
Programa - Comunicação Oral - CO17.2 - Memória, Corpos e Pandemias na Saúde Coletiva
01 DE DEZEMBRO | SEGUNDA-FEIRA
15:00 - 16:30
15:00 - 16:30
BORDANDO HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DA OBSTETRÍCIA: A “ARTE DE PARTEJAR “NAS TRAMAS DE SABERES PODERS E IDENTIDADES
Comunicação Oral
1 EACH/USP
Apresentação/Introdução
Em 2005 a USP criou o curso de obstetrícia, retomando uma formação que havia sido extinta na década de 70. Entretanto, quando a primeira turma se formou, existiram resistências do COFEN que inviabilizariam a prática profissional e a manutenção do curso. Após uma luta de anos, as(os) obstetrizes ganharam o direito ao registro e a graduação em obstetrícia se solidificou
Objetivos
Este trabalho tem como objetivo registrar histórias recentes da obstetrícia a partir da experiência do curso da EACH/USP e memórias de pessoas que estiveram envolvidas nas lutas pela obtenção do registro profissional e pela manutenção do curso.
Metodologia
Pesquisa qualitativa, que adotou três procedimentos para a produção de informação: a) 11 entrevistas (5 com docentes e 6 com obstetrizes); b) registro das minhas memórias como docente do curso; c) levantamento de materiais diversos, matérias de jornais, documentos. A análise seguiu procedimentos indicados por Spink e col. (2014), transcrição, síntese e produção de mapas dialógicos. A partir destes mapas delimitei os principais eixos de discussão. Minha intenção foi utilizar as entrevistas, associadas ao meu relato e ao material que levantei para produzir uma memória coletiva das experiências que vivemos e ao mesmo tempo responder às perguntas do estudo.
Resultados
A partir do estudo foram registradas experiências e memórias de participantes da luta para manutenção do curso de obstetrícia e identificamos um conjunto de forças contrárias e de apoio ao curso. Importante localizar a história da obstetrícia no contexto da história da arte de partejar e de relações de saber- poder e identidades sobre as profissões, o parto e a saúde das mulheres. Neste sentido, este trabalho se inscreve na história das profissões e também no cenário de discussão dos direitos sexuais e reprodutivos e, portanto, dos direitos humanos e da democracia.
Conclusões/Considerações
Somente uma forte luta política, envolvendo uma ação judicial e a resistência de um movimento conduzido principalmente por mulheres, foi capaz de garantir a manutenção do curso de obstetrícia e o registro profissional. Apesar de envolver a luta por uma profissão, o horizonte que conduziu tal luta foi a busca por mudanças no modelo de assistência obstétrica, com vistas ao aprimoramento dos processos de cuidado à saúde das mulheres, crianças e comunidades.
INFÂNCIA, HIGIENE MENTAL E EUGENIA: A ATUAÇÃO DA LIGA BRASILEIRA DE HIGIENE MENTAL NA ORIGEM DOS DIAGNÓSTICOS PSIQUIÁTRICOS INFANTIS NO BRASIL
Comunicação Oral
1 UERJ
Apresentação/Introdução
A Liga Brasileira de Higiene Mental exerceu papel central na institucionalização de práticas voltadas ao controle da infância. Seu discurso eugênico orientou políticas e saberes que atravessam a psiquiatria infantil brasileira, influenciando a constituição de diagnósticos hoje naturalizados, sobretudo os ligados ao comportamento.
Objetivos
Mapear a atuação da LBHM nas clínicas de orientação infantil e analisar sua influência eugênica na constituição de diagnósticos contemporâneos, como o transtorno opositor desafiante (TOD).
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa documental e histórico-social, ancorada em referenciais foucaultianos, que analisa documentos institucionais da LBHM, atas, prontuários e publicações científicas da época. O trabalho investiga as práticas desenvolvidas nas clínicas de orientação infantil situadas no Rio de Janeiro entre as décadas de 1920 e 1940, articulando os discursos médicos, educacionais e jurídicos que atravessavam essas instituições. A análise busca evidenciar os mecanismos de normatização e segregação operados sob a lógica da higiene mental, assim como os efeitos contemporâneos dessas práticas no campo psiquiátrico e no modo como a infância passou a ser medicalizada
Resultados
Os dados parciais apontam que a LBHM foi decisiva na difusão de uma concepção de infância vulnerável e potencialmente perigosa, em consonância com ideais eugênicos. As clínicas de orientação infantil funcionaram como dispositivos de vigilância e adestramento moral, articulando saberes médicos e pedagógicos. A noção de “comportamento desviante” emergiu nesses contextos, pavimentando o surgimento de categorias diagnósticas como os “transtornos do comportamento disruptivo” e, mais tarde, o TOD, incorporados aos manuais psiquiátricos contemporâneos.
Conclusões/Considerações
A pesquisa evidencia que os fundamentos psiquiátricos contemporâneos sobre a infância têm raízes em projetos eugênicos da primeira metade do século XX. A atuação da LBHM contribuiu para a naturalização de práticas medicalizantes e classificatórias, cujos efeitos persistem na patologização de comportamentos infantis. Reconstituir essa história é crucial para tensionar os modelos atuais de cuidado em saúde mental.
MEMÓRIAS DA EPICOVID-19: SAÚDE, CIÊNCIA E INFORMAÇÃO
Comunicação Oral
1 FURG
2 UFPEL
Apresentação/Introdução
A pandemia de covid-19 ocasionou mais de 710.000 mortes no Brasil e teve no governo federal uma atuação controversa e marcada pela desinformação. No mesmo período foi realizada a pesquisa Epicovid-19, inquérito epidemiológico liderado por instituições públicas para acompanhar a disseminação da doença pelo Brasil, a qual sofreu interferências e ataques políticos até a sua interrupção.
Objetivos
Documentar as memórias da pesquisa Epicovid-19 em suas fases I e II, desenvolvidas no Brasil durante a pandemia de covid-19 entre os anos de 2020 e 2025.
Metodologia
Pesquisa fundamentada no aporte teórico-metodológico da História Oral, o que permite o registro de testemunhos e o acesso a histórias dentro da história. Dentre os interlocutores entrevistados estão a coordenação, pesquisadores, agentes técnicos e políticos da pesquisa Epicovid-19. As narrativas produzidas foram cotejadas com fontes como reportagens jornalísticas, produções acadêmicas e documentos institucionais com o intuito de evitar unanimidades ou dicotomizações na forma de interpretar nossa história. Os/as entrevistados/as, ao permitirem, terão os nomes mencionados, pois de acordo com a premissa de Alessandro Portelli, revelar os narradores os reconhece como atores de suas histórias.
Resultados
A pesquisa Epicovid-19 inicia no Rio Grande do Sul com a realização de inquéritos epidemiológicos sequenciais em abril de 2020. Em seguida a pesquisa é incorporada pelo Ministério da Saúde para replicação em todo o Brasil. A controversa gestão do governo federal operava com campanhas de desinformação sobre o tratamento precoce, máscaras e vacinas, o que trouxe impactos diretos para a pesquisa. Um dos episódios marcantes foi a censura a um slide que seria apresentado pelo coordenador da pesquisa mostrando maiores prevalências de infecção em grupos indígenas no Brasil. Em 2021 o Ministério da Saúde interrompe a pesquisa, que só foi retomada após a troca de gestão no governo federal em 2022.
Conclusões/Considerações
Instituições públicas que promoveram pesquisas científicas no âmbito da covid-19 foram desacreditadas por campanhas que envolviam agentes políticos e eram veiculadas em mídias sociais. Ainda assim, estudos como a Epicovid-19 produziram informações essenciais para a população brasileira, contribuindo para que gestores e trabalhadores do SUS enfrentassem a pandemia no país, mesmo diante da desinformação enquanto política.

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