
Programa - Comunicação Oral - CO16.5 - Menstruação, contracepção e cuidados em saúde
01 DE DEZEMBRO | SEGUNDA-FEIRA
15:00 - 16:30
15:00 - 16:30
ASSOCIAÇÃO ENTRE ATITUDES EM RELAÇÃO À MENSTRUAÇÃO E AGÊNCIA PESSOAL ENTRE ADOLESCENTES MUITO JOVENS EM SÃO PAULO, BRASIL
Comunicação Oral
1 USP
2 JHSPH
Apresentação/Introdução
A menstruação é um marco do desenvolvimento puberal, mas cercada por estigmas que comprometem a saúde, autonomia e dignidade das adolescentes. Pouco se sabe sobre como a agência pessoal pode influenciar atitudes em relação à menstruação entre meninas muito jovens em contextos urbanos e vulneráveis.
Objetivos
Investigar a associação entre atitudes em relação à menstruação e a agência pessoal entre meninas de 10 a 14 anos em São Paulo, Brasil.
Metodologia
Estudo transversal que utilizou dados do Global Early Adolescent Study. Participaram 325 meninas de 10 a 14 anos que já haviam menstruado, residentes em áreas urbanas de São Paulo, Brasil, em 2021 (questionário auto-preenchido). A variável dependente foi "atitudes em relação à menstruação", construída por cinco indicadores em escala Likert (escore de 0 a 20). As variáveis independentes foram três dimensões de agência pessoal, escala construída com base em pesquisa qualitativa conduzida em 10 países: voz, poder de decisão e liberdade de movimento (escore de 0 a 4). Utilizou-se regressão linear múltipla para identificar associações, ajustando-se por idade.
Resultados
A média do escore de atitudes positivas foi 12,5 (de 5 a 19). Adolescentes mais velhas (12 a 14 anos) apresentaram atitudes mais positivas em relação à menstruação. As adolescentes tiveram maior escore na dimensão voz (média=3,1 e dp= 0,6) e poder de decisão (média=3,4 e dp=0,6) do que na dimensão liberdade de movimento (média=2,2 e dp=0,8). Embora com mais baixo escore, apenas a liberdade de movimento mostrou associação significativa com atitudes positivas, mesmo após ajuste por idade (βajustado = 0,5; IC95% 0,1 a 0,8). Voz e poder de decisão não mantiveram associação no modelo ajustado.
Conclusões/Considerações
A liberdade de movimento está positivamente associada a atitudes mais positivas sobre a menstruação entre adolescentes muito jovens. Tais atitudes contribuem para a não auto-objetificação, bom relacionamento com o próprio corpo e exercício da agência nas suas várias dimensões. Promover a agência contribui para uma transição mais saudável e igualitária para a vida adulta, além de experiências positivas no âmbito da saúde sexual e reprodutiva.
ENGAJAMENTO DE HOMENS JOVENS NA GESTÃO CONTRACEPTIVA: PERSPECTIVAS E DESAFIOS
Comunicação Oral
1 UFMG
2 USP
Apresentação/Introdução
O campo da saúde reprodutiva é marcado por desigualdades de gênero que atribuem predominantemente às mulheres a responsabilidade pela contracepção. O engajamento de homens jovens na gestão contraceptiva envolve questões estruturais, sociais e relacionais que moldam suas práticas e revelam tensões entre autonomia, corresponsabilidade e normas tradicionais de gênero.
Objetivos
Investigar o engajamento de homens jovens heterossexuais na gestão contraceptiva, analisando as dinâmicas sociais, relacionais e as normas de gênero que influenciam suas práticas e responsabilidades.
Metodologia
Analisamos as biografias de 14 homens jovens cisgêneros, heterossexuais, residentes em São Paulo (SP) e Conceição do Mato Dentro (MG), maioria autodeclarada negra. As entrevistas semiestruturadas em profundidade abordaram suas trajetórias afetivo-sexuais e contextos sociais, incluindo família, escola e trabalho. Entrevistas foram feitas presencialmente entre 2021 e 2022, com rigor ético e cuidado para garantir a proximidade entre entrevistadores e entrevistados. A análise temática combinou categorias dedutivas e indutivas. O estudo teve aprovação de comitês de ética e assegurou o anonimato dos participantes.
Resultados
O contexto relacional mostrou-se decisivo na configuração dos comportamentos contraceptivos e reprodutivos. Relacionamentos estáveis geraram discussões sobre autonomia feminina e corresponsabilização diante das falhas contraceptivas, resultando em variados níveis e formas de engajamento contraceptivo. Em muitos casos, a estabilidade afetiva facilitou o diálogo sobre o uso e a escolha dos métodos, enquanto as dinâmicas de poder e negociação dentro da relação influenciaram o compromisso com a prevenção. As decisões contraceptivas refletem a interação complexa entre tipo de vínculo afetivo e de parceria, autonomia e responsabilidade compartilhada.
Conclusões/Considerações
O material indica sutis mudanças nas relações de gênero na contracepção, coexistindo com normas tradicionais que atribuem às mulheres maior responsabilidade. Essa permanência revela a complexidade do engajamento masculino. Pouco exploradas, as representações de jovens homens ampliam a compreensão das dinâmicas reprodutivas e apontam caminhos para políticas públicas e redução das desigualdades de gênero.
O MINISTÉRIO DA SAÚDE NO BRASIL NO PERÍODO DE 2019 A 2022 E AS POLÍTICAS ANTIABORTO
Comunicação Oral
1 USP
Apresentação/Introdução
No período de 2019 a 2022 ocorreram muitos retrocessos nas políticas públicas de atenção à saúde no Brasil e, na contramão da laicidade do estado, houve crescimento da influência dos movimentos religiosos fundamentalistas com o objetivo de interferir nas ações do governo e substituir políticas orientadas por evidências científicas e de garantia dos direitos sexuais e reprodutivos.
Objetivos
Investigar como a perspectiva antiaborto permeou as diretrizes de atendimento ao aborto legal no Brasil na gestão de Jair Bolsonaro.
Metodologia
O corpus desse estudo foi composto pelos seguintes documentos: Portarias 2.282 e 2.561 de 2020 e as duas versões do Manual “Atenção técnica para prevenção, avaliação e conduta nos casos de abortamento". Esses documentos foram escolhidos porque foram objeto de muita discussão na arena pública e nos permitem analisar e discutir as ações e discursos oficiais do Ministério da Saúde neste período. Esse conjunto documental foi analisado através do método de análise discursiva desenvolvido por teóricos da psicologia social (Iñiguez-Rueda, 2004; Potter e Wetherell,1987; Spink, 2010).
Resultados
Os resultados foram organizados em três grandes temas: a) a retórica dos documentos: os documentos apresentam as evidências científicas de forma deturpada, apresentando-as de modo parcial, incompleto e distorcido; b) o aborto como crime: a criminalização do aborto é uma das principais estratégias discursivas utilizadas e visam desmontar a política de atenção humanizada ao abortamento seguro oferecido no Sistema Unico de Saúde (SUS) e transformar as ações em saúde em processos de investigação criminal; c) a objeção de consciência como estratégia para dificultar o acesso ao aborto seguro: esse tema foi tratado de forma muito limitada e criando restrições e impedimentos para a realização do aborto legal.
Conclusões/Considerações
O Ministério da Saúde rompeu com o princípio laico de políticas de saúde baseadas nas melhores evidências cientificas disponíveis e adotou um discurso antiaborto. É imprescindível que a gestão atual do Ministério da Saúde disponibilize documento norteador para a atenção ao aborto seguro a ser implementado pelos diversos serviços nos estados e municípios da nação.
PRATICAS MÉDICAS DE REDUÇÃO DE DANOS A ABORTO INSEGURO NA CIDADE DE SÃO PAULO: CONTEXTOS E BARREIRAS PARA EFETIVAÇÃO
Comunicação Oral
1 FMUSP
2
Apresentação/Introdução
O aborto inseguro é um grave problema de saúde pública no Brasil, agravado pela legislação restritiva, desigualdades sociais e estigma. Este estudo investigou práticas de médicos da APS em São Paulo que atuam na perspectiva da redução de danos, buscando compreender desafios e potencialidades dessa abordagem no cuidado à gestação imprevista.
Objetivos
Buscamos identificar médicos da APS em São Paulo que atuam com redução de danos ao aborto inseguro, para compreender suas práticas de cuidado e os desafios, lacunas e potencialidades envolvidos nessa atuação.
Metodologia
Os dados vêm de pesquisa qualitativa sobre aborto, cuidado e redução de danos. Foram realizadas oito entrevistas semiestruturadas com médicos da APS em São Paulo que acolhem gestações imprevistas. A coleta seguiu a técnica de bola de neve e utilizou roteiro com temas como motivações, práticas e entraves no cuidado. A análise seguiu abordagem hermenêutico-dialética e mobilizou categorias empíricas e analíticas relacionadas à redução de danos, medo de estigmas e barreiras institucionais. A pesquisa foi aprovada pelo CEP do HC/FMUSP (parecer nº 6.314.710).
Resultados
Médicos da APS em SP, todos com título ou residência em MFC, relatam falta de preparo sobre aborto na graduação e apontam a residência como espaço-chave para discutir gênero, sexualidade e acolhimento. Atuando com RD por compromisso ético, direitos humanos e, no caso das mulheres, identificação com o feminismo, enfrentam desafios como medo, estigma e pressão institucional para iniciar o pré-natal. Mesmo buscando garantir acesso à informação segura, a atuação ocorre muitas vezes em “clandestinidade”. A ausência de protocolos claros e a influência de contextos conservadores transformam a APS em barreira, especialmente para mulheres em situação de maior vulnerabilidade.
Conclusões/Considerações
A redução de danos ao aborto inseguro, ainda sem respaldo como política pública, tem sido adotada por médicos da APS de forma ética e comprometida. A prática é marcada por solidão, medo e estigma, e depende do contexto institucional. É urgente sua sistematização via educação permanente, protocolos claros, indicadores e investimento em comunicação e escuta qualificada nos serviços.
UM ENSAIO SOBRE AS DIMENSÕES DO TRABALHO DE CUIDADOS E SUAS IMPLICAÇÕES NA VIDA DE MULHERES MÃES TRABALHADORAS DA SAÚDE
Comunicação Oral
1 UnB
Apresentação/Introdução
Este ensaio parte de uma revisão integrativa sobre o conceito de trabalho de cuidados e sua relação com o gênero. A partir dela, propomos dimensões analíticas com foco nas mulheres mães trabalhadoras da saúde, contribuindo para uma compreensão crítica e ampliada das iniquidades presentes nesse campo.
Objetivos
Discutir as dimensões do trabalho de cuidados a partir do recorte de mulheres mães trabalhadoras da saúde, evidenciando os atravessamentos de gênero e suas implicações sociais.
Metodologia
Realizou-se uma revisão integrativa da literatura científica sobre o conceito de trabalho de cuidados relacionado à gênero, publicada entre 2019 e 2024 nas bases BVS, SciELO, Science Direct, Web of Science e Scopus. A seleção ocorreu em três etapas: leitura de títulos (n=1230), resumos (n=107) e textos completos, resultando em 45 artigos. A partir dessa análise, propuseram-se cinco dimensões do trabalho de cuidados: socioeconômica, histórica, política, emocional/relacional e cultural. Este ensaio concentra-se nas interseções dessas dimensões sob o recorte da realidade de mulheres mães trabalhadoras da saúde, considerando marcadores sociais como gênero, raça/cor, classe, etnia e deficiência.
Resultados
A elaboração das cinco dimensões permitiu analisar criticamente como o trabalho de cuidados incide na vida das mulheres mães trabalhadoras da saúde. A partir de um olhar interseccional, evidenciaram-se sobrecargas físicas e emocionais, a fragilidade de políticas públicas, invisibilidade do cuidado como trabalho e reprodução de desigualdades de gênero, raça, etnia e classe social. As dimensões propostas mostraram-se potentes para a análise das múltiplas camadas que estruturam e sustentam a desvalorização do cuidado, sobretudo quando exercido por mulheres na área da saúde, um contexto já marcado pela precarização e desvalorização do trabalho.
Conclusões/Considerações
A atribuição social do trabalho de cuidados às mulheres persiste, mesmo com sua inserção no mercado formal. Quando, além do cuidado com filhos, atuam na saúde, vivem uma dupla jornada de cuidados. Discutir as dimensões do cuidado permite evidenciar seus efeitos nas trajetórias dessas mulheres e nas formas como a sociedade organiza, distribui e valoriza o trabalho reprodutivo.

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