Programa - Comunicação Oral - CO28.1 - REGULAÇÃO E ACESSO A ATENÇÃO ESPECIALIZADA NAS REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE DO SUS
01 DE DEZEMBRO | SEGUNDA-FEIRA
15:00 - 16:30
A REGULAÇÃO COMO DISPOSITIVO ENUNCIATIVO DOS MODELOS DE ATENÇÃO EM SAÚDE MENTAL: ANÁLISE DOS ENCAMINHAMENTOS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA DE NAVEGANTES
Comunicação Oral
Horr, J.F.1, Mattos, M.1, Lima, M.E.S.1
1 Universidade do Vale do Itajaí
Apresentação/Introdução
A Regulação em saúde atua na coordenação do acesso no sistema de saúde. Na saúde mental, o acesso a profissionais ‘psi’ enfrenta obstáculos ligados à fragmentação dos fluxos e critérios compartilhados entre serviços. Portanto, este estudo analisa a Regulação como dispositivo de enunciação das tensões dos modelos biomédicos e psicossociais de cuidado em saúde mental.
Objetivos
Analisar criticamente os encaminhamentos das equipes da Atenção Primária à Regulação para especialidades ‘psi’, descrevendo as demandas, solitações de prioridade e de articulação no cuidado em saúde mental do Município de Navegantes, Santa Catarina.
Metodologia
Realizou-se pesquisa descritiva e exploratória, aprovada pelo Parecer 79289724.0.0000.0120, com desenho quanti-qualitativo de 1148 encaminhamentos registrados entre abril e dezembro de 2023. Construiu-se um formulário, com matriz antimanicomial e psicossocial, contemplando: 1) motivo e avaliação de urgência do encaminhamento; 2) tipo de atendimento solicitado; 3) situações críticas de sofrimento psíquico, vulnerabilidades e resiliências individuais, psicossociais e comunitária. Os dados foram coletados diretamente por prontuários e fichas de encaminhamento da Regulação, utilizando o software R para as análises descritivas das variáveis.
Resultados
A maioria dos encaminhamentos foi tipificada como eletivo (63,5%), com perfil de mulheres (N=890; 77,5%), e predominância de sintomas relacionados a crises de ansiedade (52,2%) e depressivas (48,8%). As solicitações foram feitas, na maioria, por profissionais médicos, indicadando intervenções psicoterapêuticas (71,7%), seguidas de avaliação especializada (15,2%) e com espera entre 6 a 18 meses. Os casos de urgência foram de crises suicidas (N=84, 7,3%) e crises psicóticas (N=58; 5%). Em apenas 5% dos casos, foi registrado articulação com o Centro de Atenção Psicossocial e 79,1% não registraram articulação com serviços da rede intersetorial.
Conclusões/Considerações
A análise crítica dos dados na Regulação enunciam a presença de um modelo fragmentado, medicalizador e individualziado do sofrimento psíquico. Além disso, a baixa articulação com a rede e priorização das crises suicidas e psicóticas evidenciam o esvaziamento de recursos comunitários e de protocolos territorializados de cuidado.
ENTRE REGULAÇÕES E DESTERRITORIALIZAÇÕES: ANÁLISE GENEALÓGICA DA ATENÇÃO ESPECIALIZADA NO CONTEXTO DAS RAS
Comunicação Oral
Wojciekowksi, Carla F.1, Guimarães, Cristian Fabiano.1, Andreazza, Rosemarie1, Tofani, Luis Fernando Nogueira.1, Chioro, Arthur1
1 Unifesp
Apresentação/Introdução
Pesquisa de doutorado que analisa os desafios da Atenção Especializada no SUS, investiga as politicas e seus desdobramentos em ato e considera estratégias de governamentalidade visando regular a vida da população. Evidencia tensões entre políticas universais e lógicas neoliberais, fragilidades na regulação e efetivação da continuidade do cuidado/RAS e na governança regional integrada.
Objetivos
Analisar a experiência da AE no Brasil, com a implementação da PNAES/2023, suas descontinuidades, pontos de ruptura e possíveis linhas de fuga como potência capazes de deslocar a AE do modelo privatista, gerencialista e mercadológico;
Metodologia
Pesquisa de doutorado que integra e amplia uma investigação multicêntrica nacional (MS e UNIFESP), de abordagem qualitativa, com método genealógico-cartográfico para analisar a AE no contexto das RAS. Apoiada em documentos, observação participante, diários de campo e entrevistas com gestores e trabalhadores do SUS, investiga as lógicas da AE em sua multiplicidade, variação e processualidade na gestão do cuidado integral. Discute as linhas de forças atuantes sobre saberes e práticas, possibilidades, descontinuidades, mudanças, devires e potências. Preceitos éticos inclusos na Resolução do CNS (510/2016; LF 13.708/18 LGPD), aprovado pelo Comitê de Ética da UNIFESP (Parecer nº 6.621.336).
Resultados
Resultados preliminares da pesquisa apontam pistas na indução de uma Política no SUS no processo de construção e na implementação em ato da PNAES, Programa Mais Especialistas e Agora Tem Especialistas (2023 a 2025). Revelam desafios à gestão do cuidado integral em meio a disputas de poder e intencionalidades que atravessam a constituição das redes diante de uma AE difusa, tensionada entre lógicas públicas e privatistas, com práticas de governamentalidade que impactam saberes, modos de regulação e a regionalização. Atuam modelos assistenciais fragmentados que coexistem com experiências potentes relacionais, variações tecnológicas e desvios para repensar a regulação e a integração das RAS.
Conclusões/Considerações
O estudo evidencia que a AE no Brasil foi constituída por uma trama de forças políticas, econômicas, tecnocientíficas e institucionais, produto histórico de disputas. Capturada por forças tecnocrático-mercadológicas e múltiplas racionalidades estratégicas, gera tensões na regulação e na governança que fragilizam a regionalização, mas produz deslocamentos na gestão e a mobilização de rearranjos potentes para redes mais relacionais e situadas.
ACESSO AOS SERVIÇOS ESPECIALIZADOS NA REGIÃO DE FEIRA DE SANTANA (BA): DESAFIOS E DINÂMICAS NA OFERTA DO SUS
Comunicação Oral
Menezes, C. P. N.1, Ribeiro, A. M.2, Rodrigues, A. A. A.O.1, Santos, A. M.2
1 UEFS
2 UFBA
Apresentação/Introdução
Desde 2015, a regionalização da saúde na Bahia avançou com os Consórcios Interfederativos e Policlínicas Regionais. Em Feira de Santana, a policlínica atende 28 municípios, ampliando o acesso a serviços especializados. Contudo, há falhas na regulação, escassez de profissionais e desigualdades regionais, exigindo melhor governança e planejamento.
Objetivos
Analisar a organização e o acesso à atenção especializada na região de saúde de Feira de Santana (BA).
Metodologia
Trata-se de um estudo de caso com abordagem qualitativa. A produção de dados foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas com 15 participantes, entre gestores municipais e estaduais, gerentes da Policlínica Regional e técnicos de regulação. Os dados foram organizados com base na categoria “acesso aos serviços especializados”, com ênfase na atuação da Policlínica Regional. A análise seguiu a técnica de análise de conteúdo temática. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UEFS, e todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Resultados
A análise do acesso aos serviços especializados em Feira de Santana revela avanços com a implantação da Policlínica Regional, reconhecida por ampliar a oferta de especialidades. No entanto, a alta demanda evidenciou limitações na capacidade instalada, filas e desigualdades no acesso, sobretudo em áreas rurais. A crescente dependência do setor privado, aliada à fragmentação do cuidado e falhas na regulação, compromete a integralidade. A ausência de protocolos regionais, a desarticulação entre sistemas de informação e a frágil governança dificultam o planejamento e a priorização de necessidades locais, agravadas pela ingerência política e pela descaracterização do território consorciado.
Conclusões/Considerações
A experiência de Feira de Santana mostra que ampliar a oferta de serviços especializados é necessário, mas insuficiente para garantir acesso equitativo. Persistem desafios na distribuição territorial, regulação, dependência do setor privado e fragilidade da governança. Fortalecer a pactuação regional e o planejamento integrado é essencial para superar desigualdades e consolidar avanços.
EQUIDADE E INTEGRAÇÃO NO SUS: A PNAES COMO ESTRATÉGIA PARA O FORTALECIMENTO DA ATENÇÃO ESPECIALIZADA NO BRASIL EM PERSPECTIVA COMPARADA COM A AMÉRICA LATINA.
Comunicação Oral
Vieira, M. B. V.1, Silva, C. A.1, Isidro, J. V. N.1, Isava, M. M.1, Mororó, M. L. F.1, Carvalho, S. H.1, Barreto, J. O. M.1
1 Escola de Governo Fiocruz - Brasília
Apresentação/Introdução
Frente à desarticulação normativa, à fragmentação da Atenção Especializada (AE) e ao desfinanciamento progressivo do Sistema Único de Saúde (SUS) — configurando um acúmulo de demandas históricas não resolvidas — é oportuno analisar minuciosamente a Política Nacional de Atenção Especializada em Saúde (PNAES), instituída para reorganizar e fortalecer a resolutividade do sistema.
Objetivos
Entender a organização e estrutura da PNAES; contextualizá-la historicamente; analisar o processo decisório em sua formulação sob a perspectiva do Modelo de Múltiplos Fluxos de Kingdon; compará-la com políticas de saúde de países latino-americanos.
Metodologia
Estudo qualitativo de natureza descritiva e exploratória, fundamentado na análise documental e normativa da PNAES, com base na Portaria que a instituiu. Utilizou-se como referencial o Modelo de Múltiplos Fluxos de Kingdon para mapear o processo de formulação da política, identificando os fluxos de problemas, soluções e contexto político que propiciaram sua criação. A análise comparativa com as políticas de atenção especializada em saúde de países latino-americanos baseou-se em relatórios e documentos oficiais, especialmente da Organização Pan-Americana da Saúde, bem como na revisão da literatura sobre modelos de atenção especializada.
Resultados
Estruturada nas dimensões sistêmica, organizacional e profissional, a PNAES visa reintegrar os níveis de atenção e reduzir desigualdades regionais. O modelo de Kingdon demonstrou confluência entre a emergência de problemas estruturais relacionados à atenção especializada, disponibilidade de soluções técnicas e institucionais previamente debatidas por especialistas e gestores, e ambiente político favorável à reestruturação após mudança de governo federal. Países como Argentina, Chile e Colômbia também estruturam a AE como complemento essencial à APS, com modelos de regionalização e financiamento similares ao brasileiro, embora apresentem diferenças na gestão e sustentabilidade dos sistemas.
Conclusões/Considerações
A PNAES marca a reorganização da AE, reforça os princípios do SUS e amplia a equidade e integralidade no cuidado. Exige superar desafios financeiros, políticos e estruturais; incorporar tecnologias; e fortalecer a participação social. Posiciona o Brasil como referência regional, ao institucionalizar uma política nacional robusta para a AE. Sua efetividade está condicionada à implementação e ao compromisso com a avaliação e a educação permanente.
TELEDERMATOLOGIA NO FLUXO DE ENCAMINHAMENTO DAS REDES DE ATENÇÃO: GANHOS NA SAÚDE, MEIO AMBIENTE E GESTÃO PÚBLICA
Comunicação Oral
Lacerda, J. T.1, Macêdo, J. A.2, Calvo, M. C. M.1, Boing, A. F.1, Colussi, C. F.1, Machado, P. M. O.1, Amadigi, F. R.3, Soares, B. T.4, Bampi, G.5, Lara, M. P.6
1 Núcleo Telessaúde UFSC, Departamento de Saúde Pública e Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal de Santa Catarina
2 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal de Santa Catarina
3 Núcleo Telessaúde UFSC, Departamento de Enfermagem e Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal de Santa Catarina
4 Núcleo Telessaúde UFSC, Universidade Federal de Santa Catarina
5 Núcleo Telessaúde UFSC e mestranda do Programa de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina
6 Núcleo Telessaúde UFSC e graduanda do Curso de Nutrição da Universidade Federal de Santa Catarina
Apresentação/Introdução
A alta incidência e demanda para especialistas em casos de câncer de pele motivaram a inclusão da Teledermatologia no fluxo de encaminhamentos da rede de atenção em Santa Catarina (SC). A Central de Regulação tem acesso aos laudos com classificação de risco e orientação de manejo na APS. A Teledermatologia visa: acesso oportuno, redução de deslocamentos, apoio à gestão e qualificação das filas.
Objetivos
Dimensionar os benefícios da teledermatologia no acesso oportuno, nos deslocamentos evitáveis, na redução de custos e no meio ambiente.
Metodologia
Estudo descritivo sobre o uso da Teledermatologia em SC considerando laudos da rede estadual emitidos entre janeiro/2020 e dezembro/2024 (n=154.301). Dados do paciente, diagnóstico e classificação de risco foram disponibilizados pelo Núcleo Telessaúde UFSC, preservando o anonimato. As distâncias e os tempos estimados de deslocamento entre municípios foram calculados a partir do Open Street Map. A estimativa dos custos considerou valores com ajuda de custo aos usuários (TFD), hora/motorista, desgaste veicular, e combustível. A emissão de CO₂ evitada considerou a taxa média de 155 g de CO₂ por km (The ICCT, 2023). Os dados foram organizados e analisados nos programas Microsoft Excel e SPSS.
Resultados
Profissionais de 242 municípios catarinenses (82,0%) demandaram a Teledermatologia para encaminhamento à rede estadual entre 2020 e 2024. Foram 35.907 indicações de encaminhamento prioritário para atendimento especializado (23,2%), sendo 31.999 casos de câncer de pele (2.309 melanomas). O manejo clínico na APS foi orientado pelos especialistas em 36,5% dos laudos, resultando em 56.290 deslocamentos evitados. A distância total poupada ultrapassou 8 milhões de km e 1.274 toneladas de CO₂ deixaram de ser emitidas na atmosfera. A economia direta estimada para a gestão ficou próxima a 6,5 milhões de reais somados os valores com TFD, combustível, hora extra/motorista e revisão do veículo.
Conclusões/Considerações
A Teledermatologia é uma estratégia eficaz na ampliação e qualificação do acesso ao atendimento especializado, na mitigação de custos públicos e na redução dos impactos ambientais associados ao deslocamento de pacientes. A ação contribui para a equidade e sustentabilidade do SUS e para a diminuição da emissão de gás carbônico, reforçando a importância do Telessaúde como política pública integrada às ações de saúde e meio ambiente.