
Programa - Comunicação Oral - CO11.5 - Tecnologias Sociais, Comunicação e Produção de Conhecimento
01 DE DEZEMBRO | SEGUNDA-FEIRA
15:00 - 16:30
15:00 - 16:30
PRESCRIÇÃO SOCIAL COMO DISPOSITIVO DE PROMOÇÃO DA SAÚDE: DIÁLOGOS ENTRE EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS E A SAÚDE COLETIVA BRASILEIRA
Comunicação Oral
1 Unesp
Apresentação/Introdução
A prescrição social propõe o encaminhamento de usuários a recursos não clínicos do território, promovendo bem-estar e enfrentando determinantes sociais da saúde. Embora difundida em países como o Reino Unido, apresenta ressonâncias com políticas históricas brasileiras, como a PNPS e a PNH, reforçando o cuidado integral e centrado na pessoa.
Objetivos
Analisar a prescrição social como estratégia contemporânea de cuidado, discutindo sua articulação com políticas brasileiras de promoção da saúde e seu potencial de enfrentamento dos determinantes sociais na Atenção Primária à Saúde (APS).
Metodologia
Realizou-se uma revisão narrativa da literatura com foco na articulação entre promoção da saúde, determinantes sociais, prescrição social e políticas públicas. Foram consultadas as bases PubMed, SciELO e Google Scholar (2000–2025), com os descritores “promoção da saúde”, “determinantes sociais”, “prescrição social” e “política pública”. A seleção priorizou artigos teóricos e empíricos, além de documentos institucionais. Os dados foram analisados de forma crítica, explorando o potencial da prescrição social como dispositivo integrador na APS e sua relação com práticas como clínica ampliada, projeto terapêutico singular e intersetorialidade.
Resultados
A literatura mostra que a prescrição social, estruturada no NHS britânico, conecta usuários a redes comunitárias, promovendo saúde integral. No Brasil, embora não formalizada, práticas similares ocorrem na APS, como o signposting. Observa-se consonância com políticas como a PNPS e PNH, que valorizam o cuidado territorializado e o enfrentamento dos determinantes sociais. A prescrição social amplia o olhar clínico, potencializando vínculos, corresponsabilidade e práticas intersetoriais. Contudo, há desafios: ausência de protocolos, pouca capacitação profissional, baixa articulação intersetorial e resistência do modelo biomédico tradicional.
Conclusões/Considerações
A prescrição social é um potente instrumento de cuidado ampliado e promoção da saúde, alinhado aos princípios do SUS. Sua adoção no Brasil exige sensibilização profissional, estruturação de redes comunitárias e valorização das tecnologias leves. Representa uma estratégia contra-hegemônica que resgata fundamentos da saúde coletiva brasileira e reforça a importância de integrar práticas sociais ao cotidiano da APS.
AUDIOLIVRO MULHERES DE FAVELA: VOZES COMO PRÁTICA SOCIAL E POLÍTICA NOS TERRITÓRIOS POPULARES
Comunicação Oral
1 PUC-Rio
Apresentação/Introdução
O audiolivro Mulheres de Favela valoriza vozes de mulheres negras ativistas que atuam nas favelas e periferias do Rio de Janeiro. A produção integra pesquisa sobre estratégias de cuidado e resistência comunitária frente às desigualdades sociais, promovendo equidade e justiça a partir dos territórios.
Objetivos
Dar visibilidade às estratégias de promoção da saúde, cuidado e resistência desenvolvidas por mulheres negras em territórios periféricos, reconhecendo suas práticas como formas legítimas de ação política em prol da equidade e da justiça social.
Metodologia
A pesquisa utiliza abordagem qualitativa com base na pesquisa-ação participativa, integrando métodos mistos e construções coletivas do saber. Foram gravadas 30 histórias de vida de mulheres negras lideranças comunitárias no estúdio de áudio da PUC-Rio. A coleta de dados envolveu entrevistas narrativas e rodas de conversa. O projeto foi realizado em parceria com os Departamentos de Comunicação Social e Serviço Social da universidade. A análise adota referenciais do feminismo negro, com lentes interseccionais e decoloniais, compreendendo o cuidado como direito e prática política, voltada à construção de redes de solidariedade, saúde comunitária e enfrentamento das iniquidades.
Resultados
A pesquisa resultou na produção do audiolivro Mulheres de Favela, disponível em plataformas como Spotify, promovendo acessibilidade auditiva. Para garantir inclusão, as narrativas também foram disponibilizadas em PDF no Dicionário Marielle Franco e elaborado um eBook. Os relatos revelam estratégias inovadoras de promoção da saúde, baseadas em escuta ativa, acolhimento, mediação de conflitos e organização comunitária. As mulheres atuam em áreas como educação, cultura, assistência social e saúde, enfrentando desafios como insegurança alimentar, sobrecarga do cuidado, violência e ausência do Estado. Suas ações reafirmam o cuidado como ferramenta política de enfrentamento das iniquidades.
Conclusões/Considerações
A pesquisa reforça que mulheres negras periféricas são protagonistas de práticas de cuidado e promoção da saúde que enfrentam iniquidades históricas. Suas ações, enraizadas no território e no saber comunitário, propõem alternativas concretas à ausência de políticas públicas, reafirmando o cuidado como prática política, promotora de equidade, inclusão e justiça social nos marcos da determinação social da saúde.
ANÁLISE ESPAÇO-TEMPORAL DA MORTALIDADE INFANTIL EM UMA CAPITAL DO SUDESTE BRASILEIRO DE 2002 A 2020: UM OLHAR PARA AS DIFERENÇAS INTRAURBANAS
Comunicação Oral
1 Universidade Federal de Minas Gerais
Apresentação/Introdução
A mortalidade infantil reflete profundas desigualdades sociais. Em grandes centros urbanos, essas iniquidades se acentuam entre favelas e a cidade formal. As análises intraurbanas da mortalidade infantil podem subsidiar políticas públicas mais equitativas em saúde. Apesar da importância do local de moradia no processo saúde-doença, ainda são escassos os estudos brasileiros com foco intraurbano.
Objetivos
Analisar a tendência da mortalidade infantil em Belo Horizonte entre 2002 e 2020, segundo o local de moradia, evidenciando desigualdades entre favelas e cidade formal e suas implicações para a equidade em saúde.
Metodologia
Estudo ecológico de série histórica da mortalidade infantil em Belo Horizonte, entre 2002 e 2020. Foram utilizados dados provenientes do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (SINASC), georreferenciados segundo o endereço de residência, integrados ao projeto BH-Viva. O desfecho foi a taxa de mortalidade infantil e a exposição principal foi o local de moradia. Comparou-se as taxas de mortalidade infantil ao longo do tempo entre residentes de favelas e da cidade formal. Gráficos de tendência e modelos de regressão binomial negativa foram utilizados com cálculo do risco relativo (RR) e intervalo de confiança (IC) de 95%.
Resultados
Foram georreferenciados 6.343 óbitos infantis (93,2% do total) e 573.040 nascidos vivos (97,2% de cobertura). A taxa de mortalidade infantil (TMI) nas favelas manteve-se estável entre 2002 e 2020, de 14,7 para 14,8 óbitos/1.000 nascidos vivos, enquanto foi observada redução na cidade formal de 12,5 para 8,3 óbitos/1.000 nascidos vivos. O risco ajustado mostrou que residentes em favelas tiveram TMI 20% maior do que os da cidade formal (RR=1,2; IC95%:1,1–1,3). A mortalidade pós-neonatal foi o componente com o maior risco relativo nas favelas (RR=1,37; IC95%:1,18–1,60), enquanto a mortalidade neonatal precoce destacou-se pela menor redução anual (RR=0,98; IC95%:0,97–0,99).
Conclusões/Considerações
O estudo evidencia disparidades persistentes e estruturais, apesar da queda na TMI média na cidade. Destaca falhas na assistência ao parto e pré-natal (mortalidade neonatal precoce) e condições socioambientais precárias (mortalidade pós-neonatal). Revelar as disparidades ocultas no tecido urbano é passo indispensável para construir políticas públicas intersetoriais verdadeiramente equitativas.
TECNOLOGIA SOCIAL NO TERRITÓRIO: O ATENCIÔMETRO COMO FERRAMENTA DE APOIO À ATUAÇÃO DE AGENTES COMUNITÁRIOS NA PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES NA ATENÇÃO PRIMÁRIA.
Comunicação Oral
1 UFMG
2 UNIR
Período de Realização
Capacitação em três UBS de Contagem/MG, realizada de agosto/2023 a dezembro/2024, via mestrado/UFMG.
Objeto da produção
Produziu-se o ATENCIÔMETRO, instrumento pedagógico e técnico criado para apoiar a atuação dos ACS na prevenção da violência contra mulheres.
Objetivos
Relatar a criação do Atenciômetro como tecnologia social de baixo custo, acessível e replicável, e a experiência de uma intervenção educativa com ACS de duas UBS de Contagem/MG, visando qualificar a identificação, acolhimento e encaminhamento de violências contra mulheres.
Descrição da produção
Fruto de pesquisa-intervenção com ACS em Contagem/MG, o Atenciômetro é uma tecnologia social de baixo custo para apoiar o cuidado a mulheres em situação de violência. Em formato circular, representa a escalada da violência até o feminicídio. Foi desenvolvido em oficinas com metodologias ativas, articulando os cinco tipos de violência da Lei Maria da Penha com estratégias de escuta, empatia, registros em planilhas e rede de proteção.
Resultados
O Atenciômetro foi bem acolhido nas equipes de ACS, com uso sugerido em reuniões, monitoramento da violência no território e rodas de conversa com usuárias, fortalecendo a articulação com a rede. Também impulsionou a revisão dos fluxos de cuidado.
Demonstrou potencial para a sensibilização, a vigilância ativa e o cuidado em saúde, consolidando-se como estratégia acessível de apoio à prática cotidiana. Serviu como gatilho para revisão de fluxos e ampliou a vigilância ativa e o cuidado à mulher.
Análise crítica e impactos da produção
A maioria dos ACS relatou nunca ter sido capacitada sobre o tema, e muitos desconheciam os dispositivos da Rede de Enfrentamento à Violência contra Mulheres. O curso permitiu reconhecer vivências pessoais e profissionais relacionadas à violência que antes eram naturalizadas. A construção do Atenciômetro como produto técnico-pedagógico facilitou a visualização dos tipos e da escalada da violência, permitindo aos ACS aprimorar o acolhimento, registro e monitoramento dos casos.
Considerações finais
Capacitar ACS em violência de gênero fortalece o cuidado na APS e contribui para a prevenção de agravos. O Atenciômetro mostrou-se ferramenta eficaz, de baixo custo e fácil replicação, apropriada a diversos contextos. Recomenda-se sua inclusão em ações de educação permanente e políticas que integrem tecnologias sociais à promoção da saúde e proteção das mulheres.
QUEM TREINA OS DADOS? REPRESENTATIVIDADE E EQUIDADE NOS BANCOS DE DADOS USADOS EM PREDIÇÕES DE SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL
Comunicação Oral
1 FSP-USP
Apresentação/Introdução
A crescente aplicação de modelos preditivos em saúde pública no Brasil ocorre em um contexto marcado por desigualdades estruturais. A representatividade e a qualidade dos bancos de dados impactam diretamente a justiça e a efetividade dessas tecnologias, exigindo uma análise crítica de sua adequação ao contexto nacional.
Objetivos
Analisar criticamente os bancos de dados utilizados em estudos com modelos preditivos de machine learning em saúde pública no Brasil, avaliando sua representatividade e a incorporação de princípios de equidade.
Metodologia
Revisão de escopo conforme diretrizes PRISMA-ScR. A busca foi feita em seis bases (SciELO, Scopus, Web of Science, BVS, PubMed e EMBASE), sem limite inicial de data. Foram incluídos estudos empíricos com modelos preditivos aplicados à saúde pública brasileira. A extração seguiu formulário padronizado e a análise foi dividida em três blocos: caracterização geral, representatividade dos dados e análise crítica de equidade e transparência metodológica.
Resultados
Foram incluídos 44 estudos (2018–2025) na avaliação. A maioria usou dados secundários (82%), principalmente do DATASUS. Predominaram escopos municipais (n=16) e populações específicas (n=23). Apenas 25% incluíram variáveis socioeconômicas, 14% consideraram raça/cor e 27% analisaram desempenho por subgrupos. Limitações dos dados foram apontadas em 95% dos estudos. Três excluíram variáveis de equidade devido a critérios técnicos de modelagem.
Conclusões/Considerações
Apesar do avanço dos modelos preditivos, persistem lacunas na representatividade dos dados e na consideração de determinantes sociais. A baixa inclusão de variáveis de equidade e a escassa análise por subgrupos limitam seu potencial para reduzir iniquidades. Diretrizes éticas e avaliações obrigatórias são necessárias para garantir que a inovação tecnológica promova a equidade em saúde.
LUGAR PÚBLICO PARA REALIZAÇÃO DE EXERCÍCIO FÍSICO PERTO DE CASA ESTÁ ASSOCIADO AO MODELO DEMANDA CONTROLE, TRANSTORNO MENTAL COMUM E QUALIDADE DE SONO?
Comunicação Oral
1 UFMG
Apresentação/Introdução
Estudos associam aspectos psicossociais do trabalho, como o alto desgaste e piores situações de saúde mental em professores. A má qualidade do sono, frequentemente impactada pelo estresse laboral agravam essa condição. O sedentarismo surge como fator que intensifica os prejuízos à saúde física e mental dos indivíduos, completando um ciclo de vulnerabilidade para esses profissionais.
Objetivos
Pesquisar a associação entre a existência de lugar público para realização de exercício físico perto de casa com o modelo demanda controle, a presença de transtorno mental comum e a qualidade de sono em professores da educação básica de Minas Gerais.
Metodologia
Trata-se de estudo observacional, transversal e analítico com professores da educação básica das escolas estaduais de Minas Gerais. A coleta de dados ocorreu em 2021. A variável resposta ‘lugar público para atividade física perto de casa’ foi agrupada em duas opções: ‘sim’ e ‘’não/não sei’. As variáveis explicativas foram organizadas em dois blocos: aspectos sociodemográficos e situação de saúde. Realizaram-se análises descritivas e bivariadas. A seguir, executou-se um modelo de regressão logística multivariada, por blocos de variáveis. O modelo final contou com todas as variáveis com nível de significância de p ≤ 0,05.
Resultados
Dos 1907 docentes, 77% eram do sexo feminino, 45% negros/amarelos/indígenas e 43% tinham vínculos de trabalho precários. Docentes negros/amarelos/indígenas tiveram piores vínculos de trabalho do que os brancos, assim como as mulheres, comparadas aos homens. Os resultados das análises multivariadas encontraram que professores que relataram não ter (22%; n=424) ou não saber (1%; n=24) que tem lugares públicos perto de casa para realizar atividade física apresentaram uma probabilidade 54% maior de ter alto desgaste no trabalho, 52% mais chance de terem transtorno mental comum e pior qualidade do sono no último mês.
Conclusões/Considerações
Os fatores associados ao desfecho demonstram uma importante relação entre ausência ou desconhecimento de lugar público perto de casa para realizar atividade física e aspectos psicossociais do trabalho, a presença de transtorno mental e autopercepção da qualidade de sono no último mês. Notam-se também a forte presença das mulheres na educação, além da iniquidade racial e de gênero, pois homens brancos tiveram melhores vínculos de trabalhos.

Realização: