
Programa - Comunicação Oral Curta - COC16.4 - Prevenção, violência e saúde mental
01 DE DEZEMBRO | SEGUNDA-FEIRA
08:30 - 10:00
08:30 - 10:00
A ATUAÇÃO DE EDUCADORES PARES NA PROMOÇÃO DA PROFILAXIA PRÉ-EXPOSIÇÃO AO HIV ENTRE ADOLESCENTES DA DIVERSIDADE SEXUAL E DE GÊNERO POR APLICATIVOS DE RELACIONAMENTO.
Comunicação Oral Curta
1 Universidade Federal da Bahia, Salvador, Bahia, Brasil.
2 Instituto de Saúde Coletiva – ISC, Universidade Federal da Bahia, Salvador, Bahia, Brasil.
3 Instituto Gonçalo Muniz, Fundação Oswaldo Cruz, Salvador, Bahia, Brasil
4 Instituto de Saúde Coletiva - ISC, Universidade Federal da Bahia, Salvador, Bahia, Brasil.
5 Universidade do Estado da Bahia, Salvador, Bahia, Brasil.
Período de Realização
Julho de 2023 a junho de 2025.
Objeto da experiência
Criação de demanda para o uso da profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP) entre adolescentes por meio de aplicativos de relacionamento.
Objetivos
Descrever estratégias de criação de demandas desenvolvidas por educadores pares (EP) para mobilizar o conhecimento e uso da PrEP entre adolescentes da diversidade sexual e de gênero (ADSG), utilizando aplicativos de relacionamento como ferramentas de aproximação.
Metodologia
A experiência ocorreu no projeto PrEP15-19 Escolhas, em Salvador-BA, com ações voltadas à promoção da PrEP em plataformas de relacionamento. Três EP jovens (2 homens cis gays e 1 mulher trans), previamente capacitados, utilizaram linguagem audiovisual e de texto para apresentar o projeto, estimular o interesse e realizar o recrutamento. Os perfis tinham fotos institucionais, biografia e redes sociais. Foram usados recursos como filtros de idade e versão Premium para ampliar o alcance aos ADSG.
Resultados
A atuação diária dos EP, com dedicação de 4h em aplicativos de relacionamento, favoreceu o acesso a adolescentes sexualmente ativos, ampliando a disseminação de informações sobre a PrEP e a prevenção combinada. A inserção de conteúdos informativos em espaços virtuais de sociabilidade fortaleceu a confiança e o vínculo com os ADSG, especialmente pela identificação com os EP, o que contribuiu para o aumento do interesse e adesão à PrEP, além do acesso a outros insumos de prevenção.
Análise Crítica
A atuação dos EP em aplicativos de relacionamento mostrou-se eficaz na aproximação aos ADSG, ao promover reconhecimento e confiança. Contudo, observou-se a persistência de barreiras, como a desinformação sobre o HIV e as novas tecnologias de prevenção, além da baixa percepção de risco entre os jovens. A experiência aponta para a importância de ações educativas contínuas, com abordagens criativas, dialógicas e ajustadas à realidade e aos repertórios comunicacionais do público-alvo.
Conclusões e/ou Recomendações
A atuação dos EP em aplicativos de relacionamento é uma estratégia potente para promover saúde sexual entre ADSG, ao facilitar o acesso à informação e aos serviços de saúde e à prevenção do HIV. A presença de perfis humanizados e com linguagem acolhedora contribui para reduzir barreiras comunicacionais e institucionais, fortalecendo a equidade no acesso à PrEP e a outras tecnologias de prevenção no contexto juvenil.
DISCRIMINAÇÃO POR ORIENTAÇÃO SEXUAL AUTORRELATADA ENTRE ADOLESCENTES E JOVENS HOMENS QUE FAZEM SEXO COM HOMENS DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19 NO INTERIOR DA BAHIA
Comunicação Oral Curta
1 UFBA/IMS-CAT
2 UFBA/ISC
3 UFBA/ISC, UNEB/DCV
Apresentação/Introdução
A população de adolescentes e jovens homens que fazem sexo com homens (AJHSH) é frequentemente exposta à discriminação pela orientação sexual, que ocorre devido às manifestações homofóbicas e promove a marginalização na sociedade. Durante a pandemia de Covid-19, o isolamento social dificultou o acesso dos AJHSH às redes de apoio, ao lazer e serviços de saúde e ampliou as interações virtuais.
Objetivos
Descrever a ocorrência de discriminação autorrelatada por orientação sexual nos AJHSH na pandemia de Covid-19 no município de Vitória da Conquista/BA.
Metodologia
Estudo transversal com AJHSH, com idade de 15-24 anos, residentes em Vitória da Conquista-BA, entre agosto e dezembro/2021, através da amostragem por rede de contatos Respondent Driven Sampling (RDS). Os primeiros participantes foram indicados por um coletivo LGBTQIA+, que recrutaram outros AJHSH de sua rede de amizade. Foram coletados dados sociodemográficos e de discriminação por orientação sexual nos últimos 6 meses, através de entrevistas com questionário estruturado, no centro de referência de cuidado de infecções sexualmente transmissíveis. Realizada análise descritiva e as estimativas foram ponderadas pelo estimador de Gile, no software Stata.
Resultados
O recrutamento alcançou 111 AJHSH. Do total, 80,4% tinha idade entre 20 e 24 anos, 63,5% era negro (preto/pardo), 58,8% era homossexual, 72,9% com escolaridade em nível superior, 63,4% com nível econômico mais baixo, 71,5% morava com os pais. Ao avaliar a ocorrência de discriminação por orientação sexual, identificou-se que 66,9% já sentiu medo de caminhar em espaços públicos, 28,2% vivenciou no ambiente religioso, 25,0% praticada por colegas na escola, faculdade ou curso, 23,1% no ambiente familiar, 21,1% nas redes sociais ou outros ambientes virtuais, 18, 9% em grupo de amigos, 18,0% por vizinhos e 16,9% foi mal atendido ou impedido de entrar em comércio ou locais de lazer.
Conclusões/Considerações
As formas de discriminação mais frequentes ocorreram em ambientes onde os AJHSH deveriam ser acolhidos, além de espaços públicos, que evidencia a vulnerabilidade desse grupo. Mesmo após o término da pandemia, percebe-se a necessidade de políticas públicas de combate às ações discriminatórias, em especial nos ambientes virtuais e nos espaços de interação social frequentemente utilizados pelos jovens.
ENTRE NORMAS E NARRATIVAS: O ACESSO À PREP POR MULHERES CIS NA AMÉRICA DO SUL E A REPERCUSSÃO DA VACINA DO HPV NO BRASIL
Comunicação Oral Curta
1 UEA/UNICAMP/CNPq
2 USP
3 UEA
Apresentação/Introdução
Este trabalho analisa o acesso à PrEP para mulheres cis na América do Sul, comparando políticas nacionais com a brasileira, especialmente após a repercussão digital da vacina do HPV. A pesquisa evidencia desigualdades e disputas simbólicas nas estratégias de prevenção ao HIV
Objetivos
Comparar políticas de acesso à PrEP para mulheres cis na América do Sul e no Brasil, analisando a repercussão digital da vacina do HPV e disputas de legitimidade e informação nas plataformas, com foco nas desigualdades marcadas por gênero.
Metodologia
O presente trabalho faz uso de um banco de dados que reúne documentos e normativas sobre a PrEP de 2017 a 2025, abrangendo os 13 países da América do Sul, contruído no ambito do projeto PrEP América do Sul. Além disso, realizamos etnografia digital nos perfis oficiais de comunicação do Ministério da Saúde no Brasil, analisando conteúdos publicados especialmente após a divulgação da nova normativa da vacina do HPV. A metodologia busca compreender como essas políticas são disseminadas, disputadas e legitimadas nos espaços digitais.
Resultados
Os dados apontam para assimetrias regionais no acesso à PrEP para mulheres cis, mesmo com normativas em expansão. A repercussão digital da vacina do HPV nos canais oficiais expôs lacunas informacionais, confusão entre tecnologias de prevenção e ausência de campanhas educativas direcionadas a esse público. As redes sociais revelam disputas morais sobre quem “merece” o acesso, reforçando desigualdades de gênero e sexualidade. Observa-se que a gestão comunicacional da prevenção opera dispositivos que podem hierarquizar vidas, dificultando a universalização do cuidado.
Conclusões/Considerações
A comparação entre políticas e suas repercussões digitais mostra que o acesso à PrEP por mulheres cis ainda é marcado por exclusões simbólicas e informacionais. A etnografia digital evidencia como campanhas e discursos oficiais reiteram desigualdades de gênero nas estratégias de prevenção.
PERCEPÇÕES JUVENIS SOBRE CUIDADO E PREVENÇÃO: UM OLHAR DE GÊNERO SOBRE A VACINAÇÃO CONTRA O HPV EM ESCOLAS PÚBLICAS EM SÃO PAULO
Comunicação Oral Curta
1 FCMSCSP
2 USP
Apresentação/Introdução
A vacinação contra o HPV é uma estratégia essencial para a prevenção de doenças associadas ao vírus. No entanto, a adesão à vacina ainda enfrenta desafios no Brasil, incluindo desinformação, crenças culturais e assimetrias de gênero. Nesse cenário, escolas públicas representam um ambiente estratégico para a promoção da saúde entre adolescentes.
Objetivos
Investigar as percepções juvenis sobre cuidado e prevenção em saúde, analisando as diferenças de gênero na aceitação e hesitação da vacina contra o HPV, entre adolescentes em escolas públicas de São Paulo.
Metodologia
Foram realizados 16 Grupos Focais (GF) em 4 escolas públicas no município de São Paulo. Em cada escola, foram realizados 2 GF com meninas dos 6° e 7° anos e 8° e 9° anos, e 2 GF com meninos nos mesmos períodos, com cerca de 128 participantes no total. Foram discutidos temas como informação sobre saúde, benefícios da vacinação, influências familiares, conhecimentos sobre HPV e ISTs, bem como estratégias para aumentar a adesão às vacinas, o papel da escola nas informações de saúde e na educação sexual. Os grupos tiveram duração média de 1h30 e foram realizados no período letivo, em espaços como bibliotecas ou salas de aula. As sessões foram gravadas e transcritas para a análise de conteúdo.
Resultados
Os GF revelaram que, de modo geral, os adolescentes têm informações sobre vacinas, ainda que não sejam tão precisas. Se informam pelas redes sociais e também na escola. A hesitação vacinal está frequentemente associada à falta de informação precisa, preocupações sobre efeitos adversos e opiniões de familiares. Além disso, observou-se uma diferença significativa na percepção de cuidados em saúde entre meninas e meninos: as meninas relatam que o cuidado recai mais sobre elas, incluindo a prevenção de ISTs como o HPV. Já os meninos, com frequência, relatam se preocupar menos com a saúde e com as formas de prevenção, amparados na menor preocupação de familiares em relação a eles.
Conclusões/Considerações
A utilização de GFs em escolas públicas demonstrou ser uma estratégia eficaz para compreender as percepções sobre vacinas e questões de saúde entre adolescentes. A promoção de diálogos abertos e educativos pode contribuir significativamente para o aumento da adesão à vacina contra o HPV, especialmente ao considerar as diferenças de gênero na percepção sobre cuidado e prevenção.
A GESTÃO DO CUIDADO PELA (IN)JUSTIÇA REPRODUTIVA NAS POLÍTICAS PÚBLICA SAÚDE MENTAL E ASSISTÊNCIA SOCIAL
Comunicação Oral Curta
1 UERJ
Apresentação/Introdução
O trabalho reúne achados de três pesquisas etnográficas na região metropolitana do Rio de Janeiro, que analisam o cuidado como vetor para a (des)articulação entre gênero, raça, loucura e maternidade. Considerando que “toda política é reprodutiva” (Briggs, 2017) e “toda política reprodutiva é racializada” (Tempesta, 2023), analisamos o campo das políticas públicas pela chave da justiça reprodutiva.
Objetivos
A partir da trajetória de mulheres cujas maternidades cruzavam serviços de saúde mental e assistência social, pretende-se refletir como a gestão do cuidado em tais políticas públicas se opera também pela regulação de seus direitos reprodutivos.
Metodologia
O trabalho é costurado a partir de três contextos etnográficos, de abordagem socioantropológica, com atenção às dimensões analíticas interseccionais. O primeiro trata de uma observação participante em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) na zona norte do Rio de Janeiro, buscando observar o cotidiano das cuidadoras familiares não remuneradas. O segundo realizou-se em um CAPS III na Baixada Fluminense, olhando para o (des)fazer dos desejos e dos direitos à maternidade de mulheres negras lidas como loucas. O terceiro traz o caso de uma mãe amparada pelo programa Lares Cariocas, na zona oeste da cidade, cujo agravamento no quadro de saúde mental culminou na retirada compulsória de sua filha.
Resultados
As pesquisas revelam as (des)articulações entre gênero, raça, maternidade e loucura. Tem-se a “casa” e a demanda por “organização” como condição estatal para o exercício da maternidade. Em nome do “bom cuidado” ou do “melhor interesse da criança”, a ambivalência da atuação estatal deflagra o fazer e desfazer de direitos e desejos reprodutivos de mulheres marcadas por itinerários de vulnerabilização e violência. Se por um lado, os serviços da RAPS e da Assistência pareciam ofertar algum suporte às maternidades precarizadas, por outro reproduziam a lógica de responsabilização pelas condições precárias que por vezes levavam à (im)possibilidade de sustentar o desejo maternar.
Conclusões/Considerações
As pesquisas apontam que a exigência de organização da vida para exercer a maternidade revela uma noção normativa de cuidado, operada pela vigilância estatal, ora suprimindo desejos e direitos reprodutivos, ora exigindo agência materna irrestrita. Como pensar a gestão do cuidado sem considerar quais mulheres são encarregadas de seu exercício, e como cuidar destas mulheres sem considerar as políticas reprodutivas que incidem sobre seus corpos?
FÚRIA FEMININA: DESVIO OU CAMINHO? UMA INVESTIGAÇÃO DA EXPRESSÃO DA RAIVA ENQUANTO POSSIBILIDADE TERAPÊUTICA PARA A MULHER EM SOFRIMENTO PSÍQUICO
Comunicação Oral Curta
1 UNESP
Apresentação/Introdução
No campo das artes, o movimento “female rage” apresenta a raiva como resposta ao sofrimento psíquico e opressões sociais. Na clínica psiquiátrica, o Transtorno de Personalidade Borderline é marcadamente feminino, associado a trauma e manifestações de raiva. A partir da interface entre saúde e artes, investigam-se possibilidades expressivas para abordagem deste afeto, contrapondo sua medicalização.
Objetivos
Essa investigação teórica buscou analisar o “female rage” como resposta ao sofrimento psíquico feminino, explorando o potencial do uso de ferramentas estéticas no campo da clínica ao abordar a raiva feminina e fenômenos associados.
Metodologia
Foi realizada uma revisão para elaboração de ensaio teórico sobre expressões de raiva por mulheres no campo da estética e possíveis entrelaçamentos com a clínica em saúde mental. Para a construção dessa racionalidade, a revisão da literatura organizou-se em 4 eixos temáticos: a raiva como afeto básico, relacional e com funções protetivas, a raiva feminina como fenômeno psicopatológico, tendo o Transtorno de Personalidade Borderline como protótipo da associação gênero, violência e trauma, sofrimento psíquico dentro de obras literárias do movimento “female rage” e fundamentação científica para expressão artística da raiva como ferramenta clínica.
Resultados
A revisão destacou a raiva como um afeto relacional e emoção básica, com funções protetivas ao organismo. Na saúde mental, a raiva feminina associa-se fortemente a históricos de violência e trauma, tendo o Transtorno de Personalidade Borderline como protótipo. Observou-se, ainda, uma tendência medicalizante dos saberes “psi” aos corpos e afetos femininos. A expressão da raiva pelo “female rage” pode ser considerada como estratégia de enfrentamento, tendo em vista as narrativas de sofrimento psíquico e o caráter autobiográfico das obras. Este fenômeno encontra paralelos em estudos clínicos sobre escrita expressiva, havendo sustentação na literatura para sua utilização na terapêutica.
Conclusões/Considerações
Ao reposicionar a raiva não apenas como sintoma, mas como linguagem legítima de subjetividades feridas, abre-se espaço para estratégias de cuidado que possibilitem sua expressão. A partir do diálogo entre a estética, a psicopatologia fenomenológica, a psicanálise, a neurociência e os estudos de gênero, construiu-se uma racionalidade interdisciplinar e desmedicalizante para a abordagem clínica da raiva feminina por meio de ferramentas artísticas.
SAÚDE MENTAL EM RODA: TECENDO CUIDADOS E FORTALECENDO MULHERES A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO GRUPO DE APOIO MÚTUO.
Comunicação Oral Curta
1 IMS-UFBA
Período de Realização
Setembro a dezembro de 2024, quinzenalmente, no turno matutino no Ambulatório de Saúde Mental (ASM).
Objeto da experiência
Experiência de cuidado em saúde mental por meio de grupos de apoio mútuo de mulheres acompanhadas no ASM em Vitória da Conquista-Bahia.
Objetivos
Relatar a experiência de grupo de apoio mútuo de mulheres em sofrimento mental, como espaço de fortalecimento, encorajamento e promoção da saúde mental. Buscou-se também otimizar a prática terapêutica no ASM e possibilitar a formação de rede de apoio.
Descrição da experiência
O grupo acontecia em sala privativa, conduzido por enfermeira e psicóloga, com duração de até 1:30h. Participavam seis a oito mulheres convidadas previamente no acolhimento. Após explanação sobre os objetivos, as regras de convivência e o respeito ao sigilo, iniciava-se as atividades por meio de rodas de conversa, com dinâmicas de interação, palavras, mensagens e perguntas disparadoras. As participantes eram livres para se expressarem e a palavra circulava de forma espontânea e acolhedora.
Resultados
Vivenciou-se o compartilhamento livre de experiências de sofrimento mental. Com frequência, ocorreram momentos de emoções intensas e choros incontidos, despertando apoio mútuo entre as participantes. Identificou-se que as mulheres em sofrimento vivenciam ou vivenciaram situações de violência doméstica, com isso, trabalhou-se o fortalecimento destas mulheres para o enfrentamento desta circunstância. Desencadeou-se a formação de vínculo e o estabelecimento de apoio entre as participantes.
Aprendizado e análise crítica
Os serviços ambulatoriais de saúde mental possuem ênfase no cuidado fragmentado e medicamentoso. Grupos terapêuticos e de ajuda mútua não são atividades previstas nesses serviços. Assim, esta vivência permitiu ganhos significativos no fortalecimento da interação social, estímulo ao autocuidado, troca de experiências, aprendizado e apoio mútuo. Para os profissionais e para o ASM, o grupo permitiu ampliar e qualificar o cuidado em saúde mental.
Conclusões e/ou Recomendações
O grupo identificou contextos de violência que levaram ao sofrimento mental, contribuiu com observações, reflexões e com a escuta ativa das emoções e sentimentos das participantes. Ofereceu subsídios às participantes e ampliou e qualificou o cuidado desenvolvido pelo ASM. Diante dos resultados alcançados, recomenda-se aos serviços ambulatoriais de saúde mental a implantação de grupos de mulheres para o apoio mútuo.
O QUE NÃO SE DIZ: ENFRENTANDO ESTIGMAS NO CUIDADO À INCONTINÊNCIA URINÁRIA FEMININA NA ATENÇÃO BÁSICA.
Comunicação Oral Curta
1 Fiocruz Brasília
Período de Realização
Março a novembro de 2024.
Objeto da experiência
Vivência no cuidado à incontinência urinária em mulheres na atenção básica, com foco em barreiras socioculturais e estigma.
Objetivos
Relato de experiência clínica de residentes da Residência Multiprofissional em Atenção Básica da Fiocruz Brasília, refletindo sobre o cuidado a mulheres com incontinência urinária. Destaca-se o impacto do estigma e de barreiras socioculturais no acesso e adesão ao tratamento, ressaltando a importância da escuta sensível e do fortalecimento de vínculos no território para um cuidado integral.
Metodologia
Na rotina da residência multiprofissional em atenção básica, dentro do território, identificou-se que a incontinência urinária, embora frequente, era raramente verbalizada. O tema surgia com vergonha, minimização ou silêncio. Com escuta atenta e vínculo, o tema foi gradualmente incluído em atendimentos e ações educativas, mesmo sem protocolo formal. A atuação crítica e a articulação com a equipe permitiram abordar a queixa com acolhimento e construir estratégias possíveis de cuidado.
Resultados
Percebeu-se que o estigma sobre a incontinência urinária atravessa tanto as usuárias quanto a equipe, dificultando a abordagem. A escuta clínica foi essencial para criar espaços de acolhimento. Apesar da falta de fluxos e materiais, estratégias criativas permitiram trazer o tema à tona. Refletiu-se sobre como a condição revela desigualdades de gênero e silenciamentos históricos. A experiência fortaleceu o cuidado e ampliou o olhar sobre a saúde das mulheres.
Análise Crítica
A experiência demonstrou que o silêncio em torno da IU é estruturado por desigualdades e lacunas assistenciais. Romper com esse silêncio exigiu vínculo, escuta e ética. A ausência de fluxos revelou um vazio simbólico e institucional, no qual foi possível reinventar o cuidado a partir da prática cotidiana e da reflexão crítica, reconhecendo a potência transformadora da residência no SUS .
Conclusões e/ou Recomendações
É urgente ampliar o cuidado à saúde da mulher para além da maternidade, reconhecendo a incontinência urinária como demanda legítima. Recomenda-se investir em ações formativas e estratégias de escuta qualificada que enfrentem o estigma, promovam o acolhimento e garantam cuidado integral e longitudinal na atenção básica.
INTERSECCIONALIDADE E VULNERABILIDADE AO HIV E À AIDS: A TRAJETÓRIA AFETIVO-SEXUAL DE UM JOVEM NEGRO E BISSEXUAL DO RIO DE JANEIRO-RJ
Comunicação Oral Curta
1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
Apresentação/Introdução
Apesar da expansão de tecnologias biomédicas de prevenção ao HIV e à aids, verifica-se aumento da incidência entre jovens homens gays e homens que fazem sexo com homens (HSH) no Brasil. No estado do Rio de Janeiro, a epidemia afeta cada vez mais homens e mulheres de raça/cor negra, apontando a importância de análises interseccionais para melhor compreensão das lacunas nas políticas de prevenção.
Objetivos
Assim, o objetivo do estudo é analisar, a partir de um estudo de caso, como os marcadores sociais de gênero, raça, classe, território e sexualidade interagem na vulnerabilização de jovens homens negros LGBTQIA+ ao HIV e à aids no Rio de Janeiro.
Metodologia
O estudo se apoia em material empírico da pesquisa multicêntrica “Jovens da Era Digital”, coordenada pela FSP/USP, com apoio do CNPq. É uma pesquisa socioantropológica que explora a relação dos jovens “nascidos na era digital” com a sexualidade, reprodução, redes sociais, vulnerabilidade e formas de prevenção ao HIV, aids e outras IST, tendo em vista os marcadores sociais da diferença (classe, raça, gênero). A partir de uma entrevista em profundidade com Geovane (nome fictício), jovem preto, bissexual, de 21 anos, morador da zona norte do Rio de Janeiro-RJ e de classe popular, foi desenvolvido um estudo de caso, abordado por meio de análise temática com perspectiva interseccional.
Resultados
A trajetória afetivo-sexual de Geovane, recepcionista de salão e motoboy, é marcada por múltiplas situações de vulnerabilidade social, individual e programática ao HIV, aids e outras infecções sexualmente transmissíveis (IST), como: violência sexual na infância, constante LGBTfobia em relações familiares e em espaços públicos, relações sexuais desprotegidas com pessoas que, pouco depois, faleceram por aids, além da ausência de apoio social e de barreiras de acesso à saúde, às tecnologias de prevenção, ao ensino superior e ao trabalho formal. Tais situações foram produzidas e/ou agravadas pelos efeitos da intersecção entre marcadores sociais como gênero, sexualidade, território e raça/cor.
Conclusões/Considerações
O estudo de caso em questão evidencia como marcadores sociais da diferença se interseccionam e reproduzem desigualdades que, somadas às falhas na implementação de políticas públicas, vulnerabilizam jovens negros LGBTQIA+ ao HIV/aids. As barreiras de acesso a saúde e à prevenção em sua trajetória demonstram que as políticas de prevenção ao HIV precisam ser mais orientadas pela equidade e interseccionalidade para alcançar aqueles que mais precisam.
PREVENÇÃO AO HIV/AIDS/IST ENTRE JOVENS CISGÊNEROS HETERO E BISSEXUAIS DO RIO DE JANEIRO: IMPORTÂNCIA DO CONTATO COM AÇÕES DE PROMOÇÃO DE DIREITOS HUMANOS
Comunicação Oral Curta
1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
Apresentação/Introdução
A redução de investimentos em abordagens de prevenção ao HIV de cunho estrutural e social, e em ações voltadas aos direitos sexuais e reprodutivos das juventudes têm contribuído para a vulnerabilização de jovens ao HIV no Brasil. A epidemia, por ser concentrada, é mais estudada em populações-chave, havendo menos pesquisas sobre práticas preventivas de jovens mulheres e homens hetero e bissexuais.
Objetivos
Assim, o objetivo deste estudo é analisar as estratégias de prevenção ao HIV, aids e outras infecções sexualmente transmissíveis (IST) utilizadas por jovens homens e mulheres de 18 a 24 anos de idade, hetero e bissexuais, do Rio de Janeiro-RJ.
Metodologia
O estudo se apoia em material empírico da pesquisa nacional multicêntrica “Jovens da Era Digital”, coordenada pela FSP/USP, com apoio do CNPq. É uma pesquisa socioantropológica que explora a relação dos jovens “nascidos na era digital” com a sexualidade, reprodução, redes sociais, vulnerabilidade e formas de prevenção ao HIV, aids e outras IST, tendo em vista os marcadores sociais da diferença (classe, raça, gênero). Um total de 13 entrevistas em profundidade, realizadas com jovens do Rio de Janeiro-RJ, foram analisadas, compondo um grupo de nove mulheres e cinco homens, em sua maioria de classes populares, raça/cor negra e orientações bissexuais e heterossexuais.
Resultados
As principais estratégias de prevenção foram a confiança e o conhecimento do/a parceiro/a. O preservativo é usado como estratégia temporária entre jovens heterossexuais. Há dificuldade de acesso a cuidados em saúde sexual relativos ao sexo entre mulheres, desconhecimento das estratégias baseadas em antirretrovirais (ARV) e baixa testagem para IST. Experiências de opressão interseccional envolvendo gênero, sexualidade, raça, território e/ou deficiência estiveram relacionadas a situações de maior vulnerabilidade. Os/as que têm práticas preventivas mais diversificadas possuem vínculo com instituições de saúde e/ou de promoção de direitos humanos, e/ou identidades LGBTI+ e/ou maior escolaridade.
Conclusões/Considerações
A vulnerabilização de jovens do Rio de Janeiro ao HIV/aids/IST opera de diferentes formas, influenciadas pelas interações singulares entre marcadores sociais da diferença. Diante desses processos, ter vínculo com instituições de promoção de saúde, direitos humanos, ativismos LGBTI+ e universidades contribuiu para ampliar a percepção de risco e diversificar as estratégias de prevenção, evidenciando a relevância de abordagens centradas em direitos.

Realização: