Programa - Comunicação Oral - CO35.5 - Violência e vidas interrompidas: gênero, saúde mental e território
01 DE DEZEMBRO | SEGUNDA-FEIRA
15:00 - 16:30
SOBREVIVÊNCIAS DE MULHERES COM IDEAÇÃO E TENTATIVA DE SUICÍDIO: GÊNERO COMO CATEGORIA ANALÍTICA
Comunicação Oral
Dantas, E. S. O.1, Meira, K. C.2, Silva, G. W. S.3, Amorim, K. P. C.1
1 UFRN
2 UNIFESP
3 SESAP/RN
Apresentação/Introdução
O comportamento suicida é um importante problema de saúde pública, com implicações éticas, sociais e políticas. Entre mulheres, essa experiência é moldada por desigualdades estruturais persistentes. Desse modo, o gênero influencia e demarca toda a trajetória de mulheres com ideação e tentativa de suicídio, tanto no campo subjetivo quanto na produção de cuidado no Sistema Único de Saúde.
Objetivos
Analisar as sobrevivências de mulheres com ideação e tentativa de suicídio a partir da categoria analítica de gênero.
Metodologia
Estudo qualitativo, de base hermenêutico-dialética, desenvolvido no âmbito de uma tese de doutorado em Saúde Coletiva. Foram entrevistadas dez mulheres com histórico de ideação ou tentativa de suicídio, além de cinco profissionais de saúde e três gestores da Rede de Atenção Psicossocial. A análise dos dados articulou narrativas individuais às estruturas sociais e relações de poder, considerando como a categoria analítica de gênero atravessa a vida de mulheres e dos sujeitos que atuam no Sistema Único de Saúde. O material empírico foi organizado e codificado com o apoio do software NVivo, resultando na construção de três categorias analíticas finais.
Resultados
O estudo revelou que as sobrevivências de mulheres com ideação e tentativa de suicídio são marcadas por múltiplas formas de sofrimento, atravessadas por estereótipos de gênero, precariedade socioeconômica, violência de parceiros íntimos e estigmatização dos transtornos mentais. A autolesão emergiu como prática de alívio da dor psíquica e forma de expressão do sofrimento. As mulheres circularam por diversos pontos da Rede de Atenção Psicossocial, onde o vínculo foi valorizado como estratégia potente de cuidado. As percepções dos profissionais sobre o suicídio feminino influenciaram diretamente suas atitudes, sendo o estigma uma barreira frequente ao acolhimento.
Conclusões/Considerações
As sobrevivências analisadas desafiam discursos reducionistas sobre o suicídio e revelam que o sofrimento das mulheres é indissociável das violências estruturais de gênero. É urgente fortalecer políticas públicas intersetoriais e práticas de cuidado em liberdade, comprometidas com os direitos humanos, a justiça social e a escuta das subjetividades femininas, em sua diversidade e complexidade.
TENDÊNCIA DA MORTALIDADE POR AGRESSÃO CONTRA MULHERES NO BRASIL (2000-2023): UMA ANÁLISE DE JOINPOINT
Comunicação Oral
AGNELLO, Renata Julio 1, RODRIGUES, Pedro Henrique Naves1, ROSARIO, Maria Clara Oliveira 1, CARLOS, Carolina Assis de1, BERNARDES, Lara Fonseca1, CARVALHO, Wellington Roberto Gomes de2, CASTRO, Sybelle de Souza2
1 Universidade Federal do Triângulo, Instituto de Ciências da Saúde, Uberaba, MG
2 Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Departamento de Saúde Coletiva, Uberaba, MG
Apresentação/Introdução
A mortalidade por agressão contra mulheres no Brasil é um indicador crítico de violência de gênero e reflete desigualdades sociais persistentes. Monitorar essas tendências ao longo do tempo é essencial para subsidiar políticas públicas de prevenção e para o enfrentamento da violência contra a mulher.
Objetivos
Analisar as tendências temporais da mortalidade por agressão contra mulheres no Brasil, segundo raça/cor da pele e idade, no período de 2000 a 2023.
Metodologia
Estudo ecológico com análise de tendência temporal dos óbitos por agressão contra mulheres no Brasil, entre 2000 e 2023. Foram analisados dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Os dados de óbitos foram estratificados por raça/cor da pele (branca, preta e parda) e faixa etária (10-19, 20-29, 30-39, 40-49, 50-59, 60-69 e ≥70 anos). As variáveis raça/cor da pele e faixa etária foram combinadas para formar grupos analíticos para a análise de tendência. Foi utilizado o Joinpoint Regression Program (versão 5.4.0) para identificar mudanças nas taxas de mortalidade ao longo do tempo.
Resultados
Entre 2000 e 2023, a mortalidade por agressão contra mulheres no Brasil apresentou tendência decrescente na maioria das raças/cor e faixas etárias. Reduções significativas foram observadas entre mulheres brancas, pretas e pardas, com exceção das mulheres pretas de 60-69 anos. Nas mulheres pardas de 30-39 anos, apesar da ausência de reduções significativas nas variações anuais, a tendência geral apontou redução no período. Os achados evidenciam um declínio das taxas de óbito por agressão, especialmente nas mulheres brancas de 20-29 anos (AAPC= -4%. p<0,001), mulheres pretas de 20-29 anos (AAPC= -4,3%, p<0,001) e mulheres pardas de 70+ anos (AAPC= -2,4%, p<0,001).
Conclusões/Considerações
Os resultados indicam tendência de redução da mortalidade por agressão contra mulheres no Brasil, embora persistam desigualdades entre grupos raciais e faixas etárias. A agenda de abrangência nacional envolvendo o tema violência contra a mulher é imprescindível para a produção e o fortalecimento de estratégias de enfrentamento da agressão e de garantia de seus direitos sociais e segurança.
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER PROVOCADA POR PARCEIRO ÍNTIMO E A ABORDAGEM DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: UMA REVISÃO DE ESCOPO
Comunicação Oral
SOARES, A. K.1, LANGE, F. C.1, LINDNER, S. R.1
1 UFSC
Apresentação/Introdução
Historicamente os setores de segurança pública e justiça têm assumido responsabilidade em abordar a Violência por Parceiros Íntimos. Entretanto, a complexidade do fenômeno mostra a necessidade do envolvimento de setores como a saúde para sua superação. Desta forma, a Atenção Primária à Saúde estando disseminada territorialmente, mostra-se fundamental na construção da rede de enfrentamento.
Objetivos
Analisar as evidências científicas acerca da abordagem da violência contra a mulher provocada por parceiros íntimos pelas equipes de Atenção Primária à Saúde, identificando possíveis estratégias utilizadas e fatores que interferem nessa abordagem.
Metodologia
Estudo teórico balizado pela metodologia da construção de uma Revisão de Escopo com estratégia de busca aplicada nas bases de dados: CINAHL, Embase, Lilacs, Pubmed/MEDLINE, Scielo, Scopus, Web of Science e na literatura cinzenta. Os artigos encontrados foram arquivados em gerenciador de referências, onde foi realizada remoção de duplicados e seleção. A seleção foi realizada por dois revisores de maneira independente e em duas etapas. Ao total, foram selecionados 46 estudos. Para análise dos resultados foram tabulados os dados bibliométricos dos documentos selecionados e o agrupamento de informações e síntese de conteúdos que respondessem aos objetivos da pesquisa.
Resultados
Os achados apontam para dificuldade de identificação da violência pelas equipes e dificuldades de abordagem do problema mesmo quando há a sua identificação. Foram identificados fatores capazes de dificultar a abordagem da temática. A sobrecarga dos serviços com o aumento exponencial da demanda, limitação de tempo para atendimentos aos usuários, metas moldadas pela lógica da produtividade e a alta rotatividade dos profissionais, impedem que os servidores ofertarem uma abordagem adequada às demandas de VPI. A revisão identificou estratégias citadas que contribuem para a abordagem, dentre elas a promoção de espaço seguro, acolhimento e criação de vínculo, trabalho em equipe e em rede.
Conclusões/Considerações
Os resultados apontam para a necessidade de retomar a construção de uma Atenção Primária à Saúde robusta, representada pela Estratégia de Saúde da Família, onde os olhares voltem-se ao território e os profissionais de saúde tenham segurança e estabilidade de colocar em prática as estratégias capazes de contribuir para abordagem da temática, operando coletivamente em busca de uma abordagem qualificada dos casos de violência.
DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER EM UMA REGIÃO DE SAÚDE DA BAHIA, 2009-2024
Comunicação Oral
Silva, M. C1, Silva, F. R2, Soares, M. L2, Macedo, L. L.2, Santos, A. S.2, Nery, F. S. D.3, Santos, D. B4
1 UEFS/UESB
2 UESB
3 UEFS
4 UFRB/UEFS
Apresentação/Introdução
A violência contra a mulher configura-se como um problema de saúde pública, cujas manifestações podem ser diversas, atingir mulheres de perfil heterogêneo e gerar importante impacto nos serviços de saúde apesar dos avanços legislativos. Dessa forma, analisar a problemática sob a óptica da regionalização em saúde torna-se essencial para o delineamento de estratégias locais de enfrentamento.
Objetivos
Espacializar a incidência de violência contra a mulher na região de saúde de Jequié, de 2009 a 2024
Metodologia
Trata-se de um estudo epidemiológico, ecológico, comparativo com casos de violência contra a mulher notificados no SINAN na região de saúde de Jequié, de 2009-24, conforme local de ocorrência. A região de saúde é composta por 26 municípios. O levantamento de dados deu-se no SINAN com uso do Tabnet em maio de 2025. Calculou-se a taxa de incidência com número de casos, considerando mulheres com 10 anos ou mais e excluindo violências autoprovocadas e a frequência relativa das variáveis local de ocorrência da violência e o perpetrador. Para a confecção do mapa foi utilizado o programa Qgis com produção de mapa coroplético. Por usar dados públicos, dispensa Comitê de Ética.
Resultados
Foram notificados 2.284 casos de violência contra a mulher na região de saúde de Jequié de 2009 a 2024, com uma incidência média de 44,79 casos por 10.000 habitantes. Dos 26 municípios, 18 apresentaram incidências abaixo da média, sendo que dois não notificaram casos de violência contra a mulher nos 16 anos, são eles Iramaia e Itaquara. No entanto, Ipiaú destacou-se com 241,58 casos por 10.000 hab., seguido de Jequié (138,16), Brejões (99,00) e Maracás (96,42). Observa-se que, exceto Brejões, esses municípios são fronteiriços. O ambiente doméstico é onde a violência mais acontece, com 57,49% dos casos. O agressor é predominantemente o atual parceiro (31,87%), sendo este um adulto (37,08%).
Conclusões/Considerações
A distribuição dos casos evidencia a necessidade de fortalecer ações de vigilância para identificar a violência contra a mulher pari passu ao processo de fortalecimento de ações intersetoriais na construção de uma cultura menos misógina. Salienta-se que, devido a maior parte dos casos acontecerem no âmbito doméstico, a APS precisa ser preparada para identificar e conduzir os casos.
PERFIL DOS CASOS DE VIOLÊNCIA AUTOPROVOCADA EM MAIORES DE 10 ANOS NO BRASIL, 2010-2023
Comunicação Oral
Panzan, J. P.1, Rogick, G. B.1, Pagoto, B. C.1, Silva, B. C. P.1, Carvalho, C.1, Braga, C. N.1, Zerbone, P. B.1, Bastos, T. F.1, Bacurau, A. G. M.1
1 Faculdade São Leopoldo Mandic – Araras/SP
Apresentação/Introdução
A violência autoprovocada é um problema de saúde pública que reflete sofrimento psíquico e vulnerabilidades sociais. Envolve ações intencionais contra si, associadas a transtornos mentais, uso de substâncias e bullying. Investigar o tema é essencial para orientar políticas de prevenção, sobretudo entre jovens.
Objetivos
Descrever o perfil epidemiológico dos casos de violência autoprovocada notificados na população com idade ≥ 10 anos no Brasil, entre 2010 e 2023.
Metodologia
Estudo ecológico, descritivo, sobre violência autoprovocada em pessoas ≥10 anos, com dados do SINAN/DATASUS de casos notificados no Brasil entre 2010 e 2023. Os dados populacionais foram obtidos das projeções do IBGE. As variáveis foram: região de residência, faixa etária, sexo, raça/cor da pele, escolaridade, local de ocorrência e violência de repetição. Na análise utilizou-se estatística descritiva, frequências absolutas e relativas. As taxas de incidência foram calculadas para cada 100.000 habitantes. Para organização e análise dados foi utilizado o Microsoft Excel. O estudo utilizou dados secundários de domínio público e dispensou apreciação pelo Comitê de Ética em Pesquisa.
Resultados
Foram notificados 994.829 casos, com predominância no Sudeste (48,0%), sexo feminino (69,2%), faixas etárias de 10–19 (29,0%) e 20–29 anos (29,2%), pessoas brancas (46,1%) e pardas (37,0%). O domicílio foi o local mais frequente (82,6%) e 39,9% eram repetição. A incidência média no Brasil foi de 39,7 casos/100 mil habitantes, maior na região Sul (63,1), em mulheres (53,4), e entre jovens de 10–29 anos (até 66,5). Observou-se tendência crescente até 2019, com queda em 2020, possivelmente pela pandemia, seguida de crescimento e incidência máxima em 2023.
Conclusões/Considerações
A violência autoprovocada ocorreu sobretudo em mulheres e jovens de 10 a 29 anos, com maior incidência (risco) nas regiões Sul e Sudeste. Os achados apontam para a necessidade de políticas públicas voltadas para a saúde mental, especialmente entre adolescentes, com ações intersetoriais de prevenção, acolhimento e cuidado, além do aprimoramento dos sistemas de notificação e vigilância para maior completude e qualidade dos dados.
DIRETRIZES PARA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE NOS CASOS DE SUICÍDIO RELACIONADO AO TRABALHO NO ESTADO DE SÃO PAULO: INVESTIGAÇÃO E POSVENÇÃO
Comunicação Oral
Garbin, A.C.1, Pintor, E. A.2, Santos, S. A.3, Inamine, R. N.3
1 Faculdade de Saúde Pública/USP
2 GVS VII Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo
3 Divisão Estadual de Vigilância em Saúde do Trabalhador/CEREST Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo
Período de Realização
Início em fevereiro/2024 por demanda de um CEREST do interior de SP.
Objeto da produção
Diretrizes para investigação do suicídio relacionado ao trabalho para profissionais e gestores do Estado de São Paulo.
Objetivos
Estabelecer diretrizes para atenção integral à saúde nos casos de suicídio relacionado ao trabalho, no âmbito do Estado de São Paulo, com ênfase na promoção, na proteção, na prevenção, posvenção e na intervenção nos riscos à saúde nos ambientes e processos de trabalho.
Descrição da produção
A partir da demanda do Cerest Estadual/SP diante da suspeita de um suicídio relacionado ao trabalho e da ausência de referências foi construído um roteiro de apoio aos 41 CEREST que compõem a Rede Estadual de Atenção à Saúde do Trabalhador e Trabalhadora. Baseia-se na análise do processo de trabalho e utiliza a autópsia psicossocial com familiares e/ou colegas de trabalho. O material passou pela apreciação de especialistas e oficina de validação por profissionais de CEREST e RAS.
Resultados
Material de fácil compreensão direcionado a equipes multiprofissionais direcionado aos profissionais e gestores das redes de atenção integral à saúde do trabalhador e da atenção psicossocial e equipes da atenção básica e vigilância em saúde. Apresenta conceitos, as dimensões psicossociais de risco à saúde mental e ao suicídio; óbitos por causas externas e a relação com o trabalho, investigação epidemiológica; a posvenção e o monitoramento das empresas.
Análise crítica e impactos da produção
A investigação das causas externas e o trabalho contempla a busca ativa das informações por meio da Vigilância em Saúde do Trabalhador que deve contar com informações da empresa, dos colegas de trabalho e familiares que poderão elucidar as circunstâncias da ocorrência do suicídio e o contexto geral de trabalho. A equipe deve estabelecer qual a contribuição do trabalho no desfecho do suicídio e deve-se incorporar o reconhecimento de possíveis enlutados em sofrimento ensejando ações de posvenção.
Considerações finais
Em se tratando de empresa/estabelecimento/instituição na qual há suspeita ou comprovação de suicídio relacionado ao trabalho deve ocorrer um retorno periódico para monitoramento. Entende-se o suicídio como um evento sentinela que revela situação de risco subjacente, sendo que tem a probabilidade de se repetir no mesmo local de trabalho. A atitude de vigilância requer ações de busca ativa, intervenção e monitoramento constantes.