
Programa - Comunicação Oral - CO29.2 - Saúde Bucal Coletiva, grupos vulneráveis e equidade
01 DE DEZEMBRO | SEGUNDA-FEIRA
15:00 - 16:30
15:00 - 16:30
AÇÕES DE HIGIENE BUCAL EM CAPS: PERCEPÇÕES DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE MENTAL DE PORTO ALEGRE/RS
Comunicação Oral
1 ISC/UFF
2 FO/UFF
3 FO/UFRGS
4 EEAAC/UFF
Apresentação/Introdução
Pessoas com transtornos mentais apresentam maior precariedade de condições bucais quando comparadas às pessoas em geral. Aspectos como higiene bucal negligenciada, efeitos colaterais de medicamentos psicotrópicos, barreiras ao acesso aos serviços odontológicos, gravidade do transtorno e vulnerabilidade social estão entre os fatores associados à situação vivenciada.
Objetivos
Considerando a importância da relação entre saúde bucal e saúde mental, este estudo teve por objetivo compreender percepções de profissionais de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) sobre ações de higiene bucal para pessoas com transtorno mental.
Metodologia
Foi realizado estudo exploratório descritivo com abordagem qualitativa em três CAPS da cidade de Porto Alegre/RS. A produção dos dados foi conduzida no ano de 2019 por meio de entrevistas semiestruturadas com 21 profissionais das equipes de saúde mental, utilizando-se de um roteiro que envolveu temas sobre: acompanhamento odontológico dos usuários; disponibilidade de condições físicas, produtos de higiene bucal e profissionais para ações de higiene bucal; e, possíveis barreiras para a implementação de um programa regular de escovação nos serviços. Os dados foram analisados por meio de princípios da hermenêutica-dialética.
Resultados
Identificou-se que não havia acompanhamento de equipe de saúde bucal nos CAPS. As condições de banheiros e pias, embora limitadas, não foram percebidas como grandes impeditivos. O fornecimento de escova dental, creme dental e fio dental variou nos serviços e, quando presente, era priorizado usuários em atendimento diário e/ou maior vulnerabilidade. As principais barreiras para a inserção regular de ações de higiene bucal foram: a falta de produtos de higiene bucal e de espaço físico adequado; a carência de profissionais para conduzir as atividades; a gravidade do transtorno mental dos usuários; e limitados conhecimentos sobre saúde bucal pelos profissionais de saúde mental.
Conclusões/Considerações
Este estudo possibilitou compreender que a dimensão mais básica do autocuidado bucal ainda figura com um desafio para usuários com transtornos mentais em CAPS. Os entrevistados foram receptivos à ideia de implementar ações de higiene bucal de forma regular nos CAPS, demonstrando reconhecimento da importância da saúde bucal para a integralidade e bem-estar dos usuários atendidos.
ASSISTÊNCIA À POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA (PSR) E SAÚDE BUCAL NA REDE SUS-BH: UM ENFOQUE NA QUALIDADE DE VIDA E INCLUSÃO SOCIAL
Comunicação Oral
1 DCSB - SMSA/PBH
Período de Realização
Atividade contínua e sistemática de prestação de serviços de saúde na rede SUS-BH.
Objeto da experiência
Apresentar a assistência à PSR no SUS-BH, segundo o nosso Manual de Saúde Bucal 2022, abordando desafios, acesso, prevenção e tratamento.
Objetivos
Assistência odontológica contínua à população em situação de rua no SUS-BH, promovendo acesso desburocratizado, cuidado humanizado, redução de danos e adesão ao tratamento, visando reabilitação oral e melhoria da qualidade de vida e inclusão social.
Descrição da experiência
As ações de saúde bucal da Rede SUS-BH para PSR considera particularidades sociodemográficas, índice de vulnerabilidade e condições clínicas, que influenciam diretamente o acesso e a adesão aos tratamentos, como a itinerância, que dificulta a criação de vínculo com as equipes. As discussões se pautam nos dados e observações para identificar principais problemas de saúde bucal, barreiras e estratégias eficazes para a promoção e prevenção, no contexto da atenção integral ofertada pelo SUS.
Resultados
A PSR em BH enfrenta graves problemas de saúde bucal, com acesso dificultado por estigma e falta de documentos, apesar da oferta de serviços no SUS-BH. Para enfrentar isso, a rede adota Consultórios de Rua, desburocratiza cadastros, promove saúde, agiliza tratamentos ("vaga zero" e busca ativa) e oferece acolhimento humanizado e cuidado integral, reconhecendo o profissional bucal como agente essencial na redução de danos e promoção da saúde.
Aprendizado e análise crítica
A PSR em BH enfrenta múltiplas vulnerabilidades sociais e de saúde. Embora haja oferta de acesso aos serviços, a própria situação de rua impõe barreiras significativas que resultam em negligência da saúde bucal. O SUS-BH reconhece a urgência de uma abordagem integral, humanizada e busca promover a equidade no cuidado. A saúde bucal torna-se, então, uma potente estratégia de captação e adesão para outros tratamentos em saúde, bem como de mudança social.
Conclusões e/ou Recomendações
O SUS-BH, apesar de sua atuação com a PSR, ainda enfrenta o desafio do absenteísmo. Com base na Gestão do Cuidado no Território, é fundamental fortalecer e expandir estratégias interdisciplinares de prevenção e tratamento, adaptadas a essa população, com contínua ampliação de políticas públicas que integrem a saúde bucal à atenção primária e especializada, para reduzir barreiras, promover autonomia e facilitar a reinserção social e profissional.
PERFIL DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA, QUALIDADE DE VIDA E IMPACTO ODONTOLÓGICO
Comunicação Oral
1 UFMG
Apresentação/Introdução
A população em situação de rua (PSR) é uma das mais vulneráveis, frequentemente estigmatizada e marginalizada, e por isso não costuma ser foco de ações de saúde e pesquisas. O aumento desse grupo, impulsionado por migrações e pela pandemia, desafia estratégias tradicionais de cuidado. Conhecer seu perfil e impactos na qualidade de vida pode orientar políticas públicas mais eficazes.
Objetivos
Objetivou-se identificar o perfil da população em situação de rua (PSR), o impacto da saúde bucal sobre sua qualidade de vida e a situação odontológica destes indivíduos.
Metodologia
Trata-se de um estudo transversal, observacional e quantitativo, realizado com 148 indivíduos adultos em situação de rua, atendidos no Centro de Referência Especializado para a PSR, em Belo Horizonte (MG). Foram aplicados instrumentos validados para coleta de dados, incluindo questionário sociodemográfico, OHIP-14 para mensuração do impacto da saúde bucal e exame clínico odontológico para determinação do índice CPOD, respeitando todos os aspectos éticos. Os dados foram analisados por estatística descritiva, utilizando o software R.
Resultados
A média de idade foi de 41,3 anos (±11,9), com predominância do sexo masculino (77,4%) e raça parda ou preta (83,1%). Observou-se baixa escolaridade, com 59,6% tendo o ensino fundamental completo, e a renda média declarada foi de R$ 750,10 (±402,00), sendo em sua maioria advinda de auxílios sociais. Em média, a PSR vive na rua há 6,3 anos (±8,9), sendo que 56,0% relataram já ter sofrido violência nas ruas. Em relação à saúde bucal, o índice CPOD médio foi de 10,8 (±8,5), a média de dentes perdidos foi de 5,2 (±7,8) e de obturados foi de 1,4 (±2,4); 93,3% relataram experiência com dor de dente. O impacto da saúde bucal na qualidade de vida foi evidenciado por um escore médio de 25,2 (±13,9) no OHIP-14.
Conclusões/Considerações
Os achados demonstram que a PSR apresenta um perfil de vulnerabilidade social intensa, marcado por baixa escolaridade e renda e condições odontológicas severamente comprometidas, que afetam de forma expressiva a qualidade de vida, indicando a urgência de políticas públicas integradas, garantindo direitos, dignidade e cidadania à essa população.
RELATO DE UMA ODONTOLOGIA PARA ALÉM DO CONSULTÓRIO: OS DESAFIOS DO CUIDADO FORA DO PROTOCOLO PARA POPULAÇÃO TRABALHADORAS DO SEXO.
Comunicação Oral
1 ENSP/Fiocruz
Período de Realização
De março de 2024 a junho de 2025.
Objeto da experiência
O cuidado integral à população profissional do sexo iniciado pela saúde bucal
Objetivos
Descrever a atuação de uma dentista residente em um território urbano marcado por contrastes sociais e desafios ao modelo tradicional de cuidado, sobretudo para lidar com uma população de classe média e, no mesmo território pessoas profissionais do sexo.
Metodologia
A experiência foi realizada após a identificação de áreas no território onde existem profissionais do sexo, trabalhando e morando. A equipe de residentes constatou a ausência de cuidado odontológico direcionado à essa população. Diante disso, a agenda da residente dentista foi estruturada pensando no cuidado a partir do princípio da equidade, com ações para a promoção do vínculo, de acordo com a cultura local e respeito, considerando os sujeitos que estão em alta vulnerabilidade social.
Resultados
A vivência permitiu ampliar o olhar para sujeitos e demandas historicamente invisibilizadas. A escassez de ações no território e a ausência de um processo de trabalho que seja longitudinal diante de grupos com demandas singulares limitam o cuidado. No entanto, as idas ao território, o fortalecimento do vínculo e a escuta ampliada das demandas dessa população revelaram a importância da saúde bucal nesses contextos, possibilitando um cuidado mais efetivo.
Análise Crítica
A experiência evidenciou a importância da educação permanente para preparar profissionais de Atenção Primária à Saúde, para realizar o cuidado ampliado para além dos muros da clínica, seguindo as orientações da Política Nacional de Saúde Bucal. Para populações como as profissionais do sexo, faltam ações preventivas, vínculo e escuta qualificada. As dificuldades enfrentadas revelam as lacunas modelo de atenção à saúde integral.
Conclusões e/ou Recomendações
A residência ampliou a vivência e a reflexão crítica, tensionando modelos hegemônicos e propondo novos caminhos para o cuidado. Recomenda-se formação crítica e permanente, implantação de consultórios avançados, ações no território, fortalecimento do vínculo, oferta de educação permanente aos profissionais e práticas sensíveis à diversidade, com atenção especial às populações historicamente invisibilizadas.
SAÚDE BUCAL E QUALIDADE DE VIDA EM POPULAÇÕES RIBEIRINHAS AMAZÔNICAS: UM ESTUDO SOBRE LITERACIA, DOR E PERDAS DENTÁRIAS
Comunicação Oral
1 Universidade Federal do Amazonas
2 Universidade do Estado do Amazonas
3 Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia)
Apresentação/Introdução
Populações ribeirinhas amazônicas enfrentam vulnerabilidades sociais, econômicas e geográficas que repercutem negativamente na saúde bucal. A baixa literacia em saúde bucal pode contribuir para maior prevalência de agravos e pior qualidade de vida, mas a relação entre esses fatores permanece pouco explorada em comunidades tradicionais da região Norte do Brasil.
Objetivos
Analisar a associação entre literacia em saúde bucal, perda dentária e dor dentária com a qualidade de vida relacionada à saúde bucal (QVRSB) em adolescentes e adultos residentes em comunidades ribeirinhas de Manaus, Amazonas.
Metodologia
Estudo transversal de base domiciliar realizado em 11 comunidades da margem esquerda do Rio Negro, Manaus, Amazonas. A amostragem foi aleatória estratificada com base no cadastro dos agentes comunitários de saúde. Foram incluídos moradores de 15 a 59 anos e excluídos indivíduos com déficit cognitivo identificado pelo Teste de Fluência Verbal. A partir de entrevistas, mensuraram-se a literacia em saúde bucal, por meio do HELD-14, a QVRSB, por meio do OHIP-14, e a dor dentária autorreferida. A perda dentária foi avaliada por meio de exame bucal. Após a análise descritiva dos dados, utilizou-se regressão não-paramétrica kernel múltipla para avaliar a associação das variáveis com a QVRSB.
Resultados
Participaram 221 indivíduos, 57% do sexo feminino, com média de idade de 38,0 anos (DP ± 11,7). A literacia média foi de 35,9 (DP ± 11,3) e o escore médio do OHIP-14 foi de 8,5 (DP ± 11,8). O número médio de dentes perdidos foi de 7,4 (DP ± 7,9). Na análise ajustada, maior literacia associou-se a menor impacto negativo na qualidade de vida relacionada à saúde bucal (p < 0,001), enquanto maior número de dentes perdidos (p = 0,043) e dor dentária nos últimos seis meses (p = 0,002) associaram-se a maior impacto negativo na QVRSB.
Conclusões/Considerações
Os resultados reforçam a necessidade de políticas públicas que priorizem a promoção da saúde bucal e ampliem o acesso a cuidados odontológicos integrais, que não se limitem à exodontias ou ao alívio da dor. É fundamental superar práticas mutiladoras e implementar, aprimorar e reforçar ações educativas e terapêuticas que preservem estruturas dentárias e favoreçam a qualidade de vida relacionada à saúde bucal em populações ribeirinhas da Amazônia.
UTILIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE BUCAL PELA POPULAÇÃO INDÍGENA ADULTA DO POLO BASE DE FILADÉLFIA, BENJAMIN CONSTANT, AMAZONAS
Comunicação Oral
1 ILMD Fiocruz Amazônia
2 UFAM
Apresentação/Introdução
As condições de saúde bucal e o acesso aos serviços de saúde nos povos indígenas no Brasil são pouco conhecidas. Embora o Brasil Sorridente Indígena, implementado em 2011, tenha induzido ações para ampliar o acesso e melhorar as condições de saúde bucal destes povos, a utilização dos serviços e os desfechos em saúde ainda não são equânimes.
Objetivos
Avaliar a utilização dos serviços de saúde bucal por adultos indígenas residentes no polo base de Filadélfia, Benjamin Constant, Amazonas, DSEI Alto Rio Solimões.
Metodologia
Estudo transversal, envolvendo moradores de três comunidades do polo base de Filadélfia, no DSEI ARS. Os dados foram coletados por meio de questionário estruturado, abrangendo caracterização sociodemográfica, morbidade bucal autorreferida e aspectos relacionados à utilização dos serviços de saúde bucal. Inicialmente foi realizada análise descritiva dos dados. Em seguida, os fatores associados com o uso dos serviços de saúde bucal nos últimos 12 meses foram avaliados por meio de regressão de Poisson com variância robusta. CAAE 68575923.0.0000.0005.
Resultados
Foram avaliados 129 indígenas, com idade entre 18 e 64 anos (média=33,6), sendo 51,2% do sexo masculino. Destes, 52,7% relataram ter utilizado os serviços de saúde bucal nos últimos 12 meses. A última consulta foi no serviço público para 91,5% dos indígenas. Dor dentária e exodontia representaram 57,8% da motivação da última consulta odontológica, tendo sido 38,0% a prevalência da dor dentária nos últimos seis meses. Indivíduos mais velhos apresentaram menor prevalência de uso dos serviços de saúde bucal (RP=0,98; IC95% 0,97-0,99) e aqueles que reportaram dor dentária nos últimos seis meses maior prevalência de utilização (RP=1,76; IC95% 1,28-2,42).
Conclusões/Considerações
Os achados mostram a importância do setor público para o acesso aos serviços de saúde bucal pela população de estudo. No entanto, evidenciam a persistência de um modelo curativo, centrado na dor dentária e na exodontia, sugerindo a necessidade de uma reorientação do modelo assistencial, centrado na promoção da saúde bucal. Trabalho oriundo da turma de mestrado fora de sede do PPGVIDA, dedicada exclusivamente à formação de sanitaristas indígenas.

Realização: