
Programa - Comunicação Oral - CO8.2 - Desnaturalizando as branquitudes: impactos e implicações para a prática e política de saúde
01 DE DEZEMBRO | SEGUNDA-FEIRA
15:00 - 16:30
15:00 - 16:30
REVISÃO SISTEMÁTICA DE LITERATURA DA BRANQUITUDE COMO OBJETO DE PESQUISA NO CAMPO DA CIÊNCIAS DA SAÚDE
Comunicação Oral
1 Faculdade de Saúde Pública - USP
Apresentação/Introdução
Reconhecer as desigualdades raciais dissociadas da discriminação racial é um dos sinais da branquitude, (BENTO, 2014) no qual o sujeito branco vê a si mesmo como norma universal, em contraposição aos tidos como racializados, não brancos. E isso, entra em consonância com a lacuna na discussão da branquitude no cuidado em saúde de uma população majoriariamente negra. (SCHUCMAN, 2020)
Objetivos
Entender como a temática da branquitude é abordada no campo das ciências da saúde. Discutir a relevância de um Descritor em Ciências da Saúde que contemple a “branquitude/whiteness”.
Metodologia
Revisão da literatura nas bases de dados eletrônicos PubMed, Scielo, BVS, BDTD no período de janeiro a maio de 2025. A pesquisa nas bases de dados foi guiada pela combinação dos seguintes descritores, obtidos no Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “Racismo/Racism”, “Atenção Primária à Saúde/Primary Health Care”, “Saúde das Minorias/Minority Health”; e, “Branquitude/Whiteness”, apesar da inexistência de DeCs para o termo. Critérios de inclusão: artigos que abordassem as pessoas brancas e/ou a branquitude como objeto de pesquisa nas relações raciais no campo da saúde; período de 2015 a 2025, português e inglês. Critérios de exclusão: não abordem relações raciais no campo da saúde.
Resultados
Na primeira etapa da pesquisa, foram encontrados nas bases de dados 4704 artigos na busca pelo DeCs de “Racismo/Racism” e 61 de “Branquitude/Whiteness” - evidenciando a discrepância numérica a partir da ausência de descritor específico para o último. Destes, 1554 foram considerados elegíveis a partir da leitura dos títulos, considerando as relações raciais e a saúde, e duplicidade. E 91 foram selecionados para leitura integral. A lacuna existente da branquitude como eixo central de pesquisa nas relações raciais é evidenciada pela revisão sistemática, fortemente relacionada aos aspectos constitucionais da branquitude, que assim opera na manutenção das estruturas de poder do sujeito branco.
Conclusões/Considerações
Nos debates sobre o modo como se explicam as desigualdades raciais o que se observa é o eixo em torno do “outro”, não branco, desviando do reconhecimento do papel do branco nas relações raciais no campo da ciências da saúde. Essa omissão, ligada à autopreservação do mesmo, revela o pacto da branquitude. A inexistência de um DeCs que contemple a branquitude pode ser um fator que contribui na invisibilização do termo na produção no campo.
RELATO DE EXPERIÊNCIAS DE OFICINAS SOBRE BRANQUITUDE EM EVENTOS CIENTÍFICOS NA MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE E NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
Comunicação Oral
Período de Realização
2023 a 2025
Objeto da experiência
Oficina de abordagem e sensibilização ao tema da branquitude para profissionais da Atenção Primária à Saúde e os impactos na prática do cuidado em saúde.
Objetivos
Sensibilização dos profissionais, maioria brancos, à própria racialização e aos impactos da branquitude nas práticas de cuidado na APS. Fomentar a discussão crítica sobre a branquitude em espaços de formação para a construção de práticas antirracistas.
Descrição da experiência
A metodologia das oficinas foi partir de perguntas ativas relacionadas à experiência pessoal de racialização dos profissionais participantes, visando a sensibilização e visibilização do sujeito branco como racializado. Seguida de discussão de casos pertinentes à prática clínica na atenção primária à saúde para associação dos impactos da branquitude na assistência à saúde da população e discussão de aportes teóricos sobre o tema.
Resultados
A discussão sobre relações raciais na medicina de família e comunidade é pauta de resistência, diante de uma especialidade marcada pela branquitude. As oficinas propõem sensibilização crítica ao papel do sujeito branco e defendem o cuidado integral na APS, valorizando a interdisciplinaridade e o trabalho multiprofissional. Participam profissionais da MFC e de outras áreas da saúde, promovendo uma construção coletiva e plural do cuidado.
Aprendizado e análise crítica
A rarefação do debate e consciência crítica em relação ao tema por profissionais da Atenção Primária à Saúde. Apesar da procura ativa, havia resistência em se olhar como sujeito branco e a nomeação deste lugar de privilégio, de forma que, recorrentemente a discussão seguia para o racismo e a percepção da racialização do outro, não branco. Além da dificuldade de compreensão dos termos conceituais e literatura de referência. Ausência de uma ferramenta de avaliação do impacto da oficina.
Conclusões e/ou Recomendações
Há necessidade de espaços de sensibilização e formação sobre branquitude na formação dos profissionais, de forma ampla e de maior abrangência sobre a responsabilização do sujeito branco no cuidado em saúde da população negra. Importância do fomento de discussões nas regionais e locais de trabalho dos profissionais e a sistematização da avaliação do seu impacto na percepção e reconhecimento da branquitude pelos profissionais participantes.
MAPEANDO A JUSTIÇA REPRODUTIVA E SUAS INTERSECCIONALIDADES NO CAMPO DA SAÚDE COM FOCO EM MULHERES NEGRAS: UMA DE REVISÃO DE ESCOPO
Comunicação Oral
1 ISC/UFBA
Apresentação/Introdução
Cunhada por mulheres negras e baseada na justiça social, a Justiça Reprodutiva amplia a noção dos direitos reprodutivos, reconhecendo dimensões interseccionais de opressões. Apesar da crescente incorporação do conceito em iniciativas acadêmicas, ainda há escassez de instrumentos sistematizados para sua mensuração e análise em saúde, o que limita sua aplicação em políticas públicas.
Objetivos
Esta revisão de escopo visa mapear como a Justiça Reprodutiva tem sido abordada na área da Saúde, identificando definições, usos e mensuração, com vistas à construção de um painel de indicadores que permita sua aplicação no monitoramento em saúde.
Metodologia
A revisão de escopo é conduzida conforme a metodologia da JBI (Joanna Briggs Institute), com a pergunta: como a Justiça Reprodutiva para as mulheres negras tem sido abordada e operacionalizada nas políticas, no ativismo e nas pesquisas da área de saúde? Serão incluídas publicações de três contextos: materiais de órgãos governamentais, ações e materiais da sociedade civil e produções acadêmicas em saúde. A extração de dados seguirá instrumento que abrange definição, dimensões e indicadores de justiça reprodutiva, entre outros fatores. A análise dos documentos inclui síntese narrativa, tabelas e mapeamento visual.
Resultados
A revisão está em fase de extração de dados. Os resultados preliminares mostram relevante presença do conceito em produções acadêmicas e da sociedade civil, mas com escassez de abordagens sistematizadas em termos de dimensões bem estabelecidas e indicadores mensuráveis e aplicáveis. Observa-se predominância do uso teórico-conceitual, com poucas produções voltadas à incorporação prática do conceito em políticas e programas em saúde. Resultados finais irão subsidiar a sistematização de uma nova proposta de dimensões e objetivos voltadas para o tema bem como a construção de um painel de indicadores para a Justiça Reprodutiva.
Conclusões/Considerações
Ao identificar avanços e lacunas, e ao mapear dimensões e indicadores, esta revisão contribui para a vigilância de iniquidades em saúde reprodutiva, e fortalece uma agenda comprometida advocacy e responsabilização, baseada na produção de evidências e ferramentas analíticas no âmbito da epidemiologia que subsidiem o monitoramento das desigualdades, e promova a agência de meninas, mulheres e pessoas que gestam, - especialmente as negras - na saúde.
ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA POPULAÇÃO NEGRA NA CIDADE DE SALVADOR-BA: OS EFEITOS DA BRANQUITUDE.
Comunicação Oral
1 MEPISCO - UNEB
Apresentação/Introdução
Nos últimos anos, os avanços nas pesquisas sobre o tema do racismo revelaram a dimensão deste problema para a saúde, entretanto, ainda é incipiente a investigação do papel dos profissionais brancos no seu enfrentamento. Os estudos sobre a branquitude redirecionam a perspectiva do problema racial para os brancos, possibilitando superar a ideia de raça como algo exclusivo das pessoas negras.
Objetivos
O objetivo da pesquisa é a compreensão do modo como a branquitude interfere na assistência ofertada à população negra na Atenção Primária de Salvador-Ba, identificando a provável manutenção ou o enfretamento ao racismo institucional na saúde.
Metodologia
O estudo consistiu em uma pesquisa qualitativa, com utilização de entrevistas semiestruturadas e diário de campo. As participantes foram escolhidas por conveniência, sendo composta por profissionais de saúde brancos das unidades de saúde da família dos distritos sanitários e do nível central do município de Salvador-Ba. Os dados foram analisados através da Análise de Conteúdo, gerando três categorias de análise: expressões da branquitude: do olhar sobre si ao olhar ao olhar sobre o outro; compreensões acerca da saúde da população negra; e desdobramentos do racismo institucional no cotidiano dos serviços.
Resultados
A análise das entrevistas evidenciou a existência de expressões da branquitude na percepção das necessidades de saúde da população negra, definidas de maneira restrita pelos profissionais de saúde, associadas às condições genéticas e hereditárias, restringindo possibilidades de uma abordagem integral. Destacou-se frágil correlação entre as questões raciais e o consequente adoecimento dos indivíduos. A fragilidade das ações de combate ao racismo institucional na atenção básica foi notória, ocorrendo confusões conceituais, especialmente pelos profissionais não alcançados pelas discussões sobre relações raciais/racismo promovidas pela secretaria de saúde em seus ciclos de formação/capacitação.
Conclusões/Considerações
Compreender a branquitude na cidade com o maior contingente populacional autodeclarado negro foi acompanhada de diversas resistências e recusas dos profissionais de saúde para participação no estudo. As expressões da branquitude foram percebidas em diferentes explanações das entrevistadas e a desconstrução deste discurso perpassa por mudanças individuais e por ações concretas das instituições, compondo a agenda das políticas públicas em saúde.
AUTOETNOGRAFIA COMO ESTRATÉGIA DE RESISTÊNCIA FRENTE A UM PROCESSO DE ETNOCÍDIO DE UM GRUPO FAMILIAR
Comunicação Oral
1 UFC
Apresentação/Introdução
O etnocídio é um processo político que apaga identidades culturais, modos de vida e práticas sociais de grupos étnicos. Por meio de narrativas discriminatórias, legitima-se a violência contra povos indígenas, apresentando seu sofrimento como inevitável. Isso resulta, entre outras perdas, no apagamento de saberes tradicionais, como as práticas de saúde.
Objetivos
A pesquisa objetiva-se descrever a relação entre o fenômeno do etnocídio perpetrado aos povos originários, utilizando a autoetnografia como ferramenta de resistência ao apagamento ou interdição das práticas originárias de saúde de um grupo familiar.
Metodologia
Por ser uma pesquisa que busca compreender a experiência de um sujeito oriundo de camadas sociais historicamente oprimidas pelas estruturas do colonialismo e do capitalismo, adota-se a autoetnografia com base na Teoria Crítica e em um viés decolonial. Inserida no contexto pós-moderno, essa abordagem surge como resposta à “crise de representação” das metodologias tradicionais, ao questionar a suposta neutralidade científica e o distanciamento entre pesquisador e objeto nas ciências sociais. O método se apoia na análise de narrativas e na interpretação cultural, valorizando as conexões entre o “eu” e o “outro” em contextos sociais compartilhados.
Resultados
O processo autoetnográfico iniciou-se a partir de uma memória despertada por um comentário durante um evento estudantil. Um colega gaúcho, branco, ao saber que era piauiense, disse: “É um índio domesticado!”. Senti raiva e, em seguida, a sensação de não pertencimento. Isso me levou a revisitar memórias, conversar com familiares e percorrer caminhos ancestrais. Ao investigar a história dos meus antepassados, percebi um processo profundo de apagamento cultural, evidenciado pela substituição de chás por medicamentos, pelo desaparecimento de rezos, banhos e práticas tradicionais no cuidado da dor, revelando a perda da memória e do apagamento étnico.
Conclusões/Considerações
A autoetnografia representa uma ruptura epistemológica significativa no pesquisar, desafia os paradigmas positivistas e hegemônicos que tradicionalmente guiam a produção de conhecimento. A autoetnografia torna-se, assim, uma importante estratégia de resistência no resgate de memórias, no não apagamento de práticas de saúde e saberes tradicionais num processo de etnocídio.

Realização: