
Programa - Comunicação Oral Curta - COC35.4 - Violência e Cuidado em Cenários Urbanos e Institucionais
01 DE DEZEMBRO | SEGUNDA-FEIRA
08:30 - 10:00
08:30 - 10:00
ANÁLISE DESCRITIVA DOS GASTOS HOSPITALARES COM VÍTIMAS DE ACIDENTES DE TRÂNSITO NO BRASIL, NA PRIMEIRA DÉCADA DE AÇÃO PARA SEGURANÇA VIÁRIA NO BRASIL.
Comunicação Oral Curta
1 UFC
2 SSPDS-CE
3 UNIFOR
4 SESA-CE
Apresentação/Introdução
A Primeira Década de Ação para Segurança Viária (2011 a 2020), compromisso entre as nações unidas para diminuir pela metade os óbitos e lesões no trânsito, até 2020, trouxe avanços, embora ainda não tenha atingido a meta. Os acidentes ainda acarretam custos elevados e impactam negativamente a economia, sendo imperativa a adoção de medidas de controle desses agravos, em sua maioria, evitáveis.
Objetivos
Dimensionar os gastos hospitalares com vítimas de acidentes de trânsito no Brasil, na primeira Década de Ações para Segurança Viária.
Metodologia
Estudo descritivo dos gastos hospitalares com vítimas de acidentes com transporte terrestre no Brasil no período de 2011-2020, utilizando dados secundários do Sistema de Informações Hospitalares do SUS. Foram analisados os gastos hospitalares totais, por local de residência, com pedestres (CID-10 V01-V09), motociclistas traumatizados (CID-10 V20-V29) e ocupantes de automóvel (CID-10 V40-V49), por serem os tipos de acidentes responsáveis pela maior morbimortalidade no país. Os dados foram tabulados em uma planilha do Excel para Windows®, e calculados os valores absolutos em reais e a distribuição percentual. O estudo dispensou apreciação por Comitê de Ética, por utilizar dados secundários.
Resultados
Os gastos hospitalares no SUS com vítimas de acidentes de transporte terrestre, no referido período, foi de, aproximadamente, 2,1 bilhões de reais, dos quais 64,1% foram direcionados às vítimas de acidentes com motocicletas, 23,2% a pedestres traumatizados e 12,7% a vítimas de acidentes de automóvel. O montante da década corresponde a 76,2% dos gastos com todas as vítimas de causas externas. A média anual corresponde a 209,8 milhões de reais, sendo 134,5 milhões direcionados aos motociclistas, 48,7 milhões a pedestres traumatizados e 26,6 milhões a ocupantes de automóvel.
Conclusões/Considerações
Os acidentes de trânsito oneram, sobremaneira, os cofres públicos brasileiros. Os acidentes de motocicletas foram os principais responsáveis pelos gastos hospitalares com vítimas de acidentes de trânsito no Brasil, no período de estudo, superando os valores gastos com vítimas de acidentes de carro e pedestres acidentados juntos. São necessários estudos específicos para analisar as causas desse fenômeno.
CARACTERIZAÇÃO DOS CASOS DE VIOLÊNCIA ATENDIDOS EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE ALTA COMPLEXIDADE: IDENTIFICAÇÃO PARA A ATUAÇÃO DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE
Comunicação Oral Curta
1 HCFMUSP
Apresentação/Introdução
Em 2009, a Ficha de Notificação Individual de Violência Interpessoal/ Autoprovocada foi inserida no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e em 2011, a violência integrou a Lista Nacional das Doenças e Agravos de Notificação Compulsória. Dados sobre violência, são essenciais para identificação de grupos vulneráveis, planejamento de ações efetivas de prevenção e promoção de saúde.
Objetivos
Descrever o perfil epidemiológico das notificações de violência interpessoal/autoprovocadas nos institutos de saúde que integram o Hospital das Clínicas da Fundação Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) no período de 2015 a 2025.
Metodologia
Trata-se de estudo epidemiológico descritivo transversal retrospectivo com uma abordagem quantitativa a partir de informações extraídas do banco de dados SCAE- NUVE. Esses dados são alimentados de acordo com as notificações de violência identificadas dos diferentes institutos do HCFMUSP dentro do município de São Paulo, no período de maio 2015 a maio 2025.
Os institutos realizam atendimentos de pronto atendimentos, ambulatoriais e de internação. Foram realizadas análises estatísticas descritivas com demonstração das frequências relativas e absolutas para estudar a distribuição dos casos segundo as variáveis identificadas.
Resultados
Foram notificados 2842 casos violência nos institutos no período estabelecido. Dentre as notificações, houve o predomínio do sexo masculino (56,82%) e etnia branca (62,77%) e violências interpessoais (68,15%). Dos pacientes que sofreram alguma violência 72,97% foram internados. Em relação ao tipo da violência autoprovocadas, na alta do serviço os CIDs mais prevalentes foram auto intoxicação por medicamentos, produtos químicos ou narcóticos (36,84%); precipitação em local elevado (23,62%), lesão com objeto cortante (12,31%). Já nas violências interpessoais, os mais prevalentes foram agressão por força corporal (28,21%), sexual (23,70%) e por arma de fogo (17,59%).
Conclusões/Considerações
Os resultados demonstram que a notificação é fundamental para o conhecimento do perfil da violência para visibilidade dos casos e avaliar o seu impacto na saúde pública. Dessa forma, é possível a melhor condução interna de ações nos institutos do HCFMUSP como também a realização de práticas efetivas de prevenção e promoção da saúde nos serviços de saúde que constituem a rede hierarquizada do SUS e a distribuição de recursos necessários.
QUAIS SÃO OS CORPOS QUE MORRERAM EM UM MASSACRE ESCOLAR NO RIO DE JANEIRO?
Comunicação Oral Curta
1 FSP-USP
Apresentação/Introdução
Massacre escolar caracteriza-se como crime de ódio com a intenção de causar a morte de uma ou mais pessoas e, no Brasil, estão tornando-se mais frequentes em diversos estados. Abordaremos apenas o episódio de Realengo (RJ), em 2011, um dos primeiros e maiores ataques de violência extrema às escolas do país, que teve evidências extremistas e misóginas, com 10 meninas entre as 12 vítimas fatais.
Objetivos
Analisar como as narrativas midiáticas-documentais sobre o Massacre de Realengo (2011) abarcam a dimensão de gênero sobre o fenômeno a partir de uma perspectiva das Ciências Sociais e Humanas em Saúde.
Metodologia
De abordagem qualitativa, trata-se de um estudo com documentos que analisa artigos jornalísticos (2011) e o documentário “Massacre na Escola - A tragédia das meninas de Realengo” (2023), com foco nas narrativas que evocam questões de gênero. Para a discussão dos resultados, utilizou-se como referencial teórico as concepções sobre violência baseada em sexo e gênero de Myrna Dawson (2025) e sobre masculinidade em Debbie Ging (2017). O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001, e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) - Processo 130456/2025-0.
Resultados
Apesar de uma das notícias colocar a preferência por meninas do autor como pauta, ele foi uma exceção sobre os discursos criados sobre Realengo que insistem em atribuir a maior letalidade a uma passividade natural, ou seja, despotencializando e culpabilizando a vítima. Essa resistência em reconhecê-lo como violência de gênero reflete a naturalização da violência contra mulher, tratando-a como inevitável e ignorando o discurso sistematicamente misógino dos atentadores. Após uma década, o Massacre de Realengo segue visto como violência indiscriminada e não crime de ódio. Essa distorção invisibiliza as vítimas e impede que se discuta como a cultura patriarcal alimenta os fenômenos de massacre.
Conclusões/Considerações
Os corpos que morreram no Massacre de Realengo eram femininos. Corpos que continuam sendo lidos através de estereótipos - como se tivessem morrido por ser mais frágeis e menos inteligentes. A invisibilidade é um sintoma da fundante desigualdade de gênero brasileira que falha em enfrentar a misoginia como sistêmica e multifacetada. É preciso considerar a dimensão de gênero nos massacres escolares para a efetiva garantia da equidade em saúde.
SAÚDE MENTAL DE VÍTIMAS DE VIOLÊNCIAS URBANA ATENDIDAS NA RAPS DE FORTALEZA-CE
Comunicação Oral Curta
1 UFC
Apresentação/Introdução
A violência urbana e seus efeitos vêm ganhando destaque na saúde por impactarem a vida das populações com traumas físicos, agravos mentais e piora da qualidade de vida, além de afetarem o trabalho dos serviços. A Atenção Primária e os CAPS enfrentam cotidianamente os desafios impostos por essa realidade.
Objetivos
A pesquisa objetiva analisar os impactos da violência urbana na saúde mental de usuários atendidos em serviços de saúde da RAPS de Fortaleza-CE.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa qualitativa realizada por análise de prontuários e entrevistas semiestruturadas com usuários de um CAPS e duas unidades básicas de saúde da Rede de Atenção Psicossocial de Fortaleza- CE, vítimas direta ou indiretas de violência urbana e buscaram os serviços de saúde. Os participantes são indicados pelos profissionais e outros usuários com o perfil semelhante, seguindo o método da bola de neve. A interpretação do material empírico possui um cunho hermenêutico filosófico. O número suficiente de participantes levou em conta o conceito de poder da informação. Foram ouvidos ambos os sexos, com idades de 20 a 50 anos, sendo 7 usuários do CAPS e 13 das UBS, em janeiro e fevereiro de 2025.
Resultados
A análise do material empírico revelou que a violência urbana tem provocado impactos significativos na saúde mental dos usuários da RAPS de Fortaleza, seja no agravamento dos sintomas existentes ou o surgimento de novas crises. Os relatos apontam sintomas como ansiedade, depressão, insônia, crises de pânico, queixas somáticas, prejuízos funcionais, persistente sensação de insegurança e retraimento social, associados a episódios de assaltos, violência doméstica, homicídios e conflitos comunitários, afetando as relações familiares, laborais e comunitárias. Muitos buscaram os serviços de saúde após agravamento dos sintomas emocionais, com destaque para o CAPS como espaços de cuidado.
Conclusões/Considerações
A pesquisa revela como a violência urbana é uma teia complexa de fatores sociais, econômicos, ambientais que se entrelaçam com a subjetividade do indivíduo, moldando sua experiência de sofrimento. Nota-se a importância da RAPS no cuidado e as limitações desta em lidar com a complexidade dos casos especialmente em contextos de alta vulnerabilidade social, com a necessidade de maior articulação com outras redes (justiça, assistência social).
SUBNOTIFICAÇÃO DE VIOLÊNCIA NUM HOSPITAL DE ALTA COMPLEXIDADE: INDICADOR PARA MONITORAMENTO E APRIMORAMENTO DA VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
Comunicação Oral Curta
1 HCFMUSP
Apresentação/Introdução
"A violência é um problema global de saúde pública, com impactos devastadores na qualidade de vida e custos exorbitantes para os sistemas de saúde" (Krug et al., 2002). No contexto do HCFMUSP, a subnotificação de agravos por violência emerge como um crítico indicador de gestão, revelando lacunas na vigilância epidemiológica e demandando estratégias intersetoriais para qualificar a notificação compulsória.
Objetivos
Avaliar a subnotificação de violência em um instituto do HCFMUSP (2017-2023) e mensurar o impacto da busca ativa do Núcleo de Vigilância Epidemiológica (NUVE), com foco no CID Y09 (agressão por meios não especificados).
Metodologia
Estudo retrospectivo que analisou 244.865 registros de atendimento no HCFMUSP (2017-2023). Após triagem, 45.464 casos elegíveis foram incluídos, excluindo-se inconsistências e dados duplicados. Realizou-se cruzamento entre as bases do Núcleo de Vigilância Epidemiológica (NUVE) e do Sistema de Informação de Causas Externas (SCAE/SINAN), com análise estatística descritiva e teste χ² (p<0,001) no software R. O estudo concentrou-se na violência física (CID Y09), calculando a taxa de subnotificação como a proporção de casos identificados nos prontuários que não foram registrados no SCAE/SINAN antes da intervenção do NUVE, quantificando assim as falhas no processo de notificação espontânea.
Resultados
O estudo identificou que 88,4% dos casos de violência física (CID Y09) não foram notificados espontaneamente (n=1.181), representando 11,36% do total de subnotificações analisadas. A taxa variou no tempo, atingindo 93% em 2018. A análise demonstrou associação significativa entre subnotificação e CID Y09 (χ²=3.351; gl=1; p<0,001). A subnotificação concentrou-se em duas categorias diagnósticas principais: CID X (56,3% dos casos não detectados) e CID Y (25,7%). A análise dos registros do NUVE totalizou 45.464 investigações, das quais 10.397 resultaram em notificações (23% do total), correspondendo a uma média anual de 1.300 notificações.
Conclusões/Considerações
Os achados reforçam a necessidade de institucionalizar este monitoramento como indicador estratégico de gestão para: qualificar processos de notificação compulsória; direcionar capacitações e infra estruturas setoriais; e avaliar políticas de vigilância. A sistematização contínua desses dados permitirá transformar evidências em ações concretas para o aprimoramento da gestão em saúde pública considerando o impacto do HCFMUSP no cenário nacional.
COMPORTAMENTO ALIMENTAR E VIOLÊNCIA POR PARCEIRO ÍNTIMO: EVIDÊNCIAS DE UM ESTUDO COM MULHERES NO ESPÍRITO SANTO
Comunicação Oral Curta
1 Ufes
Apresentação/Introdução
A violência por parceiro íntimo (VPI) é uma violação dos direitos humanos e representa um importante determinante social da saúde, com consequências no bem-estar físico e mental das mulheres. Evidências apontam que a exposição à VPI está associada a alterações no estado nutricional, entretanto há lacunas quanto à sua relação com os comportamentos alimentares.
Objetivos
Descrever a relação entre a vivência de VPI nos últimos dois anos e ao longo da vida os comportamentos alimentares em mulheres adultas.
Metodologia
Estudo transversal, de base populacional, na cidade de Vitória-ES, realizado em mulheres com idade ≥18 anos. Comportamento alimentar foi classificado em escores de: restrição cognitiva (RC), alimentação emocional (AE) e descontrole alimentar (DA). Para avaliar a VPI nos últimos 2 anos e ao longo da vida, utilizou-se o instrumento World Health Organization Violence Against Women, que permite discriminar a ocorrência de violência nos domínios psicológico, físico e sexual. As comparações entre os grupos foram realizadas por meio do teste de Mann-Whitney, adotando-se nível de significância de 5%. As análises foram conduzidas no software Stata versão 14.0.
Resultados
Mulheres que relataram ter vivenciado VPI psicológica nos últimos 2 anos e ao longo da vida apresentaram mediana de escores significativamente maiores nos comportamentos alimentares de AE e DA em comparação com aquelas que não relataram essa vivência (p<0,05). Aquelas expostas à VPI física ao longo apresentaram maiores escores de AE e DA (p<0,001). A VPI física nos últimos 2 anos apresentou escores menores de RC, entretanto os intervalos de confiança se sobrepõem não demonstrando associação. Em relação a exposição à VPI sexual na vida os escores foram maiores somente no DA (p<0,001). O RC não apresentou diferenças significativas entre os grupos, independentemente do tipo de VPI.
Conclusões/Considerações
Os resultados indicam que a exposição à determinados tipos de VPI nos últimos 2 anos ou ao longo da vida se associam a piores escores de AE e DA entre mulheres adultas. Esses achados apontam para a necessidade de reconhecer o comportamento alimentar como uma dimensão sensível às experiências de VPI, evidenciando a políticas públicas de alimentação e nutrição devem contemplar ações integradas no cuidado a saúde das mulheres.
EU DECIDO: DESENVOLVIMENTO DE UM APLICATIVO E WEBSITE DE PLANEJAMENTO DE SEGURANÇA PARA MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA POR PARCEIRO ÍNTIMO
Comunicação Oral Curta
1 UFPR
2 Casa da Mulher Brasileira de Curitiba
3 USP
4 Florida State University
5 Emory University
Apresentação/Introdução
O Brasil é um dos países que mais registra feminicídios, sendo a maioria precedida por situações de violência por parceiro íntimo (VPI). O planejamento de segurança (PS) é uma estratégia promissora para evitar a escalada da VPI, utilizado em países de alta renda e com apoio de ferramentas digitais. No Brasil esse campo é incipiente, requerendo ações inovadoras, intersetoriais e interdisciplinares.
Objetivos
Nosso estudo objetivou desenvolver uma ferramenta online (aplicativo e website) de apoio à tomada de decisão e PS para mulheres em situação de VPI, adaptado à realidade e necessidades das brasileiras.
Metodologia
A partir do estudo de viabilidade (2018-20) na Casa da Mulher Brasileira (CMB) de Curitiba, foi desenvolvido o protótipo (2021-24) do Eu Decido (versão 1.0) utilizando-se pesquisa-ação participante (PAP) em parceria com profissionais e usuárias da CMB. As fases incluíram: 1) tradução e adaptação transcultural de escalas e conteúdos para o português brasileiro, com entrevistas cognitivas na CMB; 2) revisão dos conteúdos por especialistas; 3) discussão dos conteúdos em três grupos focais (GF) com (n=18) participantes na CMB; 4) revisão e inserção dos conteúdos na versão protótipo; 5) pré-testagem do protótipo em outros três GF com (n=20) participantes da CMB; 6) análise final por triangulação.
Resultados
O Eu Decido demonstrou: a) ser uma ferramenta viável de apoio à tomada de decisão, capaz de ajudar a usuária a refletir sobre sua situação de violência e avaliar seus riscos e possibilidades; b) fornecer informações confiáveis sobre os direitos das mulheres e onde e como buscar ajuda presencial nos serviços da rede; c) ter potencial para apoiar mulheres a romper o ciclo da VPI, fornecendo sugestões para elaboração de um PS personalizado. Por outro lado, precisa passar por ajustes, ser refinado e adaptado a outras realidades do Brasil e a diferentes perfis de mulheres, uma vez que toda a pesquisa foi conduzida em apenas um unico serviço altamente especializado do Sul do país.
Conclusões/Considerações
A PAP foi essencial para materializar o protótipo do Eu Decido, a partir das necessidades das mulheres em situação de VPI, guiados por profissionais que as atendem. Nas próximas etapas faremos o refinamento e adaptações do Eu Decido à diferentes perfis de mulheres, de diferentes regiões brasileiras; assim como investigaremos a viabilidade e adaptações necessárias às demandas do SUS, expandindo a PAP a usuárias e profissionais da atenção primária.
EPISTEMICÍDIO E NUTRICÍDIO DA POPULAÇÃO NEGRA: VIOLÊNCIA E VIOLAÇÃO DO DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO ADEQUADA NO LIVRO QUARTO DE DESPEJO
Comunicação Oral Curta
1 Instituto Federal Goiano Campus Urutaí
Período de Realização
A experiência teve início em fevereiro de 2025 e ocorre nos dias atuais.
Objeto da experiência
Análise da obra Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus, como instrumento de reflexões sobre fome, racismo, gênero e violação de direitos.
Objetivos
Tem como objetivo discutir a experiência de um grupo de estudo sobre as narrativas em Quarto de Despejo, e a violação do Direito Humano à Alimentação Adequada. Além disso, refletir sobre epistemicídio e o nutricídio, violências que persistem nos “quartos de despejo” atuais.
Descrição da experiência
A experiência relatada é um recorte do projeto Mulungu Formação antirracista, do curso de Nutrição do Instituto Federal Goiano Campus Urutaí. Durante o projeto realizam-se leituras de obras literárias de escritoras e escritores negros, e encontros presenciais para o debate da temática racial, de gênero e escrevivência negra e relações com a saúde. Os encontros são promovidos entre discentes e docente do projeto. O presente trabalho relata a experiência de um dos encontros.
Resultados
Em um dos encontros o grupo refletiu sobre o contexto vivenciado por Carolina, em que ao narrar a fome, denuncia não apenas a ausência de alimento, mas o abandono estrutural do Estado. Nos trechos: “a favela é o quintal onde jogam lixos”, evidencia os territórios periféricos como espaços descartáveis. E outros trechos: “E quando estou na favela tenho a impressão que sou um objeto fora de uso, digno de estar num quarto de despejo.”, “Como é horrível levantar de manhã e não ter nada pra comer.”
Aprendizado e análise crítica
Na obra Quarto de Despejo, a fome é mais do que a ausência de comida: é um dispositivo de controle social e uma forma de violência que incide principalmente sobre corpos negros. A escrevivência de Carolina revela que os “quartos de despejo” continuam a existir, nesses locais o acesso a alimentação é negado. Suas narrativas denunciam as múltiplas dimensões da violência política, policial, e epistemicídio a partir da negação da razão e dos conhecimentos negros.
Conclusões e/ou Recomendações
A partir da experiência do grupo Mulungu, as reflexões e discussões evidenciam que historicamente a população negra é mais afetada por diferetens violências, destacando-se neste trabalho o nutricídio e epistemicídio. O primeiro nega o acesso à alimentação adequada e culturalmente referenciada; o segundo apaga saberes alimentares ancestrais. Ambos reforçam a marginalização e a negação da alimentação adequada como expressão de dignidade e direito.
VIOLÊNCIA DE GÊNERO NO CONTEXTO DE COMUNIDADES RURAIS, RIBEIRINHAS E QUILOMBOLAS DO AMAPÁ, AMAZÔNIA SETENTRIONAL: UM ESTUDO DO ATENDIMENTO NAS POLÍTICAS PÚBLICAS LOCAIS
Comunicação Oral Curta
1 Universidade Federal do Amapá
2 Secretaria Municipal de Saúde de Macapá
3 .
Apresentação/Introdução
Propomos apresentar investigação realizada entre 2023 e 2024 e financiada pelo Programa de Pesquisa para o SUS (PPSUS), que propôs apresentar a caracterização da violência de gênero no contexto das comunidades ribeirinhas, quilombola e rurais do Amapá, bem como apresentar experiências de mulheres em situação de violência no acesso e atendimento no âmbito dos serviços de saúde.
Objetivos
Os objetivos da investigação se concentram em compreender as especificidades da violência de gênero no contexto das comunidades rurais e ribeirinhas do Amapá e diagnosticar ação e demandas relacionadas à violência contra mulheres e direito à saúde junto à RAM - Rede de Atendimento à Mulher.
Metodologia
A metodologia envolveu combinado entre pesquisa de campo, descritiva, transversal, com abordagem quali-quantitativa, com mulheres rurais, ribeirinhas e quilombolas maiores de 18 anos, gestores e profissionais de saúde das comunidades envolvidas: a) assentamento Bom Jesus dos Fernandes, localizado no município de Tartarugalzinho (um dos maiores do estado); b) quilombo urbano Lagoa dos Índios situado nas imediações de dois principais municípios Macapá e Santana c) comunidade foz do Rio Mazagão Velho (comunidade ribeirinha de várzea) e d) Vila Progresso, no arquipélago Bailique (comunidade ribeirinha com grande índice populacional), territórios do estado do Amapá, Amazônia Setentrional.
Resultados
Em uma avaliação qualitativa dos dados gerais da investigação, sistematizadas nessa versão e envolvendo três campos de pesquisa, destacamos como resultados que, em comum, estão territórios constituídos, a partir de uma relação histórica e tradicional com componentes que incluem uma dimensão cultural constitutiva, o que contribui para entender as estruturas societárias que organizam e gerem a vida cotidiana, incluindo a experiência das mulheres. Dentre aspectos gerais consolidados, destacamos ainda: a) Informalidade e espontaneísmo (ausência de protocolos e/ou serviços de referência); b) Sazonalidade e pontualidade e c) desarticulação das redes de políticas públicas.
Conclusões/Considerações
Como considerações finais, destacamos a relação estrutural entre os direitos das mulheres e a garantia de seus territórios de vida, ou seja, a ideia de que o corpo dessas mulheres e seus territórios são indissociáveis no sentido de constituir uma realização plena de seus direitos. A autonomia do corpo está ligada também à autonomia territorial, o que implica destacar a ausência de estruturas estatais de proteção pela frágil territorialização/integralidade das políticas de combate à violência de gênero.
PERFIL DAS INTERNAÇÕES DE MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA NA REDE DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA
Comunicação Oral Curta
1 UEFS
2 ISC/UFBA
3 UEFS e UFRB
4 MPSC/UEFS e PPGM/UEFS
Apresentação/Introdução
A violência contra a mulher é definida como qualquer ato que cause dano físico, mental e/ou sexual, contra o gênero feminino. Pesquisas apontam que de 10% a 69% das mulheres já sofreram agressão por parceiro íntimo em algum momento da vida. Essa violência pode gerar graves consequências e investigar as situações que demandam atendimento de alta complexidade é crucial para o planejamento em saúde
Objetivos
Analisar o perfil das internações hospitalares de mulheres em situação de violência atendidas na rede de urgência e emergência do estado da Bahia no ano de 2024
Metodologia
Estudo epidemiológico, descritivo e exploratório, que analisou o perfil de mulheres (≥ 15 anos) em situação de violência na Bahia no ano de 2024. Os dados foram obtidos a partir da análise das AIH no SIH/SUS, considerando os códigos X85-Y09 (Agressões) do capítulo XX da CID-10, cujo diagnóstico secundário foram classificados como violência interpessoal. Foi apresentado o perfil e as variáveis de internação. A análise foi realizada através do programa estatístico STATA SE, versão 12.0. Essa pesquisa faz parte do projeto “Aspectos epidemiológicos e criminais do feminicídio na Bahia segundo raça/cor e fatores associados” financiado pela FAPESB e associado ao projeto Risofloras Del Sur (CNPq)
Resultados
Foram identificadas 798 internações em caráter de urgência e emergência de mulheres vítimas de violência. À média de idade foi de 42,5 anos (dp = 18,8) e a faixa etária mais frequente foi 20-29 anos (22,3%). 88,6% se autodeclararam pardas, 31,6% residiam em Salvador. O diagnóstico principal foi T068-Outros traumatismos especificados envolvendo regiões múltiplas do corpo (10,1%) e o diagnóstico secundário Y099-Agressão por meios não especificados - local não especificado (29,8%), evidenciando baixo nível de esclarecimento. A média de dias de internação foi de 4,9 (dp = 5,8), variando de um a 103 dias, sendo que 4,9% das mulheres foram admitidas em UTI e 1,8% evoluiu para óbito
Conclusões/Considerações
Os resultados revelam um perfil de mulheres jovens, pardas e residentes em Salvador, vítimas de violência grave, haja visto que a maioria foi diagnosticada como traumatismo envolvendo regiões múltiplas do corpo. As agressões por meios e locais não especificados, revelam baixa especificidade, impedindo o reconhecimento da dinâmica desses crimes e, consequentemente, à proposição de políticas mais eficazes de prevenção à violência contra à mulher

Realização: