Programa - Comunicação Oral Curta - COC3.4 - Insegurança hídrica, alimentar e populações vulneráveis frente as mudanças climáticas
01 DE DEZEMBRO | SEGUNDA-FEIRA
08:30 - 10:00
DESENVOLVIMENTO DE UMA PLATAFORMA MULTIDIMENSIONAL DE INDICADORES SOBRE EVENTOS CLIMÁTICOS EXTREMOS, INSEGURANÇA ALIMENTAR E SAÚDE INFANTIL NO BRASIL - PROJETO FOMES
Comunicação Oral Curta
ROSARIO. E. A.1, PAIVA, J.B.1, DEGNER, L.A.S1, NONATO, L.F.T2, SOUZA, W.R1, BARROS, Q.O2, OLIVEIRA C.K.S3, NEJAR F.F4, PALMEIRA P.A3, SANTOS, S.M.C1
1 UFBA
2 UFPB
3 UFCG
4 UNITAU
Apresentação/Introdução
As mudanças climáticas representam uma ameaça à segurança alimentar, exigindo abordagens multidimensionais que permitam monitorar os impactos dos eventos climáticos extremos (ECE) na saúde e nutrição infantil. Este trabalho integra o Projeto FomeS, que propõe a construção de uma plataforma integrada de indicadores para o acompanhamento desses efeitos.
Objetivos
Descrever as etapas de desenvolvimento de uma plataforma multidimensional e integrada de indicadores sobre eventos climáticos extremos, insegurança alimentar (IA) e saúde e nutrição de crianças menores de cinco anos no Brasil.
Metodologia
O projeto se desenvolve pelas etapas: (1) Elaboração de modelo conceitual orientador da identificação de dimensões e pré-seleção de indicadores; (2) Pré-seleção de indicadores para a construção da plataforma; (3) Avaliação por especialistas dos indicadores pré-selecionados, dos quais alguns foram avaliados de acordo a técnica Delphi; (4) Construção da base de dados via coleta dos dados públicos em bases nacionais dos indicadores validados e (5) Elaboração do Dashboard FomeS. A técnica Delphi busca consenso por meio do parecer de especialistas que respondem anonimamente a questionários estruturados em pelo menos duas rodadas, sem interação entre si.
Resultados
Como resultado da revisão de literatura e discussões entre os pesquisadores, foi construído um modelo conceitual que integra múltiplas dimensões e articula os impactos dos ECE na saúde e nutrição infantil, mediados pela IA. A pré-seleção dos indicadores foi organizada nas dimensões: (1) ECE, (2) sistemas alimentares, (3) IA, (4) insegurança hídrica (IH), (5) saúde e nutrição infantil e (6) desigualdades sociais. Indicadores gerais do Brasil mostram o contexto nacional. Foram pré-selecionados 334 indicadores de 53 bases públicas nacionais, dos quais 225 foram avaliados pela etapa Delphi e 109 passaram por uma avaliação interna, uma vez que já estão bem estabelecidos na literatura.
Conclusões/Considerações
Elaborar o modelo conceitual foi fundamental para sistematizar a abordagem e subsidiar a seleção de indicadores, frente à ampla e dispersa disponibilidade nas bases de dados nacionais. A participação dos especialistas enriqueceu o processo de seleção ao unir experiência com conhecimento. O desafio é escolher os mais adequados para integrar o dashboard que apoie a análise das relações entre clima, segurança alimentar e saúde infantil.
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL PARA TRABALHADORES DE COOPERATIVA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS: ALIMENTAÇÃO COMO PRÁTICA SUSTENTÁVEL
Comunicação Oral Curta
Dantas, M. N. A.1, Simon, L. C.1, Carneiro, M. J. de S.1, Santos, M. A.1, Magalhães, I. G.1, Rocha, A. C. G. da1, Abreu, J. M. de1, Moraes, N. A. de1, Guimarães, M. M.1
1 UFG
Período de Realização
A ação foi conduzida em de junho de 2025.
Objeto da experiência
Educação ambiental unida à educação popular em saúde para trabalhadores de uma cooperativa de resíduos recicláveis em Goiânia, Goiás.
Objetivos
Relatar e discutir o desenvolvimento de uma ação extensionista, promovida pelo Programa de Educação Tutorial do Curso de Nutrição (PETNUT-UFG), pautada em roda de conversa com trabalhadores acerca das escolhas alimentares como práticas impactantes na saúde e no meio ambiente.
Descrição da experiência
A ação foi guiada a partir do compartilhamento de saberes entre 14 trabalhadores e os estudantes. A classificação dos alimentos segundo o nível de processamento e as escolhas alimentares como fatores determinantes da preservação ambiental foram abordados em roda. Os participantes foram instruídos a elaborar cardápios que refletissem sua alimentação diária, possibilitando uma análise coletiva e a proposição de melhorias em conjunto. Materiais recicláveis arrecadados foram doados à cooperativa.
Resultados
Os participantes demonstraram conhecimento prévio acerca das práticas alimentares saudáveis e sustentáveis e dos benefícios da alimentação baseada em alimentos in natura e minimamente processados. Entretanto, apesar deste repertório, os trabalhadores apresentaram consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, destacado pelos cardápios analisados. A ação foi avaliada por meio de escala hedônica facial, que evidenciou adesão elevada da atividade por 100% dos participantes.
Aprendizado e análise crítica
A compreensão do perfil da alimentação desse grupo populacional promoveu a percepção de que, embora a transmissão de informação possibilite transformações na adoção de hábitos alimentares saudáveis, essas mudanças são pontuais e limitadas. O conhecimento não é suficiente para alterar o consumo alimentar, uma vez que os determinantes ambientais, culturais e socioeconômicos interferem diretamente na acessibilidade e disponibilidade de alimentos e, assim, na autonomia e na capacidade decisória.
Conclusões e/ou Recomendações
A educação em saúde alinhada à sustentabilidade viabiliza o amplo entendimento do papel do sujeito e de suas escolhas alimentares no enfrentamento da crise ambiental. A conscientização mediante a horizontalidade e a troca mútua faz-se imprescindível para gerar transformações efetivas. Contudo, salienta-se a relevância de mudanças estruturais e da implementação de políticas que permitam o acesso a alimentos in natura e minimamente processados.
MODELO CONCEITUAL PARA APLICAÇÃO NA SINDEMIA DE OBESIDADE, DESNUTRIÇÃO E MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO CONTEXTO DA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS E COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR NO BRASIL.
Comunicação Oral Curta
Saldanha-Melo, H.1, Garrido, G.1, Norde, M. M.1, Carvalho, A. M.1
1 USP
Apresentação/Introdução
No Brasil, a sindemia de obesidade, desnutrição e mudanças climáticas relaciona-se ao atual modelo hegemônico produtor de alimentos, que gera alto impacto ambiental e afeta produção e oferta de alimentos. Superar essa crise socioambiental exige solução sistêmica e, pela dinâmica complexa entre os múltiplos agentes envolvidos, requer métodos apropriados, entre eles, a modelagem baseada em agentes.
Objetivos
Elaborar um modelo conceitual sobre o comportamento de produtores de alimentos e consumidores no Brasil para explicar o impacto das decisões nas mudanças climáticas e a saúde dos consumidores e posterior aplicação em modelo baseado em agentes (ABM).
Metodologia
Por meio de levantamento da literatura, definiu-se o comportamento decisório de produtores de alimentos – quais alimentos produzir – e do consumidor – qual alimento consumir – como essas decisões se afetam mutuamente e como afetam a emissão de gases de efeito estufa (GEE) e o aparecimento de desnutrição e obesidade na população. Para a caracterização do perfil dos produtores e consumidores em âmbito nacional, foram usados dados de bases abertas disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): o Censo Agropecuário de 2017 e a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2017-2018.
Resultados
Baseado nas variáveis de demanda de mercado, lucro e tradição/experiência, os produtores decidem sobre quais alimentos produzir. Essas decisões definirão a produção interna de alimentos, agrupados em: feijões, cereais, raízes e tubérculos, FVL (frutas, verduras e legumes) e carne bovina. Cada grupo apresenta diferentes impactos em relação à emissão de GEE, relacionados à alteração dos padrões climáticos que afetam a produção agrícola e a disponibilidade dos alimentos para o consumidor. A disponibilidade dos alimentos impacta na decisão de escolha para consumo, baseado pela renda, sexo e idade que refletirá na saúde do consumidor (eutrofismo, obesidade e desnutrição).
Conclusões/Considerações
O modelo conceitual traz luz sobre as dinâmicas entre as decisões de produtores de alimentos e consumidores, no atual cenário brasileiro, e seus impactos sobre a obesidade, desnutrição e mudanças climáticas. Passos futuros serão: definir como se dará a distribuição de alimentos entre as unidades federativas do Brasil e aplicação do modelo conceitual em um modelo baseado em agentes para simular impactos de possíveis intervenções.
SINDEMIA GLOBAL NA PRIMEIRA INFÂNCIA: UMA ANÁLISE A PARTIR DA ABORDAGEM SISTÊMICA
Comunicação Oral Curta
Carvalho, A. M.1, Garcia, L. M. T.2, Klapka, C.1, Lourenço, B. H.1, Carioca, A. A. F.3, Jacob, M. C. M.4, Gomes, S. M.5, Sarti, F. M.1
1 USP
2 Queen’s University Belfast
3 Unifor
4 UFRN
5 UFPB
Apresentação/Introdução
A intrincada relação entre sistemas alimentares e desfechos em saúde, conhecida como nexo alimentação-nutrição-saúde, tem incorporado preocupações ambientais nas últimas décadas. No entanto, ainda há uma lacuna sobre avaliação de sistemas alimentares no contexto da sindemia global a partir da abordagem de sistemas complexos, especialmente com foco em populações vulneráveis, como crianças.
Objetivos
Desenvolver um modelo de dinâmicas de sistema para propor avanços na compreensão das conexões entre sistemas alimentares e sindemia global, particularmente em termos de potenciais impactos em crianças menores de cinco anos de idade.
Metodologia
A partir de reuniões entre os autores e uma revisão rápida da literatura, foram definidos os principais fatores associados e as conexões entre causas e consequências da sindemia global. As conexões causais entre fatores foram indicadas por setas representando relações diretas ou inversas. Também foram identificados ciclos de retroalimentação do tipo balanço (B), que estabilizam o sistema, e reforço (R), que amplificam mudanças. O modelo foi integrado à abordagem socioecológica, na qual o indivíduo está no centro, cercado por fatores interpessoais, institucionais e políticos que interagem entre si e influenciam os resultados do sistema.
Resultados
A estrutura do modelo conceitual dinâmico apresentou 17 fatores com 26 conexões e 6 ciclos de retroalimentação. Os fatores foram categorizados em 5 grupos: ambiental, econômico, relacionado à escola, relacionado à família e relacionado à criança. O modelo elucidou mecanismos entre os componentes da sindemia global, abrangendo sobrepeso, desnutrição e mudanças climáticas, mostrando diversas relações indiretas entre mudanças climáticas e obesidade e desnutrição. A abordagem socioecológica adotada colocou as crianças no centro, considerando interações com fatores interpessoais, escolares, institucionais, políticos e ambientais.
Conclusões/Considerações
Os resultados evidenciaram a complexidade e a interdependência dos fatores relacionados à sindemia global, apontando caminhos para ações e políticas públicas que promovam dietas saudáveis e sustentáveis. Os ciclos de retroalimentação ajudaram a identificar pontos de intervenção para mitigar os impactos da sindemia. A integração com o modelo socioecológico ressaltou a importância dos recursos naturais.
DEBATES SOBRE GEOGRAFIA DA SAÚDE, SAÚDE AMBIENTAL, TERRITÓRIO E LUGAR: UM DIÁLOGO COM O COMPLEXO DE FAVELAS DE MANGUINHOS A PARTIR DA RUA SÃO JOSÉ
Comunicação Oral Curta
Monteiro, S. C. S.1
1 EPSJV/Fiocruz
Apresentação/Introdução
A pesquisa entrelaça as discussões de Saúde Ambiental e Geografia da Saúde, fazendo um histórico sobre a Geografia da Saúde ao longo do tempo histórico e relacionando a área com as concepções de Território, Lugar e Saúde Ambiental, propondo diálogo com a realidade de injustiça ambiental nas favelas de Manguinhos, com ênfase na Rua São José, uma das ruas mais afetadas por alagamentos na comunidade.
Objetivos
Analisar a situação de vulnerabilidade e os impactos causados pelas enchentes no complexo de Manguinhos a partir da Rua São José, correlacionando-os com estudos que sejam pautados no conhecimento entre Geografia, Meio Ambiente e Saúde.
Metodologia
A pesquisa tem abordagem qualitativa, participação em visitas técnicas de observação participativa e relato de experiências. A visita técnica foi realizada para observação, análise e discussão político-pedagógica no complexo de Manguinhos e na Rua São José, durante o ato Greve Global Pelo Clima. O ato culminou na Audiência Pública sobre o Plano Diretor na Câmara dos Vereadores da cidade do Rio de Janeiro, com o intuito de revisar as propostas e emendas relativas à Área de Planejamento 3 do Plano Diretor, onde foram coletadas falas de moradores da Rua São José presentes, assim como de representantes de movimentos e parlamentares, além do acompanhamento do desdobramento da situação.
Resultados
A partir da aplicação do método proposto, um relato de experiências foi produzido apontando todas as problemáticas observadas na comunidade de Manguinhos, sobretudo na rua São José, além das falas marcantes dos moradores e de movimentos sociais e parlamentares presentes na Audiência Pública na Câmara dos Vereadores da cidade do Rio de Janeiro. Foi realizada uma análise crítica dos dados coletados, relacionando-os com a discussão teórica proposta no contexto da Geografia da Saúde, Saúde Ambiental, Território e Lugar.
Conclusões/Considerações
Concluiu-se como fato a hipótese do trabalho, de que os impactos das enchentes são muito maiores em locais de maior vulnerabilidade social, o que compromete as populações menos favorecidas ambiental e socialmente, implicando também na situação de saúde, pois a população encontra-se mais exposta aos riscos de contaminação e doenças, de perdas de bens e de moradia e de estresses psicológicos por conta de suas condições precárias de vida.
BIBLIOTECA DE TECNOLOGIAS SOCIAIS E ANCESTRAIS: FORTALECIMENTO DE SABERES TRADICIONAIS PARA POLÍTICAS PÚBLICAS EM TERRITÓRIOS COSTEIROS
Comunicação Oral Curta
SOUZA, H. D. S.1, ABDALLA, J. S.2, SILVA, S. L. P.1
1 Fundação Oswaldo Cruz
2 IPEA
Apresentação/Introdução
A Biblioteca de Tecnologias Sociais (plataforma digital colaborativa) sistematiza práticas comunitárias em agroecologia, pesca, saneamento e governança, fortalecendo saberes tradicionais. A Biblioteca de Tecnologias Ancestrais aprofunda esse acervo, registrando saberes indígenas, quilombolas e caiçaras, para promover soberania alimentar e saúde territorial.
Objetivos
Documentar e sistematizar tecnologias sociais e ancestrais em territórios costeiros tradicionais, fortalecendo práticas culturais, fomentando intercâmbio comunitário e subsidiando políticas públicas para saúde, justiça socioambiental e soberania alimentar.
Metodologia
Adotou-se plataforma digital pública com cadastro colaborativo (Tecnologias Sociais) e registro sistemático de tecnologias ancestrais em campo, envolvendo lideranças indígenas, quilombolas e caiçaras. A pesquisa contou com: mapeamento territorial de práticas como canoa, casa de farinha, casa de reza; entrevistas e oficinas participativas com juventude; documentação técnica de processos, instrumentos e saberes; reuniões de validação comunitária; publicação digital aberta. A equipe foi composta por pesquisadores temáticos, facilitadores e representantes das comunidades.
Resultados
A Biblioteca de Tecnologias Sociais já está em operação, com categorias temáticas interligadas, envolvendo articulação territorial, governança, justiça socioambiental e saberes tradicionais. Em andamento, a Biblioteca de Tecnologias Ancestrais sistematizou registros de práticas comunitárias – manejo, pesca, rituais –, nas regiões de Paraty (RJ), Ubatuba (SP) e Angra dos Reis (RJ). Verificou-se forte interesse da juventude local, demandando metodologias intergeracionais. Os registros estão subsidiando debates comunitários para prototipagem de políticas públicas em saúde territorial e agroecologia.
Conclusões/Considerações
As bibliotecas digitais fortalecem a visibilidade e continuidade de saberes tradicionais, promovendo intercâmbio entre comunidades e academia. A participação ativa da juventude legitima práticas ancestrais vivas, fortalecendo identidade. A integração de tecnologias sociais e ancestrais é estratégia eficaz para políticas públicas territoriais sensíveis às especificidades culturais e ambientais.
PERCEPÇÕES DE CUIDADO EM SAÚDE DE UMA POPULAÇÃO QUILOMBOLA DIANTE DE CRIMES AMBIENTAIS
Comunicação Oral Curta
Fernandes, F.S.L.F1, Lima, K.V.A.2, Alves, M.C.3, Sala, D.C.P2, Sato, P.M.4, Camargo, C.L.5
1 Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo
2 Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo - Unifesp
3 Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Pará - UFPA
4 Escola de Nutrição, Universidade Federal da Bahia - UFBA
5 Escola de Enfermagem, Universidade Federal da Bahia - UFBA
Apresentação/Introdução
O racismo ambiental e a violência no campo impactam diretamente o processo de saúde-doença-cuidado das populações quilombolas. Grandes empreendimentos industriais instalados em seus territórios ameaçam seus modos de vida que, atrelados a barreiras de acesso à saúde, água e alimentação, reforçam iniquidades em saúde. Respostas efetivas devem contemplar suas percepções e necessidades em saúde.
Objetivos
Compreender a percepção de cuidado em saúde de uma população quilombola diante de crimes ambientais ocorridos no seu território.
Metodologia
Pesquisa qualitativa, descritiva e exploratória, realizada entre janeiro e agosto de 2024 na Comunidade Quilombola São Sebastião do Burajuba, Barcarena (PA). A comunidade perdeu parte de seu território com a instalação do complexo industrial mineral nos anos 1980. Vive às margens do rio Murucupi, vizinha às bacias de contenção de rejeitos da mineradora Hydro Alunorte. Foram entrevistadas sete pessoas moradoras há pelo menos dez anos no território, três homens cisgênero e quatro mulheres cisgênero, todas negras. Foi utilizado um roteiro semiestruturado sobre cuidado em saúde e crimes ambientais. As entrevistas foram transcritas e analisadas por meio da análise de conteúdo.
Resultados
Emergiram quatro temas de análise: 1) Identidade quilombola; 2) Preservação da floresta como Cuidado em Saúde; 3) Mudanças no modo de viver quilombola como processo de adoecimento 4) Progresso pra quem? Danos relacionados ao crime ambiental. O território, a floresta, a coletividade e a ancestralidade são dispositivos de cuidado em saúde, que se encontram ameaçados pelos crimes ambientais. Vazamentos de rejeitos da mineração provocaram insegurança hídrica e alimentar, dificultaram a pesca e o cultivo, além de afetar práticas culturais e saberes tradicionais. A comunidade expressa sentimentos de medo e insegurança relacionados à perda do território e à mudança do seu modo de vida.
Conclusões/Considerações
Enquanto o desenvolvimento industrial em áreas quilombolas ocorrer sem participação social e sem levar em consideração o impacto em seus modos de vida, teremos a necropolítica operando ao invés de um Estado que garante a vida e a cidadania de toda a população. Acesso à terra e proteção das florestas são essenciais para garantir o direito à saúde com base em justiça socioambiental da Comunidade Quilombola São Sebastião do Burajuba.
PROPORÇÃO DE INSEGURANÇA HÍDRICA DOMICILIAR (HWISE) EM COMUNIDADES URBANAS VULNERABILIZADAS DE SALVADOR, BA
Comunicação Oral Curta
Santos, P.E.F.1, Souza, F. N.1, Cremonese, C.2, Santiago, S. H.2, Oliveira, D. S.3, Santana, J. O.2, Palma, F.2, Santiago, Diogo4, Costa, F.2
1 ISC/ UFBA
2 ISC / UFBA
3 FIOCRUZ / UFBA
4 ISC / FAMED /UFBA
Apresentação/Introdução
A insegurança hídrica domiciliar (HWISE) é relevante para agravos à saúde, afetando diretamente o bem-estar das famílias. Domicílios de comunidades urbanas vulnerabilizadas frequentemente enfrentam dificuldades no acesso seguro, contínuo e adequado à água, refletindo desigualdades sociais e ambientais persistentes.
Objetivos
Este estudo teve como objetivo estimar a proporção de HWISE e identificar fatores sociodemográficos associados à sua ocorrência em comunidades urbanas vulnerabilizadas de Salvador, Bahia.
Metodologia
Trata-se de um estudo transversal, de base comunitária, realizado entre 2024 e 2025 em duas comunidades urbanas vulnerabilizadas de Salvador, BA. Incluiu 355 domicílios cujos chefes de família consentiram participar. Os dados foram coletados através questionários estruturados sobre características sociodemográficas e ambientais. Utilizamos a escala HWISE, e adequamos as respostas com desfecho dicotômico (HWISE>= 12). A análise incluiu estatísticas descritivas e bivariadas, com razão de prevalência, IC 95% e teste de qui-quadrado. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética do Instituto de Saúde Coletiva/UFBA, sob o CAAE nº 32361820.7.0000.5030.
Resultados
Nos 355 domicílios, os chefes de família têm média de idade de 47 anos, predominância do sexo feminino (70,1%) e autodeclarados negros (96%). A renda média foi de R$1.501,00 e 39,0% dos participantes tinham, no máximo, o ensino fundamental completo. A proporção de HWISE foi de 27% (96) Observou-se associação estatisticamente significativa entre a insegurança hídrica e o número de moradores no domicílio, assim como a presença de crianças (p < 0,001). A HWISE foi 86% mais frequente em domicílios com quatro ou mais moradores e 2,3 vezes maior entre aqueles com crianças.
Conclusões/Considerações
A frequência de HWISE elevada nas comunidades deste estudo evidencia as desigualdades no acesso à água, o que reforça a importância de medidas que garantam a equidade no abastecimento de água, com foco em domicílios mais populosos.
RISCOS E DESASTRES NO CONTEXTO DE UM PROJETO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL ORIENTADO A COMUNIDADES TRADICIONAIS: O CASO DO PROJETO REDES NO LITORAL SUL FLUMINENSE E NORTE PAULIST
Comunicação Oral Curta
Silva, P. O.1, Rego Monteiro, L. C.2, Leal, P. J. V.3
1 UERJ/OTSS
2 UFRJ/OTSS
3 UFF
Apresentação/Introdução
Nos últimos anos, comunidades tradicionais do litoral sul fluminense e norte paulista têm enfrentado sucessivas tragédias climáticas. Esses eventos, longe de serem apenas fenômenos naturais, refletem um contexto de vulnerabilidades sociais agravadas por processos de segregação socioespacial, pressão imobiliária e omissão do poder público.
Objetivos
O presente trabalho tem como objetivo analisar de que forma o Projeto Redes, enquanto condicionante ambiental com enfoque educativo, tem abordado os desastres que afetam comunidades tradicionais em seus territórios de atuação.
Metodologia
Foram levantadas as ocorrências de desastres registradas por órgãos oficiais, como a Defesa Civil, com posterior sistematização e tabulação dos principais eventos nas comunidades tradicionais. A partir da análise das atividades do Projeto Redes, buscou-se identificar como o tema tem sido tratado e quais ações foram realizadas. A metodologia envolve diferentes processos, com destaque para a geração contínua de dados temáticos sobre as ações da condicionante ambiental nas 111 comunidades. Busca-se compreender de que maneira as ações do projeto têm contribuído para uma gestão de riscos de base comunitária, fortalecendo a participação popular e a construção coletiva de estratégias de prevenção e resposta.
Resultados
Os resultados evidenciam que comunidades tradicionais dos três Mesoterritórios têm sido frequentemente afetadas por desastres climáticos. O Projeto Redes, por meio de ações territorializadas, tem promovido o diálogo com as comunidades, abordando temas como direito à moradia, desigualdade e mudanças climáticas. Essas ações buscam fortalecer a organização comunitária e ampliar a participação local na gestão de riscos e na construção de soluções frente aos desastres vivenciados. O tema dos riscos e desastres tem aparecido como uma questão chave dentro do bloco temático da Justiça Socioambiental.
Conclusões/Considerações
No Projeto Redes, os debates sobre desastres se fortalecem pela troca de experiência entre os territórios, as ações contribuem para ampliar a capacidade de as comunidades reconhecerem riscos e atuarem na prevenção e resposta aos impactos dos eventos extremos. As consequências dos desastres evidenciam um cenário de injustiça ambiental, em que os impactos recaem de forma desigual sobre populações vulnerabilizadas.
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E PROMOÇÃO DE TERRITÓRIOS SAUDÁVEIS: UMA EXPERIÊNCIA DO PROJETO “CORAL COM COR” EM PARCERIA INTERSETORIAL E INERDISCIPLINAR
Comunicação Oral Curta
Gomes, M. B. M.1, Gomes, M. M. V.2, Vidar, L. I. S.2, Teixeira, M.C.B.2
1 CEFET/RJ
2 UFF
Período de Realização
Desde janeiro de 2024 até a presente data
Objeto da experiência
Proposta de educação ambiental com crianças e adolescentes socialmente vulnerabilizados, com metodologia intersetorial e interdisciplinar
Objetivos
Relatar a atuação do projeto Coral Com Cor com educação ambiental para crianças e jovens vulnerabilizados; analisar, à luz da experiência, a integração entre promoção socioambiental e territórios saudáveis; e avaliar a parceria intersetorial e interdisciplinar construída na ação.
Descrição da experiência
Foi elaborado um livro ilustrado sobre corais e seu branqueamento, além de jogos de mesa educativos. Estabeleceu parceria com o Instituto de Saúde Coletiva da UFF, o movimento discente Agir Coletivo da UFF e o Projeto Coral Vivo (ONG). As atividades ocorreram em escolas públicas e polos da Indústria do Conhecimento Firjan/Sesi, no Rio de Janeiro. Foram realizadas rodas de conversa, leitura do livro, uso de jogos, demonstrações de esqueletos de corais e uso de óculos VR com simulação de mergulho.
Resultados
As atividades educativas foram bem recebidas pela comunidade escolar. O material do Coral Com Cor tornou-se um dispositivo pedagógico relevante. As parcerias contribuíram com diferentes olhares: o Agir Coletivo com uma abordagem sensível e politizada; o Coral Vivo ofereceu apoio técnico; e a universidade, articulação conceitual com foco em saúde coletiva e justiça socioambiental. A participação de uma aluna da educação básica favoreceu a linguagem acessível e a identificação com o público.
Aprendizado e análise crítica
Por ser uma experiência intersetorial e interdisciplinar, docentes, discentes e integrantes do Coral Com Cor, Coral Vivo e Agir Coletivo aprenderam a ressignificar práticas e conceitos. A experiência demonstrou a relevância da inserção da pauta socioambiental na saúde coletiva e em suas práticas de educação e promoção de territórios saudáveis. A compreensão das iniquidades geradas pela crise ambiental devem ser enfrentadas como um problema de saúde pública de grande magnitude e urgência.
Conclusões e/ou Recomendações
A crise ambiental aprofunda iniquidades em saúde e condições socioeconômicas. A ação educativa do Coral Com Cor, realizada em parceria intersetorial, com material interativo voltado a comunidades vulneráveis, mostrou como diferentes setores — ONGs, movimentos sociais, escolas e universidades — podem atuar de forma integrada na promoção de territórios mais saudáveis e sustentáveis.