes para a Promoção Emancipatória da Saúde (Neepes) com territórios situados em periferias urbanas nas cidades de Salvador e Rio de Janeiro. A pesquisa está baseada na noção de Promoção Emancipatória da Saúde (PES), como paradigma de apoio às lutas sociais por saúde, dignidade e direitos territoriais.
Objetivos
Refletir acerca da PES como proposta conceitual-metodológica para descolonizar e coracionar saberes e práticas de saúde e cuidado em duas periferias urbanas: Complexo da Penha (RJ) e ocupações Quilombo Paraíso e Manuel Faustino (Salvador).
Metodologia
Através de duas experiências de pesquisas realizadas a partir de 2021 com pesquisadores do núcleo de pesquisa (Palm JL: 2024) e ativistas dos territórios mencionados, busca-se a valorização da sabedoria dos moradores de periferias urbanas vinculadas ao cuidado coletivo e comunitário como produção de alimentos agroecológicos, escalda-pés, cultivo de ervas, cozinha comunitária e outros elementos ligados à saúde e à sabedoria ancestral.
A metodologia destaca as denúncias e os anúncios, por meio de relatos significativos (Fasanello, Porto: 2019) produzidos nas oficinas realizadas para a discussão dos eixos Racismo e Saúde; Cuidado Comunitário; Moradia Digna e Ecologismo Popular.
Resultados
No território Terra Prometida, situado no Complexo da Penha (RJ), atua a organização comunitária Centro de Integração na Serra da Misericórdia (CEM). Em Salvador, nas ocupações citadas, atua o Movimento Sem Teto da Bahia (MSTB). Nos territórios existem fortes componentes de quatro injustiças: social, sanitária e sobretudo, ambiental e cognitiva.
No território de ação do MSTB existem barreiras no atendimento por parte dos profissionais do Hospital do Subúrbio, condicionando o atendimento dos moradores à apresentação de comprovante de residência. No Rio de Janeiro, a falta de mapeamento do território pelo governo do estado impede a comunidade de ter acesso às políticas ampliadas de saúde.
Conclusões/Considerações
Desterritorialização e políticas de moradia excludentes adotadas pelo Estado vulnerabilizam parcelas da população que sofrem com a injustiça social, o racismo e outras formas de violência. Contudo, saberes situados aliados à retomada da ancestralidade têm sido fundamentais na descolonização do cuidado e nas resistências no contexto das periferias urbanas, com mulheres negras incorporando saberes do campo e da natureza em suas lutas.
"A POSSIBILIDADE DE SER E FAZER ESTÁ NO COLETIVO”: ESTRATÉGIAS DE PARTICIPAÇÃO POPULAR DE MOVIMENTOS SOCIAIS DE MULHERES NEGRAS
Comunicação Oral Curta
1 USP
Apresentação/Introdução
A participação popular é um direito no Brasil, mas seu exercício revela desigualdades de poder na forma como os espaços institucionais são organizados. Este estudo investiga, a partir das trajetórias de mulheres negras, como elas enfrentam essas desigualdades e sustentam sua atuação na luta por políticas públicas de saúde comprometidas com a promoção da equidade e do enfrentamento do racismo.
Objetivos
Sistematizar e visibilizar trajetórias de mulheres negras na interface entre movimentos sociais e Estado na luta por direitos à saúde. Para esse resumo, focamos em compreender as estratégias de sustentação da participação popular das ativistas.
Metodologia
Elaborada por meio de uma composição entre entrevistas individuais e pesquisa documental de perspectiva antropológica, a investigação busca coletar e analisar narrativas de trajetórias de vida de mulheres negras militantes em conjunto com documentos de movimentos sociais e políticas públicas nacionais de saúde da mulher. As interlocutoras da pesquisa são mulheres negras cuja trajetória de ativismo pelos direitos das mulheres remonta à década de 1980, tendo participado de processos de debate e elaboração de políticas de saúde da mulher, especialmente no âmbito federal brasileiro. A pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética da instituição sede e recebe financiamento da FAPESP, nº 2023/13347-0.
Resultados
As narrativas das ativistas indicam um balanço crítico de suas relações com o Estado, mostrando inúmeras dificuldades para exercer a participação popular e aproximar a agenda social da efetuação de políticas públicas. Entre as barreiras, está a discriminação de raça, sexo e classe no cotidiano institucional dos governos. Ao revisitar suas trajetórias, as ativistas ressaltam o vínculo com os movimentos sociais de origem como estratégia central para conferir a possibilidade de ocupar espaços participativos e deliberativos no poder executivo. Seja no suporte técnico ou pressionando por políticas, a mobilização dos movimentos sociais é central para a incidência no Estado em prol de direitos.
Conclusões/Considerações
As estratégias coletivas de participação revelam que o vínculo com os movimentos sociais é essencial para sustentar a presença de mulheres negras nos espaços de poder, reafirmando que a transformação das políticas públicas só é possível quando impulsionada pela força coletiva e enraizada nas lutas históricas por justiça racial e equidade. Com isso, as narrativas apontam para desafios na implementação de uma efetiva democracia no Brasil.
A FORÇA DO TERRITÓRIO QUILOMBOLA ARAPUCU E A PRESENÇA NEGRA NA AMAZÔNIA PARAENSE.
Comunicação Oral Curta
1 UCB
2 UFOPA
3 SEDUC-PA
Apresentação/Introdução
O estudo tem o propósito de capacitar alunos do ensino médio da comunidade remanescente de quilombo Arapucu – Óbidos/PA, a mergulharem na pesquisa. A Amazônia, muitas vezes retratada apenas por sua exuberância natural, guarda também uma rica tapeçaria cultural e histórica, onde as contribuições dos povos africanos e seus descendentes quilombolas são pilares fundamentais na percepção dos movimentos sociais.
Objetivos
Analisar práticas comunitárias desenvolvidas no quilombo Arapucu, localizada em Óbidos/PA. A análise recaiu sobre as diversas frentes de atuação comunitária, com especial atenção à questão ambiental e sua relação com a qualidade de vida dos moradores.
Metodologia
Utiliza a história oral como abordagem metodológica, uma ferramenta potente para resgatar e valorizar as narrativas de grupos sociais específicos, como as comunidades quilombolas. Foram realizadas entrevistas com as lideranças comunitárias do quilombo Arapucu. A escolha dos sujeitos se deu pela sua posição estratégica de detentoras do saber tradicional, da memória coletiva e da representatividade política dentro da comunidade. O roteiro se orientou por dois eixos temáticos: Território, este eixo buscou investigar a relação intrínseca da comunidade com seu território; Movimentos Sociais, focou na participação da comunidade de Arapucu em movimentos sociais e nas estratégias de articulação e resistência.
Resultados
Os discursos de lideranças comunitárias, convergiram para um ponto central e inquestionável: a importância da luta, da resistência e da permanência no território de contexto amazônico. Revelaram que a ocupação e a manutenção do espaço geográfico por essas comunidades quilombolas extrapolam a mera posse da terra, configurando-se como um ato contínuo de reafirmação identitária. Os resultados confirmam que a trajetória de Arapucu é um testemunho da indissociabilidade entre a identidade quilombola, a defesa do território e a busca por um futuro sustentável na Amazônia. A luta pela permanência não é apenas um direito, mas um compromisso com a preservação de um patrimônio cultural e ambiental.
Conclusões/Considerações
A experiência de pesquisa em Arapucu demonstrou que, ao permitir que os jovens investiguem suas próprias realidades, fortalecemos não apenas seu conhecimento acadêmico, mas também sua consciência cidadã e seu senso de pertencimento. Se tornam, assim, guardiões ativos de sua história, de seu território e de suas tradições, aptos a enfrentar os desafios e a construir um futuro resiliente para a comunidade quilombola na Amazônia
PARTICIPAÇÃO FEMININA, COOPERATIVISMO E CUIDADO: UM OLHAR FEMINISTA SOBRE A LIDERANÇA DE MULHERES À FRENTE DE UMA ASSOCIAÇÃO DE CATADORES NO DISTRITO FEDERAL
Comunicação Oral Curta
1 Fiocruz - Brasília
Período de Realização
Julho de 2024 a junho de 2025
Objeto da experiência
A experiência revela realidade de catadoras da Associação CATAGUAR, em Ceilândia, território periférico marcado por resistência social no Distrito Federal.
Objetivos
• Compreender as experiências de trabalho das mulheres catadoras da CATAGUAR;
• Identificar as práticas de cuidado coletivo e autogestão desenvolvidas no cotidiano da associação;
• Descrever os desafios e as potencialidades da atuação dessas mulheres em organização no cooperativismo popular.
Metodologia
A experiência com as catadoras de materiais recicláveis avançou na formalização coletiva, com a construção democrática do Estatuto Social, Regimento Interno e Assembleias. Esses processos fortaleceram a autonomia dessas mulheres, promovendo inclusão, valorização e participação social. As entrevistas qualitativas revelam desafios ligados à desigualdade de gênero, racismo e falta de reconhecimento, mas também apontam o protagonismo, cuidado e a perspectivas futuras para a trabalho cooperativo.
Resultados
As entrevistas revelaram desafios cotidianos das catadoras, como sobrecarga entre trabalho e cuidados familiares e baixa valorização. Embora enfrentem racismo e machismo, destacam um ambiente interno acolhedor. A formalização fortalece a gestão democrática, amplia a participação feminina e gera expectativas positivas quanto ao reconhecimento, renda e justiça social promovida pelos movimentos sociais. Destaca-se que a cooperativa funciona como rede solidária apoiando catadoras em suas demandas.
Análise Crítica
A experiência mostra o empoderamento feminista das catadoras e o papel dos movimentos sociais na promoção da justiça social. Contudo, persiste a crítica à invisibilidade estrutural e às desigualdades de gênero e raça que limitam avanços reais. A formalização é passo importante, mas a efetiva transformação exige políticas públicas que garantam direitos e superem barreiras culturais e institucionais, reforçando a necessidade da organização coletiva para resistência e mudança.
Conclusões e/ou Recomendações
A formalização da cooperativa fortaleceu a autonomia das catadoras, promovendo inclusão, empoderamento e gestão democrática. Apesar dos desafios de gênero, raça e invisibilidade, o grupo avançou na luta por justiça social. A organização coletiva e os movimentos sociais são fundamentais para garantir reconhecimento, direitos e transformação social, mostrando que o cuidado é essencial para superar desigualdades e melhorar as condições de trabalho.
“QUANDO AS MULHERES PARTICIPAM DE COLETIVOS, CONSTROEM ALTERNATIVAS À VIOLÊNCIA”: O PAPEL DOS COLETIVOS FEMINISTAS RURAIS NO ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES
Comunicação Oral Curta
1 FIOCRUZ
Apresentação/Introdução
Mulheres que vivem em áreas rurais podem enfrentar condições de vulnerabilidade caracterizadas pelo isolamento social e geográfico que contribuem para a invisibilidade da violência e seu silenciamento. Os coletivos femininos rurais surgem como uma alternativa a essas questões e podem ser importantes instrumentos no enfrentamento a violência ao mesmo tempo que fortalecem a autonomia dessas mulheres.
Objetivos
Discutir como os espaços coletivos podem colaborar no enfrentamento a violência contra as mulheres que vivem em contextos rurais.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa qualitativa com sete mulheres lideranças de movimentos nacionais e regionais que atuam com mulheres que vivem em contextos rurais. As entrevistas foram realizadas online entre 2023 e 2024, seguiram um roteiro norteador, foram gravadas em áudio e transcritas integralmente. Adotou-se a Análise de Narrativa, compreendida como uma estratégia baseada no olhar crítico e reflexivo sobre as histórias e informações que emergem na etapa de produção dos dados. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fiocruz, em 17 de agosto de 2023 sob o parecer: 6.247.004.
Resultados
Observou-se que os coletivos de mulheres rurais são espaços de fortalecimento da autoestima, debate e apoio acerca da violência e seu enfrentamento, de (in)formação sobre direitos sociais, saúde e autonomia financeira. Percebe-se que a auto-organização das mulheres rurais funciona como um instrumento para construir alternativas individuais, locais, de políticas públicas e estratégias de enfrentamento a violência. Também é no coletivo que as mulheres sentem liberdade de falar das situações de violência e onde as lideranças podem dar, além da escuta atenta, os encaminhamentos para a rede de saúde, assistência, segurança ou de direitos de acordo com a necessidade, formando uma rede de apoio.
Conclusões/Considerações
As mulheres lideranças conseguem ver a mudança na trajetória de vida quando as mulheres rurais começam a participar dos coletivos. Desde o autocuidado em saúde, melhora na autoestima, fortalecimento pessoal, autonomia financeira e o rompimento das situações de violência em que viviam. Apesar dos desafios geográficos das áreas rurais, as mulheres conseguem se organizar a partir do coletivo e ressignificar suas vidas e histórias.

Realização: