
Programa - Comunicação Oral - CO35.4 - Narrativas do silêncio: violência, saúde mental e invisibilidade
30 DE NOVEMBRO | DOMINGO
15:00 - 16:30
15:00 - 16:30
“ISSO PRA MIM TEM CARA DE VIOLÊNCIA”: A NARRATIVA DE MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA PARTICIPANTES DE UM CÍRCULO DE CULTURA DURANTE UMA PESQUISA DE IMPLEMENTAÇÃO.
Comunicação Oral
1 UNICAMP
2 UFRJ
Apresentação/Introdução
A violência é um fenômeno complexo, o qual nos atinge e nos atravessa todos os dias de diversas formas. Utilizar o círculo de cultura (CC) para trabalhar a temática da violência com os sujeitos marcados por ela talvez promova acolhimento, prevenção e redução de complicações provenientes dessa exposição, alicerçada nas necessidades e realidades da população.
Objetivos
Descrever a experiência de violência narrada por mulheres nos CC durante uma pesquisa de implementação de um ambulatório para cuidado às pessoas expostas a violência, pelo grupo Interfaces: Saúde Mental/Saúde Coletiva - UNICAMP.
Metodologia
foram realizados 2 ciclos de grupos de Educação Popular em Saúde, que ocorreram no período de junho a dezembro de 2021, com mulheres maiores de 18 anos, expostas à violência, residentes no distrito norte do município de Campinas/SP. Os grupos contaram com 8 encontros presenciais realizados uma vez por semana com duração de 90 minutos, com o limite de, no máximo, 10 participantes e 2 facilitadores. Os encontros foram registrados em diário de campo e analisados a partir da perspectiva hermenêutica-dialética. Uma descrição preliminar dos resultados será apresentada.
Resultados
As mulheres denunciam o uso da linguagem pautada na violência pelos seus pares e pelo Estado, que intervém sobre a população através das diferentes formas de violações e privações de direito. Políticas públicas muitas vezes ineficazes, falta de investimentos e sucateamento dos serviços, como a saúde e educação, contribuem para o aumento de casos de violência. Em meio a essas violações, o racismo é tema que permeia os diálogos, mas sobretudo a vida desses participantes em diversas formas. A exploração, opressão e a subjugação, devido à cor da pele, se faz presente nos relatos de grupo.
Conclusões/Considerações
Os círculos de cultura revelam mulheres que convivem face a face, direta ou indiretamente, com a violência rotineiramente. Nessa circunstância, o medo aparece travestido de preocupação, provocando sofrimento psíquico e modificando o livre-arbítrio e a rotina. Além disso, destacam a reprodução da violência pelo Estado, que combate a violência com violência, direta ou indiretamente, através da agressividade, de violações de direitos e vidas.
“VANESSA OU SAMARA?”: SELETIVIDADE DA VISIBILIDADE E O APAGAMENTO DE MULHERES ASSASSINADAS NAS MARGENS SOCIAIS.
Comunicação Oral
1 Programa de Pós-Graduação em Condições de Vida e Situações de Saúde na Amazônia (PPGVIDA) - Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia)
2 Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva - Universidade Federal do Acre (UFAC)
Período de Realização
A atividade foi realizada entre os meses de abril e maio de 2025.
Objeto da experiência
A violência urbana e a revitimização de mulheres socialmente excluídas.
Objetivos
Descrever a experiência desenvolvida em Rio Branco/AC voltada à análise da cobertura midiática e do tratamento institucional dado aos homicídios de mulheres em contextos de vulnerabilidade social, ocorridos entre 2021 e 2024.
Descrição da experiência
Na coleta de dados, utilizou-se o Sistema de Informação sobre Mortalidade, a imprensa online, o Ministério Público (MP) e o Tribunal de Justiça (TJ) do Acre (AC). Ao identificar reportagem relatando um assassinato, rastreavam-se outras notícias da vitimização, a fim de obter o maior número de detalhes sobre as circunstâncias da morte e histórico de vida da vítima. Em seguida, buscou-se o nome da mulher no site do TJAC e MPAC para obter dados de inquéritos e processos relacionados à vitimização.
Resultados
De 2021 a 2024, foram capturados 32 assassinatos, 11 (34,3%) eram de mulheres em situação de rua e/ou usuárias de drogas ilícitas. Contudo, na busca jurídica, não foi possível verificar processos de vitimização para 8 (72,7%) dessas mulheres em contexto de vulnerabilidade social. Um caso emblemático foi de uma vítima cujo nome apareceu com divergência nas reportagens: ora identificada como Samara, ora como Vanessa, dificultando a verificação jurídica e reforçando a invisibilidade institucional.
Aprendizado e análise crítica
Quando mulheres em situação de rua são assassinadas e suas histórias recebem atenção limitada da imprensa e de autoridades, evidencia-se uma seletividade de cuidado e uma cidadania excludente que a revitimiza. Portanto, nota-se um processo de desumanização, no qual a pobreza ou o vínculo com atividades ilícitas reduzem o valor social e institucional atribuído a essas vidas. Tal lógica expressa o funcionamento da necropolítica, que escolhe quem merece viver e quem pode morrer sem causar incômodo.
Conclusões e/ou Recomendações
Diante disso, é crucial integrar distintos setores, como o de segurança pública, saúde, assistência social e judiciário, para que os assassinatos femininos, independentemente de suas condições de vida, recebam o devido cuidado do Estado. Além disso, a interoperabilidade entre os sistemas desses setores deve ser discutida e fomentada como estratégia para ampliar a visibilidade e a resposta institucional frente a esses apagamentos pré e pós morte.
SINTOMAS DEPRESSIVOS ENTRE MULHERES COM HISTÓRICO DE VIOLÊNCIA POR PARCEIRO ÍNTIMO NO MUNICÍPIO DE VITÓRIA, ES.
Comunicação Oral
1 UFES
Apresentação/Introdução
A violência por parceiro íntimo (VPI) é uma questão de saúde pública. Os atos de violência infligidos a mulheres por parceiros íntimos é um fenômeno multifacetado, que resulta em danos físicos e psicológicos, interferindo consideravelmente na qualidade de vida das vítimas. A depressão, o transtorno do estresse pós-traumático, bem como a ansiedade são diagnósticos frequentes em vítimas de VPI.
Objetivos
Avaliar a sintomatologia depressiva entre mulheres com histórico de violência perpetrada pelo parceiro íntimo ao longo da vida e durante a pandemia de Covid-19 no município de Vitória, Espírito Santo.
Metodologia
-Estudo transversal que utilizou dados de uma pesquisa maior intitulada “Violência contra a mulher em Vitória, Espírito Santo: um estudo de base populacional” que foi realizada entre janeiro e maio de 2022. A sintomatologia depressiva foi avaliada através do instrumento Beck Depression Inventory (BDI). A violência foi avaliada mediante instrumento elaborado pela Organização Mundial da Saúde denominado World Health Organization Violence Against Women (WHO VAW STUDY), bem como foram avaliados dados sociodemográficos, comportamentais e ginecológicos das mulheres por meio de frequência absoluta, relativa e intervalos de confiança de 95%, como por testes Qui-quadrado de Pearson no Stata 17.0.
Resultados
Ao todo 519 mulheres foram vítimas de violência por parceiro íntimo ao longo da vida, dessas, há maior frequência de sintomatologia depressiva entre aquelas que pertencem ao primeiro tercil de renda (mais baixo) (53,3%), naquelas que não exercem atividade remunerada (56,0%), praticantes de atividade física (67,0%), sem infecções sexualmente transmissíveis (IST) (81,6%), não teve abortos (61,1%) e com multimorbidade (58,2%). 231 mulheres foram vítimas de VPI durante a pandemia de covid-19, a maioria relatou multimorbidade (59,%) e não apresentavam infecções sexualmente transmissíveis (IST) (81,6%).
Conclusões/Considerações
Esses achados apontam que há associação positiva da sintomatologia depressiva entre mulheres que sofreram violência perpetrada por parceiro íntimo em Vitória, Espírito Santo. Portanto, essa pesquisa evidencia a necessidade de condução de novos estudos que procurem identificar como sintomatologia depressiva se estabelece em mulheres vítimas de violência por parceiro íntimo, visto que ambos representam uma grave questão de saúde pública.
OS IMPACTOS DA VIOLÊNCIA: A NARRATIVA DE MULHERES NO CÍRCULO DE CULTURA.
Comunicação Oral
1 UNICAMP
2 UFRJ
Apresentação/Introdução
Utilizar o círculo de cultura (CC) para trabalhar a temática da violência com os sujeitos marcados por ela talvez promova acolhimento, prevenção e redução de complicações provenientes dessa exposição, alicerçada nas necessidades e realidades da população, uma vez que, cada sujeito apresentará uma forma diferente de vivenciar a violência
Objetivos
Descrever os impactos da violência narrada por mulheres nos CC durante uma pesquisa de implementação de um ambulatório para cuidado às pessoas expostas a violência, pelo grupo Interfaces: Saúde Mental/Saúde Coletiva - UNICAMP.
Metodologia
foram realizados 2 ciclos de grupos de Educação Popular em Saúde, que ocorreram no período de junho a dezembro de 2021, com mulheres maiores de 18 anos, expostas à violência, residentes no distrito norte do município de Campinas/SP. Os grupos contaram com 8 encontros presenciais realizados uma vez por semana com duração de 90 minutos, com o limite de, no máximo, 10 participantes e 2 facilitadores. Os encontros foram registrados em diário de campo e analisados a partir da perspectiva hermenêutica-dialética. Uma descrição preliminar dos resultados será apresentada.
Resultados
O CC evidenciou diversos subtipos de violência presentes no cotidiano e na história de vida destas mulheres. Tais temas impactam de diferentes formas os diversos âmbitos da vida das participantes, como maternidade, experiência de raça/cor, saúde, autoestima, confiança, filhos, trabalho, relacionamentos afetivos, futuro, direitos, justiça e sonhos. A violência de gênero atravessa todos os demais tipos de violência, como, por exemplo, a violência de Estado expressa no acesso limitado aos direitos constitucionais ou pelo sucateamento dos serviços públicos.
Conclusões/Considerações
A forma como as violências dialogam entre si modifica a própria experiência de violência das mulheres e, consequentemente, a maneira que se relacionam com esse fenômeno em seu dia a dia e os impactos em suas vidas. Relatam o episódio vivido logo de início, mas o fazem através das suas diversas camadas atingidas, das camadas impactadas a partir de um episódio violento sofrido.
CONFLITOS ENTRE MÃES E FILHOS E SUA ASSOCIAÇÃO COM A QUALIDADE DE VIDA ENTRE MULHERES RESIDENTES NO MUNICÍPIO DE VITÓRIA, ESPÍRITO SANTO.
Comunicação Oral
1 UFES
Apresentação/Introdução
A maternidade exerce papel central no desenvolvimento infantil, mas o contexto social pode impactar negativamente essa vivência. O conflito entre mãe e filho pode revelar práticas violentas que fragilizam os vínculos familiares e a saúde dos integrantes. Em contextos vulneráveis, a sobrecarga e os conflitos familiares comprometem a qualidade de vida da mulher.
Objetivos
Analisar a associação dos conflitos entre mães e filhos e a qualidade de vida entre as mulheres residentes no município de Vitória, Espírito Santo.
Metodologia
Estudo transversal que utilizou dados de uma base populacional realizada em Vitória-ES, em 2022. Neste, 418 mães com filhos de até 19 anos de idade responderam ao questionário do Parent-Child Conflict Tactics Scales, que avalia sobre violência doméstica e práticas parentais, e a qualidade de vida foi avaliada pelo questionário Short Form Health Survey por oito dimensões. Dados sociodemográficos como:faixa-etária, raça-cor, escolaridade, renda familiar per capita, situação conjugal, religião e outros, foram analisados junto ao desfecho com apresentação de média, desvio-padrão, mediana e o intervalo interquartil e bivariada por Mann-whitney, pelo programa estatístico Stata 17.0.
Resultados
Das 418 mulheres que responderam ao CTSPC, a maioria dos conflitos ocorreu entre 35 e 59 anos, entre mulheres brancas e com 8 anos ou mais de estudo. Mulheres sem casa própria relataram mais conflitos. Houve associação entre disciplina não violenta (DNV) e vitalidade (p<0,05), indicando que o uso da DNV nos conflitos com os filhos está relacionado ao aumento da mediana da vitalidade. A agressão psicológica não se associou à qualidade de vida. Já a agressão física apresentou relação com piores escores nos domínios de Aspectos Físicos (p=0,014) e Saúde Mental (p<0,05) do SF-36, sugerindo que mulheres que a praticam tendem a ter redução da qualidade de vida nessas áreas.
Conclusões/Considerações
Os dados evidenciam que utilizar de agressão física como tática de conflito, pode reduzir a os aspectos físicos e emocionais, e, usar de disciplina não violenta pode aumentar a vitalidade da qualidade de vida Isso reforça a importância de políticas públicas que promovam o apoio à parentalidade positiva e o cuidado integral à saúde mental e física das mulheres em contextos de vulnerabilidade.

Realização: