
Programa - Comunicação Oral Curta - COC30.1 - Territórios e desafios para o antirracismo I
01 DE DEZEMBRO | SEGUNDA-FEIRA
08:30 - 10:00
08:30 - 10:00
A CASA DE FARINHA NO QUILOMBO MARIA ROMANA: REFLEXÕES ENTRE O EPISTEMICÍDIO E A CULTURA ALIMENTAR AFRODIASPÓRICA
Comunicação Oral Curta
1 CEFET/RJ
2
Apresentação/Introdução
Este trabalho nasce da interseção entre a nutrição, os estudos espaciais e a memória coletiva, tendo como foco a Casa de Farinha do Quilombo Maria Romana (RJ). A mandioca é aqui compreendida como uma tecnologia viva, cerne da soberania alimentar quilombola e expressão da resistência contra o epistemicídio, através da manutenção dos saberes tradicionais no empenho da produção e cultivo do alimento.
Objetivos
Investigar a centralidade da casa de farinha como território educativo, político e nutricional no Quilombo Maria Romana, articulando práticas alimentares, saberes ancestrais e os desafios contemporâneos à soberania alimentar quilombola.
Metodologia
A pesquisa baseia-se num levantamento dos referenciais publicados em periódicos qualificados pela Plataforma Sucupira, além de trabalho de campo e observação participante, sempre ancorada numa abordagem afrocentrada (ASANTE, 2009), tendo em vista a construção compartilhada do conhecimento em diálogo com o território quilombola. A Casa de Farinha é analisada como eixo político-pedagógico, em que a alimentação atua como mediação entre memória coletiva, cultura e soberania alimentar. As experiências serão sistematizadas a partir dos diálogos com a comunidade, considerando os sentidos atribuídos à alimentação, à terra e à Casa de Farinha.
Resultados
O levantamento bibliográfico mostrou que, nas revistas científicas de nutrição, a mandioca aparece de forma fragmentada, reduzida a ingrediente ou componente nutricional, com raras abordagens sobre sua dimensão cultural e simbólica. Já a vivência no Quilombo Maria Romana destacou a Casa de Farinha como espaço de trabalho coletivo, transmissão de saberes e autonomia produtiva. O cruzamento entre ciência e território revelou um descompasso entre conhecimento acadêmico e práticas alimentares quilombolas, evidenciando epistemicídio e a urgência de metodologias que valorizem a cultura alimentar afrodiaspórica.
Conclusões/Considerações
A Casa de Farinha, enquanto tecnologia ancestral viva, tensiona os limites da ciência da nutrição hegemônica e reafirma a urgência de epistemologias afrocentradas. Reposicionar a mandioca no centro do debate alimentar é reconhecer sua potência como alimento, cultura e elo com o território. A soberania alimentar quilombola não é apenas um direito, mas também uma insurgência contra o apagamento de seus saberes e práticas.
AQUILOMBAR A SAÚDE, CONTRACOLONIZAR AS LUTAS: O PROJETO POLÍTICO DO MOVIMENTO QUILOMBOLA PARA A SAÚDE NO BRASIL
Comunicação Oral Curta
1 Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA)
Apresentação/Introdução
Os quilombos representam um modo de organização social e de resistência afro-latino-americana frente a escravização, colonialidade e racismo. No Brasil, o reconhecimento dos direitos quilombolas na Constituição de 1988 trouxe avanços na busca por cidadania, embora, a Coordenação Nacional de Quilombos (CONAQ) reivindique atualmente a criação de políticas de saúde específicas para os quilombolas.
Objetivos
Analisar o processo de construção do projeto político do movimento social quilombola brasileiro para a saúde no período 1988-2023.
Metodologia
Trata-se de uma análise política com base em pesquisa documental (Cellard, 2012), apoiada em dez documentos públicos elaborados pela CONAQ em conjunto com órgãos públicos e partidos políticos brasileiros, publicizados entre 1996-2023. A análise e categorização documental ocorreu em três momentos: 1) caracterização da CONAQ, o cenário de sua origem, objetivos e estrutura; 2) concepções e propostas de saúde; 3) ações da CONAQ face aos principais fatos em torno da saúde quilombola de 1988-2023.
Resultados
O movimento quilombola tem na ação coletiva da CONAQ, um sujeito político que tem defendido duas concepções de saúde, a “saúde ancestral quilombola”, dimensão tradicional e comunitária, e a “atenção à saúde quilombola”, dimensão institucional no SUS. Apontando para a necessidade de um “novo modelo de saúde” que contemple as especificidades territoriais e etnoculturais dos quilombos. Marcam esse processo de lutas o protagonismo da CONAQ na formulação das Políticas Nacionais de Saúde Integral das Populações Negra (2009) e do Campo, Florestas e Águas (2014), ação pela garantia da proteção contra a Covid-19 (2020) e a realização da 1° Conferência Nacional Livre de Saúde Quilombola (2023).
Conclusões/Considerações
O projeto político dos quilombolas propõe a defesa do SUS 100% público, democrático e universal se aproximando do projeto da Reforma Sanitária. Contudo, busca uma práxis contracolonial e de aquilombolamento para as lutas por saúde, conectadas a um projeto mais amplo de defesa do direito à terra, emancipação, igualdade, liberdade e diferenciação, com mobilizações etnoterritoriais e antirracistas.
ENTRE MUROS E MARGENS: UMA ETNOGRAFIA DAS (IM)POSSIBILIDADES DE PERMANÊNCIA DE ESTUDANTES NEGROS E QUILOMBOLAS DA UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI
Comunicação Oral Curta
1 URCA
Apresentação/Introdução
A recente implementação das políticas afirmativas no âmbito da Universidade Regional do Cariri (URCA) enfrenta desafios quanto à permanência de estudantes autodeclarados negros (pretos e pardos) e quilombolas na instituição. A ausência de dados, a violência simbólica e o não-apoio institucional podem gerar, de acordo com a literatura, sentimentos de exclusão, não-pertencimento e evasão.
Objetivos
Analisar como estudantes negros e quilombolas constroem territórios de pertencimento e enfrentam os desafios de permanência em um campus da URCA.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa qualitativa com abordagem teórico-metodológica etnográfica. A produção dos dados ocorre por meio de diário de campo, observação-participante, entrevistas semiestruturadas e conversas informais com as pessoas interlocutoras. Participam do estudo estudantes negros e quilombolas matriculados em diferentes cursos da URCA, campus Iguatu. A análise será temática, com triangulação entre os registros etnográficos, os relatos produzidos nas entrevistas e documentos institucionais. A pesquisa segue os preceitos éticos estabelecidos pela Resolução CNS nº 510/2016, contando com Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e aprovação do CEP sob o n. 7.364.681.
Resultados
A observação-participante e os relatos de campo em andamento têm evidenciado o racismo institucional, a fragilidade das políticas de permanência e a ausência de estruturas voltadas aos estudantes negros e quilombolas no campus Iguatu. Destacam-se barreiras materiais (como a falta de espaços de descanso e convivência), simbólicas (como a escassez de debates sobre identidade racial) e pedagógicas (como a ausência de formação continuada sobre cotas para docentes e técnicos) que dificultam a permanência de estudantes negros no campus.
Conclusões/Considerações
A inexistência de políticas de permanência na URCA compromete profundamente a trajetória acadêmica de estudantes negros e quilombolas, ampliando experiências de exclusão, sofrimento e deslocamento simbólico. Compreender essas vivências, a partir da etnografia, é essencial para a construção de estratégias institucionais que promovam pertencimento, justiça racial e a transformação da universidade em um espaço verdadeiramente inclusivo.
EXPERIÊNCIA EXTENSIONISTA NO PROJETO ÉBANO: AÇÕES DE PROMOÇÃO DA SAÚDE À MULHERES DE COMUNIDADES TRADICIONAIS EM SENHOR DO BONFIM, BAHIA
Comunicação Oral Curta
1 UNEB
Período de Realização
Iniciado em 2024, o projeto segue em andamento e já acumula trajetória rica em ações extensionistas.
Objeto da experiência
Ações extensionistas do projeto Ébano voltadas à promoção da saúde e autocuidado de mulheres de comunidades tradicionais em Senhor do Bonfim, BA.
Objetivos
Desenvolver ações de cuidado integral que contribuam para a melhoria da saúde e da qualidade de vida de mulheres de comunidades tradicionais, visando dirimir iniquidades e estimular a equidade, fortalecer o autocuidado e consolidar a extensão universitária em enfermagem.
Descrição da experiência
A experiência, vinculada à UNEB – Campus VII, teve início com o mapeamento das comunidades tradicionais de Senhor do Bonfim/BA, segundo o IBGE. Os integrantes passaram por capacitação e, em seguida, iniciaram o planejamento das ações. A aproximação com a comunidade ocorreu por meio do fortalecimento de vínculos, rodas de conversa e feiras de saúde, sempre em parceria com lideranças locais e respeitando saberes e práticas culturais.
Resultados
As rodas de conversa favoreceram o vínculo com a comunidade e o reconhecimento das práticas de saúde locais. Na feira de saúde, foram realizadas aferições de sinais vitais e glicemia, oficinas sobre saúde reprodutiva e prevenção do câncer do colo do útero, além de atividades educativas sobre hipertensão e diabetes. A integração entre saberes tradicionais e científicos fortaleceu a relação entre universidade e comunidade.
Aprendizado e análise crítica
A experiência evidenciou a importância do cuidado pautado na escuta, no respeito às especificidades culturais e na construção coletiva do conhecimento. O contato com a comunidade revelou a potência do cuidado multiprofissional na ampliação do acesso e da qualidade do cuidado ofertado. O projeto também impactou positivamente na formação crítica dos estudantes e resultou em produção acadêmica apresentada em eventos científicos.
Conclusões e/ou Recomendações
O projeto mostrou-se eficaz na promoção da saúde e no fortalecimento do autocuidado entre mulheres de comunidades tradicionais. Recomenda-se sua continuidade e ampliação para outras comunidades, com maior integração com políticas públicas e ações intersetoriais. A extensão universitária da UNEB – Campus VII deve seguir como instrumento de transformação social e formação crítica dos futuros profissionais de saúde.
FÓRUM KILOMBOSUL: CAMINHOS POSSÍVEIS PARA UMA PRÁXIS ANTIRRACISTA NO SUS
Comunicação Oral Curta
1 Estácio de Sá
2
Período de Realização
Os fóruns do KilomboSul ocorreram entre outubro de 2022 e abril de 2025.
Objeto da experiência
O Fórum KilomboSul como espaço de concretização da educação permanente em saúde da população negra na rede municipal da zona sul de São Paulo.
Objetivos
Descrever a potência de um espaço coletivo, protagonizado por trabalhadores do SUS e SUAS, na consolidação da educação permanente em saúde da população negra, reafirmando-a como estratégia de enfrentamento ao racismo institucional.
Descrição da experiência
O KilomboSul é um coletivo inter-racial e intersetorial que promoveu fóruns mensais presenciais, reunindo trabalhadores comprometidos com a redução das iniquidades em saúde. Os encontros iniciaram com o estudo da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) e, nos meses seguintes, passaram a incluir temas e autores que dialogam com à saúde da população negra tanto no campo da sociologia, da saúde coletiva, psicologia social, psicanálise e literatura brasileira.
Resultados
Debates e oficinas abordaram o racismo estrutural, institucional, científico e religioso; racismo como determinante social da saúde e seus efeitos na saúde mental; intersecções entre raça e gênero; a importância do quesito raça/cor nos projetos terapêuticos; e a significância de práticas afrocentradas. O conteúdo foi replicado e resultou na criação de rodas de conversa e oficinas afroreferenciadas com equipes de saúde mental e de um Centro Especializado em Reabilitação, na zona sul de São Paulo.
Aprendizado e análise crítica
Ao reunir pessoas com diferentes formações e experiências, que atuam na linha de frente das políticas públicas, o Fórum se tornou espaço de reconhecimento e efetivação da PNSIPN através da inclusão do racismo e saúde da população negra como pauta recorrente de educação permanente; e do reconhecimento e valorização dos saberes e práticas populares e científicos da população negra.
Conclusões e/ou Recomendações
Por meio dos Fóruns, de um grupo de whatsapp e de grupos de formação em alguns serviços, o KilomboSul fortalece e impulsiona a produção de saberes e tecnologias voltadas à equidade racial e ao enfrentamento do racismo institucional e tem singularidade para consolidar-se como espaço de educação permanente na zona sul de São Paulo. Para isso, recomenda-se seu fortalecimento e reconhecimento institucional como prática estratégica no âmbito do SUS.
GRUPO SAMAMBAIA: FORMAÇÃO, CONCEITOS E PRÁTICAS PARA A PROMOÇÃO DE SAÚDE INTEGRAL PARA POPULAÇÃO NEGRA A PARTIR DO TERRITÓRIO ANCESTRAL
Comunicação Oral Curta
1 Unicamp
Período de Realização
Os movimentos aqui relatados ocorreram do começo de 2024 (20/03/2024) até o final de maio de 2025.
Objeto da experiência
A experiência do processo de formação e atuação do Grupo de Extensão, Pesquisa e Ensino Samambaia será o objeto abordado neste relato.
Objetivos
-Descrição da formação do Grupo Samambaia e seus princípios.
-Apresentação do papel da Extensão Comunitária para promoção de saúde para a população negra.
-Apontar lacunas bibliográficas e barreiras institucionais encontradas no ambiente acadêmico.
Descrição da experiência
Com a invisibilidade das questões raciais em seus currículos, um grupo de alunos cotistas da UNICAMP se reuniu para começar a pautar Saúde para População Negra em um ambiente ainda pouco estruturado para tratar deste tema. Neste sentido, em contato com o quilombo urbano “Casa de Cultura Tainã” e o conceito de Extensão Comunitária surgiu a ideia de integralizar as atividades da casa e aprender, a partir de cosmopercepções Afro-pindorâmicas, conceitos como saúde, território e cuidado.
Resultados
Para além da formação do grupo articulado para o estudo e implementação de práticas e saberes voltados à promoção de saúde integral para a população negra conjuntamente à comunidade, antes inexistestente na Unicamp, também houve outros resultados. Como movimentações intitucionais na faculdade, gerando a aquisição de bibliografia especializada em saúde da população negra e autoras negras. E a atuação em atividades no território, como a horta comunitária de fitoterápicos.
Aprendizado e análise crítica
A saúde da população negra não pode ser compreendida apenas como um conteúdo curricular a ser atualizado. Isso porque seu estado tem fortes impactos socio-histórico-culturais, evidenciando a insuficiência da atualização curricular isolada. Dessa forma, o ambiente acadêmico hegemônico ainda carece de estrutura para uma promoção adequada de saúde à população negra, cabendo à extensão comunitária criar espaços que favoreçam o contato efetivo com a comunidade, suas práticas de cuidado e saberes.
Conclusões e/ou Recomendações
A sobrevivência das comunidades negra e indígena no Brasil depende mais de seus saberes ancestrais do que das instituições. Isso mostra a importância de profissionais que atuarão no SUS conheçam e integrem essas práticas coletivas de cuidado. Assim, Extensão Comunitária surge como caminho para promover trocas mais profundas e contextualizadas sobre o cuidado e a vida da maior parte da população brasileira.
O SAGRADO NO CUIDADO À SAÚDE E MEIO AMBIENTE NOS TERREIROS DE MATRIZ AFRICANA NA RIDE-DF
Comunicação Oral Curta
1 Fiocruz Brasília
Apresentação/Introdução
As religiões de matriz africana constituem grande complexidade ritual e mítica, cuja tradição oral preserva um conjunto de crenças, símbolos e práticas específicas. É possível observar, um intricado conjunto de saberes relacionados à divisão do cosmo/universo. A separação entre o Aiê e o Orun (Céu e Terra) marca a relação entre os homens e os orixás, que se conectam, por meio do transe.
Objetivos
Compreender através das narrativas dos zeladores de santo a relação entre o sagrado e as concepções e práticas de saúde e doença e cuidado
Metodologia
Trata-se de um estudo qualitativo com abordagem etongráfica, desenvolvido através da observação participante, entrevistas semi-estruturadas e diário de campo
Resultados
As estratégias de cuidado e cura é , construído com base nos mitos que narram a vida dos orixás na Terra e a marcam toda a organização social deste universo cultural. Tal explicação cosmológica do mundo, da vida e da morte contribui para enquadrar a experiência de sofrimento, dando-lhe um sentido, uma explicação e uma possibilidade de ação ritual. A terapêutica do sagrado constitui assim uma das alternativas de cura, cuja adesão por parte de seus seguidores é influenciada, entre outros fatores, por experiências individuais ou coletivas de sua eficácia e/ou pela fidelidade ao sagrado que regulam a vida em geral, incluindo as condutas relativas ao cuidado com o corpo, com a saúde etc.
Conclusões/Considerações
A compreensão das estratégias de cuidado à saúde exige o entendimento da concepção de pessoa embasada nos mitos dos orixás, que estruturam a organização social desse universo cultural. Essa visão cosmológica atribui sentido ao sofrimento e a perturbação (desequilíbrio) na saúde e meio ambiente e oferece possibilidades de ação ritual para sua superação, complementando as práticas convencionais ao fornecer espaços de acolhimento, cura e cuidado
ONAN MIMO: CARTILHA EDUCATIVA EM SAÚDE
Comunicação Oral Curta
1 UFRB
Período de Realização
07|02|2023-20|05|2025
Objeto da produção
Cartilha educativa para disseminar o uso ancestral de ervas medicinais, promovendo saúde e espiritualidade.
Objetivos
O presente estudo visou compilar e valorizar conhecimentos ancestrais sobre ervas medicinais de terreiros de Cachoeira no Recôncavo da Bahia. Objetivou-se romper preconceitos e disseminar o poder curativo das folhas, alinhado à Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN).
Descrição da produção
A metodologia pautou-se na oralitura e escrevivência, reconhecendo e valorizando as narrativas e saberes transmitidos oralmente. A coleta de dados ocorreu diretamente com a população de terreiro em Cachoeira, Bahia, garantindo a autenticidade dos conhecimentos. O processo de criação do layout da cartilha foi colaborativo, desenvolvido em parceria com o ilustrador Ruz, buscando uma estética que respeitasse e representasse a riqueza cultural dos saberes ancestrais.
Resultados
A produção resultou em uma cartilha educativa inovadora, que integra o conhecimento tradicional sobre ervas medicinais ao uso para saúde e espiritualidade. Ao traduzir a oralitura em material didático, a cartilha tornou-se uma ferramenta acessível para a comunidade e o público em geral, facilitando a compreensão e aplicação dos saberes ancestrais. Este material representa um avanço na disseminação de práticas de cura não convencionais e na valorização de um patrimônio cultural muitas vezes marginalizado.
Análise crítica e impactos da produção
Este projeto emerge como um importante movimento de resistência contra o apagamento das práticas de cura de matriz africana. Ao dar visibilidade e legitimidade aos saberes de terreiro, a cartilha confronta a hegemonia da cosmovisão na saúde brasileira, alinhando-se diretamente à Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. A metodologia baseada na oralitura e escrevivência é crucial, pois valoriza a forma própria de transmissão do conhecimento ancestral.
Considerações finais
A cartilha educativa sobre ervas medicinais é mais que um material informativo; é um instrumento de valorização cultural e promoção de saúde equitativa. Ela efetivamente dissemina o poder curativo das folhas, enquanto reconhece e celebra os saberes ancestrais de terreiro, contribuindo para a desconstrução de intolerâncias e reafirmando a importância dessas práticas no cenário da saúde brasileira, em plena consonância com a PNSIPN.
SABERES ANCESTRAIS DE CUIDADOS E PRÁTICAS DE CURA: AS TEIAS DE HISTÓRIAS, MEMÓRIAS E NARRATIVAS CONTADAS NAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO INTERIOR CEARENSE
Comunicação Oral Curta
1 UECE
2 URCA
Apresentação/Introdução
As comunidades quilombolas guardam saberes ancestrais, como rezas, benzimentos, entre outros ritos, passados de geração em geração, transmitidos pela oralidade e cultura preservada nos territórios. Práticas que representam elementos das suas memórias, ancestralidades, vivências e conexões com a natureza e deuses, usadas nos cuidados, tratamento e cura de doenças.
Objetivos
Conhecer os saberes ancestrais de cuidados e práticas de cura narrados pelas histórias e memórias dos povos de comunidades quilombolas do interior cearense.
Metodologia
Estudo orientado pela tradição qualitativa de pesquisa em saúde, com enfoque participativo, realizado em três comunidades quilombolas localizadas na zona rural de um município no interior do Ceará. Os dados foram coletados por meio da interloculação com praticantes dos saberes ancestrais de cuidados e práticas de cura com o uso de rezas, plantas, lambedores, banhos de assento, entre outros rituais, durante as visitas nas associações quilombolas e domicílios, por meio da observação participante, fotografias e diário de campo, sendo analisados pelo método hermenêutica-dialética de Minayo. Atende às exigências da Resolução nº 510/2016, sendo aprovado pelo Parecer n° 6.990.876/2024.
Resultados
As comunidades quilombolas em estudo carregam ricas heranças culturais, mantendo suas práticas cuidados e cura, línguas e rituais, reafirmando suas raízes africanas, especialmente, as mulheres que são guardiãs da memória, expressando sua resistência, orgulho e continuidade dos modos de vida ancestrais. Ao considerar essas sabedorias enraizadas na herança cultural dessas comunidades, depara-se com um vasto conhecimento sobre o uso de ervas medicinais, rituais de cura e práticas espirituais que desempenham papéis importantes na cura, prevenção e tratamento de doenças, reafirmando assim, a importância de valorização das suas raízes culturais e identidades tradicionais.
Conclusões/Considerações
As práticas de cuidar/cuidado nas comunidades, incluindo práticas de cuidado ancestral, ervas medicinais e rituais de cura, principalmente pelas mulheres quilombolas que são agentes-chave na transmissão e preservação dos saberes tradicionais, reconhecemos que as memórias, histórias e sabedorias ancestrais devem ser resgatadas e valorizadas, pois é por meio delas que se preservam os territórios, a cultura e a identidade quilombola.
LETRAMENTO RACIAL NA GESTÃO FEDERAL EM SAÚDE – A EXPERIÊNCIA DA JORNADA DE EQUIDADE ÉTNICO-RACIAL NA SVSA
Comunicação Oral Curta
1 PPGASC/UFES
2 SVSA/MS
Período de Realização
De fevereiro de 2024 a abril de 2025.
Objeto da experiência
Processo de concepção e implementação da Jornada de Equidade Étnico-Racial na Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente.
Objetivos
Descrever e refletir criticamente sobre a construção e execução da Jornada de Equidade Étnico-Racial na SVSA/MS, analisando seus impactos institucionais, sua contribuição para o letramento racial em saúde e sua potência como ação de enfrentamento ao racismo institucional no SUS.
Descrição da experiência
A experiência descreve o processo de concepção, planejamento e execução da Jornada de Equidade Étnico-Racial na SVSA/MS, com foco no letramento racial de trabalhadores do SUS. Estruturada em três dimensões — história, lugar social e políticas públicas — a ação integrou dados epidemiológicos, literatura negra e dinâmicas grupais. Ancorada na epistemologia negra brasileira, promoveu releituras críticas da sociedade em 3 encontros de 4h.
Resultados
Observou-se ampliação da discussão étnico-racial na SVSA, maior adesão de gestores e técnicos às pautas de equidade, além da incorporação de ações institucionais voltadas ao enfrentamento ao racismo. A Jornada foi reconhecida por participantes como experiência transformadora, provocando mudanças de percepção e sensibilização no ambiente de trabalho. Ao longo das 9 turmas, participaram 300 trabalhadores de todo o Ministério da Saúde e outros Ministérios da Esplanada
Aprendizado e análise crítica
A experiência evidenciou que o enfrentamento ao racismo institucional exige metodologias que articulem técnica, afetividade e compromisso político. Os encontros da Jornada da Equidade Étnico-Racial permitiram maior integração dentro da Secretaria e dentro dos departamentos para se pensar a equidade. O processo apresentou dificuldades logistitcas e institucionais, mas também potencializou a construção de redes internas de apoio à pauta antirracista.
Conclusões e/ou Recomendações
O relato reafirma a necessidade de institucionalização de ações de letramento racial nas políticas de saúde. Recomenda-se a ampliação da Jornada para outras Secretarias e esferas de governo, garantindo formação contínua e política, com metodologias que considerem os corpos, as histórias e as subjetividades como parte da construção do SUS antirracista.
ITINERÁRIOS E REPERCUSSÕES NA SAÚDE DE COMUNIDADES QUILOMBOLAS NO CONTEXTO DA PANDEMIA DE COVID-19
Comunicação Oral Curta
1 Universidade Federal do Rio de Janeiro
2 Universidade de Brasília/ Universidade Federal do Pará
Apresentação/Introdução
A pandemia da covid-19 atingiu territórios quilombolas desproporcionalmente e afetou significativamente esses grupos tradicionais. Observou-se invisibilização dos casos de covid-19, subnotificação e negligência que dificultaram a mensuração da expansão da pandemia entre os quilombolas.
Objetivos
Conhecer os itinerários percorridos pelos quilombolas e descrever as repercussões da pandemia de covid-19 nas comunidades quilombolas da Amazônia paraense.
Metodologia
Pesquisa qualitativa com enfoque da Antropologia. Foram realizadas 30 entrevistas com lideranças quilombolas captadas pela técnica de Bola de Neve. Aplicou-se roteiro de entrevista com perguntas semiestruturadas. Os dados do perfil foram processados no software Microsoft Excel e tratados com estatística descritiva. As entrevistas foram submetidas ao software Alceste e realizada análise lexical, com lexicometria e lexicografia.
Resultados
O estudo envolveu lideranças de 14 municípios do estado do Pará, sendo 16 mulheres e 14 homens, com média de idade de 40,5 anos. Os itinerários abrangeram a busca pelos serviços da rede pública de saúde nos casos graves e o uso de saberes e práticas tradicionais nos casos menos graves. As repercussões atingiram a organização sociocultural, relações de trabalho, emprego e renda das comunidades, evidenciando suas vulnerabilidades.
Conclusões/Considerações
Os conhecimentos e práticas tradicionais são recursos ainda amplamente utilizados nas comunidades, mas também evidenciam a precariedade e insuficiência dos serviços de saúde de prestarem um atendimento culturalmente competente. As repercussões da pandemia evidenciaram a acentuação das vulnerabilidades e o agravamento das desigualdades enfrentadas pelos quilombolas.
ÍNDICE DE RACISMO E INDICADORES INTERSECCIONAIS: CRIAÇÃO DE UM PAINEL PARA MONITORAMENTO DAS INIQUIDADES RACIAIS NO SUS
Comunicação Oral Curta
1 ENSP/FIOCRUZ
Período de Realização
Entre 2022 e 2024.
Objeto da produção
Mapeamento de indicadores racializados, índice de racismo e painel interativo para monitorar iniquidades raciais no SUS.
Objetivos
Criar um painel de monitoramento a partir de um índice de racismo que considere interseccionalmente as iniquidades raciais em saúde no SUS.
Descrição da produção
A produção envolveu a construção de um índice de racismo e de um painel interativo com indicadores articulando diferentes expressões do racismo nos resultados em saúde. Usou-se dados secundários de sistemas nacionais, organizados em eixos como mortalidade, morbidade, acesso e violência. O painel permite análises interseccionais e foi desenvolvido com participação de pesquisadores, gestores e controle social.
Resultados
A versão piloto do painel foi validada com grupos de interesse, evidenciando padrões de exclusão e desigualdade nos territórios e na atenção à saúde. Tornou-se ferramenta de apoio à gestão e ao controle social, contribuindo para o fortalecimento das políticas de equidade no SUS e fomentando o debate institucional sobre o enfrentamento do racismo estrutural.
Análise crítica e impactos da produção
Como inovação tecnológica social subsidia o planejamento estratégico e a tomada de decisão com justiça racial e o advocacy. O impacto da ferramenta-recurso ético-técnico-político está na possibilidade de gerar melhorias das políticas em torno da equidade racial com alta replicabilidade e aplicabilidade. Como limitação, exige tecnologia de informação e disseminação mediada por dados, cujas bases secundárias precisam ser acessíveis e atualizáveis.
Considerações finais
O índice de racismo e o painel de indicadores consolidaram-se como ferramentas estratégicas para subsidiar o planejamento e a avaliação de políticas públicas orientadas à equidade racial. Fortalecer os processos de gestão, controle social e ações antirracistas. Seu uso sistemático contribuiu para tornar visíveis as iniquidades, promover a responsabilização institucional e fortalecer as políticas de equidade no SUS.

Realização: