
Programa - Comunicação Oral - CO26.2 - Saúde Mental e Trabalho no Setor Saúde
01 DE DEZEMBRO | SEGUNDA-FEIRA
15:00 - 16:30
15:00 - 16:30
ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO E TRANSTORNO DO PÂNICO EM TRABALHADORES DA SAÚDE NA BAHIA
Comunicação Oral
1 UFBA
2 UFRB
3 UEFS
Apresentação/Introdução
Os estressores psicossociais do trabalho e o assédio moral se exacerbaram no contexto da pandemia de COVID-19 no Brasil, impactando desfechos de saúde mental decorrentes desses riscos, como os transtornos ansiosos. O Brasil é o país com a maior prevalência global de ansiedade, da qual se destaca o transtorno do pânico, que afeta diferente dimensões da vida e do trabalho.
Objetivos
Dessa forma, buscou-se analisar a associação entre a exposição ao assédio moral no trabalho em saúde e transtorno do pânico em trabalhadores/as da saúde da atenção primária à saúde (APS) e média complexidade (MC) da Bahia.
Metodologia
Estudo transversal com amostra probabilística de trabalhadores da APS e MC de três municípios baianos, um de pequeno, um de médio e um de grande porte. Foi utilizado o Patient Health Questionnaire para avaliar Transtorno de Ansiedade/Transtorno do Pânico. O assédio moral foi avaliado pelo self-labelled method, com descrição da definição do fenômeno e mensuração do período em que houve exposição a essa prática. Utilizaram-se ainda outros instrumentos validados como a Escala de Desequilíbrio Esforço-Recompensa e o Job Content Questionnaire para avaliar outros fatores psicossociais. Estimaram-se razões de odds e intervalos de confiança 95% por meio da Regressão Logística múltipla.
Resultados
1.132 trabalhadores foram incluídos neste estudo. A prevalência global de transtorno do pânico foi 13,4%, enquanto a prevalência de assédio moral recorrente nos últimos 6 meses foi de 8,2%. Trabalhadores/as expostos ao assédio moral apresentaram 3,12 vezes maior chance de apresentarem o transtorno do pânico (OR = 3,12; IC95% 1,80-5,39), mesmo após ajuste para fatores de confusão sociodemográficos e ocupacionais, incluindo estressores laborais.
Conclusões/Considerações
Os achados revelam alta prevalência do desfecho, sendo 3 a 6 vezes maior do que na população geral. A magnitude do efeito do assédio no transtorno de pânico é alta, e assédio moral é fator de risco à saúde independente. Demonstra-se a necessidade urgente de intervir nos processos de trabalho do SUS, com vistas à eliminação do assédio e redução da carga de doença relacionada à ansiedade, reduzindo morbidade, incapacidade e custos sociais.
DESAFIOS DO CUIDADO NO CONTEXTO PÓS-DESASTRE: IMPLICAÇÕES PARA OS TRABALHADORES DO SERVIÇO DE SAÚDE EM BRUMADINHO/MG
Comunicação Oral
1 Fiocruz Minas - IRR
2 Fiocruz Minas - IRR / UFMG
Apresentação/Introdução
No ano de 2019, a cidade de Brumadinho/MG sediou o maior acidente de trabalho ampliado já ocorrido no Brasil. No contexto de um desastre os trabalhadores de saúde acumulam, concomitantemente, dois papéis: profissionais e sobreviventes. Esses cenários traumáticos e disruptivos revelam inúmeros desafios que atravessam a rotina de trabalho dos profissionais de saúde.
Objetivos
O objetivo do trabalho consiste em analisar os principais impactos para o trabalhador de saúde após o desastre do rompimento da barragem no município de Brumadinho/MG.
Metodologia
O estudo integra o projeto maior intitulado “O desastre de Brumadinho e os impactos nos serviços de saúde: a perspectiva de gestores e profissionais”. Trata-se de uma pesquisa exploratória com abordagem metodológica qualitativa, realizada com gestores e profissionais de saúde no município de Brumadinho/MG sendo considerados, preferencialmente, aqueles que atuavam no serviço antes do rompimento da barragem. Como técnica de coleta de dados foram realizadas 26 entrevistas individuais guiadas por roteiro semiestruturado. Os dados foram tratados a partir da técnica de análise de conteúdo na modalidade temática e a interpretação mediada pelo referencial teórico-metodológico da antropologia hermenêutica.
Resultados
Os dados revelam os gargalos éticos e as situações limites experienciadas pelos profissionais de saúde. O trabalhador foi substancialmente afetado pelo desastre, incluindo vidas pessoais impactadas por trabalhar e viver no território que sediou o evento, o manejo de situações complexas no cuidado ao paciente, pressão social frente a resolução de demandas, contexto específico da cidade que sediou demais calamidades e conjunturas que aconteceram antes, durante e após o evento. Fragilidades quanto à capacitação profissional frente a emergências em saúde e demais fatores para além da atuação no cuidado repercutem em uma contínua responsabilização e sobrecarga do trabalhador.
Conclusões/Considerações
Depreende-se da análise a necessidade de produção de conhecimento sobre a temática que considere a compreensão da saúde e seus agravos de forma ampliada e articulada à outras políticas setoriais. Para além dos protocolos formais, é necessário pensar estratégias de capacitações junto aos profissionais considerando que o sofrimento dos sobreviventes não termina após os primeiros-socorros e que os próprios trabalhadores também são vítimas do evento.
PROMOÇÃO DA SAÚDE MENTAL DAS TRABALHADORAS DO SUS: EXPERIÊNCIA EM UMA UBSF DE ARAGUARI-MG
Comunicação Oral
1 UFU
2 Secretaria Municipal de Saúde - Araguari
Período de Realização
Julho a dezembro de 2024
Objeto da experiência
Oferecer espaços de promoção da saúde mental das trabalhadoras do SUS por meio de escuta, rodas de conversa.
Objetivos
Identificar demandas de saúde mental das trabalhadoras; fortalecer vínculos, promovendo escuta ativa e práticas de autocuidado; desenvolver ações educativas e para o bem-estar no ambiente do trabalho; estimular a continuidade de ações de promoção da saúde mental nas unidades de saúde.
Descrição da experiência
A experiência foi desenvolvida pelo PET-Saúde Equidade em uma UBSF no município de Araguari-MG. Inicialmente, identificamos, por meio de escuta ativa, demandas relacionadas à saúde mental. Elaboramos um formulário online com foco em ansiedade, estresse e depressão. Como resposta às necessidades identificadas, desenvolvemos um projeto de intervenção, com quatro encontros temáticos, incluindo rodas de conversa com médico, psicólogo, terapeuta e ações como meditação, alongamento e auriculoterapia.
Resultados
A experiência criou vínculo com as trabalhadoras. A escuta ativa criou um espaço seguro para troca e partilha, contribuindo para o bem-estar das participantes. As rodas de conversa foram bem recebidas, gerando feedbacks positivos e solicitações para continuidade das ações em 2025. As ações possibilitaram impacto direto no ambiente de trabalho, com relatos de melhora na comunicação, integração da equipe e valorização do autocuidado. A experiência se mostrou aplicável e replicável em outras unidades.
Aprendizado e análise crítica
Evidenciou-se uma baixa adesão ao formulário que reforçou os limites dos instrumentos digitais e a necessidade do contato presencial como estratégia mais eficaz. A resistência inicial deu lugar ao engajamento, à partilha, evidenciando que a confiança é um dos pilares para a promoção da saúde mental nas equipes. Intervenções simples, quando construídas com escuta e corresponsabilidade, podem gerar impactos significativos na vida e no trabalho.
Conclusões e/ou Recomendações
Recomenda-se a continuidade das ações voltadas à saúde mental das trabalhadoras do SUS como estratégias permanentes de promoção de saúde nas unidades de saúde, especialmente às mulheres, que enfrentam sobrecarga física e emocional cotidianamente. Reforçamos a urgência de políticas públicas que valorizem o cuidado de quem cuida, e a importância de fortalecer ações com base no diálogo, participação e vínculo.
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA PANDEMIA DE COVID-19 E SOFRIMENTO PSÍQUICO ENTRE PROFISSIONAIS DE UM HOSPITAL MATERNO-INFANTIL DO INTERIOR DA BAHIA
Comunicação Oral
1 UFBA
Apresentação/Introdução
A pandemia da COVID-19 representou uma crise sanitária e simbólica para os profissionais da saúde, intensificando o sofrimento psíquico e desafiando os sentidos atribuídos ao trabalho hospitalar. A forma como esses sujeitos significaram a experiência pandêmica revela dimensões coletivas, identitárias e emocionais, atravessadas por vulnerabilidade, sobrecarga e resistência simbólica.
Objetivos
nvestigar representações sociais da pandemia entre profissionais de hospital materno-infantil, relacionando-as a burnout e vulnerabilidade percebida, via análise textual automatizada e estatística multidimensional.
Metodologia
Estudo de abordagem mista e caráter descritivo-analítico, com 100 profissionais de saúde (em sua maioria mulheres) de um hospital materno-infantil no interior da Bahia. A coleta ocorreu entre 2021 e 2022, com evocações livres sobre a pandemia e aplicação das escalas Maslach Burnout Inventory (MBI) e Vulnerabilidade Percebida à Doença (PVD). Utilizou-se o software IATexto para processar o corpus textual e extrair tópicos, com Análise Fatorial de Correspondência (AFC), testes qui-quadrado e redes semânticas. Identificaram-se padrões simbólicos centrais nas representações, que foram triangulados com os escores psicométricos, evidenciando relações entre discurso e sofrimento emocional.
Resultados
Os dados mostraram altos níveis de exaustão emocional e despersonalização entre profissionais cujas evocações giravam em torno de medo, sobrecarga e desorganização institucional. A baixa realização pessoal associou-se a discursos de frustração, invisibilidade e falta de apoio. Em contraste, termos como “cuidado”, “empatia”, “fé” e “vocação” relacionaram-se a maior realização e menor percepção de risco. Houve correlação significativa entre os escores de burnout e as evocações, indicando que o sofrimento psíquico está ligado aos sentidos atribuídos à pandemia. A alta vulnerabilidade percebida predominou entre os que evocaram insegurança, contágio e isolamento como experiências centrais.
Conclusões/Considerações
As representações sociais da pandemia refletem diferentes formas de vivenciar o sofrimento e o papel profissional. Elas influenciam os níveis de burnout e vulnerabilidade percebida. A análise integrada de dados psicométricos e textuais apoia diagnósticos mais sensíveis e políticas de cuidado. A valorização simbólica protege, enquanto o desamparo aumenta o risco psicossocial.
TRABALHADORES DA SAÚDE E A DIMENSÃO COLETIVA DAS ESTRATÉGIAS DE ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL EM EMERGÊNCIAS SANITÁRIAS
Comunicação Oral
1 UFBA
Apresentação/Introdução
A pandemia de Covid-19 evidenciou o impacto das emergências sanitárias sobre a saúde mental dos trabalhadores da saúde. A sobrecarga, o medo da contaminação, a exposição à morte e a precarização das condições de trabalho agravaram o sofrimento psíquico desses profissionais, principalmente os da linha de frente, em um cenário marcado por desigualdades históricas de classe, raça e gênero.
Objetivos
Analisar a dimensão coletiva das estratégias de cuidado em saúde mental dos trabalhadores da saúde, no contexto das emergências sanitárias, à luz da Psicodinâmica do Trabalho e da organização do trabalho.
Metodologia
Trata-se de um ensaio teórico e analítico, apresentado de maneira lógico-reflexiva. É fundamentado em revisão bibliográfica de estudos nacionais e internacionais. Adicionalmente, a fim de subsidiar a discussão, ocorreram verificações na literatura cinza. A análise dos dados sucedeu-se a partir de aproximações com a Psicodinâmica do Trabalho (Christophe Dejours) e teorias que analisam criticamente a organização do trabalho e a saúde mental.
Resultados
Os resultados evidenciam que os modelos organizacionais (taylorismo, fordismo, toyotismo), associados ao legado colonial brasileiro, intensificam o sofrimento mental, ao impor práticas laborais fragmentadas, precarizadas e excludentes. Sob a perspectiva Dejouriana, mecanismos de cooperação, reconhecimento, mobilização da vontade e inteligência são importantes estratégias coletivas. No contexto pandêmico, o apoio institucional, programas de prevenção e protocolos emergenciais foram implementadas, como via alternativa. A Vigilância em Saúde do Trabalhador, com foco em saúde mental, é destacada como ferramenta essencial para monitoramento e enfrentamento dos riscos psicossociais.
Conclusões/Considerações
É fundamental compreender o sofrimento mental dos trabalhadores da saúde como resultado das condições estruturais de organização do trabalho. A construção de estratégias de cuidado deve articular ações coletivas, políticas públicas intersetoriais e participação ativa dos trabalhadores na formulação e avaliação das intervenções, reforçando a necessidade de corresponsabilização entre Estado, gestores e sociedade.
ENTRE O CUIDAR E O MORRER: ANÁLISE ESPACIAL E TEMPORAL DO SUICÍDIO ENTRE TRABALHADORES/TRABALHADORAS DA SAÚDE DO BRASIL
Comunicação Oral
1 UEFS
2 UFBA
Apresentação/Introdução
O suicídio entre trabalhadores da saúde-TS reflete desafios estruturais da organização do trabalho, intensificados pela precarização das relações laborais e agravados pela crise de COVID-19. Tanto a pandemia, quanto a Reforma Trabalhista incrementaram um contexto historicamente carente, com estruturas insuficientes, baixos salários, pouca valorização e sobrecarga que causam múltiplos sofrimentos.
Objetivos
Estimar as taxas de mortalidade por suicídio entre TS estratificadas por ano, características sociodemográficas e ocupacionais; analisar variações temporais; e identificar padrões espaciais por autocorrelação e detecção de clusters de alto risco.
Metodologia
Estudo ecológico misto (temporal e espacial) com dados do SIM (suicídio) e CNES (população de TS). O desfecho foi o suicídio (X60–X84, CID-10) em TS, entre 2017-2022. As análises foram feitas por grupos ocupacionais, sexo, faixa etária, escolaridade, situação conjugal e raça/cor. Foram calculadas taxas de mortalidade e variação percentual anual (regressão Joinpoint). A análise espacial utilizou índices de Moran global/local com matriz de vizinhança contígua. As análises foram realizadas nos softwares R, QGIS, GeoDa e Excel.
Resultados
Entre 2017-22 registrou-se 2.011 suicídios entre TS no Brasil. Predominaram mulheres(51,9%), brancas(64,9%), sem companheiro(a)(65,4%), com ensino superior(54,2%), idade de 29-49 anos(54,0%). As maiores taxas(/100mil) ocorreram entre agentes de saúde pública(242,9), enfermeiros(as)(72,7) e dentistas(64,1). Aumentos percentuais mais significativos ocorreram em enfermeiros(as)(+164,3%), dentistas(+133,3%) e técnicos/auxiliares de enfermagem(+125,7%). Todas as ocupações apresentaram ponto de inflexão (breakpoint) em 2018, com tendência crescente entre 2018-22, embora não significante(β+1,41;p=0,651). Goiás registrou maior taxa(98,6), com clusters críticos em Goiânia, Anápolis e Pires do Rio.
Conclusões/Considerações
As mulheres apresentaram maior risco de mortalidade do que homens, diferindo da população geral e de outros grupos ocupacionais. Enfermagem e Odontologia apresentaram os maiores aumentos pós-2020. Identificou-se autocorrelação espacial e desigualdades regionais importantes, apontando a necessidade de ações prioritárias para a proteção de quem cuida, com atenção especial às condições de trabalho dos TS, agravadas neste período.

Realização: