Programa - Comunicação Oral - CO3.2 - Clima, Nutrição e Saúde: vulnerabilidades e estratégias
01 DE DEZEMBRO | SEGUNDA-FEIRA
15:00 - 16:30
ASSOCIAÇÃO ENTRE TEMPERATURA ELEVADA E ESTADO NUTRICIONAL INFANTIL NO BRASIL: UMA APLICAÇÃO DE DISTRIBUTED LAG NON-LINEAR MODELS (DLNMS)
Comunicação Oral
SACRAMENTO, L.S.1, RIBEIRO, R.C.S.2, PASSOS, L.L3, RIBAS, P.F.C4, CORTES, T.R1, RIBEIRO, L.H.L1, REBOUÇAS, P.1, PAIXÃO, E.S.1, BARRETO, M.L3
1 CENTRO DE INTEGRAÇÃO DE DADOS E CONHECIMENTO PARA SAÚDE (FIOCRUZ)
2 CENTRO DE INTEGRAÇÃO DE DADOS E CONHECIMENTO PARA SAÚDE (FIOCRUZ)/ESCOLA DE NUTRIÇAO(UFBA)/INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA(UFBA)
3 CENTRO DE INTEGRAÇÃO DE DADOS E CONHECIMENTO PARA SAÚDE (FIOCRUZ)/INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA(UFBA)
4 CENTRO DE INTEGRAÇÃO DE DADOS E CONHECIMENTO PARA SAÚDE (FIOCRUZ)/ ESCOLA DE NUTRIÇAO(UFBA)
Apresentação/Introdução
A aplicação dos modelos Distributed Lag Non-Linear Models (DLNMs) é ainda pouco explorada na investigação dos efeitos do clima sobre desfechos em saúde e nutrição. Este estudo analisa o impacto de temperaturas elevadas no estado nutricional infantil no Brasil, destacando o potencial analítico dos DLNMs para modelar efeitos defasados em exposições ambientais contínuas.
Objetivos
Estimar os efeitos da exposição a temperaturas elevadas sobre o estado nutricional infantil no Brasil, modelando a associação não linear e defasada entre temperatura e os indicadores antropométricos WAZ, WHZ e HAZ, por meio do uso dos modelos DLNM.
Metodologia
Estudo observacional de base populacional com dados da “Coorte de 100 Milhões de Brasileiros”, vinculados ao SINASC, SISVAN e BR-DWGD (2008–2017). A exposição foi definida como temperatura média semanal com defasagem de 0 a 52 semanas. Modelamos a associação com DLNMs, utilizando funções crossbasis em modelos lineares generalizados com ligação logit. A estrutura lag-resposta foi especificada com splines cúbicos naturais (2 nós em escala log), e a exposição-resposta como função linear. As análises foram ajustadas por ano/mês, sexo/idade da criança, variáveis maternas e umidade relativa, e estratificadas por grupos populacionais vulnerabilizados (região, raça/cor, urbanicidade e privação).
Resultados
Verificamos o efeito negativo das temperaturas elevadas nos indicadores de estado nutricional infantil, com maior magnitude entre populações mais vulnerabilizadas. Para baixo peso (P/I) e emagrecimento (P/A), os efeitos ocorreram com atraso de 0 a 3 semanas. Já o déficit de crescimento (A/I) apresentou pico mais tardio (lag 7). O uso do DLNM permitiu decompor a exposição térmica ao longo do tempo, captando impactos agudos e acumulados. Essa modelagem traz ganhos frente a abordagens com médias simples, permitindo identificar janelas críticas de risco. Os resultados demonstram a adequação do DLNM para capturar padrões temporais complexos de exposição ambiental.
Conclusões/Considerações
Modelos DLNM mostraram-se adequados para estimar efeitos não lineares e defasados da temperatura sobre indicadores de má-nutrição infantil. A abordagem permitiu capturar padrões distintos de resposta para diferentes formas de desnutrição, representando avanço metodológico frente a análises tradicionais. O estudo contribui com evidências robustas para o entendimento da vulnerabilidade nutricional frente às mudanças climáticas.
DESIGUALDADES ÉTNICO-RACIAIS DO EFEITO DAS TEMPERATURAS ELEVADAS SOBRE O ESTADO NUTRICIONAL INFANTIL: ANÁLISE UTILIZANDO DADOS DE 6 MILHÕES DE CRIANÇAS BRASILEIRAS
Comunicação Oral
Costa, P.R.F.1, Ribeiro-Silva, R.C.1, Luz, L.P.2, Sacramento, L.S.3, Cortes, T.R.3, Ribeiro, L.H.L.3, Rebouças, P.3, Silveira, S.H.1, Paixao, E.S4, Barreto, M.L.5
1 UFBA/CIDACS
2 UFBA
3 CIDACS
4 London School of Hygiene and Tropical Medicine
5 FIOCRUZ/CIDACS
Apresentação/Introdução
A exposição ao calor na infância afeta a nutrição por diversos caminhos, podendo causar perda de apetite, desidratação e diarreia, levando à desnutrição aguda; bem como reduzir a produtividade agrícola e agravar a insegurança alimentar, afetando famílias vulneráveis e aumentando o risco de desnutrição crônica e mortalidade.
Objetivos
Este estudo estimou as desigualdades étnico-raciais do efeito de temperaturas elevadas sobre indicadores antropométricos de crianças brasileiras de 12 a 59 meses de idade.
Metodologia
Trata-se de um grande estudo longitudinal utilizando dados da "Coorte dos 100 Milhões de Brasileiros", vinculados ao Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC), ao Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) e aos dados de temperatura do Conjunto de Dados Meteorológicos Diários do Brasil (BR-DWGD) para o período de 2007 a 2017. Aplicamos modelos distribuídos de defasagem não linear (DLNM) para investigar a influência cumulativa das altas temperaturas ao longo do ano anterior às medições das crianças, com análises estratificadas para identificar grupos étnicos em maior risco.
Resultados
Analisando dados de mais de 6 milhões de crianças, identificamos que, para cada aumento de 1°C na temperatura ambiente acima da mediana (26°C), as chances cumulativas ao longo das defasagens semanais de 0 a 52 aumentaram em 13% e 10% para baixo peso (baixo P/I) em crianças filhas de mães indígenas e pretas, respectivamente; em 9,8% e 9,0% para magreza (baixo P/A) em crianças filhas de mães indígenas e pretas, respectivamente; e em 7,8% e 7,9% para baixa estatura (baixo A/I) naquelas filhas de mães pretas e pardas, respectivamente.
Conclusões/Considerações
Crianças que vivem em regiões de altas temperaturas no Brasil têm maior probabilidade de sofrer de desnutrição, com os piores desfechos observados entre os grupos étnicos mais vulneráveis. Nossos resultados destacam a injustiça ambiental no Brasil, demonstrando a importância de políticas que promovam a equidade étnico-racial para reduzir o impacto do racismo na nutrição infantil.
MAPEIA SER’TÃO: SISTEMATIZAÇÃO E DESAFIOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA PARTICIPATIVA EM SISTEMAS AGROALIMENTARES DA BACIA DO JACUÍPE
Comunicação Oral
Machado, V. C.1, Santana, I. P.1, Santos, S. C.1, Silva, D. A. S.1, Santos, L. S2, Santos, L. S.3, Coelho, N. S.2
1 Universidade Federal da Bahia
2 Rede Pintadas
3 Universidade Federal do Sul da Bahia
Apresentação/Introdução
A integração entre ensino, pesquisa e extensão tem contribuído para valorizar e reconhecer sistemas agroalimentares locais, como no território de identidade da Bacia do Jacuípe. A atuação junto às comunidades requer metodologias sensíveis, que respeitem os saberes populares e enfrentem os desafios éticos e políticos, fortalecendo a produção de conhecimento comprometido com a realidade local.
Objetivos
Discutir uma experiência de pesquisa-extensão no mapeamento de sistemas agroalimentares da Bacia do Jacuípe, destacando os desafios metodológicos, os aprendizados gerados e as contribuições a promoção da soberania e segurança alimentar.
Metodologia
Utilizou-se o método de Sistematização de Experiências de Oscar Jara. A coleta de dados incluiu reuniões, mensagens com mapeadores e anotações de campo. A análise seguiu cinco etapas: pontos de partida, eixos de análise, reconstrução do processo, reflexões críticas e aprendizados. O mapeamento abrangeu todos os municípios do território, com formação inicial e atuação de mapeadores locais. O enfoque participativo buscou promover o empoderamento comunitário, respeitando os tempos e saberes do território. Os dados foram produzidos por meio de questionários estruturados, aplicados coletivamente, abordando aspectos estruturais, sistemas alimentares e percepções sobre mudanças climáticas.
Resultados
A experiência evidenciou a complexidade do diálogo entre saberes científicos e locais, destacando tensões e potencialidades na construção coletiva do conhecimento. A escuta ativa, valorização das narrativas do território e a reflexividade da equipe fortaleceram vínculos e os saberes populares. O uso de ferramentas participativas implicou desafios interligados à formação dos mapeadores, clareza conceitual dos instrumentos utilizados, a comunicação remota e a limitação de recursos humanos e tecnológicos. Apesar disso, a atuação dos agentes locais fortaleceu o protagonismo comunitário. Houve descompasso entre os tempos da universidade e da comunidade, exigindo pactuação constante.
Conclusões/Considerações
Os resultados indicam a necessidade de práticas acadêmicas mais dialógicas, flexíveis e comprometidas com transformações sociais. A pesquisa participativa com suporte online evidenciou os desafios de produção de conhecimento em contextos marcados por desigualdade. Reforça-se a urgência de políticas públicas que valorizem os saberes locais, apoiem cadeias produtivas territoriais e contribuam para a justiça climática, a SAN e a promoção da saúde.
SELEÇÃO DE INDICADORES PARA AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS DE EVENTOS CLIMÁTICOS EXTREMOS NA SAÚDE E MÁ NUTRIÇÃO INFANTIL NO BRASIL - PLATAFORMA FOMES
Comunicação Oral
NONATO, L.F.T.1, DE PAIVA, J.B.2, SANTOS, L. A.3, DO ROSÁRIO, E.A.2, DE SOUZA, W.R.2, DE SOUZA, L.C.2, DE OLIVEIRA, C.K.S.4, NEJAR, F.F.5, PALMEIRA, P.A.4, DOS SANTOS, S.M.C.2
1 UFPB
2 UFBA
3 Ministério da Saúde (MS)
4 UFCG
5 UNITAU
Apresentação/Introdução
O Brasil convive com a crise climática e as desigualdades sociais, que agravam a insegurança alimentar (IA) de grupos vulneráveis, especialmente de crianças menores de cinco anos. Logo, o projeto FomeS visa construir uma plataforma integrada de indicadores de Eventos Climáticos Extremos (ECE), saúde e nutrição infantil, IA, Insegurança Hídrica (IH), sistemas alimentares e desigualdades sociais.
Objetivos
Avaliar indicadores pré-selecionados para compor a plataforma multidimensional integrada de dados - FomeS, a partir dos resultados da primeira etapa de aplicação da técnica Delphi de consulta à especialistas.
Metodologia
Foi elaborado um inventário de 225 indicadores em quatro dimensões (ECE, sistemas alimentares, IH e saúde/nutrição infantil). Na primeira rodada Delphi (jan-mai/2025), 26 especialistas avaliaram os indicadores segundo 10 critérios em 6 categorias, atribuindo uma resposta com base no nível de relevância do indicador (baixa, média, alta). Ao final, optavam por “MANTER” ou “EXCLUIR”, registrando sugestões e/ou comentários. A validação combinou análise de desvio padrão e média ponderada, com contribuições qualitativas: indicadores com média ≥2,3 foram aprovados; os com média <2,3 sem justificativa, rejeitados; e os com desvio >0,6 ou média <2,3 com justificativas, encaminhados à segunda rodada.
Resultados
A maioria dos especialistas eram mulheres (61,5%), dos quais 53,85% possuíam mais de 40 anos e 84,62% atuavam há mais de 10 anos nas suas áreas de especialidade. Dos 225 indicadores avaliados, 54,87% foram aprovados e 12,39% foram rejeitados. Não houve consenso para 32,74% dos indicadores pré-selecionados, sendo estes encaminhados para a 2ª etapa da Delphi. A dimensão de Sistemas Alimentares apresentou o maior percentual de indicadores encaminhados à 2ª etapa Delphi (41,03%), seguida por ECE (40%) e IH (34,06%). Essa maior divergência de consenso pode refletir a diversidade de bases de dados e as características dos indicadores segundo os critérios de avaliação definidos.
Conclusões/Considerações
Na primeira etapa Delphi, identificaram-se indicadores aprovados para a plataforma FomeS e os que avançariam para a segunda etapa. A avaliação dos indicadores trouxe como principais desafios o engajamento dos especialistas e uso da ferramenta digital disponibilizada para a avaliação. Ainda assim, a técnica Delphi provou-se eficaz na validação de indicadores, desde que sustentada por um painel de especialistas qualificados.
SAÚDE, AGROECOLOGIA E TERRITÓRIOS: APRENDIZADOS DO PROJETO ARÁ
Comunicação Oral
ALMEIDA, A. P. 1, LOPES, H. R.1
1 Fiocruz
Período de Realização
2023/2025
Objeto da produção
Condução de um processo de sistematização e elaboração de um livro com reflexões e aprendizados do projeto: “Ará: saúde, agroecologia e territórios”.
Objetivos
Refletir criticamente e comunicar aprendizados do projeto Ará, iniciativa da Fiocruz voltada à promoção da saúde e do desenvolvimento sustentável da agricultura familiar e das agriculturas quilombolas e indígenas nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Descrição da produção
Em 2023, foram realizados encontros na Fiocruz Mata Atlântica, no Observatório dos Territórios Sustentáveis e Saudáveis e no Fórum Itaboraí para refletir sobre principais avanços do projeto, desafios em curso e perspectivas de futuro, considerando quatro temas: soberania e segurança alimentar e nutricional; construção social de mercados; saúde das pessoas e territórios; e construção de conhecimentos. Em 2024 e 2025, os dados foram transformados em um livro com múltiplos olhares e contribuições.
Resultados
Processo participativo de sistematização envolvendo diferentes equipes da Fiocruz, organizações parceiras e representantes das comunidades;
Distribuição de dois mil exemplares de uma cartilha informativa, durante seminário de divulgação do projeto como parte do Encontro Internacional de Territórios e Saberes;
Distribuição de mil exemplares do livro “Saúde, agroecologia e territórios: aprendizados do projeto Ará”. Divulgação da versão digital do livro.
Análise crítica e impactos da produção
O processo de sistematização permitiu um olhar comum e plural para a execução do projeto Ará, considerando as especificidades e formas próprias de atuação de cada território. Ao refletir criticamente, extrair e comunicar aprendizados, pode contribuir como referência para projetos desenvolvidos em rede e nos territórios, e que primam pela articulação de saberes científicos, técnicos e tradicionais.
Considerações finais
Para além da divulgação científica e da inspiração metodológica, o livro é uma contribuição para a memória das ações desenvolvidas pela Fiocruz em distintos territórios historicamente vulnerabilizados e impactados pela pandemia da covid-19. Na obra, são vocalizadas lutas por direitos defendidas por movimentos e organizações sociais, apontando para demandas, mas sobretudo para resistências e perspectivas para a transformação social.
PROGRAMA DE TRANSFERÊNCIA CONDICIONAL DE RENDA COMO ESTRATÉGIA ADAPTATIVA PARA REDUZIR OS EFEITOS DA SECA SOBRE O BAIXO PESO AO NASCER
Comunicação Oral
Fernandes, Q. H. R. F.1, Falcão, I.1, Pescarini, J.2, Barreto, M. L.3
1 Instituto Gonçalo Moniz - FIOCRUZ/CIDACS
2 London School of Hygiene and Tropical Medicine, London, United Kingdom.
3 Instituto de Saúde Coletiva - UFBA
Apresentação/Introdução
Evidências indicam que a exposição à seca durante a gestação eleva o risco de baixo peso ao nascer, sobretudo em contextos de vulnerabilidade socioeconômica. Nesse cenário, programas de transferência de renda podem atuar como políticas de adaptação, ao favorecer melhores condições de vida, possibilitando que as famílias enfrentem melhor os efeitos da seca sobre esse desfecho neonatal.
Objetivos
Investigar o impacto do Bolsa Família na redução da incidência do baixo peso ao nascer em gestantes residentes em situações de seca e pobreza no Brasil.
Metodologia
Foram utilizados dados de nascidos vivos, de suas mães e domicílios, provenientes do SINASC vinculado à Coorte de 100 Milhões de Brasileiros/as (2004–2015). A população foi composta por nascidos expostos à seca intraútero no último trimestre da gestação. O desfecho foi baixo peso ao nascer. Incluíram-se apenas aqueles cadastrados no Cadastro Único. O grupo tratado foi formado por nascidos cujas mães receberam o Bolsa Família nos três últimos meses da gestação; o controle, por aqueles que não receberam. Aplicou-se propensity score, seguido de Kernel matching para gerar pesos e reduzir viés, e estimou-se o efeito do programa via regressão logística ponderada e regressão linear ponderada.
Resultados
A coorte registrou 768.744 nascidos expostos à seca intraútero nos três meses anteriores ao parto. Desses, 144.920 tinham mães que receberam o Bolsa Família no período de seca estudado e 525.563 não receberam. A porcentagem de nascimentos com baixo peso foi de 5,3% entre beneficiários e 6,1% entre não beneficiários. O programa reduziu em 0,7% o risco de baixo peso em nascidos vivos expostos a seca no último trimestre gestacional, tendo uma redução de 0,4% entre nascidos a termo e 3,3% entre prematuros. Além disso, prematuros de mães que receberam o Bolsa Família nasceram, em média, com 54,3 gramas a mais que os prematuros cujas mães não receberam o benefício, ambos no período de seca.
Conclusões/Considerações
Os achados mostram que o Bolsa Família pode atuar como uma importante estratégia de proteção social frente aos efeitos da seca, ao reduzir o risco de baixo peso ao nascer, especialmente entre prematuros. Os resultados indicam que o programa pode contribuir para mitigar impactos socioeconômicos adversos da seca sobre a saúde neonatal em populações vulneráveis, reforçando seu papel como política de adaptação.