
Programa - Comunicação Oral - CO9.2 - Deficiência e Saúde Coletiva II
01 DE DEZEMBRO | SEGUNDA-FEIRA
15:00 - 16:30
15:00 - 16:30
DES-ALEIJAR CORPOS E EXTINGUIR A DEFICIÊNCIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE A PRÁTICA CLÍNICA DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA NO ATENDIMENTO DE CRIANÇAS AUTISTAS
Comunicação Oral
1 UERJ
Período de Realização
A experiência relatada aconteceu entre setembro de 2022 e julho de 2024.
Objeto da experiência
A experiência de trabalho como psicóloga numa clínica particular que atendia crianças autistas a partir da Análise de Comportamento Aplicada (ABA).
Objetivos
Apresentar e discutir criticamente, à luz dos valores defendidos pela luta anticapacitista, a prática clínica orientada pela Análise do Comportamento Aplicada que é ofertada para crianças autistas.
Descrição da experiência
As psicólogas prestavam serviço sem vínculo empregatício. Atendiam crianças entre 3 e 10 anos com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista, dos 3 níveis de suporte. Nesta clínica, cada paciente tinha metas para cumprir, as quais eram avaliadas pela supervisora de acordo com os acertos obtidos pela criança em atividades protocolares. Quando a criança apresentava comportamentos lidos como inadequados, as terapeutas eram orientadas a aplicar um mesmo protocolo para todos os pacientes.
Resultados
Observou-se que, em geral, os direcionamentos dados pela direção da clínica para a prática das terapeutas partiam dos seguintes pressupostos: a primazia do comportamento; a superioridade da comunicação verbal; a subordinação da criança à terapeuta; a superioridade de saber das profissionais; desconsideração de questões relativas ao contexto do paciente e aos saberes próprios da criança e de seus familiares; a normatividade de que uma melhora clínica seria se aproximar do que é chamado “típico”.
Aprendizado e análise crítica
Diante de tais pressupostos, percebe-se que esta é uma prática de saúde que defende “des-aleijar” as crianças autistas, culpabilizando os corpos delas pela falta de inclusão. Hegemonicamente, as crianças são entendidas como vir-a-ser, isto é, elas só serão no futuro e devem, por isso, se subordinar aos adultos. No caso dessas crianças, o futuro delas inclui uma deficiência, o que é visto como indesejável. A partir da ABA, o objetivo era intervir no presente para evitar futuros com deficiência.
Conclusões e/ou Recomendações
Frente à pressão de que a ABA se torne política pública, entende-se ser fundamental uma visão crítica dos pressupostos clínicos a que crianças autistas são submetidas, de modo a protegê-las de uma prática normativa. Mais pesquisas são necessárias para mapear possíveis riscos da adoção dessa prática no atendimento de crianças autistas. Defender a existência da deficiência no futuro e no presente da sociedade é também defender a democracia.
DO ESTIGMA À INCLUSÃO: A REPRESENTAÇÃO DO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA NAS NARRATIVAS SERIADAS
Comunicação Oral
1 UFS
Apresentação/Introdução
O artigo analisa personagens autistas das séries Eu Sou Auts, Uma Advogada Extraordinária e Atypical, com base nos critérios do DSM-5. A discussão, apoiada em Goffman e Oliver, investiga se as representações desafiam estigmas e promovem uma visão mais humana e inclusiva do Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Objetivos
O objetivo foi investigar até que ponto essas produções contribuem para uma representação humanizada e não estigmatizante do Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Metodologia
A análise se desenvolveu com base na análise de conteúdo, a partir da observação sistemática de cenas protagonizadas pelos personagens. Foram estabelecidas categorias analíticas em três eixos principais: interação social, comunicação e comportamento, de acordo com o DSM-5. A análise foi complementada com dados quantitativos descritivos (frequência e percentual das ocorrências em cada categoria) para ampliar a compreensão dos padrões identificados nas três séries. A triangulação teórica com autores clássicos também foi central para a interpretação crítica dos resultados.
Resultados
Os três personagens analisados demonstram vínculos afetivos, desafiando o estereótipo do autista isolado. Woo é marcada por genialidade; Sam busca autonomia com apoio; Auts interage ludicamente. Na comunicação, Sam e Woo falam com clareza, embora com literalidade e ecolalia; Auts usa gestos e frases curtas. Todos apresentam estereotipias e sensibilidade. As séries mostram resiliência, apoio social e diversidade.
Conclusões/Considerações
As séries Atypical, Eu Sou Auts e Uma Advogada Extraordinária promovem representações mais empáticas e plurais do TEA, alinhando-se parcialmente ao modelo social da deficiência. Mostram que, com apoio, pessoas autistas podem se incluir socialmente. Apesar dos avanços, há riscos de idealização e ainda falta maior diversidade e profundidade nas representações.
PANIFICAÇÃO COMO FERRAMENTA DE INCLUSÃO: EXPERIÊNCIA COM JOVENS SURDOS NO INTERIOR DO RIO GRANDE DO NORTE.
Comunicação Oral
1 UFRN
Período de Realização
De 07 a 14 de setembro de 2023 (incluindo organização e realização do curso).
Objeto da experiência
1º Curso de Panificação para pessoas surdas, realizado na Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi/UFRN, localizada no município de Santa Cruz/RN.
Objetivos
Apresentar um relato de experiência acerca de um curso de panificação realizado para jovens surdos, em Santa Cruz/RN. O objetivo da atividade, foi proporcionar aos participantes o desenvolvimento de habilidades para a elaboração de pães, utilizando ingredientes minimamente processados e acessíveis.
Descrição da experiência
O curso foi realizado pela Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi (FACISA/UFRN), com o apoio da associação de surdos do município e de interpretes do Curso de Letras-Libras da UFRN. A ação, teve duração de quatro horas, com participação de quinze jovens surdos, que aprenderam habilidades para a elaboração de pães artesanais, com vistas à promoção da inclusão e da prática da alimentação saudável. Durante o curso, as orientações foram transmitidas através da Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Resultados
Inicialmente, os participantes obtiveram conhecimento quanto as receitas e as técnicas de preparo a serem aplicadas, bem como sobre os ingredientes disponíveis e suas respectivas funções. Foram utilizados somente ingredientes básicos, como: farinhas, açúcar, leite, ovos, queijo e manteiga. Os participantes, divididos em quatro grupos, produziram pães de hambúrgueres, semi-integrais, pães de queijo e sonhos de padaria, que apresentaram boas características sensoriais e uma ótima aceitabilidade.
Aprendizado e análise crítica
No contexto da educação inclusiva, ações como a desenvolvida podem contribuir para a ampliação de oportunidades de formação e inserção da pessoa surda na sociedade. Entretanto, foi possível observar que a promoção de capacitação para esse público está atrelada a alguns desafios, que vão desde a falta de formação adequada dos profissionais envolvidos até a necessidade de adaptação de métodos didáticos. Todavia, apesar das dificuldades, a realização do curso foi uma experiência muito gratificante.
Conclusões e/ou Recomendações
Além de promover a inclusão, a atividade desenvolvida poderá contribuir para mudanças na qualidade da alimentação dos participantes, estimulando a prática de uma alimentação mais saudável, através do consumo de alimentos artesanais em detrimento aos industrializados. Ademais, é importante destacar que para garantir um processo de aprendizagem inclusivo e de qualidade, torna-se fundamental que os profissionais envolvidos estejam capacitados.
PROPOSTA DE CARTILHA INFORMATIVA SOBRE COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA E ALTERNATIVA: PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE QUE CUIDAM DE ADULTOS COM NECESSIDADES COMPLEXA DE COMUNICAÇÃO
Comunicação Oral
1 Centro Universitário Santanna
Apresentação/Introdução
A Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) amplia as possibilidades comunicativas de pessoas com necessidades complexas de comunicação adquiridas. Apesar de seu uso crescente com crianças e pessoas com Transtornos do Espectro Autista, seu potencial no cuidado de adultos com necessidades complexas de comunicação adquiridas ainda é pouco explorado por profissionais da saúde.
Objetivos
Propor uma cartilha informativa sobre o uso da CAA voltada a profissionais da saúde que atuam com adultos com necessidades complexas de comunicação adquiridas, visando promover uma prática mais acessível, acolhedora e inclusiva.
Metodologia
Pesquisa bibliográfica exploratória, com análise qualitativa, desenvolvida em três etapas: (i) levantamento de materiais técnico-educativos em sites institucionais nacionais; (ii) busca de artigos nas bases LILACS e BVS com recorte de dez anos, com descritores específicos em português, inglês e espanhol; (iii) elaboração de versão preliminar de uma cartilha informativa sobre a temática. Foi consideradas elegíveis publicações em português sobre o uso da CAA com adultos. Estudos sobre condições congênitas, foco em crianças ou outras tecnologias assistivas foram excluídos. O desenvolvimento da cartilha envolveu produção educacional, ajustes gráficos e produção de versões até sua finalização.
Resultados
Foram encontrados poucos materiais voltados à aplicação da CAA com adultos em sites institucionais e literatura científica. A cartilha elaborada apresenta conceitos básicos de CAA, públicos alvo, benefícios, desafios, mitos e sugestões de aplicativos. Inclui prancha de comunicação e QR Code para acesso digital. A linguagem e os recursos gráficos foram organizados para favorecer a acessibilidade e a compreensão. A construção da cartilha contou com a criação de avatares digitais das autoras para mediação dialogada. O material se configura como um recurso educativo multiprofissional e contribui para ampliar o cuidado e a autonomia comunicativa de adultos com necessidades complexas de comunicação.
Conclusões/Considerações
A cartilha proposta contribui para a divulgação da CAA no cuidado de adultos com necessidades comunicativas adquiridas, ampliando o conhecimento dos profissionais da saúde. Destaca-se a necessidade de validação futura do material e a urgência de estudos que fortaleçam a aplicação da CAA em contextos adultos, promovendo práticas mais inclusivas e humanizadas.
SOBRECARGA DO CUIDADO E FADIGA EM MÃES DE CRIANÇA COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA E/OU DEFICIÊNCIA
Comunicação Oral
1 UFRB
Apresentação/Introdução
A dinâmica de cuidado às crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e/ou deficiência impactam a vida das mães e repercutem em adoecimento. O protagonismo materno somado às imposições sociais de ser bela e vaidosa, cultivar relacionamentos amorosos sustentados no patriarcado, zelar o ambiente doméstico e alcançar o sucesso profissional, resultam em sobrecarga, fadiga e sofrimento mental.
Objetivos
Aferir os níveis de sobrecarga do cuidado e fadiga em mães de crianças com Transtorno do Espectro Autista e/ou deficiência.
Metodologia
Estudo transversal, com vinte e cinco mães de crianças com suspeita ou diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista e/ou com alguma deficiência, associadas ao Instituto TEAbraco na cidade de Santo Antônio de Jesus, Bahia. Utilizou-se um questionário sociodemográfico e as escalas de sobrecarga do cuidador de Zarit e fadiga de Chalder aplicadas entre dezembro de 2023 e julho de 2024, no próprio instituto. Os dados foram tabulados no software Excel, e imputados no programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) 20.0 para Windows. Esta pesquisa foi aprovada no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, com parecer nº 5.866.634.
Resultados
Quase 80% (n=20) das mães possuem entre 30 a 50 anos, 88% (n=22) são mulheres negras e 32% (n=8) são casadas. Quanto à renda familiar 16% (n=4) vivem com menos de um salário mínimo, 72% (n=18) com renda entre 1 e 2 salários e 12% (n=3) entre 2 e 3 salários mínimos.
Os resultados evidenciaram que 100% (n=25) das mães convivem com sobrecarga do cuidado, dessas 40% (n=10) foram classificadas como sobrecarga moderada e 60% (n=15) entre moderada a severa. Não houve mães classificadas com baixa sobrecarga, tampouco com sobrecarga severa. Entre as participantes 92% apresentaram fadiga.
Conclusões/Considerações
Importa discutir as condições de vulnerabilidade experienciadas pelas mães de crianças com TEA e a romantização da maternagem. Aos profissionais de saúde cabem compreender as necessidades de saúde das mães, considerando-a para além do mero papel de transportar a criança para as terapias ou ainda como substituta do terapeuta no ambiente doméstico, elevando ainda mais os níveis de sobrecarga a partir da orientação de exercícios a serem realizados por elas.
SUPORTE SOCIAL: PERCEPÇÃO DE CUIDADORES PRIMÁRIOS DE CRIANÇAS COM TEA EM MUNICÍPIO DA AMAZÔNIA ORIENTAL
Comunicação Oral
1 Unifesspa
Apresentação/Introdução
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) exige suporte social, tanto formal quanto informal, essencial na rotina das famílias, podendo favorecer a organização do cotidiano, aliviar o estresse e promover maior bem-estar. Entender como os cuidadores vivenciam os apoios que recebem é um passo fundamental para qualificar os serviços e ampliar políticas públicas inclusivas.
Objetivos
: Investigar a percepção de cuidadores primários de crianças com TEA sobre suportes sociais formais e informais, buscando interferência na qualidade de vida, identificando experiências positivas, dificuldades e lacunas.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, transversal e descritiva, realizada com 10 cuidadores primários de crianças com TEA atendidas pela APAE de Marabá-PA. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas sobre suporte social e qualidade de vida. As entrevistas ocorreram entre maio e junho de 2022, com duração média de 20 minutos. A análise dos dados seguiu a técnica de análise de conteúdo (Bardin). As falas dos participantes foram codificadas, categorizadas e interpretadas considerando os efeitos práticos dos apoios recebidos e as lacunas identificadas por cada cuidador em sua experiência cotidiana. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética.
Resultados
A maioria das participantes são mães e relataram que, embora existam atendimentos especializados, o acesso é limitado e a frequência é instável. O suporte informal (familiares, amigos ou vizinhos) é importante, mas nem sempre disponível. Alguns participantes relataram que não confiam os cuidados a terceiros por medo de negligência ou violência. Profissionais capacitados e empáticos geram segurança emocional aos cuidadores, melhorando a gestão do comportamento da criança. O apoio inconsistente, por outro lado, eleva os níveis de estresse, sensação de solidão e sobrecarga. A percepção de qualidade de vida melhora quando sentem que não estão sozinhos no cuidado diário.
Conclusões/Considerações
O suporte social, quando efetivo e contínuo, contribui para o equilíbrio emocional e saúde mental dos participantes. As fragilidades na rede formal e a ausência de apoio familiar consistente evidenciam a necessidade de maior investimento em políticas públicas que contemplem também quem cuida. É essencial enxergar o cuidador como sujeito ativo no processo terapêutico, reconhecendo suas demandas e oferecendo suporte psicológico, social e prático.

Realização: