
Programa - Comunicação Oral Curta - COC8.1 - Decolonialidades e epistemiologias: rupturas e reinvenções na saúde coletiva
01 DE DEZEMBRO | SEGUNDA-FEIRA
08:30 - 10:00
08:30 - 10:00
ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA, COLONIALIDADE E SABERES POPULARES EM GRANDES TERRITÓRIOS AMAZÔNICOS
Comunicação Oral Curta
1 UFOPA
2 UFSC
3 DAF - MS
Apresentação/Introdução
As desigualdades em saúde na Amazônia não decorrem apenas da ausência de serviços, mas da persistência de uma lógica colonial que desautoriza saberes locais, impõe modelos urbanos e compromete a soberania sanitária.
Objetivos
Compreender como a colonialidade do saber e do poder se manifesta na assistência farmacêutica em Altamira (PA) e propor caminhos de inovação ancorados nos saberes tradicionais e no território.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa qualitativa e crítica realizada em Altamira (PA), município com 159.533 km² de extensão — o maior do Brasil e um dos maiores do mundo — marcado por desafios logísticos e complexidade territorial. Foram analisados documentos institucionais e entrevistas com profissionais da saúde. As falas foram categorizadas e trianguladas com literatura científica e diretrizes oficiais. A análise foi orientada por uma matriz decolonial composta por três dimensões: território, saberes tradicionais e soberania sanitária, permitindo interpretar práticas locais como formas de resistência à colonialidade.
Resultados
A pesquisa revelou três dimensões da colonialidade. A ausência de sistemas informatizados reforça a centralização técnica; o desprezo pelos saberes locais expõe o epistemicídio institucionalizado; e a dependência logística de centros urbanos compromete a autonomia territorial. Em contrapartida, emergem práticas como o uso de plantas medicinais e experiências com Farmácias Vivas, que articulam cuidado ancestral e política pública, reafirmando a potência da inovação enraizada no território.
Conclusões/Considerações
Repensar a assistência farmacêutica amazônica exige reconhecer a legitimidade dos saberes tradicionais e romper com modelos colonizados de cuidado. A matriz decolonial adotada se mostra eficaz para reposicionar o território como fonte de inovação e construir políticas públicas culturalmente enraizadas.
ENTRE ÁGUAS E SILENCIAMENTOS: DESAFIOS DE UMA PRÁTICA DE ENFERMAGEM DECOLONIAL EM UMA UNIDADE BÁSICA DE SÁUDE FLUVIAL NO RIO NEGRO (AM)
Comunicação Oral Curta
1 PREFC/SMS-RJ
Período de Realização
Maio de 2025, durante o estágio optativo do Programa de Residência em Enfermagem de Família e Comunidade
Objeto da experiência
Assistência de enfermagem em uma Unidade Básica de Saúde Fluvial (UBSF) à 13 comunidades indígenas do Rio Negro, no Amazonas.
Objetivos
Refletir criticamente sobre o estágio realizado em uma UBSF, no estado do Amazonas, trazendo luz sobre as práticas assistenciais desenvolvidas, os atravessamentos técnicos e ético-políticos e os impactos da colonialidade na produção do cuidado.
Descrição da experiência
O estágio envolveu a assistência em saúde à 13 comunidades indígenas ao longo do Rio Negro. A assistência foi atravessada por um modelo biomédico, fragmentado e descolado das necessidades locais. A equipe técnica fixa do fluvial demonstrou baixa qualificação e uma postura frequentemente etnocêntrica e desrespeitosa, com falas e condutas que desnudam preconceito e desconhecimento da cultura indígena. A presença da residência viabilizou tensionar algumas dessas práticas, ainda que de forma pontual.
Resultados
Observou-se como pano de fundo das práticas assistenciais a reprodução de práticas coloniais, marcadas por imposição de condutas, medicalização excessiva sem critérios técnicos que pouco dialogam com os saberes locais. Em contraste, estratégias de escuta, acolhimento e preservação à autonomia comunitária por parte dos residentes fomentaram a aproximação e vínculo. A experiência evidenciou que a formação crítica pode, ainda que pontualmente, tensionar práticas opressoras no SUS.
Aprendizado e análise crítica
Essa experiência evidenciou a presença de uma colonialidade insistente nas práticas em saúde, expressa na relação vertical com os usuários, no apagamento cultural e no silenciamento das vozes indígenas. Essa vivência também mostrou que o enfrentamento dessa lógica exige um compromisso ético-político com práticas de escuta ativa, construção de vínculos e valorização dos saberes comunitários. A branquitude enquanto estrutura de poder, sustenta desigualdades que o SUS ainda não superou.
Conclusões e/ou Recomendações
É iminente a promoção da formação crítica e antirracista em saúde com vistas a valorizar práticas de cuidado que considerem os contextos socioculturais dos povos originários. Defende-se a inclusão de profissionais indígenas nas equipes, a revisão das diretrizes da atenção fluvial e o fortalecimento de abordagens interseccionais e decoloniais no SUS.
ADINKRAS EM RODAS: INTEGRANDO SABERES E DESCOLONIZANDO O CONHECIMENTO
Comunicação Oral Curta
1 UNESP
Período de Realização
Evento planejado entre fevereiro e março e realizado em março de 2025.
Objeto da experiência
Implementação da metodologia ativa "World Café" na construção de estratégias antirracistas na universidade e na comunidade.
Objetivos
Consolidar uma perspectiva universitária que fomente a equidade racial e o enfrentamento ao racismo, articulando iniciativas em múltiplas áreas acadêmicas e sociais, envolvendo diversos protagonistas, como estudantes, docentes e comunidades, na elaboração de propostas concretas e factíveis.
Metodologia
O evento, que contou com 4 rodas temáticas (Educação Antirrascista; Saúde da População Negra; Estudo & Formação na Temática Racial; Pesquisa & Cultura com Abordagens Afro-brasileiras) nomeadas por Adinkras, reuniu 42 participantes. Abordou-se a Lei 10.639/03, a desconstrução do racismo na saúde, a integração de saberes tradicionais e acadêmicos, e a promoção de pesquisas com enfoque decolonial. Os participantes compartilharam vivências, sugeriram ações e propuseram estratégias antirrascistas.
Resultados
A metodologia “World Café” mostrou-se eficaz para promover a participação ativa e a colaboração entre diversos protagonistas. A divisão em eixos temáticos facilitou a abordagem de questões complexas de forma organizada e focada. A dinâmica de rodadas de discussão evidenciou a importância de garantir que todas as vozes fossem ouvidas, promovendo trocas significativas. Como resultado das diferentes perspectivas, foram elaboradas cartas de propostas específicas para cada temática discutida.
Análise Crítica
Evidenciou-se a necessidade de produzir “conhecimento negro” para embasar políticas públicas, reconhecendo a importância de perspectivas e saberes historicamente marginalizados. Ademais, o uso dos Adinkras reforçou a transmissão de sabedoria e ensinamentos ancestrais, abordagem que não apenas combate o apagamento histórico das civilizações africanas, mas também fortalece a luta contra o racismo, celebrando a riqueza cultural e intelectual do continente africano.
Conclusões e/ou Recomendações
A experiência destacou o potencial transformador da integração de novos sujeitos a partir de metodologias participativas, ampliando o debate e fortalecendo a construção coletiva de estratégias antirracistas. Recomenda-se a continuidade e a ampliação dessas práticas na universidade, incorporando os resultados nas políticas institucionais com foco na equidade racial e na valorização dos saberes afro-brasileiros.
SAÚDE BUCAL NA AMAZÔNIA: UM ENCONTRO DECOLONIZADOR ENTRE A CLÍNICA E O TERRITÓRIO
Comunicação Oral Curta
1 UFAM e SEMSA MANAUS
2 ILMD/FIOCRUZ AMAZÔNIA
3 ILMD/FIOCRUZ AMAZÔNIA e UEA
4 UFAM
Período de Realização
Esse trabalho foi realizado no período de outubro a dezembro de 2024.
Objeto da experiência
Reflexão sobre a construção da atenção em saúde bucal na Amazônia a partir de discussões em disciplina do Doutorado em Saúde Pública na Amazônia.
Objetivos
Este trabalho tem como objetivo discutir a necessidade de que a atenção em saúde bucal na Amazônia priorize estratégias específicas para sua população, alinhadas à realidade local e orientadas por um olhar decolonizador.
Metodologia
O estudo segue o desenho de um ensaio teórico caracterizado pela sua natureza reflexiva e interpretativa, pautado na construção de uma análise crítica sobre a atenção em saúde bucal no contexto Amazônico. O ensaio foi construído a partir de discussões durante a disciplina de Epistemologia e História das Ciências e da Saúde Pública do Curso de Doutorado Acadêmico em Saúde Pública na Amazônia.
Resultados
O pensamento decolonial propõe formas alternativas de conhecimento rompendo com a lógica colonizadora. Na saúde bucal, o conceito de bucalidade amplia a visão tradicional da boca, tratando-a não apenas como um órgão, mas como um território com significados sociais e subjetivos que vão além do aspecto biológico, superando o modelo biomédico e comercial e atuando com potencial decolonial fortalecendo os princípios democráticos do SUS.
Análise Crítica
Contextualizar o SUS na Amazônia, exige considerar não apenas seus princípios e diretrizes, mas também compreender a realidade amazônica, prezando pelo entendimento e respeito aos aspectos culturais e à dinâmica local, assim como desenvolver políticas com estratégias específicas para essa realidade, capazes de estar presentes de forma constante, assegurando que as conquistas sociais advindas da criação do SUS sejam usufruídas por essa população.
Conclusões e/ou Recomendações
É fundamental incorporar uma abordagem decolonizadora nas práticas em saúde bucal na Amazônia e que a produção do cuidado considere o território, a diversidade cultural e o ecossistema local. Apesar dos desafios naturais e geográficos, essas especificidades não podem silenciar as necessidades dessas populações, produzindo uma exclusão social e acentuando as iniquidades em saúde nessa região.
AGRICULTURAS URBANAS AGROECOLÓGICAS E PROMOÇÃO DA SAÚDE: MULHERES CULTIVANDO MODOS DE VIDA CONTRACOLONIAIS
Comunicação Oral Curta
1 UFRRJ
2 Fiocruz
Apresentação/Introdução
O resumo discute o papel de mulheres negras e periféricas em iniciativas coletivas de agriculturas urbanas agroecológicas. Com as categorias de raça, gênero e classe, identifica-se o protagonismo dessas mulheres na reivindicação de direitos historicamente negados. Abordam-se relações entre acesso à terra e promoção da saúde por meio de modos de vida contracoloniais (re)construídos pelas mulheres.
Objetivos
Discutir como a atuação de mulheres negras e periféricas em iniciativas de agricultura urbana (AU) se conecta a modos de vida contracoloniais; e associar essa atuação à promoção de saúde nos territórios urbanos.
Metodologia
Este estudo integra uma pesquisa nacional realizada pela Agenda de Saúde e Agroecologia da Fiocruz, com sete redes territoriais de AU. O objetivo foi apoiar a produção e o abastecimento, bem como os processos formativos organizados pelas próprias redes. Entre 2024 e 2025, foram acompanhadas diversas atividades nos territórios, além da realização de entrevistas com agricultoras integrantes das redes.
A análise dos dados considerou as categorias de raça, gênero e classe como lentes de análise, buscando identificar como diferentes opressões se sobrepõem historicamente para manter formas coloniais de existências, baseadas na expropriação de corpos e territórios para acumulação de capital.
Resultados
A maior parte das iniciativas de AU é mantida com o trabalho e a articulação de mulheres. A contribuição à promoção da saúde associada ao cultivo de alimentos saudáveis é ampliada pela transformação de espaços urbanos, preservação de saberes afro-indígenas e reivindicação de direitos historicamente negados: à terra, ao território e à cidade.
A (re)tomada da terra para cultivar iniciativas coletivas fortalece redes de apoio, promove lazer, educação e contato com a natureza, contribuindo para a saúde mental. Apesar dos desafios, observa-se que a relação entre a terra e as mulheres torna a AU uma composição de prática de cuidado coletivo e ação política que subverte lógicas coloniais.
Conclusões/Considerações
As iniciativas de AU em favelas e periferias apoiam as mulheres no enfrentamento a violências estruturais que afetam a saúde e impedem o acesso pleno a direitos. O cultivo agroecológico, mesmo quando se dá em pequenos terrenos, produz espaços de maior autonomia e a retomada de práticas ancestrais envolvendo as mulheres, a comunidade e a terra/natureza, que apontam para modos de vida não conformados à lógica colonial-capitalista de exploração.
A ESCUTA CLÍNICA A PARTIR DE EPISTEMOLOGIAS DECOLONIAIS: RELAÇÕES ENTRE SAÚDE MENTAL, GÊNERO, RAÇA E CLASSE
Comunicação Oral Curta
1 PUCSP
Apresentação/Introdução
As práticas clínicas em psicologia historicamente reproduziram lógicas universalizantes, brancas, eurocêntricas e cisheteronormativas. A ausência de perspectivas críticas sobre gênero, raça e classe na formação de profissionais da saúde impacta diretamente a qualidade de uma escuta e a construção do cuidado ofertado em serviços de saúde, como o CAPS.
Objetivos
Analisar como epistemologias feministas e decoloniais tensionam e transformam a escuta clínica, produzindo um cuidado comprometido com a transformação social e com a promoção de saúde mental no campo da saúde coletiva
Metodologia
Este trabalho parte de um estágio em um CAPS em São Paulo e uma pesquisa qualitativa, desenvolvida em um TCC em psicologia. Ancorado na perspectiva sócio-histórica, utilizou-se os núcleos de significação para a análise de entrevistas semiestruturadas realizadas com psicólogas egressas da PUC-SP, com trajetória em serviços de saúde mental e estudos no campo das epistemologias de gênero. As participantes relataram suas experiências, com destaque para o impacto dos saberes decoloniais e letramento de gênero. A análise buscou compreender como esses saberes transformam a escuta clínica e reconfiguram concepções de sofrimento psíquico, cuidado e implicação política na prática de cuidado
Resultados
Os relatos apontam que o contato com epistemologias decoloniais favoreceu o deslocamento de uma escuta psicologizante e individualizante para uma escuta politizada, capaz de reconhecer os atravessamentos de raça, classe e gênero nas manifestações do sofrimento psíquico. Evidenciou-se que a formação acadêmica tradicional tende a silenciar tais marcadores, perpetuando uma clínica desvinculada das desigualdades estruturais. Em contraste, o acesso a saberes contra-hegemônicos ampliou a capacidade crítica e ética das profissionais, fortalecendo o compromisso com práticas antimanicomiais, antirracistas e interseccionais no âmbito da saúde mental.
Conclusões/Considerações
A escuta clínica, atravessada por epistemologias decoloniais, configura-se como prática situada e politicamente implicada. Os achados indicam a urgência de uma reformulação curricular nos cursos de formação em psicologia e a valorização de saberes historicamente marginalizados, como forma de fortalecer o SUS e promover práticas de cuidado mais justas, sensíveis e comprometidas com os direitos humano, a equidade e a liberdade.
MÉTODOS DE PESQUISA DECOLONIAIS E INDÍGENAS PARA A GARANTIA DA JUSTIÇA HERMENÊUTICA NOS SISTEMAS E POLÍTICAS DE SAÚDE EM CONTEXTOS MULTIÉTNICOS.
Comunicação Oral Curta
1 ISC-UFBA
Apresentação/Introdução
A Guatemala é um país em que coexistem 4 nações: maia, garífuna, xinca e mestiça. Conceber políticas públicas capazes de abordar problemas complexos, com múltiplas abordagens epistêmicas, continua sendo um dos maiores problemas do país. Este trabalho apresenta o desenho metodológico de um estudo realizado em uma comunidade maia na Guatemala.
Objetivos
Refletir sobre o desenho de metodologias de pesquisa baseadas em princípios decoloniais e filosofias indígenas para garantir a justiça hermenêutica em sistemas e políticas de saúde em contextos multiétnicos a partir de uma pesquisa na Guatemala.
Metodologia
Foram realizadas oficinas de trabalho com o Conselho de Avós e Avôs portadores do conhecimento ancestral da comunidade para a construção colaborativa do protocolo de pesquisa. O desenho das oficinas inspirou-se na sistematização de métodos de pesquisa indígenas usados em comunidades na América do Norte, Austrália e África, feita pela autora Bagele Chilisa. O método “Roda de conversa” foi adaptado ao contexto Maia da Guatemala. Os dias para a realização das oficinas foram selecionados segundo o calendário cerimonial da comunidade. Foram realizadas consultas às/aos ancestres prévio à realização das oficinas.
Resultados
Os métodos de pesquisa devem se alinear com os princípios filosóficos, científicos e tecnológicos da comunidade. É necessário romper com a tradição ocidental de construção de um referencial teórico baseado em teorias ocidentais para estudar experiências indígenas. Por fim, os espaços de diálogo com as autoridades ancestrais da comunidade são o elemento-chave de todo o desenho metodológico. Abrir o projeto para a ingerência comunitária, assegura que as experiências dos participantes sejam representadas de forma justa no processo de pesquisa e seus resultados. Além de permitir conhecer as exigências éticas das comunidades, que rara vez são contempladas pelos Comitês de Ética em Pesquisa.
Conclusões/Considerações
Os métodos tradicionais de pesquisa em saúde estão enraizados nos cânones ocidentais de produção de conhecimento. Isso deslegitima e apaga formas não ocidentais de produção e coprodução de conhecimento, produzindo injustiças hermenêuticas nos relatórios finais. O resgate dos modos próprios de coproduzir conhecimento de comunidades indígenas garante a justiça hermenêutica e representativa na ciência e nas práticas, programas e políticas de saúde.
EBÓ COMO TECNOLOGIA DO CUIDADO: INTERFACES ENTRE PRÁTICAS DE SAÚDE E O COSMO-SISTEMA RELIGIOSO E ASSISTENCIAL DO CANDOMBLÉ EM TERREIROS NO INTERIOR DA BAHIA
Comunicação Oral Curta
1 UNEB
Apresentação/Introdução
A saúde e a doença são fenômenos sociais e culturais. Quando analisadas sob o prisma do candomblé, revelam um cosmo-sistema religioso e assistencial com práticas próprias de cuidado. A presente pesquisa investiga como o ebó, ritual tradicional, relaciona-se com as práticas de saúde em terreiros do Recôncavo baiano.
Objetivos
Correlacionar os ebós e suas práticas com o cuidado em saúde realizado em terreiros de candomblé nos municípios baianos de Alagoinhas e Catu, destacando seus significados, intencionalidades e interfaces com o campo da saúde.
Metodologia
Adotou-se a etnografia como referencial metodológico, com imersão sistemática em sete terreiros de candomblé entre 2023 e 2024. Foram utilizadas observação participante e entrevistas semiestruturadas com nove interlocutores, selecionados por critérios de viabilidade e senioridade religiosa. O corpus foi analisado segundo a técnica da maceração, análoga à análise de conteúdo, utilizando-se o software MAXQDA 24.5 para identificação de categorias empíricas e sua articulação com categorias teóricas. Essa abordagem possibilitou apreender as práticas rituais e simbólicas do candomblé como formas legítimas de cuidado em saúde.
Resultados
Dois núcleos de significância emergiram: i) o candomblé como cosmo-sistema religioso e assistencial; ii) a interface entre o sagrado e o científico na produção do cuidado. As práticas associadas ao ebó revelaram-se carregadas de intencionalidade terapêutica, operando como dispositivos de reintegração energética e bem-estar. Evidenciou-se a complexidade dos saberes envolvidos, sua eficácia simbólica e prática, além da tensão entre os modos tradicionais e institucionais de cuidar. As análises destacaram os ebós como tecnologias culturais de cuidado que respondem a demandas físicas, emocionais e espirituais dos sujeitos.
Conclusões/Considerações
Conclui-se que os rituais do candomblé, especialmente os ebós, constituem saberes-fazeres potentes na produção do cuidado em saúde. Apesar da cisão entre os sistemas tradicional e biomédico, os terreiros evidenciam o potencial de cooperação entre esses campos. O reconhecimento do ebó como tecnologia de cuidado amplia horizontes para práticas de saúde mais integrativas, sensíveis aos valores espirituais e culturais dos sujeitos.
(RE)PENSANDO O SABER: ABORDAGENS EPISTEMOLÓGICAS CONTRA-HEGEMÔNICAS EM PERSPECTIVA
Comunicação Oral Curta
1 UFBA-IMS
Período de Realização
Trata-se de uma experiência realizada entre os meses de maio a junho de 2025.
Objeto da experiência
Repensar o referencial teórico da disciplina Epistemologia e Saúde Coletiva: conceitos, teoria e métodos do Programa de Pós Graduação em Saúde Coletiva.
Objetivos
Propor o estudo de epistemologias contra-hegemônicas através de autoras(es) com foco na América Latina e construir novas formas de compreender a área da Saúde Coletiva a partir de referências próximas da realidade brasileira.
Metodologia
O conhecimento em torno de epistemologias contra hegemônicas têm sido embasado em teóricos do Norte global, que se apropriam de vivências e saberes do Sul. Questionou-se o uso desses referenciais através de uma roda de conversa entre os discentes, seguida de um diálogo aberto com a docente responsável. A construção de saberes epistemológicos plurais, decoloniais e anticoloniais foi proposta, sob a perspectiva de autoras(es) contra hegemônicos, com foco na produção acadêmica da América Latina.
Resultados
Realizou-se busca literária de referenciais latinos e a metodologia da sala de aula invertida, conduzida pelos discentes. O que possibilitou a discussão de autoras(es) com construção teórica-vivencial de conceitos epistemológicos indígenas e afro referenciados. A proposta teve boa recepção, e, a partir de uma construção horizontalizada, o cronograma foi reajustado abrindo espaço para discussão acadêmica como forma de construir conhecimento sob perspectiva Uni-versal para a Pluri-versal.
Análise Crítica
Com essa metodologia foi possível reproduzir uma desconstrução de um conhecimento eurocentrado, colocando em evidência as epistemologias do sul global, nas mãos de quem de fato vivenciou e construiu esse conhecimento. Esse processo representou uma ruptura com a lógica colonial dominante. Um aspecto marcante nesse processo foi a valorização do protagonismo dos estudantes, que assumiram papel ativo na construção do diálogo na busca de um estudo epistêmico crítico e pluri-versal.
Conclusões e/ou Recomendações
A inclusão de novas autoras e autores permitiu a presença de vozes que fomentam a interculturalidade de saberes nesse campo. Autoras(es) como: Silvia Rivera Cusicanqui, Catherine Walsh, Paulo Freire, Walter Mignolo, Nego Bispo, Aníbal Quijano, e Ramón Grosfoguel estiveram entre as novas referências. Ficou claro a importância das universidades brasileiras revisarem seus referenciais teóricos no debate da decolonialidade no campo da Saúde Coletiva.
SABORES SAGRADOS: ALIMENTAÇÃO COMO PILAR DE IDENTIDADE, RESISTÊNCIA E SOBREVIVÊNCIA EM TERREIROS
Comunicação Oral Curta
1 Centro Universitário Unifg
Período de Realização
A atividade teve início em setembro de 2024 e foi finalizada em maio de 2025.
Objeto da experiência
Documentário "Comida de Preto – caminhos culinários de resistência e sobrevivência", episódio “Sabores Sagrados – A Alimentação no Terreiro”.
Objetivos
Explorar a alimentação como ferramenta de resistência cultural e social, preservando saberes ancestrais e identidade afro-brasileira em terreiros e Promover diálogo e compreensão das religiões de matriz africana, usando a alimentação como conexão e quebra de barreiras.
Descrição da experiência
A experiência culminou no documentário "Comida de Preto – caminhos culinários de resistência e sobrevivência", em Guanambi, e incluiu formação discente em SAN e religiosidade, entrevistas, edição e divulgação. O lançamento ocorreu em 20 de maio de 2025, no II Cine Diversidade Plurais. Em 26 de outubro de 2024, o episódio "Sabores Sagrados – A Alimentação no Terreiro" foi gravado no Ilé Àse Ojú Oòrùn, documentando a produção de alimentos, divisão de tarefas, rituais e práticas sustentáveis.
Resultados
As narrativas registradas destacaram a centralidade da alimentação na promoção da SAN, reforçando seu papel de resistência e pertencimento contra desigualdades sociais e raciais. O audiovisual gerou discussões sobre racismo religioso e alimentar, empoderando e sensibilizando os discentes e a comunidade envolvida. O II Cine Diversidade Plurais lançou o episódio com representantes do terreiro e 52 estudantes, com exibição e roda de conversa.
Aprendizado e análise crítica
A preservação das práticas alimentares e saberes ancestrais nos rituais religiosos que cercam as religiões de matriz africana, é um movimento de resistência importante, visto que nestes espaços a alimentação vai além da mera ingestão de nutrientes, configurando um conjunto de práticas sociais e rituais de profunda relevância. Explorar a comensalidade entre pessoas e divindades, demonstra que a comida um pilar essencial para compreender a existência e a resiliência dos terreiros de Candomblé.
Conclusões e/ou Recomendações
Conclui-se que esta atividade promoveu a ampliação do olhar dos estudantes envolvidos quanto aos cuidados à saúde e garantia de vida da população negra, tendo como centro o (re) conhecimento e a aproximação com nossas raízes e com a promoção de hábitos alimentares e de vida saudáveis, além de estimular a atuação multiprofissional na busca da redução/extinção das desigualdades sociais e o desenvolvimento de habilidades importantes.
DIÁLOGOS ENTRE A SAÚDE COLETIVA E OS CUIDADOS INTEGRAIS COM TODAS AS VIDAS.
Comunicação Oral Curta
1 Fiocruz
Apresentação/Introdução
O trabalho está focado em uma proposta de diálogo entre a saúde coletiva e os cuidados integrais com as vidas. Para isso, propusemos um encontro entre a perspectiva da ‘produção de vida’, do pensador indígena Ailton Krenak; o conceito de ‘biointeração’, do pensador quilombola Nego Bispo; e as pensadoras ecofeministas, que têm buscado reivindicar a centralidade da produção da vida.
Objetivos
Construir diálogos interdisciplinares e interculturais entre os conhecimentos dos interlocutores orgânicos Nego Bispo e Ailton Krenak, e o Ecofeminismo, que inspirem esse campo a incorporar as reflexões sobre os cuidados integrais para a produção de vida.
Metodologia
Trata-se de um ensaio crítico, partindo das contribuições dos interlocutores Nego Bispo e Ailton Krenak. A escolha destes interlocutores foi realizada a partir da constatação de que eles têm participado ativamente de diversos espaços públicos de compartilhamento das sabedorias construídas historicamente por seus povos. Optamos pela interlocução com um pensador indígena e outro quilombola porque, mais do que mergulhar nos vastos domínios das cosmopercepções dos povos originários e afrodiaspóricos do Brasil, interessa-nos compreender as confluências entre esses saberes ancestrais.
Resultados
Uma vida produtora de vida é repleta de cuidados. A saúde coletiva precisa compreender que, além das crises da medicina e da saúde, extensamente discutidas por esse campo nas últimas décadas, há uma crise de cuidados provocada pela perpetuação de um sistema heteropatriarcal que delega aos setores mais invisibilizados da sociedade, as mulheres negras, o trabalho incessante do cuidado. Esse reconhecimento é fundamental para que as discussões em torno dos cuidados em saúde superem formulações segmentadas, de acordo com as categorias profissionais, e extrapolem os espaços institucionalizados para os quais em geral eles são concebidos.
Conclusões/Considerações
A diversidade de abordagens com as quais estamos convidando o campo da saúde coletiva a dialogar incita-nos a pensar que os desafios atuais e futuros para a manutenção de uma vida equilibrada e saudável no planeta solicita-nos compreender e incorporar à nossa práxis a confluência entre as diversas lutas e saberes, sem invisibilizar as singularidades de cada grupo.

Realização: