
Programa - Comunicação Oral - CO33.4 - Saúde Mental na rua, na arte, na vida!
30 DE NOVEMBRO | DOMINGO
15:00 - 16:30
15:00 - 16:30
SARAU (R)EXISTIMOS: ARTE, CULTURA E SAÚDE MENTAL COMO PRÁTICAS COLETIVAS DE CUIDADO EM LIBERDADE E RESISTÊNCIA ANTIMANICOMIAL
Comunicação Oral
1 Universidade Federal de Goiás - UFG
2 Faculdade Unida de Campinas - FacUnicamps
3 Prefeitura Municipal de Goiânia
Período de Realização
De 2021 até o presente momento
Objeto da experiência
Promoção de cuidado em saúde mental por meio da arte, cultura e convivência entre usuários da RAPS, estudantes e trabalhadores(as)
Objetivos
Apresentar um relato crítico do projeto Sarau (R)Existimos, destacando suas estratégias de cuidado coletivo, formação crítica, incidência antimanicomial e fortalecimento da RAPS, frente aos retrocessos nas políticas públicas e aos desafios da atuação intersetorial no território.
Descrição da experiência
O Sarau (R)Existimos é um projeto de extensão da UFG que promove ações culturais e políticas voltadas ao cuidado em saúde mental, mobilizando a RAPS, o SUAS e a comunidade. Suas atividades incluem apresentações artísticas, rodas de conversa, oficinas e ações em datas simbólicas como o 18 de maio. Com atuação em diferentes municípios goianos, busca romper com lógicas manicomiais e afirmar o cuidado em liberdade como prática coletiva, estética e política.
Resultados
Entre 2023 e 2024, o projeto mobilizou mais de 1300 pessoas, com ações em várias cidades do estado. Fortaleceu vínculos entre serviços da RAPS, equipamentos do SUAS, universidades e coletivos culturais. Valorizou a produção artística de usuários(as), formou estudantes em extensão crítica e gerou materiais que compõem um documentário sobre saúde mental e resistência. Contudo, enfrenta desafios de continuidade diante da precarização dos serviços e da desmobilização institucional.
Aprendizado e análise crítica
A experiência evidenciou que práticas artísticas e coletivas são potentes ferramentas de cuidado e resistência. Ao integrar arte, saúde e território, o Sarau tensiona modelos biomédicos, convoca a escuta e afirma os princípios da Reforma Psiquiátrica. Mostrou também os limites da atuação institucionalizada e a necessidade de estratégias sustentáveis, formação crítica e apoio intersetorial contínuo para fortalecer o cuidado em liberdade.
Conclusões e/ou Recomendações
O Sarau (R)Existimos reafirma a importância da cultura como cuidado e da universidade como espaço de resistência. Recomendamos o reconhecimento institucional de experiências similares como práticas permanentes de saúde pública e formação profissional. É urgente valorizar políticas culturais e antimanicomiais que sustentem ações territoriais, coletivas e participativas no campo da saúde mental.
ZINE SAÚDE MENTAL: CONSTRUÇÃO COLETIVA E DISCUSSÕES CENTRADAS NO TERRITÓRIO
Comunicação Oral
1 Prefeitura de Juiz de Fora
2 Escuta na Praça
Período de Realização
O projeto teve início nos últimos meses de 2023 e a produção gráfica foi finalizada em 2024.
Objeto da produção
Livreto temático em 4 edições: história local da saúde mental; determinantes sociais da saúde; medicalização da vida e estigmas; arte e cultura.
Objetivos
Os grupos envolvidos na produção (coletivo de psicólogos, liga acadêmica e equipamento público de saúde) objetivavam elaborar material técnico informativo, educativo e de qualidade, que apresentasse perspectivas de saúde mental a partir das falas e experiências de territórios, usuários e profissionais.
Descrição da produção
A cada tema escolhido, localizamos informantes chaves e lideranças comunitárias que pudessem contribuir. A partir da identificação destas, realizamos visitas aos territórios, entrevistas e caminhadas pelos bairros da cidade, como o que abriga as ruínas de um dos sete hospitais psiquiátricos que a cidade teve em funcionamento simultâneo. A condução do projeto exigiu reuniões de alinhamento e distribuição de responsabilidades, perpassando pelo planejamento, execução, pesquisa, escrita e diagramação.
Resultados
O projeto foi concluído com a elaboração de material gráfico com estética e estilo próprio, representando a cidade e a comunidade que dela faz parte. Integram a arte da revista fotos do acervo dos profissionais e usuários, que registram os movimentos sociais da cidade e suas relações com o tema da saúde mental. Apesar da previsão de impressão do livreto, apenas foi possível o lançamento na modalidade virtual. O produto final é encontrado na Biblioteca Thaís Acácio, vinculada à liga acadêmica.
Análise crítica e impactos da produção
Faz parte da concepção do projeto, não apenas a construção de material de apoio para discussões no tema na cidade, como também o registro de memórias com foco em um tema sistematicamente invisibilizado. Apesar das fragilidades das políticas de saúde, as comunidades continuam cotidianamente construindo estratégias de resistência e sobrevivência e isso precisa ser considerado na construção das agendas de cuidado em saúde.
Considerações finais
O fazer profissional no SUS está para além das rotinas institucionais, exigindo afinco e ações de transformação, assentadas no compromisso social junto aos usuários e territórios. Os coletivos que levaram à frente este projeto têm isso em comum e desejam que o material produzido possa ser extensamente utilizado nas discussões sobre a política na cidade de origem e fora dela, provocando tensões e contribuindo para a produção de mudanças.
FESTIVAL DAS EMOÇÕES: PROMOVENDO SAÚDE MENTAL E DIÁLOGO EM ESCOLAS PÚBLICAS MUNICIPAIS DE SÃO JOSÉ/SANTA CATARINA (SJ/SC)
Comunicação Oral
1 Escola de Saúde Pública do Estado de Santa Catarina
2 Prefeitura Municipal de São José, SC
3 Universidade Federal de Santa Catarina
Período de Realização
Projeto piloto aplicado em novembro de 2024 e replicado a partir de maio de 2025.
Objeto da experiência
Desenvolvimento e aplicação de ação de educação em saúde com metodologia lúdica para crianças e adolescentes da rede de ensino municipal de SJ/SC.
Objetivos
Promover ações preventivas e educativas no ambiente escolar para estimular o reconhecimento, expressão e manejo saudável das emoções em crianças e adolescentes, integrando de forma intersetorial e multiprofissional a Atenção Primária à Saúde (APS) e a rede de ensino básico de educação de SJ/SC.
Descrição da experiência
No “Festival das Emoções”, projeto multiprofissional que é realizado em escolas municipais, os alunos são divididos em equipes, cada uma responsável por uma emoção. Realizam-se rodas de conversa com enigmas sobre as emoções e produções artísticas elaboradas pelos alunos sobre a temática discutida. Ao final, as equipes compartilham suas produções com o grande grupo, que tentam adivinhar a emoção representada, resultando em uma competição com pontuações, discussões e desafios com exercício físico.
Resultados
Os resultados foram observados por meio de respostas em formulários de feedback enviados aos alunos e educadores participantes. Os alunos demonstraram engajamento e segurança para compartilhar experiências, empatia para respeitar as diferentes formas de sentir e reagir diante de suas vivências. Os educadores notaram melhora na interação entre alunos e destacaram o impacto positivo das atividades no diálogo, vínculos e na promoção de uma cultura de cuidado no ambiente escolar.
Aprendizado e análise crítica
O "Festival das Emoções" busca trazer a importância de promover a saúde mental infantil em escolas, por ser um ambiente crucial para o desenvolvimento. A integração entre a APS e a educação é um diferencial, levando o cuidado direto aos estudantes. Destacando a relevância do feedback da escola, os resultados foram baseados em formulários e na vivência no dia da intervenção: alunos engajados, seguros para expressar emoções e com melhora positiva nos diálogos, vínculos e interações.
Conclusões e/ou Recomendações
O projeto revelou-se uma estratégia de sucesso para o desenvolvimento socioemocional e promoção da saúde mental em crianças e adolescentes no ambiente escolar. Recomenda-se a expansão do projeto em mais escolas e a formação permanente dos profissionais da saúde e da educação sobre a temática. A experiência demonstra a importância da implementação de novas estratégias na promoção da saúde mental na APS, especialmente no contexto escolar.
LITERATURA E SAÚDE MENTAL: INTERFACE COM O QUARTO DE DESPEJO DE CAROLINA MARIA DE JESUS
Comunicação Oral
1 CAPij
2 UFSCar
3 UFC
4 CECAP
5 CAPSij
Período de Realização
Iniciou-se em 05/01/2025 com mães atendidas no Centro de Atendimento Psicossocial Infantil
Objeto da experiência
Implantação de um clube de literatura e sua interface com a saúde mental como objeto de reflexões críticas..
Objetivos
Conhecer os determinantes e condicionantes em saúde a partir do livro Quarto de Despejo.
Refletir sobre o racismo a partir da literatura
Metodologia
A proposta da criação de um grupo de leituras para as mães de usuários do CAPSij foi feita através de questionário disponibilizado em grupo virtual contendo 300 membros, dos quais 105 responderam e 10 participaram assiduamente aos encontros mensais, com duração de 90 minutos. A obra Quarto de Despejo foi entregue aos presentes no primeiro encontro, possibilitando a leitura e o debate nos encontros subsequentes com participação integral das mães, inclusive as que tinham dificuldades na leitura.
Resultados
A criação do clube de leitura contribuiu para o incentivo à leitura, o compartilhamento de experiências, reflexões dialógicas, fortalecimento de vínculo entre as mães e, não menos importante, refletir sobre as condições de vida ainda existentes no Brasil denunciadas desde 1950 na obra Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus. A leitura contribuiu também para descortinar a criticidade das mães acerca das condições de vida das classes sociais empobrecidas e os reflexos na saúde mental.
Análise Crítica
A leitura reverberou entre as mães na perspectiva de correlacionar as condições sociais e econômicas de Carolina e as desigualdades sociais no Brasil. Identificou-se os direitos sociais conquistados a partir de 1988 à seguridade social. Reconheceu-se a pobreza e a desigualdade social como um produto engendrado pelo capitalismo, campo fértil para o adoecimento mental. Frente a isso, a arte nas suas diversas manifestações como a leitura, é importante ser inserida nos espaços de saúde mental.
Conclusões e/ou Recomendações
O clube de leitura com as mães do CAPSij vai ao encontro de trabalhar em grupo para formação cidadã. A continuidade da experiência exitosa deve se tornar uma linha de cuidado para mães, extensiva aos demais familiares e profissionais atuantes na saúde mental, bem como ser replicada nos diversos equipamentos, fomentando o papel multifatorial das políticas públicas de saúde.
INTERVENÇÃO-PERSQUISA NO CENTRO DE CONVIVÊNVIA E CULTURA (CECCO) DE NATAL: POR UMA CLÍNICA DO INTERSTÍSCIO
Comunicação Oral
1 MINISTÉRIO DA SAÚDE/ PPG-PSI UFRN
2 PPG- PSI UFRN
Apresentação/Introdução
Essa pesquisa se desenvolve a partir da imersão da pesquisadora-trabalhadora na RAPS, analisando produções realizadas com o CECCO de Natal, dispositivo da rede de saúde potencialmente democrático e participativo. Ao interrogarmos como a arte pode desterritorializar a clínica na atenção psicossocial, investigamos o território existente entre arte, clínica e política (Lima, E., 2009).
Objetivos
Investigar o funcionamento do CECCO de Natal; ampliar estudos sobre arte-clínica e política na RAPS, a partir da noção de clínica do interstício; investir na produção de memória na RAPS de Natal; contribuir para dar visibilidade para o CECCOs.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa intervenção (L'abbate, 2012; Passos & Benevides, 2009) de viés cartográfico (Passos et al., 2009; Fonseca et al., 2012), inspirada em proposições esquizoanalíticas. Ao cartografar linhas da produção do desejo, embarcamos na produção de saúde e cultura junto com o CECCO de Natal, e nosso corpo vibrátil (Rolnik, 2006) foi sendo ativado e utilizado como bússola nas escolhas metodológicas. A noção de intervenção-pesquisa emergiu para enfatizar o lugar de pesquisadora-trabalhadora (Penido, 2020), pois, além de diários de campo, entrevistas coletivas e individuais, a imersão no campo a partir do lugar de trabalhadora-pesquisadora foi fundamental.
Resultados
No desenvolvimento da pesquisa, o conceito de clínica do interstício foi elaborado apontando para um modo de funcionamento dos CECCOs no qual habita uma outra clínica possível, coletiva e democrática, que se tece a partir das potencialidades encontradas na convivência e no encontro entre arte, clínica e política. Nesse percurso, contribuímos para a produção de memória antimanicomial e da RAPS de Natal, alavancando estratégias participativas e democráticas no serviço. Ao promover o direito à cultura entre pessoas historicamente silenciadas, anestesiadas e medicalizadas pelas lógicas manicomiais, podemos dizer que os CECCOs contribuem para a promoção de equidade no SUS e no acesso à cultura.
Conclusões/Considerações
A pesquisa apresentou pistas para fazer avançar a desinstitucionalização da loucura, podendo inspirar outros serviços da RAPS e contribuindo para a saúde coletiva no campo da saúde mental e da arte. Ao darmos visibilidade à luta por territórios de criação na RAPS, investimos na capacidade de todos, sobretudo dos ditos “loucos”, de produzirem arte e criarem caminhos potentes para superação da lógica manicomial no cuidado em saúde mental.
“A CIDADE É NOSSA”: O CUIDADO ITINERANTE COMO ESTRATÉGIA DE PROMOÇÃO DE DIREITO À CIDADE.
Comunicação Oral
1 FIOCRUZ PERNAMBUCO
2 FIOCRUZ PERNANBUCO
Período de Realização
As atividades ocorreram no período de Setembro de 2023 a Março de 2024.
Objeto da experiência
Grupos terapêuticos itinerantes com usuários de um CAPS AD de cidade do Recife/PE, como estratégia de reafirmar o direito à cidade.
Objetivos
Objetivo Geral: Analisar o cuidado extramuros como estratégia de garantia do direito à cidade para usuários do CAPS AD. Objetivos Específicos: Verificar o papel substitutivo, itinerante e de reinserção social do CAPS AD; Avaliar inclusão, sociabilidade e protagonismo do usuário via acesso à cidade.
Descrição da experiência
O projeto partiu das demandas dos usuários, familiares e profissionais do CAPS AD, num intento de ir para além da instituição, com terapêuticas alternativas ao cuidado de pessoas que fazem uso de drogas. Considerou-se a história, individualidade e acesso à cidade. A escolha dos locais tentou valorizar ambientes capazes de explorar a parte sensorial, social, cognitiva e física. As atividades ocorreram de setembro/2023 a março/2024, em 4 grupos com cerca de 20 participantes no total.
Resultados
As atividades tiveram como cenário cinemas, bibliotecas, praças e museus da cidade do Recife. Os grupos alcançaram a inclusão, se aproximando do fortalecimento do senso de autonomia e reconhecimento da cidade como espaço a se ocupar. Assim, considera-se as práticas desenvolvidas como “não apenas meio de viabilizar direitos, mas de criar e favorecer esse espaço de sociabilidade a partir da circulação nos espaços de convivência das cidades.” (AZEVEDO, 2012).
Aprendizado e análise crítica
A adoção dessa prática garante o direito à cidade e combate estigmas ligados ao uso de substâncias, em consonância com a Lei nº 10.216, ao defender o cuidado com respeito e foco na saúde, "reafirmando o caráter ampliado do cuidado, desconstruindo a ideia de hospitalização e isolamento, amparado na perspectiva de periculosidade do louco, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade" (BRASIL, 2001).
Conclusões e/ou Recomendações
Portanto, as atividades extramuros são lidas como potência no cuidado em saúde mental, a prática grupal realizada colaborou para a socialização e empoderamento dos usuários e inclusão comunitária. Além disso, foi possível romper com o cotidiano, ao mesmo tempo, instiga a equipe do serviço a pensar em práticas que abracem as alternativas inscritas no território e reitera o usuário do transtorno mental como cidadão de direitos.

Realização: