Programa - Comunicação Oral - CO9.1 - Deficiência e Saúde Coletiva I
30 DE NOVEMBRO | DOMINGO
15:00 - 16:30
(RE) INVENTANDO EXISTÊNCIAS: EXPOSIÇÃO ARTÍSTICA A PARTIR DE UMA HISTORIOGRAFIA TERRITORIAL NO COMPLEXO DE FAVELAS DA MARÉ/RJ.
Comunicação Oral
GERTNER, S. R. C. B.1, MAGALHAES, R. M.2, MESQUITA, F. J.2, DOS SANTOS, M. C. R.2, AMORIN, A. C.2, VASCONCELLOS, L. C. F.2, FRANCO, A.2
1 Fiocruz
2
Período de Realização
De janeiro a dezembro de 2024
Objeto da experiência
Mobilização criativa de um Coletivo de mães das favelas do Complexo da Maré/RJ pelos direitos humanos e sociais para seus filhos com deficiência.
Objetivos
Amplificar narrativas marginalizadas de histórias das famílias de pessoas com deficiência da Maré, através de Exposição Artística como espaço de expressão e visibilidade para suas experiências únicas, em parceria com instituições e organizações locais para o enfrentamento da violação de direitos.
Descrição da experiência
O projeto buscou através das artes expressar histórias negligenciadas que compõem o tecido social das famílias de pessoas com deficiência que habitam territórios existenciais. Baseada na historiografia territorial, fomentada pelos protagonismos dos mareenses em seus domicílios, narra-se a história real, interpretada pelo público itinerante. O projeto visa destacar a riqueza cultural e as trajetórias de resistência de indivíduos e famílias que compõem o coletivo nas 16 favelas do bairro Maré.
Resultados
Nesse projeto inovador, as próprias famílias se tornaram agentes na captura de fragmentos autênticos de suas realidades através de depoimentos e registros, transformando-se em documentaristas de suas próprias vidas. O material foi cuidadosamente curado e apresentado na Exposição, que ocorreu em ambiente cultural na própria comunidade, o que ofereceu um vislumbre genuíno das possibilidades de existência e convivência dentro do complexo, além de abrir canal de diálogo autêntico entre participantes.
Aprendizado e análise crítica
As mães foram convidadas a contribuir para a organização e curadoria da exposição, refletindo sobre como desejavam ser representadas e como gostariam que suas histórias fossem compartilhadas com o público. Essa abordagem colaborativa garantiu que a exposição fosse um espaço verdadeiramente inclusivo, onde as mães se viram representadas de forma autêntica e orgânica.
Conclusões e/ou Recomendações
O projeto buscou a emancipação e a transformação da comunidade da Maré, ao mesmo tempo em que mirou desafiar estereótipos e promover a construção de pontes entre diferentes realidades e perspectivas. Este projeto foi um convite para uma jornada através das histórias que ecoam por entre as ruas da Maré, e uma oportunidade para todos reconhecerem a inegável riqueza das existências que, de maneira excepcional, (re)inventam a Maré todos os dias.
A PERMANÊNCIA DA CURATELA COMO DISPOSITIVO MANICOMIAL PARA O RECONHECIMENTO DOS DIREITOS SOCIAIS NO BRASIL
Comunicação Oral
Mezza, Martín.1, BITTENCOURT, Silvia2, Nunes, Mônica1, Lima, Yara1
1 ISC-UFBA
2 ISC-UBBA
Apresentação/Introdução
Para a deficiência mental (grupo social mais excluído do BPC) a relação entre o acesso ao BPC e a interdição foi institucionalizada ‘informalmente’ nas estruturas de reconhecimento da previdência social e do judiciário. Além de ferir os princípios da RPB e os mecanismos de reconhecimento da CIF, produz uma cidadania invertida (Fleury, 2009) que acaba por estigmatizar os sujeitos beneficiários.
Objetivos
Identificar os mecanismos cotidianos da correlação entre a interdição e acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC) e analisar os significados, sentidos e as motivações para a interdição civil e a curatela no acesso ao BPC.
Metodologia
Pesquisa qualitativa e etnográfica. Triangulação de entrevistas semi-estruturada e em profundidade, estudo de casos e análise documental. Análise hermenêutica de discurso (Ricouer, 2011; Foucault, 1970). Período de desenvolvimento das pesquisas no campo: Setembro/2019 a Março 2020 - Setembro/2021 a Maio/2022 - SSA. Pesquisa 1: Peritos médicos e sociais da Justiça Federal (9); Juiz (1); Defensor (1). Perícia médica e social do INSS: (9); Profissionais dos CAPS (14); Usuários (13). Pesquisa 2: sujeitos em situação de curatela (04); curadores (05); Peritas (05); Magistradas (02); Caps (05).
Resultados
A análise dos discursos e de documentos (petições, sentenças, relatórios médicos e outros), demonstraram a manutenção do ritual jurídico da interdição, permeado por etapas, linguagens próprias e com a utilização de termos estigmatizantes. Logo, reproduz práticas de subjugação e de opressão, que podem ser compreendidas como manicomiais, porém a “céu aberto”. Práticas de cuidado em saúde permeadas pelo imaginário social da cronicidade e da incapacidade completa e permanente, ainda regulam o acesso aos direitos sociais. Estas práticas, além de se opor às normativas vigentes (SUAS – RPB - CIF), interferem na construção da cidadania e fragiliza a assistência das pessoas em sofrimento psíquico.
Conclusões/Considerações
A interdição vem significar a necessidade de comprovar o fracasso social para acessar a proteção social e se desdobra na existência do sujeito enquanto renúncia ao acesso de certos direitos sociais para conseguir ser beneficiário de outro. Por certo, tal prática termina por reafirmar a perda dos direitos do sujeito em curatela e reestabelecer o sujeito manicomial, com os estigmas de incapacidade e periculosidade.
AVALIAÇÃO BIOPSICOSSOCIAL DA DEFICIÊNCIA NO BRASIL: UMA ANÁLISE DE MÚLTIPLAS ABORDAGENS
Comunicação Oral
Morais, I A1, Preira, E. L1, Merchan-Hamann, E.1
1 Universidade de Brasília
Apresentação/Introdução
A Lei Brasileira de Inclusão prevê que, quando necessária, a avaliação para caracterização de pessoa com deficiência para acesso a direitos sociais deve ser biopsicossocial, multiprofissional e interdisciplinar. Essa definição reflete a evolução do entendimento da deficiência para além do aspecto biomédico. O Índice de Funcionalidade Brasileiro Modificado (IFBrM) emerge como uma ferramenta de avaliação.
Objetivos
O objetivo foi analisar a avaliação biopsicossocial da deficiência com múltiplas abordagens, a fim de subsidiar as discussões brasileiras no processo de mudança na lógica de se identificar quem são as pessoas com deficiência no Brasil.
Metodologia
Foi realizada uma pesquisa a partir da triangulação de métodos, utilizando técnicas de análise documental, análise de conteúdo, regressão logística multinominal e análise de correspondência. Foram analisados os aspectos políticos, legislativos, análise de dados dos resultados quantitativos e qualitativos da pesquisa de validação do IFBrM, conduzida no período de 2017 a 2019.
Resultados
Identificou-se que a avaliação das pessoas com deficiência está em disputa, sendo influenciado pelos governos que buscam a redução de custo e por categorias profissionais que querem exclusividade na avaliação. Em relação aos fatores pessoais ser do sexo masculino, estar na faixa etária de 18 a 59 anos e com baixa escolaridade, estão associados à maior chance de deficiência grave. Em relação aos fatores ambientais a maior associação ocorreu entre o domínio “educação, trabalho e vida econômica” e a barreira “serviços, sistemas e políticas”. Identificou-se que os fatores ambientais desempenham um papel crucial tanto como facilitadores quanto como barreiras à funcionalidade individual
Conclusões/Considerações
A síntese dos achados reforça a necessidade de uma abordagem holística na avaliação das pessoas com deficiência no Brasil. Urgem políticas que não apenas reconheçam a multifatorialidade da deficiência, mas que também promovam a inclusão social através da eliminação de barreiras ambientais e do reconhecimento dos fatores pessoais
AVALIAÇÃO DO IMPACTO DA SUBNOTIFICAÇÃO DE NASCIDOS VIVOS E ÓBITOS POR SÍNDROME DE DOWN NO BRASIL - REDE BURITI -SD
Comunicação Oral
Wagner, G.A.1, Ferre, F.2, Silva, T.S.3, Sugawara, I.Y.1, Matias, G.S.S4, Guerra Júnior, A.A.5, Lowenthal, R.6, Moreira, C.7, Forlenza, O.V.8
1 Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina, Departamento de Medicina Preventiva
2 Conselho Nacional de Secretários de Saúde
3 Universidade Federal de São Paulo, Instituto de Ciências Tecnológicas.
4 Centro de Ensino, Pesquisa e Inovação. Instituto Jô Clemente
5 Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Farmácia Social
6 Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Departamento de Atenção Primária à Saúde
7 Instituto Alana.
8 Laboratório de Neurociências (LIM-27), Departamento e Instituto de Psiquiatria, Hospital das Clínicas HCFMUSP, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil.
Apresentação/Introdução
A Lei nº 13.685/2018 tornou obrigatória a notificação de malformações congênitas, como a síndrome de Down (SD), nos serviços de saúde brasileiros. Contudo, a subnotificação, comum em países em desenvolvimento, acentua desigualdades regionais e compromete o acesso aos serviços, violando os princípios de acessibilidade da Lei Brasileira de Inclusão.
Objetivos
Avaliar a prevalência de nascidos vivos e a mortalidade infantil por SD no Brasil (1999–2022), discutindo inconsistências entre estimativas esperadas e registros oficiais dos sistemas de nascimentos e óbitos.
Metodologia
Trata-se de um estudo descritivo baseado em dados públicos extraídos do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC) e do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), referentes ao período de 1999 a 2022. Os casos de síndrome de Down (SD) foram identificados pelo código CID-10 Q90, considerando os campos codanomal, causabas, linhaa, linhab, linhac, linhad e linhaii. Calculou-se a proporção de nascidos vivos (NV) e de óbitos com SD, utilizando como parâmetro a prevalência esperada de 1:700 (14/10.000 NV). A razão de mortalidade na infância (RMI) foi estimada como o número de óbitos de crianças menores de cinco anos por mil nascidos vivos com SD.
Resultados
Entre 1999 e 2018 (p1), foram notificados 18.768 NV com SD, dos 85.284 casos esperados (22,0%). No período de 2019 a 2022 (p2), registraram-se 4.521 casos, dos 15.455 esperados (29,2%), indicando prevalência de 3 a 4/10.000 NV (1:2.500). Os óbitos de pessoas com SD somaram 20.443 (p1) e 6.444 (p2), cerca de 2 a 3 vezes acima dos valores considerados apenas pela causa básica (10.003 e 2.281, respectivamente). A razão de mortalidade na infância (RMI) foi de 587 (p1) e 505 (p2)/1.000 NV, três vezes superior ao esperado (129 e 148/1.000), refletindo subnotificação de NV com SD, apesar do aumento proporcional de registros frente à redução dos nascimentos totais de 3.256.433 (1999) para 2.561.922 (2022).
Conclusões/Considerações
Os óbitos por SD superaram os nascimentos registrados, evidenciando subnotificação e comprometendo políticas públicas baseadas em dados. A SD foi majoritariamente declarada como causa básica de morte, indicando viés no preenchimento dos atestados. As prevalências foram inferiores às médias nacionais e internacionais, reforçando a necessidade de qualificação da notificação, vigilância e ações para a equidade no cuidado.
CIDADANIA, ACESSIBILIDADE E INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA EM MUNICÍPIOS DA REGIÃO METROPOLITANA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Comunicação Oral
SIMÕES. G. L.1, SANTOS, A. G. S.1, MARIANO, L. S.1, SANTANA, N. C. R1
1 Fiocruz
Período de Realização
Dezembro de 2024 a dezembro de 2025
Objeto da experiência
Desenvolvimento de ações para garantia de acesso a direitos junto a Pessoas com Deficiência em situação de vulnerabilização
Objetivos
Reforçar a luta por acesso aos Direitos da Pessoa com Deficiência em municípios da região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro; Enfrentar as iniquidades e minimizar os efeitos das barreiras sociais, políticas e arquitetônicas para as pessoas com deficiência e em situação de vulnerabilidade social
Descrição da experiência
O projeto tem realizado oficinas de capacitação, rodas de conversa e workshop para Pessoas com Deficiência, seus cuidadores e gestores públicos com temas relacionados a Acessibilidade e Inclusão, além de ações de apoio e orientações para ampliar o acesso ao sistema de direitos das pessoas com deficiência, ações de mobilização em eventos a datas comemorativas, rodas de conversa sobre as barreiras enfrentadas e planejamento de ações de incidência política em conferências livres de saúde.
Resultados
O projeto está sendo realizado em 4 polos da região metropolitana do Rio de Janeiro: Nova Iguaçu, São João de Meriti, Padre Miguel e São Gonçalo. Estão sendo oferecidos acompanhamentos assistenciais com psicólogos, fisioterapeutas, nutricionistas e assistentes sociais, além de oficinas de leitura, música, dança, natação, artesanato e jiu jitsu. Nas rodas de conversa estão sendo debatidos temas como capacitismo, acesso a direitos e serviços de saúde e de assistência social e empregabilidade
Aprendizado e análise crítica
As pessoas com deficiências convivem com diferentes barreiras de acesso a direitos. No contexto de periferias essa situação é mais agravada e essas pessoas se constituem nas mais invisíveis dentro da invisibilização política e social das famílias vulnerabilizadas residentes nesses territórios.
Mesmo com a crescente conscientização sobre a importância da inclusão e da acessibilidade, há muito a ser feito no campo das políticas públicas para que essas pessoas tenham acesso a direitos fundamentais
Conclusões e/ou Recomendações
A experiência tem contribuído para fortalecer os movimentos sociais que lutam por direitos e acesso a serviços em meio à escassez de políticas públicas em territórios periféricos, além de aprofundar a compreensão das iniquidades em saúde causadas pela estigmatização da diversidade funcional humana, visto que o capacitismo se faz ainda mais evidente no contexto de desigualdade socioeconômica e quando se encontra com outros mecanismos de opressão
DA MICROESTRUTURA À MACROESTRUTURA A IMPLEMENTAÇÃO DA ABORDAGEM BIOPSICOSSOCIAL EM UM CENTRO ESPECIALIZADO EM REABILITAÇÃO
Comunicação Oral
Vieira, G. N.1, NEVES, R. F.1, MOREIRA, I. F.1
1 UFPB
Apresentação/Introdução
A abordagem biopsicossocial é particularmente relevante em Centros Especializados em Reabilitação (CER), integrando dimensões biológicas, psicológicas e sociais convergem para o planejamento do cuidado das pessoas com deficiência, em sua singularidade. A implementação dessa abordagem requer um análise da microestrutura, dos processos, dos recursos e também do processo histórico e macroestrutural.
Objetivos
A presente pesquisa, buscou explorar os aspectos teóricos e práticos que sustentam o modelo biopsicossocial; examinar as barreiras enfrentadas por profissionais e instituições na implementação desse modelo.
Metodologia
Adotou-se o estudo de caso ampliado de cunho etnográfico reflexivo, no qual o pesquisador vai a campo atuando como observador participante para investigar uma intervenção, a medida que a intervenção vai acontecendo, avalia os efeitos das tensões provocadas. A a coleta de dados foi realizada em um CER-IV da Paraíba. Como técnica de coleta foi utilizada observação direta, com a formulação de “cenas vividas” que serviram de casos iniciais para análise, complementados, quando necessário, por recurso de análise documental e entrevistas conversacionais. Os estágios analíticos propostos por Baroway que partem das cenas (microestruturas) e se expendem para as macroestruturas foram adotados.
Resultados
Os resultados mostram que, embora a abordagem biopsicossocial seja amplamente reconhecida como benéfica, sua implementação enfrenta desafios tais como: profissionais e gestores fortemente influenciados pelo modelo biomédico e forense; descaracterização do serviço para atender demandas maiores enraizadas em seu processo histórico de criação voltado para o fornecimento de laudos de deficiência; engessamento do processo de trabalho para a manutenção do atendimento de demandas dos usuários referentes a seguridade social; segmentação do serviço com prejuízo na comunicação entre profissionais, setores e usuários.
Conclusões/Considerações
Os CER que têm uma história de criação anterior a habilitação, exige esforços conjuntos que incluem capacitação de equipes, adaptação de infraestrutura, mudança na cultura institucional e reconhecimento da historia que antecede a habilitação. Este trabalho aponta para processos de educação permanente que sejam capazes de refletir e melhorara a prática com base nas micro e macroestruturas políticas que agem nesses centros.