Programa - Comunicação Oral - CO25.1 - Gestão do Trabalho: perfis profissionais e atuação na Atenção Primára
30 DE NOVEMBRO | DOMINGO
15:00 - 16:30
ACOLHIMENTO DE MÉDICOS(AS) DO PROGRAMA MAIS MÉDICOS NA BAHIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Comunicação Oral
Araujo, J.S.1, Moura, L.J.1, Oliveira, G.M.B.1, Santos, M.A.1, Binas, A.B.1, Souza, J.P.1, Alves, L.N.O.D.2
1 SESAB
2 ESPBA/SESAB
Período de Realização
Período de julho a dezembro de 2024
Objeto da experiência
Estratégia de acolhimento do Programa Mais Médicos na Bahia, ações de integração e qualificação para atuação na APS.
Objetivos
Descrever as experiências e estratégias utilizadas para o Acolhimento de médicas e médicos do Programa Mais Médicos (PMMB) no estado da Bahia.
Metodologia
O PMMB promove o provimento de médicos em regiões de difícil acesso e alta vulnerabilidade. Além disso, consolida-se como uma das mais relevantes estratégias de gestão do trabalho e da educação na saúde. O acolhimento é uma etapa estratégica que qualifica os médicos para atuação na Atenção Básica, proporcionando aos profissionais conhecimentos sobre a realidade sanitária e epidemiológica local, além de favorecer a adaptação crítica ao contexto de atuação.
Resultados
Foram acolhidos 1.676 profissionais, distribuídos entre as nove macrorregiões do estado. A atividade proporcionou à qualificação quanto às normativas do programa e promoveu o compartilhamento de experiências, fortalecendo vínculos e o sentimento de pertencimento ao coletivo. Os grupos, organizados por macrorregião, conheceram o perfil epidemiológico e sociocultural, a rede de serviços e as características dos territórios, incluindo as especificidades dos territórios indígenas.
Análise Crítica
A experiência evidenciou a importância do Acolhimento como ferramenta estratégica de integração, qualificação e alinhamento dos profissionais aos princípios do SUS e às especificidades regionais. Verificou-se que a escuta ativa, a valorização dos saberes e a construção coletiva fortalecem a inserção crítica e reflexiva dos médicos nos territórios, contribuindo para a efetividade da Atenção Primária.
Conclusões e/ou Recomendações
A etapa de acolhimento se mostrou essencial para consolidar a integração ensino-serviço e fortalecer a educação permanente no PMMB. De modo que, ao aproximar os profissionais das realidades locais e da rede de saúde, promoveu vínculos, sensibilização crítica e atuação contextualizada, recomendando-se sua continuidade e constante qualificação da APS.
PERFIL DOS PROFISSIONAIS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE COM MÚLTIPLOS VÍNCULOS EMPREGATÍCIOS
Comunicação Oral
Oliveira, G. P.1, Cardoso, J. P.1, Onofre, A. R. C.1, Prado, G. C.1, Almeida, G. M.1, Bastos, J. F. O.1, Medeiros, S. S. S.1, Rodrigues. T. M.1, Costa, L. N. J1, Oliveira, J. S.1
1 UESB
Apresentação/Introdução
A dupla jornada de trabalho é uma realidade comum entre os profissionais da Atenção Primária à Saúde (APS), onde a necessidade de múltiplos vínculos empregatícios reflete desafios estruturais. A sobrecarga de trabalho aliada a condições precárias, geram impactos físicos e psicológicos, comprometendo o bem-estar dos profissionais e aumentando o risco relacionados à prestação dos cuidados de saúde.
Objetivos
Descrever o perfil dos profissionais da atenção primária à saúde que possuem múltiplos vínculos empregatícios.
Metodologia
Trata-se de um estudo transversal, que faz parte do projeto maior “Impactos ocupacionais, econômicos e de saúde dos acidentes de trabalho em trabalhadores da atenção primária à saúde”, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, n° CAAE: 98472718.2.0000.0055. O estudo foi realizado com trabalhadores que atuam na atenção primária à saúde no município de Jequié- Ba, no ano de 2024. Os dados foram analisados utilizando o STATA ® (versão 12.0), e empregada análise bivariada, sendo os resultados apresentados através dos valores absolutos e relativos.
Resultados
Participaram do estudo 646 trabalhadores de saúde, com predomínio de mulheres 519 (80,34%), idade entre 30 e 50 anos 342 (52,94%) e renda familiar de 2 a 4 salários mínimos 229 (36,29%), destes, 184 (28,49%) possuem outro vínculo empregatício, se destacando os médicos juntamente com os técnicos de enfermagem, ambos com 34 (18,48%), seguidos pelos cirurgiões dentistas 20 (10,87%). Dentre as modalidades dos múltiplos vínculos, sobressai o trabalho autônomo 75 (40,76%), seguido pelo vínculo estatutário 47 (26,08%).
Conclusões/Considerações
Os resultados evidenciam um cenário desafiador para os profissionais com múltiplos vínculos empregatícios, implicando em uma carga de trabalho adicional, devido à gerência de trabalhos próprios e o trabalho na atenção primária em saúde, potencializando os desgastes físicos e psicológicos. Diante disso, é imprescindível que haja modificações no setor de saúde local, a fim de garantir melhorias nas condições de trabalho e na assistência em saúde.
PERFIL DOS PROFISSIONAIS E CARACTERÍSTICAS DOS ESTABELECIMENTOS DE SAÚDE ONDE TRABALHAM MÉDICOS DO PROJETO MAIS MÉDICOS PARA O BRASIL
Comunicação Oral
Pedreira, R. B. S.1, Pinto Junior, E. P.2, Pamponet, M. L.1, Vieira, S. L.3, Lima, E. C.4, Prado, N. M. B. L.4, Vilasbôas, A. L. Q.1, Aquino, R1
1 ISC/UFBA
2 CIDACS/FIOCRUZ
3 UNEB
4 UFBA
Apresentação/Introdução
O Projeto Mais Médico para o Brasil (PMMB) foi lançado em 2013 com objetivo de enfrentar a escassez de médicos na Atenção Primária à Saúde (APS) e associava estratégias de provimento à formação profissional. Apesar dos resultados positivos, o programa foi enfraquecido durante governo de Jair Bolsonaro. Em 2023, o programa foi retomado e expandido num desenho mais próximo à sua formulação original.
Objetivos
Descrever o perfil dos médicos ativos no Projeto Mais Médicos para o Brasil e as características dos estabelecimentos onde estão alocados.
Metodologia
Estudo epidemiológico do tipo transversal. Nesse estudo, foram incluídos 19.859 médicos do PMMB ativos em março de 2024, que foram recrutados em editais do 15º ao 36º ciclo do PMMB, publicados no período de 2017 a 2023. Trata-se de um estudo de múltiplas fontes de dados, que combinou informações do perfil de médicos, obtidas do Sistema de Gerenciamento de Programas do Ministério da Saúde, com variáveis do Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde. Para a análise dos dados foram utilizados elementos da estatística descritiva, com cálculo de frequências absolutas e relativas. As análises foram realizadas no software Stata versão 17.
Resultados
Do total de médicos, 53,87% eram do sexo feminino, 54,57% brancos, 24,1% com idade de 30 a 34 anos, 84,7% nasceram no Brasil e 41,9% eram intercambistas. Os resultados indicaram que 74,5% dos médicos atuavam em estabelecimentos com conexão à internet. Em relação à infraestrutura, 94,1% dos médicos trabalhavam em estabelecimentos com clínicas/consultórios, 86,6% em serviços com sala de imunização. Apenas 0,5% dos médicos atendiam em estabelecimentos com sala de telessaúde. As análises apontaram que 38,0% dos médicos atuam em serviços que tinham pelo menos uma equipe que atendia Programa Saúde na Escola, 6,9% em serviços com equipes que atendiam quilombolas e 3,6% que atendiam indígenas.
Conclusões/Considerações
O estudo apontou maioria de mulheres, jovens e pessoas brancas atuando no PMMB. Observamos grande quantidade de médicos graduados fora do Brasil, apesar da maioria dos profissionais serem brasileiros, o que difere do perfil de profissionais dos primeiros ciclos. Problemas de conectividade e infraestrutura para telessaúde foram apontados e devem ser enfrentados, considerando a relevância dessas tecnologias para a melhoria do cuidado.
TRABALHO DAS EQUIPES MULTIPROFISSIONAIS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE (EMULTI) EM MUNICÍPIOS BAIANOS: DESAFIOS E PERSPECTIVAS
Comunicação Oral
Cordeiro, L. M. S.1, Bispo Júnior, J. P.1, Prates, C. F.2, Serapioni, M.3
1 Instituto Multidisciplinar de Saúde, Universidade Federal da Bahia (IMS-UFBA).
2 Instituto Multidisciplinar de Saúde, Universidade Federal da Bahia (IMS-UFBA)
3 Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra (CES-UC).
Apresentação/Introdução
A criação das eMulti representa um avanço significativo no fortalecimento da multiprofissionalidade na APS. Busca-se com as eMulti promover a ampliação do número de profissionais e a diversificação das práticas ofertadas. Apesar do potencial transformador, a implementação das eMulti tem enfrentado desafios, especialmente no que se refere ao processo de trabalho e a definição de fluxos.
Objetivos
Descrever as ações desenvolvidas e analisar os aspectos organizacionais do trabalho das eMulti, destacando os desafios e perspectivas do trabalho multiprofissional na Atenção Primária à Saúde (APS).
Metodologia
Estudo de casos múltiplos com abordagem qualitativa realizado em dois municípios da Bahia: Vitória da Conquista e Guanambi. A produção dos dados envolveu a realização de 81 entrevistas semiestruturadas: 33 profissionais da eMulti; 23 profissionais da saúde família; 05 gestores e 20 usuários. Também foram realizadas análise de documentos e observação de campo das práticas das eMulti. O estudo foi desenvolvido entre setembro e dezembro de 2024. As informações das entrevistas e observação de campo foram codificadas com uso da análise temática de conteúdo. A análise dos dados se fundamentou em uma matriz de análise estruturada nas dimensões: práticas de trabalho e organização do trabalho.
Resultados
Os achados evidenciam a existência de uma polarização nas práticas desenvolvidas entre os municípios, refletindo distintas configurações institucionais, culturais e organizacionais. Em Vitória da Conquista, há uma ênfase nas ações coletivas, enquanto que em Guanambi predominam as atividades com foco individual. Os dados indicaram dificuldades na construção dos cronogramas de atividades, especialmente em função de falhas na comunicação entre as equipes, o que gera entraves na negociação das agendas. Outro elemento que contribui para essa fragilidade na organização do trabalho é o volume elevado de demandas, associado ao número expressivo de equipes sob responsabilidade das eMulti.
Conclusões/Considerações
As eMulti inovam e fortalecem a APS ao promover práticas integradas e diversificadas de cuidado. Contudo, sua efetividade é desafiada por falhas na comunicação, dificuldades na construção das agendas, excesso de demandas e dificuldades na organização dos processos de trabalho. Superar esses entraves exige maior articulação interprofissional e apoio institucional, ampliando o potencial transformador da APS.
TRABALHO EM SAÚDE NA APS: GESTÃO, SOFRIMENTO E SENTIDO
Comunicação Oral
Silva, G. M. C.1, Pena, R. S.2
1 UNICAMP
2 UFF
Apresentação/Introdução
A Atenção Primária à Saúde é locus estruturante do SUS. No entanto, seus trabalhadores vem progressivamente apresentando sintomas e diagnósticos que apontam sofrimento relacionado ao trabalho. O trabalho em saúde possui particularidades para sua análise. Assim se busca entender a relação entre modos de gestão do trabalho e sofrimento dos trabalhadores da saúde.
Objetivos
Analisar a relação entre aspectos da organização do trabalho em saúde na Atenção Básica e as experiências de sofrimento e adoecimento dos trabalhadores de saúde em um município do interior do estado do Rio de Janeiro
Metodologia
Pesquisa qualitativa com narrativas construídas a partir de entrevistas semiestruturadas com gestores e grupo focal com trabalhadores da AB. Assim, a coleta de dados ocorreu de dois grupos de trabalhadores com funções diferentes no organograma municipal, em dois momentos. A partir da transcrição realizada e se colocando enquanto trabalhador participante da investigação, o autor constrói narrativas para análise posterior. Os dados foram analisados à luz do Método Paideia, destacando a relação entre gestão, sofrimento e resistências no cotidiano do trabalho. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da UNICAMP.
Resultados
Os trabalhadores relatam sofrimento devido à gestão verticalizada, alienação do trabalho e conflitos com usuários. A falta de espaços coletivos de diálogo e a centralização de decisões exacerbam o adoecimento. Identificam-se resistências, como a valorização de interações e a busca por escuta, apontando a cogestão como alternativa.
Conclusões/Considerações
A gestão hegemônica, focada em metas, gera sofrimento e alienação. A cogestão, através do Método da Roda, surge como proposta para resgatar o sentido do trabalho, fortalecer a democracia institucional e humanizar a AB, beneficiando trabalhadores e usuários do SUS.
FORTALECENDO LAÇOS DE CUIDADO ENTRE TRABALHADORAS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA DIANTE DA INTENSIFICAÇÃO DE PENOSIDADES NO TRABALHO EM SAÚDE NO PÓS-PANDEMIA
Comunicação Oral
Vieira,Monica1, Vianna, Eliane2, Barreto, Patrícia3, Santos, Maria Ruth1, Antunes, Michele1, Coroa, Roberta4
1 EPSJV/FIOCRUZ
2 ENSPFiocruz
3 Ensp/FIOCRUZ
4 Universidade de Laval, Quebec
Apresentação/Introdução
Trata-se de desdobramento da pesquisa realizada com trabalhadoras do SUS na pandemia de Covid-19 que reforçou a intensificação de processos de sofrimento social e a centralidade da dimensão relacional do cuidado na construção dos sentidos do trabalho em saúde. Nesse contexto, buscou-se aprofundar conhecimentos para identificar caminhos de fortalecimento de laços na APS.
Objetivos
Aprofundar a proposta teórico-metodológica apoio-investigação com trabalhadoras da APS no pós-pandemia e investigar como as concepções de vulnerabilidade, relacionalidade e pertencimento orientam o fortalecimento de vínculos no trabalho em saúde.
Metodologia
A pesquisa se desenvolveu com trabalhadoras que atuam na APS nos municípios do Rio de Janeiro e Resende. As atividades de campo envolveram a realização de 8 entrevistas, 3 rodas de conversa e cuidado, 6 oficinas temáticas e de escrita criativa, desenhadas para gerar uma dinâmica de interações e aproximações sucessivas abrindo possibilidades de acompanhamento dos aprendizados e desafios relacionados ao fortalecimento de laços de cuidado no pós pandemia. As atividades de campo confirmaram a pertinência do recorte de gênero e raça que possibilitou a construção de espaços de confiança e acolhimento capazes de estimular trabalhadoras da APS a compartilharem suas histórias relacionadas ao cuidado.
Resultados
As atividades de apoio-investigação permitiram refletir sobre a relação entre constrangimentos cotidianos e violências sistêmicas que atravessam a produção de vínculos de cuidado; promoveram um maior entendimento das próprias tensões e posturas, ajudando a reconhecer necessidades físicas e emocionais frente às penosidades do trabalho em saúde; discutir referências de escrita e oralidade que transcendam a colonialidade, subsidiando o fortalecimento da percepção de autoria das participantes; promover espaços de reflexão e recuperação através de técnicas de respiração e práticas corporais visando aliviar o estresse e prevenir o esgotamento profissional no cotidiano da APS no pós pandemia.
Conclusões/Considerações
A abordagem apoio-investigação foi desenvolvida tendo como base as noções de vulnerabilidade, relacionalidade e pertencimento junto aos múltiplos processos de aproximação e interação com as trabalhadoras da APS que seguiram um fluxo cumulativo de reflexões e vivências acerca da produção do cuidado de si, do outro e do mundo em suas múltiplas dimensões, nos ajudando a transitar para novas e complexas gramáticas de vida no pós pandemia.