
Programa - Comunicação Oral Curta - COC35.1 - Cuidar é ato político: estratégias territoriais e intersetoriais no enfrentamento à violência
01 DE DEZEMBRO | SEGUNDA-FEIRA
08:30 - 10:00
08:30 - 10:00
A ARTE ENQUANTO INSTRUMENTO DE REDUÇÃO DE DANOS E CUIDADO EM SAÚDE MENTAL PARA POPULAÇÃO PRISIONAL E ENFRENTAMENTO AO RACISMO ESTRUTURAL
Comunicação Oral Curta
1 UERJ
2 Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro
3 Fiocruz/ENSP
Período de Realização
Trabalho realizado desde novembro de 2022 até março de 2024
Objeto da experiência
Uso de linguagens artísticas no acolhimento em saúde mental de pessoas privadas de liberdade no Rio, via Atenção Primária Prisional.
Objetivos
A proposta tem por objetivo abordar o uso de linguagens artísticas no acolhimento em saúde mental de pessoas privadas de liberdade, com base em uma experiência no Rio (2022–2024), discutindo racismo institucional e propondo estratégias para transformar o cuidado no sistema prisional brasileiro.
Descrição da experiência
A experiência aconteceu por meio de oficinas semanais conduzidas pela equipe multiprofissional, com atividades como escrita de cartas, filmes, música, poesia e rodas de conversa. O espaço se ampliou além dos encontros, tornando-se referência de escuta, acolhimento e acesso ao cuidado em saúde. A principal potência foi reconhecer o cuidado como construção coletiva, promovendo confiança, vínculo e o surgimento de novas narrativas entre as pessoas privadas de liberdade.
Resultados
Os principais resultados percebidos foram: o fortalecimento de vínculos entre os internos e a equipe de saúde; o surgimento de um espaço confiável de acolhimento e escuta qualificada; o aumento da procura espontânea por cuidados em saúde; e, sobretudo, a construção de um ambiente coletivo de cuidado, em que os próprios participantes se reconheciam como agentes ativos na promoção do bem-estar comum.
Aprendizado e análise crítica
As oficinas de linguagens artísticas revelaram-se além de um espaço de criação, tornando-se um local de resistência e acolhimento coletivo. O processo evidenciou como o cuidado se constrói por meio da expressão e do vínculo, confrontando o racismo institucional e a lógica punitiva do sistema prisional. A análise crítica, inspirada em Foucault, mostra que o encarceramento reforça desigualdades históricas, exigindo práticas transformadoras na saúde e na justiça.
Conclusões e/ou Recomendações
Conclui-se que a introdução de linguagem artística como um cuidado em saúde mental transcenderam seu caráter inicial, configurando-se como espaços dinâmicos de coautoria e ressignificação de experiências. Ao fomentar narrativas plurais e fortalecer laços comunitários, a prática demonstrou o potencial da arte como instrumento de resistência e cuidado coletivo. Recomenda-se sua ampliação como estratégia integrada para humanizar a saúde no sistema prisional.
AÇÃO EDUCATIVA SOBRE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: EXPERIÊNCIA DE ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM NA PROMOÇÃO DA SAÚDE EM COMUNIDADE PERIFÉRICA
Comunicação Oral Curta
1 UFPA
Período de Realização
A ação ocorreu em março de 2025, no Movimento República do Emaús, periferia de Belém (PA).
Objeto da experiência
Relatar uma ação educativa sobre violência doméstica conduzida por acadêmicos de Enfermagem em território periférico.
Objetivos
Relatar a experiência de estudantes de Enfermagem da UFPA na condução de uma roda de conversa sobre violência doméstica, com foco na promoção da saúde, sensibilização sobre os direitos das mulheres e incentivo ao acesso a serviços de apoio no território periférico do Movimento República do Emaús.
Metodologia
A atividade ocorreu na sede do Movimento República do Emaús, incluindo panfletagem, roda de conversa com quiz interativo e atendimentos de enfermagem. A metodologia privilegiou o diálogo acessível e a escuta ativa, abordando tipos de violência, canais de denúncia e prevenção do câncer do colo do útero. Foram realizados atendimentos com aferição de sinais vitais, entrega de brindes e lanches como forma de acolhimento e valorização da comunidade.
Resultados
A escuta das narrativas revelou vivências de violência atravessadas por desigualdades de gênero, naturalização e percepções culturais. O formato participativo promoveu confiança e maior adesão. A ação contribuiu para o esclarecimento de direitos, visibilização dos serviços de apoio e fortalecimento das redes locais. O quiz e os materiais impressos reforçaram o conteúdo discutido, estimulando a replicação do conhecimento entre os participantes.
Análise Crítica
A atividade permitiu que os estudantes refletissem criticamente sobre práticas profissionais em contextos de vulnerabilidade, compreendendo a violência como expressão de desigualdades estruturais. A ação fortaleceu a articulação entre cuidado, cidadania e educação em saúde, valorizando o protagonismo comunitário e a humanização das práticas em saúde coletiva.
Conclusões e/ou Recomendações
A experiência demonstrou o potencial transformador da enfermagem em territórios periféricos, ao promover ações educativas voltadas à prevenção da violência de gênero. Recomenda-se a ampliação de estratégias participativas em contextos semelhantes e a incorporação de ações que estimulem a reflexão crítica da prática profissional nos currículos de Enfermagem, promovendo a formação comprometida com os direitos humanos e a equidade.
CUIDADO CLÍNICO E INTERSETORIALIDADE EM SITUAÇÕES DE VIOLÊNCIA DE GÊNERO: A ESCUTA PSICANALÍTICA GRUPAL A PARTIR DA RESIDÊNCIA EM SAÚDE MENTAL
Comunicação Oral Curta
1 Unicamp
Período de Realização
O grupo ocorreu no ano de 2023, no segundo ano da Residência Multiprofissional em Saúde Mental.
Objeto da experiência
Possibilitar um espaço de escuta e elaboração das situações de violência, sustentando práticas clínicas implicadas, ético-políticas e territorias.
Objetivos
Objetivou-se relatar a experiência enquanto coterapeuta de um grupo de psicoterapia breve com mulheres em situação de violência, no contexto da Residência em Saúde Mental, articulando escuta clínica, produção de cuidado e articulação de redes de afeto intersubjetivas e intersetoriais.
Descrição da experiência
O grupo foi realizado em 2023 na Residência Multiprofissional em Saúde Mental, com base nos preceitos da psicanálise e da saúde coletiva. Foi conduzido em ciclos de oito sessões, com duas terapeutas por grupo, e contou com entrevistas iniciais, supervisões clínicas semanais e devolutivas à rede intersetorial. A experiência foi sistematizada por meio de registros de sessão e diário de campo, articulando escuta clínica e corresponsabilização.
Resultados
A experiência evidenciou que o cuidado em saúde mental de mulheres em situação de violência requer espaços de escuta capazes de acolher a complexidade do sofrimento vivido. Categorias como cuidado, responsabilização e vínculo-rede revelaram-se centrais para sustentar redes de afeto e enfrentar a fragmentação institucional. O grupo configurou-se como espaço de elaboração e reconstrução de sentidos, articulando sujeitos, rede e território.
Aprendizado e análise crítica
Os grupos possibilitaram a emergência de experiências silenciadas pela violência, operando em níveis subjetivo, intersubjetivo e coletivo. A combinação de um enquadre estável e respeitoso teve efeitos potentes, oferecendo, para muitas, uma vivência inédita de cuidado. A experiência aponta ainda para a importância de práticas clínicas articuladas ao território e à rede, como forma de enfrentamento à fragmentação e à reprodução de violências institucionais.
Conclusões e/ou Recomendações
A experiência apontou que o cuidado psicossocial em contextos de violência demanda escuta atenta e articulação de redes de cuidado. Possibilitou-se refletir sobre os modos como a violência incide nos sujeitos e nas instituições, e como o grupo pode operar novos agenciamentos, a partir da potência de uma clínica que não se aparta do território nem das redes, contribuindo para práticas de cuidado ético-políticas e comprometidas com a vida.
CUIDADO COLETIVO NO SUAS: OFICINAS REFLEXIVAS COMO ESTRATÉGIAS DE SAÚDE MENTAL NO ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES EM TERRITÓRIO PERIFÉRICO DE MANAUS/AM
Comunicação Oral Curta
1 UEA - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO AMAZONAS
Período de Realização
Oito encontros (ago e dez/2024), em Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) de Manaus, AM
Objeto da experiência
Oficinas reflexivas sobre violência e saúde mental com mulheres acompanhadas em um CRAS de bairro periférico de Manaus.
Objetivos
Criar espaço coletivo de cuidado no Sistema único de Assistência Social (SUA), onde escuta, partilha de experiências e vínculos funcionam como promoção à saúde mental. Fortalecer a autonomia, ampliar redes de apoio e afirmar direitos frente às violências estruturais de gênero, raça e classe.
Descrição da experiência
A experiência ocorreu em um CRAS situado na 4ª maior favela urbana do país (IBGE, 2022). Participaram oito mulheres amazônidas com vivências de abandono, sobrecarga e violência doméstica. Foram abordadas temáticas como autoimagem, cuidado, vínculos e direitos, por meio de rodas de conversa, colagens e práticas expressivas que possibilitaram o reconhecimento de si e a construção coletiva de sentidos.
Resultados
Os resultados emergiram das falas e vivências compartilhadas ao longo dos encontros. Algumas mulheres passaram a reconhecer padrões abusivos em suas relações, elaborando suas trajetórias com mais liberdade e consciência crítica. As oficinas favoreceram processos de ruptura com experiências de silenciamento e a construção de novos sentidos sobre si, seus vínculos e autonomia.
Aprendizado e análise crítica
A experiência reafirma o cuidado coletivo como prática transformadora no SUAS, sustentada por escuta, vínculo e partilha. Tensiona a lógica individualizante e hegemônica presente nas práticas institucionais, evidenciando que a saúde mental é indissociável da proteção social e do território enquanto espaço político, afetivo e pedagógico. Essas iniciativas subsidiam experiências de promoção à autonomia e participação no enfrentamento a violência.
Conclusões e/ou Recomendações
O cuidado coletivo, por meio da participação, demonstrou-se uma estratégia potente de proteção e promoção da saúde mental para mulheres com histórico de violência. Recomenda-se o fortalecimento da articulação entre SUAS e RAPS, com práticas intersetoriais e firmadas no território. No encontro entre profissionais e usuárias, constroem-se sentidos de cuidado e justiça social.
ESCUTA TERRITORIAL EM TEMPOS DE GUERRA: QUANDO O CUIDADO EXIGE ESTAR EM CENA.
Comunicação Oral Curta
1 FIOCRUZ
Período de Realização
Ação de escuta territorial em 2024 em favela da zona norte do Rio de Janeiro.
Objeto da experiência
Ação de escuta territorial com equipe multiprofissional interrompida por tiroteio durante operação policial.
Objetivos
Refletir sobre os efeitos psíquicos, limites e potências da escuta territorial em contextos de violência armada. Analisar os efeitos do confronto direto sobre profissionais e usuários, e discutir a presença do corpo do trabalhador como parte da cena do cuidado.
Descrição da experiência
Durante uma ação de escuta territorial em praça pública de uma favela carioca, um tiroteio se iniciou no momento em que a equipe — que contava com residentes e visitantes — realizava atendimentos. A equipe buscou abrigo na casa de uma moradora, vivenciando, com os moradores, o medo, o silêncio e a espera. Ao sair, cruzou a rua em meio à tensão, com armas apontadas, crianças brincando e moradores circulando evidenciando a exposição à morte como parte do cotidiano.
Resultados
A presença no território reafirmou a importância de ações para alcançar quem não chega até os serviços, ampliando o cuidado para além dos muros institucionais. A vivência escancarou que a escuta no território não é apenas uma técnica, mas uma aposta ética que implica o corpo do profissional na cena social. A cena do conflito, e o trauma enquanto marca dos profissionais, revelou a implicação subjetiva de se ver diante da morte, gerando impactos emocionais que atravessam o trabalho em saúde.
Aprendizado e análise crítica
A experiência mostrou que não basta garantir o acesso aos usuário. Quando o corpo do trabalhador é atravessado pelas contradições que se colocam e pela mesma violência que atinge a população, novas questões éticas e políticas emergem. A experiência desloca a imagem do profissional como alguém protegido do sofrimento que escuta. Essa presença encarnada nos dramas sociais pode ser condição ou impossibilidade para escutar o outro, pois cobra um alto preço psíquico.
Conclusões e/ou Recomendações
É preciso valorizar e proteger as práticas de cuidado que se fazem no território, reconhecendo o risco e a potência de estar em cena. A política pública deve incluir ações que considerem os atravessamentos da violência armada sobre profissionais e usuários, promovendo escuta, reparação e suporte institucional contínuo. Estar frente ao risco de morte exige acolhimento institucional, supervisão clínica e estratégias contínuas de cuidado.
INTERVENÇÕES PSICOLÓGICAS NO CONTEXTO DA SAÚDE PÚBLICA: ENFRENTANDO A VIOLÊNCIA DE GÊNERO
Comunicação Oral Curta
1 USP
Apresentação/Introdução
Na década de 1970, o feminismo no Brasil ganhou força, denunciando a violência e impulsionando políticas públicas como a Lei Maria da Penha. Apesar dos avanços, os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública,mostram aumento da violência, com 1.319 feminicídios em 2021.A saúde deve atuar na prevenção e acolhimento, mas a subnotificação e a complexidade do tema ainda dificultam respostas eficazes.
Objetivos
● Debater o trabalho do(a) psicólogo(a) junto à equipe de saúde das Unidades Básicas de Saúde na construção da rede de enfrentamento à violência contra as mulheres.
Metodologia
Esta pesquisa qualitativa, baseada na etnografia, busca compreender a cultura e as dinâmicas dos grupos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) do Jardim São Luís, Zona Sul de São Paulo. Inspirada em Malinowski (1922), utilizou observação participante em grupos de mulheres e entrevistas com psicólogas(os). A análise foi orientada pela psicologia social crítica e saúde coletiva, com atenção aos marcadores sociais locais. Foi elaborado um diário de bordo com registros das observações e percepções. A pesquisa foi aprovada pela Plataforma Brasil, conforme a Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde.
Resultados
As entrevistas e observações revelam fragilidades na rede de proteção à mulher, com revitimização, dificuldade das usuárias em reconhecer a violência e pouca articulação intersetorial. Os grupos nas UBSs funcionam como espaços potentes de acolhimento, escuta e pertencimento, apesar da ausência de políticas públicas permanentes. Há práticas terapêuticas (como meditação) e relatos de superação, mas persistem insegurança, sobrecarga da equipe e preocupações na efetividade da Lei Maria da Penha.Há demanda por maior efetividade nas ações públicas de enfrentamento à violência de gênero.
Conclusões/Considerações
É importante ressaltar que a atuação integrada das equipes multiprofissionais, incluindo psicólogas(os), tem o potencial de fortalecer o cuidado e prevenir novas situações de violência. Os dispositivos grupais configuram-se como importantes metodologias no campo das políticas públicas para o enfrentamento das problemáticas coletivas vivenciadas pelas mulheres. No entanto, ainda há um longo caminho para a efetivação do cuidado para esse público.
A ESCOLA COMO ESPAÇO DE PREVENÇÃO E ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA: A PERCEPÇÃO DE PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO PÚBLICA
Comunicação Oral Curta
1 USP
2 UNICAMP
Apresentação/Introdução
A violência é um problema social complexo e persistente, que gera graves consequências à saúde e se manifesta com frequência nos ambientes escolares. As escolas, por sua presença territorial e papel formativo, são espaços privilegiados na prevenção e enfrentamento da violência.
Objetivos
Esse estudo pretende analisar, a partir da percepção de profissionais da educação pública, o papel das escolas na prevenção e enfrentamento da violência.
Metodologia
Trata-se de um estudo qualitativo, com entrevistas em profundidade realizadas com 20 profissionais da educação pública da região norte da cidade de Campinas, entre novembro de 2024 e março de 2025. As entrevistas ocorreram no âmbito de uma pesquisa de implementação, com o intuito de subsidiar a análise do contexto educacional para o apoio matricial intersetorial no combate à violência. As entrevistas foram audiogravadas, transcritas e analisadas por meio da técnica de da análise de conteúdo temático-categorial.
Resultados
A análise revelou cinco categorias: (1) promoção da socialização e do convívio; (2) promoção da cultura de não-violência; (3) identificação e proteção de situações de violência; (4) acolhimento como estratégia de manejo; e (5) Educação como transformação social. Os depoimentos apontam que, apesar dos desafios estruturais e institucionais, a escola permanece como espaço potente para prevenção, identificação e enfrentamento da violência, sobretudo quando promove práticas coletivas, acolhedoras e emancipatórias.
Conclusões/Considerações
A percepção dos profissionais da educação aponta para a escola como ambiente protetor e promotor de cidadania e articulada com os conceitos de promoção e prevenção em saúde. Destaca-se, assim, a importância da aproximação entre os setores da saúde e da educação, a fim de promover um cuidado articulado com as demandas territoriais, promovendo práticas acolhedoras e transformadoras na prevenção e no enfrentamento da violência.
A SALA LILÁS NO ÂMBITO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS): ELEMENTOS PARA O DEBATE A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DE ANGRA DOS REIS-RJ
Comunicação Oral Curta
1 Prefeitura de Angra dos Reis
Período de Realização
De março de 2023 a maio de 2025.
Objeto da experiência
Implementação e funcionamento do dispositivo de saúde Sala Lilás para o cuidado em saúde a mulheres em situação de violência em Angra dos Reis-RJ.
Objetivos
Relatar a experiência sobre a implementação e funcionamento da Sala Lilás no âmbito da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) em um município de médio porte no interior do estado do Rio de Janeiro, abordando os principais desafios e limitações, assim como as estratégias e possibilidades.
Metodologia
Enquanto dispositivo de saúde, a Sala Lilás de Angra dos Reis foi instituída em 2023, anterior à Lei 14.847/2024, sendo uma experiência pioneira no âmbito do setor saúde da cidade na atenção especializada à mulher em situação de violência, oferecendo atendimento social e psicológico. Um dos maiores desafios da experiência é o enfrentamento da violência de gênero a partir de uma lógica de cuidado da saúde, em detrimento de uma perspectiva judicial e de segurança pública.
Resultados
Em dois anos de implementação, a Sala Lilás atendeu cerca de 170 mulheres em situação de violência, que corresponde a 12% de notificações enviadas ao Sistema de Informação De Agravos De Notificação (SINAN) pelo município no mesmo período. Observam-se alguns impasses, por parte dos serviços da rede intersetorial, ao não reconhecerem ainda o equipamento como um lugar de cuidado especializado para o cuidado em saúde para estas mulheres.
Análise Crítica
A Lei Maria da Penha é um marco no combate à violência contra a mulher. Todavia, o atendimento especializado em saúde, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), tardou a ser especificado. A partir da promulgação da Lei nº 14.847/2024 e da Nota Técnica Conjunta nº 264/2024 foi instituída a Sala Lilás, para suprir essa lacuna. Pode-se inferir que essa regulamentação tardia no âmbito da saúde acarretou um enfoque na esfera judicial e de segurança pública na garantia de proteção das mulheres.
Conclusões e/ou Recomendações
A Sala Lilás deve ser compreendida como um dispositivo de saúde na lógica da integralidade do cuidado, e não apenas um complemento da justiça ou segurança pública. Ela representa um ponto crucial na consolidação de política pública de saúde no cuidado da mulher em situação de violência, proporcionando um acolhimento humanizado e seguro. Além disso, concretiza o direito ao atendimento especializado conforme previsto na Lei Maria da Penha.
NÚCLEO DE PREVENÇÃO ÀS VIOLÊNCIAS E PROMOÇÃO DA PAZ (NUPREVI): IMPLEMENTAÇÃO DA INTERSETORIALIDADE NO CUIDADO INTEGRAL ÀS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA
Comunicação Oral Curta
1 Secretaria Municipal de Saúde de Marataízes
2 FIOCRUZ cedida a Secretaria Estadual de Saúde do Espírito Santo
Período de Realização
A experiência foi realizada no período de 2022 a 2024.
Objeto da experiência
O NUPREVI é constituído por representantes das áreas da saúde, educação, assistência social, conselho tutelar, segurança pública e sociedade civil.
Objetivos
Promover a articulação entre as redes de atenção, proteção e garantia de direitos das vítimas de violência.
Capacitar as redes para realização da notificação compulsória e elaboração dos fluxos de encaminhamentos e atendimentos integrados.
Fortalecer o sistema de vigilância de violências (VIVA).
Metodologia
Estruturação da equipe do VIVA; Identificação dos parceiros nas redes; Realização de rodas de conversa; Promoção de seminários e sensibilização dos gestores; Elaboração de Decreto para criação do NUPREVI e fluxo para atendimento integrado das vítimas; Cadastramento no e-SUS/VS e capacitação sobre notificação de violências para diretores, pedagogos e coordenadores das escolas municipais e estaduais, profissionais da Saúde, Assistência Social, Conselho Tutelar, Guarda Municipal e Polícia Militar.
Resultados
Pioneiro na institucionalização do NUPREVI na região sul do ES, Equipe VIVA com 3 servidores efetivos e 100% da rede na notificação de violências: escolas(46), CREAS(12), CRAS(10), conselho tutelar(5), ES(18), Casa Rosa(3), CAPS(4), UPA(4), Guarda Municipal(2), PM(2) e sociedade civil(3). Aumentou em 268,45% as notificações (2020-2024), implantou fluxo integrado, realizou seminários anuais e contribuiu com a superintendência na capacitação dos municípios promovendo o crescimento da regional sul.
Análise Crítica
A implementação do NUPREVI tem impulsionado avanços significativos no enfrentamento da violência no município, consolidando-se como uma prática exitosa na organização da rede de proteção e cuidado integral às pessoas em situação de violência. A iniciativa, premiada pelo COSEMES, destaca-se pelo trabalho intersetorial, com participação majoritária de servidores efetivos, aumento nas notificações e fortalecimento do fluxo de atendimento integrado e qualificado reafirmando os princípios do SUS.
Conclusões e/ou Recomendações
A efetivação de políticas públicas integradas, como o NUPREVI, é fundamental para fortalecer a rede de proteção e o cuidado integral às vítimas de violência. A articulação intersetorial, a qualificação contínua dos profissionais e a participação ativa da sociedade civil são elementos centrais para a prevenção e o enfrentamento da violência, assegurando a promoção da paz e a defesa dos direitos fundamentais.
REVIDE: ESTRATÉGIAS NEGRO-PERIFÉRICAS DE PRODUÇÃO DE SAÚDE
Comunicação Oral Curta
1 UNICAMP
Apresentação/Introdução
Neste estudo, revide refere-se a saberes praticados por indivíduos e coletividades expostos à violência antinegra, representando formas de agência inventadas para responder a efeitos e estruturas de poder e criar condições de vida digna. A partir da pesquisa, sustentamos que tais práticas são importantes indutoras de saúde em territórios negros, como a Comunidade Mandela em Campinas-SP.
Objetivos
Explorar como as práticas de revide mobilizadas pela comunidade Mandela, especificamente o "puxadinho" e a construção de espaços de sociabilidade, atuam como indutoras de saúde.
Metodologia
Trata-se de pesquisa de doutorado intitulada "O saber da quebrada: autonomia e promoção da saúde em uma ocupação urbana no município de Campinas-SP". A estratégia metodológica central foi a imersão etnográfica na Comunidade Mandela (Campinas-SP) entre janeiro e maio de 2024, além de incursões a campo para articular a realização da pesquisa desde julho de 2023. Complementarmente, foram realizadas entrevistas semiestruturadas e foi elaborado acervo documental de reportagens, notícias e fotografias dos últimos 8 anos. Todos os nomes utilizados, com exceção de personalidades públicas e lideranças comunitárias, foram pseudonomizados para atender às exigências éticas da pesquisa.
Resultados
A Comunidade Mandela, vítima de segregação espacial e violência antinegra, elabora formas de revide. O “puxadinho” é uma tecnologia habitacional que, apesar de discursos que o veem como precário, permite a construção e a ampliação autônoma de moradias, mobilizando inteligência coletiva e formas colaborativas de agência. A criação de espaços como o “campinho” e a “adega”, orientados para a sociabilidade e o prazer compartilhado, contraria o discurso de contenção espacial performado pelo poder público na relação com a população negra periférica. São revides que produzem “territórios de ser”, contrariando o projeto racial que designa para a população negra na cidade “territórios de não ser”.
Conclusões/Considerações
A partir da noção de saúde de Antonovsky como capacidade de resistência, na compreensão-manejo-produção de sentido em face de estressores, práticas de revide do Mandela, como a autoconstrução e a criação de espaços de sociabilidade, podem ser vistas como salutogênicas, na medida em que ampliam a capacidade de resposta a adversidades, produzindo respostas criativas de forma colaborativa em benefício da elaboração de dignidade e bem viver.

Realização: