
Programa - Comunicação Oral - CO12.5 - Doenças Negligenciadas e Fatores Sociais
01 DE DEZEMBRO | SEGUNDA-FEIRA
15:00 - 16:30
15:00 - 16:30
DESIGUALDADES ESPAÇO-TEMPORAIS DA MORBIMORTALIDADE DA ESQUISTOSSOMOSE NO BRASIL: SANEAMENTO E FATORES SOCIAIS ASSOCIADOS, NO PERÍODO 2001-2021.
Comunicação Oral
1 Fiocruz Minas
2 UFRN
Apresentação/Introdução
A esquistossomose é uma doença tropical negligenciada que reflete as desigualdades estruturais e a influência dos determinantes sociais da saúde no país. Entre 2001 e 2021, a morbidade caiu 95,1%, acompanhada por avanços no IDH e no saneamento. No entanto, a persistência de focos em estados específicos evidencia a necessidade de estratégias intersetoriais e territoriais no enfrentamento da doença.
Objetivos
Analisar a morbimortalidade por esquistossomose no Brasil quanto às tendências temporais e autocorrelações espaciais, identificando sub-regiões de altas taxas, e explorar associações espaciais com indicadores de saneamento e socioeconômicos.
Metodologia
Estudo ecológico com abordagem espaço-temporal e análise de fatores contextuais associados. Foram obtidos casos agudos (SINAN) e óbitos (SIM) anuais, indicadores de saneamento (SNIS) e socioeconômicos (IBGE), dos municípios brasileiros. As taxas foram descritas por medidas sumárias e análise gráfica. Tendências temporais foram analisadas via Modelos Aditivos Generalizados (Modelos GAM) usando o software R. O mapeamento foi realizado no QGIS, e análises de autocorrelação e associação espacial (Moran Global e Local univariado e bivariado) no GeoDa. A identificação de clusters espaço-temporais foi realizada através da estatística de varredura Scan, no software SatScan.
Resultados
Entre 2001-2021 ocorreu 453.768 casos agudos confirmados da doença (taxa anual de 12,9 casos/100mil hab. anuais) e 10.686 óbitos (taxa anual de 0,26 óbitos/100mil hab. anuais). Houve redução de 95,1 e 28,7% na morbimortalidade. Identificou-se municípios e regiões de alto risco de ocorrência e morte, além de sobreposição de altas taxas e condições sanitárias e econômicas desfavoráveis. Persistência em municípios endêmicos de Sergipe, Espírito Santo, Bahia, Minas Gerais, Pernambuco e Alagoas. O IDH brasileiro cresceu 13,5%, a população sem acesso à água tratada caiu 16% e à coleta de esgoto 19% no período, indicando melhora relativa, mas insuficiente para eliminar os riscos de transmissão.
Conclusões/Considerações
A esquistossomose expressa as desigualdades regionais e falhas estruturais. Embora o país tenha registrado quedas expressivas na morbimortalidade entre 2001 e 2021, a manutenção de focos em estados endêmicos reflete limitações no acesso à água tratada e coleta de esgoto. O aumento do IDH e a melhora nos indicadores sanitários foram insuficientes para eliminar a transmissão, exigindo estratégias intersetoriais contínuas e territorializadas.
IMPACTO DE FATORES SOCIOECONÔMICOS E DE SANEAMENTO NA INCIDÊNCIA DE LEPTOSPIROSE NA REGIÃO NORTE DO BRASIL (2014-2023)
Comunicação Oral
1 UEPA
2 UFPA, UEPA
3 UFPA, UEPA E CESUPA
4 UFPA
Apresentação/Introdução
A leptospirose é uma zoonose causada pela bactéria Leptospira, associada aos períodos de chuva e cheias em regiões com clima essencialmente quente e úmido. É considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma Doença Tropical Negligenciada (DTN), por estar ligada a fatores socioeconômicos e da aplicabilidade de saneamento básico e drenagem urbana em regiões de vulnerabilidade social.
Objetivos
Analisar tendências temporais da incidência de leptospirose nas UFs da Região Norte e investigar associações entre incidência, indicadores de saneamento, (% acesso à água, esgoto tratado) e socioeconômicos (IDHM, IDHM Renda).
Metodologia
Estudo ecológico temporal com dados secundários das UFs da Região Norte (2014-2023). Taxas de incidência/100.000 hab. calculadas com dados do SINAN e populacionais do IBGE; indicadores de saneamento do SNIS (% acesso à água, esgoto tratado, coleta de resíduos) e socioeconômicos (IDHM/IDHM Renda) do IBGE. Análise inferencial incluiu testes de normalidade (Shapiro-Wilk, p<0,001), correlação de Spearman (incidência vs. saneamento/IDHM), análise de tendências mediante correlação temporal e regressão linear por UF, além de séries temporais com testes de estacionariedade (ADF/KPSS) e autocorrelação (Ljung-Box). Significância estabelecida em p<0,05.
Resultados
A análise temporal evidenciou redução significativa da incidência de leptospirose em quatro estados, Acre apresentou declínio de 87% (149,0 para 19,3/100k habitantes, ρ=-0,867, p<0,001), Rondônia 89% (11,3 para 1,2/100k, ρ=-0,806, p<0,01), Amazonas 68% (2,2 para 0,7/100k, ρ=- 0,842, p<0,01) e Amapá 77% (12,0 para 2,8/100k, ρ=-0,770, p<0,01). Pará, Tocantins e Roraima mantiveram incidência estável. A correlação de Spearman revelou associações significativas entre menor incidência e melhores indicadores de saneamento: acesso à água tratada (ρ=-0,642, p<0,001), rede de esgoto (ρ=-0,529, p<0,01) e desenvolvimento socioeconômico através do IDHM (ρ=-0,447, p<0,05) e IDHM Renda (ρ=-0,393, p<0,05).
Conclusões/Considerações
O estudo demonstra redução significativa da leptospirose na Região Norte, com forte associação entre melhores indicadores de saneamento básico e menor incidência da doença. O acesso à água tratada e rede de esgoto emergiram como fatores protetivos fundamentais, confirmando a natureza socioambiental da leptospirose. Os achados subsidiam políticas públicas integradas de saneamento e saúde para o controle efetivo da doença na região amazônica.
MORBIMORTALIDADE POR SÍFILIS GESTACIONAL E CONGÊNITA EM MINAS GERAIS: ANÁLISE TEMPORAL EM PERÍODO DE 15 ANOS SEGUNDO VARIÁVEIS SOCIODEMOGRÁFICAS E IMPACTO DA PANDEMIA
Comunicação Oral
1 Instituto René Rachou (IRR) - Fiocruz Minas
Apresentação/Introdução
A Sífilis gestacional (SG) e a Sífilis congênita (SC) seguem como importantes problemas de saúde pública, influenciando diretamente a morbimortalidade materno infantil no Brasil. Variáveis sociodemográficas influenciam as taxas de forma isolada e simultânea. A pandemia de COVID-19 trouxe desafios adicionais à vigilância, prevenção e ao controle desses agravos.
Objetivos
Analisar a morbidade por SG e SC e mortalidade por SC no estado de Minas Gerais (MG) entre os anos de 2009 e 2023, segundo variáveis sociodemográficas e interseccionalidade, bem como testar a influência do período pandêmico a partir de 2020.
Metodologia
Estudo ecológico, retrospectivo e de análise temporal da morbimortalidade das SG e SC em Minas Gerais no período de 2009 a 2023. Os casos segundo ano e variáveis sociodemográficas, bem como total de nascidos vivos (NV) foram obtidos do SIM, SINAN e SINASC (DATASUS). As variáveis socioeconômicas são faixa etária, escolaridade, raça/cor da pele, classificação clínica, sexo do recém-nascido, realização de pré-natal, momento do diagnóstico e tratamento do parceiro. As taxas anuais de detecção e mortalidade foram descritas. Curvas de risco estimado foram obtidas segundo Modelos Aditivos Generalizados (GAM) e o impacto da pandemia foi analisado via Séries Temporais Interrompidas (STI).
Resultados
Entre 2009 a 2023 foram observados 44.680 casos (taxa anual: 11,9/mil NV) de SG, 21.031 casos (taxa anual: 5,6/mil NV) e 169 óbitos (taxa anual: 4,4/100 mil NV) por SC. Para SG, houve crescimento linear e contínuo, com risco positivo de incidência a partir de 2015. O mesmo foi observado para incidência de SC, no entanto, a mortalidade apresentou risco significativo a partir de 2014, com subsequente estabilidade em riscos positivos. Houve quedas pequenas durante a pandemia, mais pronunciada para SC. Mais de 50% das gestantes eram pardas, em 65,33% dos casos de SC houve diagnóstico no pré-natal e em 58,68% não houve tratamento do parceiro.
Conclusões/Considerações
Taxas de SG e SC em MG aumentaram no período, com diferenças entre as variáveis sociodemográficas. A mortalidade ficou estável nos últimos anos, porém em níveis altos. Subnotificação, menor cobertura do pré-natal e interrupção de fluxos de cuidado devem ser revistas como impacto negativo da pandemia. Vigilância qualificada, monitoramento contínuo, e políticas integradas de enfrentamento são cruciais, especialmente em contextos de crise sanitária.
O MEV EM MARCIONÍLIO SOUZA: Ô DE CASA, Ô DE FORA.
Comunicação Oral
1 Secretaria Municipal de Saúde de Marcionílio Souza
Período de Realização
17 de junho a 31 de julho de 2024
Objeto da experiência
Planejamento e operacionalização do Monitoramento das Estratégias de Vacinação (MEV) contra o Sarampo e Poliomielite, em Marcionílio Souza, 2024.
Objetivos
Operacionalizar o MEV em Marcionílio Souza em 2024.
Objetivos Específicos: Avaliar a situação vacinal de 50% das crianças menores de 5 anos para poliomielite e sarampo; Vacinar crianças menores de 5 anos não vacinadas ou com esquema incompleto; Monitorar o os resultados alcançados por ESF.
Descrição da experiência
O relato de experiência descreve o planejamento e operacionalização do MEV contra o Sarampo e Poliomielite, em Marcionílio Souza, município rural adjacente, pertencente ao Território da Chapada Diamantina. Foram desenvolvidas as seguintes etapas: apresentação do MEV ao Conselho de Saúde; treinamento da equipe de imunização para avaliação do cartão de vacinação; construção do Plano de Ação com o mapeamento do município; identificadas a amostragem de crianças na faixa etária por sala de vacina.
Resultados
Com o MEV foi possível visitar 343 casas e avaliar 366 crianças na faixa etária. A meta era avaliar 32% (168 crianças) e o município avaliou 69,84% (366). Para o MEV Poliomielite, foram identificadas 366 crianças na faixa etária, dessas 362(98,91%) estavam com esquema vacinal completo. Para o MEV Sarampo, quanto a 1ª dose 322 crianças estavam na faixa etária, dessas 298 com esquema completo (92,55%). Quanto a 2ª Dose, 284 crianças estavam na faixa etária, dessas 149 (52,46) com esquema completo.
Aprendizado e análise crítica
A aplicação do MEV contribuiu para avaliação de 69,84% das crianças de 6 meses a menores de 5 anos e recuperação de doses em atraso. Em que pese identificado baixa cobertura vacinal para a 2ª dose de sarampo, foi através do MEV que essas crianças foram identificadas e vacinadas, diminuindo a susceptibilidade para a doença. A estratégia do MEV permitiu além de avaliar a situação do município, também recuperar a 2ª dose para sarampo e diminuir a susceptibilidade do sarampo no município.
Conclusões e/ou Recomendações
A implementação do MEV casa à casa, com o chamado popular “ô de casa, ô de”, foi uma ação articulada entre APS, Imunização e Vigilância Epidemiológica, colocando em prática o Microplanejamento para Atividades de Vacinação de Alta Qualidade, com o preparo para o trabalho de campo e o envolvimento das equipes, gestão, controle social. Dessa forma, recomenda-se adoção dessa estratégia como boa experiência para avaliação da situação vacinal.
SAÚDE MENTAL E USO DE SUBSTÂNCIAS ENTRE JOVENS DE MINORIAS SEXUAIS E DE GÊNERO (JMSG): ACHADOS DO ESTUDO IMPREP CAB BRASIL
Comunicação Oral
1 INI/Fiocruz
2
Apresentação/Introdução
Aspectos de saúde mental e uso de substâncias podem afetar a adesão à profilaxia pré-exposição (PrEP) e, consequentemente, sua efetividade na prevenção do HIV, aumentando a vulnerabilidade à infecção. Estratégias de PrEP de longa duração têm mostrado alta eficácia e podem ser úteis em contextos marcados por barreiras de acesso, como estigma e discriminação nos serviços de saúde.
Objetivos
Descrever a prevalência de uso de substâncias, chemsex, sintomas depressivos e ideação suicida entre JMSG iniciando Cabotegravir injetável de longa ação (CAB-LA) para PrEP, e identificar fatores associados à depressão e ao risco de suicídio.
Metodologia
ImPrEP CAB Brasil é um estudo de implementação que avalia escolha, viabilidade, aceitabilidade e efetividade da PrEP com CAB-LA em JSGM de 18 a 30 anos, que buscaram PrEP em serviços públicos de seis cidades brasileiras (AM, BA, RJ, SC, SP) entre out/2023-set/2024. Nesta análise avaliamos resultados da visita de inclusão dos JMSG que escolheram CAB-LA. Sintomas depressivos e risco de suicídio foram avaliados com PHQ-9 (moderada/severa≥10) e C-SSRS(sim/não). O uso de substâncias foi autorreferido via ASSIST e AUDIT-C; chemsex definido como uso de substâncias antes/durante o sexo. Usou-se regressão logística multivariada para estimar aOR e IC95% para desfechos de saúde mental.
Resultados
Entre 1.200 participantes, maioria tinha 25-30 anos (62%), eram homens que fazem sexo com homens (91%), Pretos ou Pardos (61%). 76% reportou uso de álcool em binge, 28% uso de alguma substância, e 12% chemsex nos 6 meses anteriores. 5% apresentou escore ASSIST moderado/alto para cocaína e anfetamina e 3%para inalantes. 11% apresentaram depressão moderada/severa e 10% risco de suicídio. Depressão foi mais prevalente entre pessoas com menor escolaridade (aOR:2,97;IC95%:1,24–7,10;p=0,014), uso de substâncias (aOR:1,58;IC95%:1,06–2,36;0,024) e sexo transacional (aOR:1,92;IC95%:0,97-3,80;p=0,062). O risco de suicídio foi maior entre jovens de 18–20 anos (aOR:3,92;IC95%: 2,12–7,23;p<0,0001).
Conclusões/Considerações
Os achados reforçam a necessidade de integrar serviços de PrEP e saúde sexual com serviços e ações de cuidados em saúde mental. Destaca-se também o potencial de articular a prevenção combinada do HIV com estratégias de redução de danos ao uso de substancias, focando nos JMSG. Neste cenário, a PrEP de longa duração pode ser considerada como importante opção para melhorar a adesão e promover maior equidade na prevenção ao HIV.
HEPATITE A E DIVERSIDADE JOVEM: ANÁLISE DA SITUAÇÃO VACINAL DE ADOLESCENTES LGBTQIA+ NO BRASIL
Comunicação Oral
1 UFBA
2 UNEB, IGM-FIOCRUZ, UFBA
3 UFMG
4 USP
Apresentação/Introdução
A vacina contra a hepatite A foi incluída no calendário vacinal para crianças até 2 anos em 2014 e ampliada para crianças menores de cinco anos em 2017. Em 2025, em resposta às mudanças no padrão epidemiológico e ao surgimento de surtos em populações específicas, o Ministério da Saúde do Brasil emitiu uma alerta e ampliou a oferta da vacina para usuários da profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP).
Objetivos
Descrever a vacinação autorreferida contra a hepatite A e analisar fatores associados entre adolescentes das diversidades sexuais e de gênero (ADSG) no Brasil.
Metodologia
Foram utilizados dados da coorte PrEP15-19 (fase 1 – 2019-2022 e fase 2 – 2023-2025) que avalia a implementação da PrEP entre ADSG, isto é: adolescentes homens que fazem sexo com homens (HSH), pessoas trans e não binarias, em São Paulo, Belo Horizonte e Salvador. A situação vacinal contra a hepatite A foi autorreferida pelos adolescentes e investigada em cada visita. Adolescentes que não responderam ou que “não sabiam/não lembravam” foram excluídos. Estimaram-se razões de chances (OR) e intervalos de confiança de 95% (IC95%) para avaliar associações entre características demográficas e a situação vacinal.
Resultados
Foram incluídos 1.291 adolescentes que responderam sobre a situação vacinal, a maioria HSH (88,6%), com idade superior a 18 anos (71,6%) e autodeclarados pretos ou pardos (69,3%). Apenas 150/1.291 (11,6%) relataram ter sido vacinados contra a hepatite A. A escolaridade foi significativamente associada ao relato de vacinação: adolescentes com ensino fundamental tiveram 79% menos chances de relatarem vacinação (IC95%: 0,06–0,55), e aqueles com ensino médio, 47% menos chances (IC95%: 0,36–0,77), em comparação com adolescentes com ensino superior.
Conclusões/Considerações
A baixa cobertura vacinal contra hepatite A entre ADSG, especialmente entre aqueles com menor escolaridade, revela desigualdades no acesso à imunização. Reforça-se a importância de estratégias que integrem ações de imunização aos serviços de prevenção ao HIV e demais políticas públicas voltadas aos ADSG, para ampliar o acesso equitativo à vacinação.

Realização: