
Programa - Comunicação Oral - CO3.1 - Desastres Naturais e Saúde Pública no Brasil: Desafios e perspectivas
30 DE NOVEMBRO | DOMINGO
15:00 - 16:30
15:00 - 16:30
AÇÕES DO SETOR SAÚDE NO ENFRENTAMENTO AOS IMPACTOS CAUSADOS PELOS DESASTRES NATURAIS: A EXPERIÊNCIA DO DISTRITO SANITÁRIO II NO RECIFE-PE
Comunicação Oral
1 Prefeitura do Recife. Secretaria de Saúde. Distrito Sanitário II
2 IAM/Fiocruz Pernambuco
Período de Realização
O presente relato tem como período as ações realizadas entre abril de 2024 a junho de 2025.
Objeto da experiência
O objeto da intervenção foi o planejamento e a execução de ações para redução dos impactos causados pelas chuvas ocorridas no Distrito Sanitário II.
Objetivos
Organizar, planejar e executar ações, de preparação, resposta e recuperação do setor saúde do Distrito Sanitário II no enfrentamento de desastres decorrentes de chuvas intensas, em consonância com os estágios operacionais estabelecidos pelo Centro de Operações Integradas do Recife (COP).
Metodologia
Em abril de 2024, foi implantado o COP distrital, com representantes de todas as áreas da gestão, e elaborado o Plano de Contingência Distrital, com ações organizadas a fim de minimizar as situações de risco no território. Elaborou-se um mapa situacional de risco das unidades de saúde da família na região, e, posteriormente, foi realizado o Seminário do Vigidesastres para capacitação dos ACS e Asaces. Em 2025, os documentos foram atualizados e apresentado o novo Plano de Contingência municipal.
Resultados
O COP é essencial para mitigar os efeitos das chuvas no setor de saúde, prevenindo agravos por meio de saneamento e identificação de áreas de risco, e garantindo a continuidade dos serviços de saúde em situações como as fortes chuvas. Diante da necessidade de abertura de um abrigo, realizaram-se visitas da vigilância em saúde e suporte assistencial, com monitoramento das condições de saúde dos abrigados e atualização de documentos, além da assistência aos desabrigados pela chuva de maio de 2025.
Análise Crítica
A institucionalização do COP distrital é essencial para coordenar ações frente a chuvas extremas, considerando a realidade local. Permite elaborar planos de contingência adaptados a cada território e, em articulação com outros órgãos, viabiliza respostas mais rápidas e eficazes, com mobilização de recursos e ações integradas para minimizar os impactos.
Conclusões e/ou Recomendações
As ações do setor saúde são fundamentais para mitigar os impactos das chuvas na saúde da população nos territórios atingidos. A atuação do COP no planejamento e execução das ações promove uma maior coordenação, rapidez e eficiência na alocação de recursos e em ações de enfrentamento. Seu fortalecimento é essencial para uma resposta resiliente, integrada e que proteja a saúde pública, reduzindo os impactos negativos à população.
BUSCA ATIVA DE GESTANTES DE ALTO RISCO DURANTE AS ENCHENTES NO RIO GRANDE DO SUL
Comunicação Oral
1 SES/RS
Período de Realização
Nos meses de maio e junho de 2024.
Objeto da experiência
Busca ativa de gestantes de alto risco com consultas agendadas no município de Porto Alegre no período das enchentes e bloqueio de acessos terrestres.
Objetivos
Garantir a continuidade do acompanhamento pré-natal e minimizar riscos maternos e perinatais; Auxiliar os principais Ambulatórios de Gestação de Alto Risco de Porto Alegre no reagendamento das pacientes faltantes no período das enchentes.
Descrição da experiência
As enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em 2024 provocaram uma grave crise humanitária e sanitária, interrompendo serviços essenciais. Os principais Ambulatórios de Gestação de Alto Risco estão localizados na capital e o bloqueio de estradas de acesso impossibilitou o comparecimento às consultas. Muitas gestantes perderam aparelhos celulares e até os registros do pré-natal. A SES/RS construiu um instrumento para auxiliar os serviços a contatar as gestantes e reagendar as consultas.
Resultados
Foram contatados os cinco principais ambulatórios e quatro participaram da ação. A SES/RS disponibilizou uma planilha eletrônica onde os serviços inseriam a relação de faltantes da semana e as tentativas de contato realizadas. Das 137 gestantes faltantes, 104 foram localizadas, algumas já no puerpério, outras informaram ter sofrido aborto espontâneo e a maioria conseguiu reagendar o atendimento.
Aprendizado e análise crítica
Em eventos climáticos é importante garantir acesso à saúde para as populações mais vulneráveis, como ass gestantes. As gestantes classificadas como de alto risco devem ter garantia da continuidade do acompanhamento pré-natal e a fim de minimizar riscos maternos e perinatais. Assim como as consultas, a realização do parto na instituição mais adequada deve ser garantido por meio de transporte terrestre ou aéreo ou até mesmo o deslocamento de equipes.
Conclusões e/ou Recomendações
Alternativas de acesso terrestre ou de telemedicina devem ser construídas pela gestão estadual para que o pré-natal não seja interrompido em meio à calamidade pública causada pelas enchentes. Os desfechos materno e fetal dependem de uma assistência adequada em tempo oportuno. Com as mudanças climáticas que nosso País vivencia é primordial a construção de planos de ação para tais situações, principalmente no campo da saúde.
CONCENTRAÇÃO DE ARSÊNIO EM URINA DOS MORADORES DE BRUMADINHO APÓS O ROMPIMENTO DA BARRAGEM
Comunicação Oral
1 Fiocruz Minas
2 Fiocruz Minas, UFMG
3 UFRJ
Apresentação/Introdução
O arsênio é um metaloide que pode causar efeitos tóxicos à saúde humana. Está disponível no meio ambiente, especialmente no solo, através das ações humanas, por meio do processo de fundição de outros minérios. O arsênio foi um dos elementos tóxicos encontrados na lama de rejeito advinda do rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, ocorrido em janeiro de 2019.
Objetivos
Avaliar a exposição ao arsênio da população acima de 12 anos de Brumadinho, após o rompimento da barragem.
Metodologia
Estudo seccional da linha de base de uma coorte com amostra representativa de 3.080 residentes (12 anos ou mais de idade) de Brumadinho, Minas Gerais. As variáveis exploratórias (idade, sexo, cor de pele, renda domiciliar, tabagismo e local de residência) foram coletadas por questionário e a concentração do As total na urina (AS-U) foi avaliada pela técnica ICP-MS. Fez-se a distribuição da concentração do As-U por mediana e percentis 25 e 75. Teste do qui-quadrado com correção de Rao-Scott e regressão logística múltipla foram utilizados para averiguar associação entre as concentrações acima do limite para As-U (>10 μg/g creatinina na urina) e as características avaliadas.
Resultados
Do total de participantes, 3,0% residiam na área atingida diretamente pela lama de rejeitos, 1,7% residia na região de mineração e 95,3% residiam em outras áreas do município. O valor mediano da concentração do As-U da população de Brumadinho foi de 7,4 (4,9–11,7) μg/g de creatinina; 33% dos participantes apresentaram concentrações acima do limite para o As. Exceto o local de residência, as demais variáveis explicativas não apresentaram diferenças significativas. Observou-se uma menor chance de ter concentrações alteradas do As-U na região de mineração. Na região, a maioria dos participantes utilizava carro-pipa e água mineral como principais fontes, diferente das outras regiões.
Conclusões/Considerações
Foi encontrada alta concentração do As-U na população de Brumadinho, com diferenças em relação à região de residência, o que deve ser investigado para esclarecimento das prováveis fontes de exposição. Além disso, este foi o primeiro estudo populacional pós-desastre que contribuiu para o biomonitoramento humano na região atingida pelo desastre e poderá subsidiar ações de vigilância em saúde ambiental e assistência à saúde no município.
EXPERIÊNCIAS DE VIGILÂNCIA POPULAR EM SAÚDE NO ENFRENTAMENTO A ENCHENTES NO MUNICÍPIO DE RECIFE
Comunicação Oral
1 Fiocruz Pernambuco
2 Fiocruz Pernambuco / UFPE
3 Fiocruz Pernambuco / UFRN
4 UNB / Fiocruz Pernambuco
Apresentação/Introdução
A intensificação de eventos climáticos extremos como enchentes, representam situações de risco que demandam ações intersetoriais de saúde, assistência social e defesa civil. Em 2022 17% da área da cidade do Recife foi impactada com enchentes, com 130 óbitos registrados. As ações protetivas são insuficientes demandando da população estratégias para o enfrentamento das consequências desses eventos.
Objetivos
Identificar estratégias da vigilância popular em saúde para o enfrentamento de enchentes em Recife, Pernambuco.
Metodologia
Pesquisa qualitativa exploratória realizada de março a maio de 2025, nas comunidades de Sapo Nu e Jardim Uchôa (Recife-PE). Para a definição dos territórios, foi realizada uma análise envolvendo a Secretaria de Saúde de Recife e o Centro de Operações com representantes de diversas secretarias e instituições. Foram considerados critérios como a intensidade, tempo e alcance geográfico das enchentes. Participaram do estudo grávidas, mães de crianças de até cinco anos e companheiros e lideranças comunitárias expostas a enchentes. Foram realizadas 19 entrevistas. Utilizou-se a análise temática do conteúdo para identificar ações de vigilância popular em saúde frente às enchentes nos territórios.
Resultados
Foram identificadas estratégias de vigilância popular em saúde nas comunidades afetadas. A utilização de vias alternativas às rotas de emergência propostas pela defesa civil; comunicação por meios extra-oficiais como grupos de WhatsApp; organização comunitária para no resgate de pessoas e proteção de bens materiais; estratégias de abrigos e entre vizinhos e familiares. As estratégias configuram uma categoria central de solidariedade, estruturada a partir de ações nas comunidades para promoção do cuidado e manutenção da vida no enfrentamento a enchentes. Essas iniciativas evidenciam lacunas na articulação com as ações do Estado, cuja insuficiência reforça a vulnerabilização dos territórios.
Conclusões/Considerações
É necessária uma maior integração dos serviços e planejamento para enfrentamento às enchentes, bem como o fortalecimento das estratégias de vigilância popular em saúde desenvolvidas pelas comunidades. O estudo também evidencia fragilidades nos processos de participação social e na operacionalização dos planos de contingência do Estado. Estes são resultados parciais de uma pesquisa em curso.
TENDÊNCIAS DE DESASTRES NATURAIS E SEGREGAÇÃO RESIDENCIAL NO BRASIL: UMA ANÁLISE DE 1991 A 2022
Comunicação Oral
1 CIDACS
2 UFBA
3 LSHTM
Apresentação/Introdução
Mudanças climáticas têm intensificado eventos extremos como enchentes e secas, agravando desigualdades sociais, especialmente em países de baixa e média renda. No Brasil, fatores como segregação residencial, urbanização precária e vulnerabilidades socioambientais aumentam os impactos dos desastres nas populações mais pobres.
Objetivos
Investigar a tendência de aumento dos desastres naturais no Brasil (1991–2022) e se eles ocorrem com mais frequência em municípios com maior segregação residencial racial ou de renda.
Metodologia
Estudo ecológico de séries temporais com dados anuais agregados por município (1991–2022), utilizando decretos oficiais de desastres naturais do S2ID e o índice de dissimilaridade, uma medida de segregação residencial de renda e raça calculada a partir do Censo 2010 do IBGE. Analisamos a frequência de desastres e pessoas afetadas, além da associação com segregação municipal. Aplicamos regressão Prais-Winsten para tendências temporais e regressão binomial negativa com efeitos aleatórios para relações entre segregação e desastres, ajustando por ano e população e considerando interações por década. Foram usados R e STATA.
Resultados
Entre 1991 e 2022, ocorreram 62.268 decretos de desastres no Brasil, sendo 50,1% climatológicos e 37,9% hidrológicos. O Nordeste concentrou 79% dos climatológicos, e o Norte e Sudeste, 70% e 58% dos hidrológicos. Houve aumento anual de 6,82% na frequência de desastres e 12,99% no número de pessoas afetadas, principalmente entre desalojados e desabrigados. Municípios com maior segregação racial e de renda apresentaram maior incidência de desastres (IRR até 2,17) e pessoas afetadas (IRR até 2,59).
Conclusões/Considerações
O estudo mostrou que desastres naturais no Brasil ocorrem com mais frequência e impacto em municípios com maior segregação racial e de renda, refletindo desigualdades históricas e socioespaciais. Isso reforça a urgência de políticas públicas que integrem justiça social e ambiental, promovendo adaptação climática, infraestrutura resiliente e inclusão para reduzir vulnerabilidades e desigualdades regionais.
O PÓS-DESASTRE NA PERSPECTIVA DE GESTORES E PROFISSIONAIS: IMPACTOS DAS REPARAÇÕES INDENIZATÓRIAS PARA O SERVIÇO DE SAÚDE EM BRUMADINHO/MG
Comunicação Oral
1 Fiocruz Minas - IRR
2 Fiocruz Minas - IRR / UFMG
Apresentação/Introdução
Os desastres configuram um grave problema de saúde pública. Em Brumadinho/MG, no ano de 2019, ocorreu o rompimento da barragem de rejeitos de mineração que resultou em mais de 270 óbitos, além das implicações nas condições de vida e de saúde da população. Tal cenário revela a necessidade de acompanhamento das demandas dos afetados para ajudar no planejamento dos serviços de saúde existentes.
Objetivos
O objetivo do trabalho consiste em analisar as principais necessidades do serviço de saúde após o desastre do rompimento da barragem em Brumadinho/MG na perspectiva dos gestores e profissionais.
Metodologia
O estudo integra o projeto maior intitulado “O desastre de Brumadinho e os impactos nos serviços de saúde: a perspectiva de gestores e profissionais”. Trata-se de uma pesquisa exploratória com abordagem metodológica qualitativa, realizada com gestores e profissionais de saúde no município de Brumadinho/MG sendo considerados, preferencialmente, aqueles que atuavam no serviço antes do rompimento da barragem. Como técnica de coleta de dados foram realizadas 26 entrevistas individuais guiadas por roteiro semiestruturado. Os dados foram tratados a partir da técnica de análise de conteúdo na modalidade temática e a interpretação mediada pelo referencial teórico-metodológico da antropologia hermenêutica.
Resultados
Os resultados apontam que tanto o percurso para a aquisição das indenizações como a sua materialização afetou sobremaneira o serviço de saúde. Por um lado, esse setor foi acionado para mediar um processo com delimitações complexas, no qual a garantia da indenização deveria estar diretamente vinculada a uma doença e ao uso do serviço de saúde. Por sua vez, o mesmo processo indenizatório, após aquisição, implicou no surgimento de novas demandas em saúde, especialmente consumo de álcool e outras drogas. Aos profissionais coube mediar casos para além das suas atribuições e o contato diuturno com situações intransponíveis que precisaram ser equacionadas no cotidiano do serviço.
Conclusões/Considerações
Todos os fatores envolvidos no processo indenizatório repercutiram enquanto fonte de adoecimento direto e indireto para todos os atores envolvidos: usuários e profissionais de saúde. Os dados reforçam a necessidade de planejamento frente aos impactos macrossociais de um desastre e, sobretudo, a delimitação de papéis de cada setor quanto aos processos indenizatórios e demais programas direcionados a compensação de danos decorrentes do evento.

Realização: