Programa - Comunicação Oral - CO16.4 - Gravidez, parto e parentalidades: novos e velhos desafios
30 DE NOVEMBRO | DOMINGO
15:00 - 16:30
A SEXUALIDADE NA GESTAÇÃO, PARTO E PÓS-PARTO NA PERSPECTIVA DE OBSTETRIZES E ENFERMEIRAS OBSTÉTRICAS
Comunicação Oral
Goes, A. B.1, Santana, B. S.1, Silva, M. G. A.1, Brigagão, J. I. M.1
1 USP
Apresentação/Introdução
O tema da sexualidade na gestação, parto e pós-parto ainda é pouco abordado nas ações de cuidado destinadas às pessoas que gestam, devido a preconceitos, tabus e medos que dificultam a fala dos usuários. Além disso, a falta de discussão sobre o tema na formação em saúde faz com que os profissionais não se sintam à vontade para abordá-lo.
Objetivos
Compreender as orientações oferecidas sobre sexualidade nos atendimentos e identificar, no discurso das participantes, quais orientações receberam durante a formação acadêmica sobre sexualidade na gestação, parto e puerpério.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, na qual utilizou-se como ferramenta de pesquisa as entrevistas semi-dirigidas. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da instituição e as participantes assinaram o TCLE. Participaram da pesquisa 15 profissionais de saúde, sendo 09 obstetrizes (OBS) e 06 enfermeiras obstétricas (EO) que realizam o atendimento ao pré-natal, parto e pós-parto em uma casa de parto e em equipes de parto humanizado que atuam no centro de parto normal de um hospital. As entrevistas foram gravadas, transcritas e submetidas à análise discursiva.
Resultados
Nenhuma das entrevistadas relatou dificuldade em abordar a temática da sexualidade, e afirmaram discuti-la no pré-natal, parto, alta e puerpério. As estratégias utilizadas são: a) naturalizar o tema; b) esclarecer riscos; e c) destacar a importância do autoconhecimento corporal. Quanto à retomada da vida sexual pós-parto, recomendam fazê-la quando o casal se sentir confortável e/ou após 40 dias. Enfermeiras obstétricas relataram não ter discutido o tema durante a formação acadêmica, enquanto obstetrizes tiveram vivências variadas. Todas ressaltam a importância das trocas e aprendizagens dentro da equipe.
Conclusões/Considerações
O modelo humanizado de atenção obstétrica facilita a discussão sobre sexualidade no ciclo gravídico-puerperal, pois as profissionais entendem esse período como associado à sexualidade e buscam um cuidado centrado na mulher. Assim, é fundamental incluir disciplinas específicas na formação em saúde, para romper mitos sociais e reconhecer que o corpo gravídico também é atravessado pelo desejo sexual.
DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA A REALIZAÇÃO DO PRÉ-NATAL NA RUA: EXPERIÊNCIA DO CONSULTÓRIO NA RUA DE MANAUS NO CUIDADO ÀS GESTANTES EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
Comunicação Oral
Muller, L. C.1, Neto, E. F. C.2, Lima, J. C.3, Souza, L. D.4, Monteiro, A. X.4, Borges, J. F.4, Aranha, L. A. R.4, Marrero, L.4
1 UEA/SEMSA
2 FIOCRUZ-AM/SEMSA
3 SEMSA-Manaus
4 UEA
Período de Realização
2º semestre de 2023 ao 1º semestre de 2025
Objeto da experiência
Relato das ações do Consultório na Rua (CnaR) de Manaus no cuidado pré-natal a gestantes em situação de rua e vulnerabilidade social.
Objetivos
Relatar os desafios e as estratégias desenvolvidas pela equipe do CnaR de Manaus na condução de pré-natal em mulheres em situação de rua, refletindo sobre o impacto da desigualdade social e o papel do cuidado como estratégia de garantia dos direitos fundamentais da mulher desabrigada.
Descrição da experiência
A experiência ocorreu em Manaus, com base no diagnóstico situacional realizado pela equipe de saúde do CnaR, composta por 2 médicos de família, 2 enfermeiras, 4 técnicos de enfermagem, 1 psicóloga e 1 assistente social. As dificuldades incluíram baixa adesão medicamentosa, cuidado longitudinal deficitário, pouco acesso a exames e barreiras ao planejamento reprodutivo. As ações envolveram articulação intra e intersetorial, exames na unidade móvel e abordagem centrada na pessoa.
Resultados
Entre os principais resultados, destaca-se a melhora da qualidade do pré-natal por meio do fortalecimento de vínculos com redes de apoio comunitárias, realização de exames laboratoriais na rua e articulação com maternidades para inserção de métodos contraceptivos no pós-parto imediato. A equipe conseguiu iniciar planos terapêuticos individualizados e favorecer encaminhamentos oportunos, respeitando a autonomia das mulheres e promovendo continuidade do cuidado em contextos adversos.
Aprendizado e análise crítica
A experiência evidenciou que o cuidado à gestante em situação de rua exige mais que protocolos, demanda: sensibilidade, flexibilidade e compromisso ético. As barreiras estruturais à saúde reprodutiva revelam desigualdades históricas que desumanizam e invisibilizam essas mulheres. A intersetorialidade e a abordagem centrada na pessoa mostraram-se fundamentais para garantir acesso digno e equitativo. O cuidado na rua exige reinvenção cotidiana e reconhecimento das subjetividades envolvidas.
Conclusões e/ou Recomendações
Desse modo, demonstrou-se que o pré-natal na rua é possível. As limitações do CnaR podem ser superadas pela intersetorialidade, escuta ativa e flexibilidade institucional. A garantia de políticas públicas específicas para a população em situação de rua, com enfoque na equidade de gênero, é fundamental para o fortalecimento da atenção primária à saúde e das redes de cuidado, além do incentivo à formação de equipes para o cuidado integral e ético.
PATERNIDADE E CUIDADO NO SUS: FORTALECENDO A GESTÃO E A ASSISTÊNCIA À SAÚDE DOS HOMENS EM TERRITÓRIO NACIONAL
Comunicação Oral
Lyra, J.1, Medrado, B.1, Nascimento, M.2, Cateano, P.1, Lima, M. L. C.3, Corrêa, A. C. P.4, Alvarenga, E. C.3, Oliveira, J. C. A. X.4
1 UFPE
2 FIOCRUZ/IFF
3 UFPA
4 UFMT
Período de Realização
As ações do projeto aconteceram entre 2021 e 2024
Objeto da experiência
Política Nacional de Saúde do Homem (PNAISH), com foco no Eixo Temático “Paternidade e cuidado” e na Estratégia Pré-Natal do Pai/Parceiro (EPNPP)
Objetivos
Orientar estratégias de qualificação de gestores/as e trabalhadores/as da saúde, no processo revisão/atualização de ações que visam à expansão da PNAISH, em geral, e da EPNPP, em particular, desenvolvida pela Coordenação de Saúde do Homem do Ministério da Saúde
Descrição da experiência
Este projeto envolveu uma série de Capacitações conceituais, políticas e instrumentais, de forma presencial, voltadas para gestores/a e trabalhadores/as da saúde nas 27 unidades federativas do Brasil, abrangendo cerca de 700 municípios brasileiros (com a participação de 1.743 gestores/as e trabalhadores/as da saúde)
Resultados
Nessas capacitações, foi elaborado um documento marco com diretrizes para expansão da PNAISH em território nacional e 27 Planos Estratégicos de Trabalho: instrumentos norteadores de ações locais para a implementação da PNAISH. Essa experiência também subsidiou a assessoria ao Ministério da Saúde na revisão de dois manuais: Guia do Pré-Natal do Parceiro para Profissionais de saúde e Guia de Saúde do Homem para ACS
Aprendizado e análise crítica
Essa experiência evidenciou a necessidade de maior atenção à dimensão territorial no processo de expansão da PNAISH, considerando o que preconiza o SUS, destacando além da integralidade, o princípio da equidade como fundamental para adequada implementação desta política, em território nacional. Evidenciou-se também fragilidade do debate sobre saúde do homem nas instâncias de controle social, gerando dificuldades para a implementação de ações mais estruturais relativas à PNAISH
Conclusões e/ou Recomendações
Como desdobramento desta iniciativa, em 2025 iniciamos novo projeto que visa a oferta de formação/capacitação qualificada para ativistas e representantes da sociedade civil que atuam em instâncias de controle social no âmbito do SUS (integrando movimentos sociais e intervindo na formulação, avaliação e monitoramento de políticas públicas)
PRODUÇAO DO CUIDADO EM SAÚDE PARA A POPULAÇÃO TRANSEXUAL: O SISTEMA DE SAÚDE ESTÁ PREPARADO PARA A GRAVIDEZ DO HOMEM TRANS???
Comunicação Oral
Rego, C.H.O.1, Carvalho,S.R.1, Antunes, S. V. S.1, Soares, S.F.1, Nascimento, J.L.1, Sacardo, D.1, Pena, R.S.1, Reis, R.P.1, Justino, J.1
1 UNICAMP
Período de Realização
março a novembro de 2023
Objeto da experiência
A trajetória de um gestante em diversos equipamentos do SUS, na busca por cuidado em saúde
Objetivos
Expor o despreparo do SUS para o cuidado com a gestação transexual; descrever e classificar diferentes barreiras ao acesso à saúde específicas para essa população e apontar possibilidade de qualificação a partir da educação permanente em saude.
Metodologia
Homem transexual em gravidez não planejada, sem acesso a planejamento reprodutivo, a testes diagnósticos e ao cuidado pré-natal básico. Foi induzido a buscar, tardiamente, a atenção secundária, num serviço distante, mas único possível. A internação para o parto também não foi simples e a transfobia institucional se manteve no puerpério.
Resultados
A transfobia institucional pode ser dividida em transfobia estrutural, transfobia por arranjos binários dos serviços e transfobia por desinformação. A demarcação de banheiros, exames, enfermarias como se apenas existissem dois gêneros e a falta de informação sobre o cuidado em saúde específico para essa população são tão violentas quanto o atendimento preconceituoso dado por um funcionário transfóbico. A educação permanente pode ser um potente instrumento para qualificar o cuidado.
Análise Crítica
A pessoa gestante mencionada neste trabalho enfrentou diversas situações de transfobia nas instituições de saúde por onde passou. Muitas dessas experiências poderiam ter sido evitadas com a adoção de práticas educativas que promovessem a reflexão coletiva sobre o cotidiano do trabalho. É essencial que profissionais, docentes, gestores e usuários participem ativamente desse processo, buscando qualificar o atendimento por meio da educação crítica e inclusiva.
Conclusões e/ou Recomendações
Existe uma deficiência na formação do profissional da saúde relacionada as questões de gênero. Isso afasta o transexual dos serviços de prevenção e promoção da saúde, impedindo o vínculo, atrasando diagnósticos e dificultando tratamentos. A educação permanente aparece como uma oportunidade de mudança e qualificação.
QUALIDADE DO REGISTRO PRÉ-NATAL EM CADERNETAS DE GESTANTES ADMITIDAS EM CENTROS DE PARTO NORMAL PERI-HOSPITALARES BRASILEIROS.
Comunicação Oral
Aguiar, C.A1, Leister, N.2, Conceição, M.S.2, Dias, I.P.1, Alonso, B.D.3, Bussadori, J.C.C.4, Benevenuto, L.S.5, Braga, J.O.1
1 UFTM
2 USP
3 FAM
4 UFSCAR
5 UFU
Apresentação/Introdução
A assistência obstétrica no Brasil tem se estruturado em metas e planos para a melhoria do acesso e da qualidade do cuidado. A adequação pré-natal às recomendações ministeriais poderá impactar o desfecho do parto e nascimento. Os Centros de Parto Normal Peri-hospitalares, compondo a rede de atenção, dependem da qualidade pré-natal de outros serviços para oferecerem um cuidado seguro e humanizado.
Objetivos
Avaliar, segundo as recomendações do Ministério da Saúde, a adequação dos registros pré-natais em caderneta de gestantes admitidas para o parto em Centros de Parto Normal Peri-hospitalares brasileiros.
Metodologia
Estudo transversal, descritivo e analítico, com foco na 2ª etapa da pesquisa “Nascer nas Casas de Parto do Brasil”: a análise das cadernetas das gestantes. Participam do estudo mulheres admitidas para o parto nos 8 Centros de Parto Normal Peri-hospitalares (CPNp) do país, localizados em SP, BA, DF, MG, PA, PE e RJ, que contabilizaram mais de 100 partos em 2019. Fotografias das cadernetas das gestantes obtidas na 1º etapa do estudo foram inseridas na plataforma REDCap e o tratamento das variáveis clínico-obstétricas, ocorridas entre de jan/22 a mar/25, permitiram a análise do pré-natal realizado pelas participantes. O estudo foi aprovado pelos Comitês de Ética em Pesquisa das instituições envolvidas.
Resultados
Participaram do estudo 1272 puérperas, sendo 49,2% primigestas, a maioria parda (52,1%), com ensino médio completo (57,5%), trabalhadoras remuneradas (55,8%) e idade média de 26 anos. Iniciaram o pré-natal no 1º trimestre 71,2% delas, e 92,5% passaram por ao menos 6 consultas. Quanto aos exames, os registros com adequação às recomendações do Ministério da Saúde inferior a 90% foram: EAS (80,2%), urocultura (81,9%), VDRL (85,2%) e PA em todas as consultas (83,7%). Destaca-se a inadequação do registro das orientações sobre o direito de conhecer o hospital de referência, os profissionais habilitados para o parto e plano de parto (ausentes em 84,9%, 55,3 e 52,7% das cadernetas, respectivamente).
Conclusões/Considerações
Os CPNp possuem um rigoroso protocolo de admissão para o parto. Desta forma, espera-se que mulheres lá admitidas em trabalho de parto tenham realizado um pré-natal de qualidade, conforme recomendações do Ministério da Saúde. Entretanto, observa-se que, mesmo nesta população seleta, o cuidado pré-natal recebido possui importantes lacunas, seja na realização de exames de rotina ou na instrumentalização das futuras mães sobre seus direitos.