
Programa - Comunicação Oral - CO33.2 - Práticas e experiencia na política de alcool e drogas
01 DE DEZEMBRO | SEGUNDA-FEIRA
15:00 - 16:30
15:00 - 16:30
USO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA PELA INDÚSTRIA DO TABACO PARA ASSOCIAR-SE À AGENDA 2030 NO BRASIL
Comunicação Oral
1 CETAB/Fiocruz
Apresentação/Introdução
A Agenda 2030 propõe ações integradas para o desenvolvimento sustentável, incluindo o controle do tabaco. No entanto, a indústria do tabaco utiliza estratégias de Responsabilidade Social Corporativa (RSC) para se vincular positivamente à agenda, buscando legitimar sua atuação perante a sociedade.
Objetivos
Analisar como a indústria do tabaco, por meio de ações de RSC, busca se associar à Agenda 2030 no Brasil e construir uma imagem de responsabilidade social, mesmo sendo reconhecida por impactos negativos à saúde pública e ao meio ambiente.
Metodologia
Análise documental de fontes acadêmicas, institucionais e da mídia tradicional e digital sobre RSC e a Agenda 2030 no contexto da indústria do tabaco no Brasil. Foram utilizadas palavras-chave em português e inglês, com recorte temporal de 2012 a 2021, examinando estratégias corporativas, programas sociais, ambientais e parcerias institucionais.
Resultados
Foram identificadas três estratégias principais: (1) ações empresariais internas para demonstrar sustentabilidade; (2) criação de programas sociais vinculados aos ODS; (3) associação a projetos e instituições com reconhecimento na agenda ambiental e de desenvolvimento. As evidências apontam que essas ações visam criar uma imagem positiva sem alterar as práticas nocivas da indústria.
Conclusões/Considerações
A apropriação da Agenda 2030 pela indústria do tabaco revela um uso instrumental da sustentabilidade como estratégia de marketing. Suas ações de RSC não mitigam os danos causados, mas buscam neutralizar críticas e influenciar políticas públicas, configurando interferência corporativa na saúde coletiva.
TENDÊNCIAS DA MORTALIDADE PLENAMENTE ATRIBUÍVEL AO USO DO ÁLCOOL NO BRASIL E MACRORREGIÕES, 2011 A 2023
Comunicação Oral
1 Universidade de Brasília
2 Ministério da Saúde
Apresentação/Introdução
O uso abusivo de álcool é uma das principais causas evitáveis de morte no Brasil e no mundo. Apesar de seu impacto na saúde pública, análises atualizadas sobre a mortalidade plenamente atribuível ao álcool ainda são limitadas. Monitorar essas tendências é essencial para subsidiar políticas públicas de prevenção e cuidado mais eficazes e territorializadas.
Objetivos
Analisar as tendências temporais da mortalidade plenamente atribuível ao uso do álcool no Brasil e nas macrorregiões de 2011 a 2023, visando identificar variações regionais ao longo do tempo e contribuir para o aprimoramento da vigilância em saúde.
Metodologia
Estudo ecológico de série temporal com dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM). Consideraram-se óbitos plenamente atribuíveis ao álcool, segundo códigos CID definidos na Nota Técnica nº 44/2022 da SVSA/MS. A extração foi feita no Tabwin, com arquivo de definição específico. Taxas padronizadas por 100 mil habitantes, usando populações de 2010 e 2022. A tendência foi analisada no Joinpoint, estimando APC, AAPC, IC 95% e p<0,05.
Resultados
No Brasil, a mortalidade associada ao álcool manteve-se estável até 2018, apresentou aumento significativo entre 2019 e 2021 e recuou nos anos seguintes. As regiões Norte e Nordeste evidenciaram tendência de crescimento ao longo de todo o período analisado, enquanto o Sudeste demonstrou queda significativa. Sul e Centro-Oeste apresentaram estabilidade. As inflexões observadas coincidem com o período da pandemia de COVID-19, indicando possível relação entre o contexto sanitário e mudanças recentes no perfil da mortalidade por álcool. O Centro-Oeste concentrou as taxas mais elevadas da série.
Conclusões/Considerações
As desigualdades regionais observadas podem estar associadas a diferenças na assistência e a fatores socioeconômicos. Regiões com piores indicadores podem ter maior exposição a riscos e menor acesso a serviços e informações sobre prevenção e redução de danos. O aumento das taxas no período pandêmico sugere influência do contexto social, apontando para a importância de políticas intersetoriais, territorializadas e vigilância qualificada.
AMBIGUIDADES DO CUIDAR: EXPERIÊNCIAS DE CUIDADO VIVIDAS POR FAMÍLIAS DE ALCOOLISTAS SOB A PERSPECTIVA FENOMENOLÓGICA
Comunicação Oral
1 UESB
Apresentação/Introdução
Este estudo apresenta resultados preliminares de uma pesquisa para uma tese de doutorado com enfoque no cuidado de famílias a pessoas com alcoolismo crônico. Diante desse contexto, reflete-se que o cuidado em liberdade na saúde mental desafia as famílias a enfrentarem situações complexas e conflituosas, uma vez que, cuidar de um familiar alcoolista envolve ambiguidades e vivências intensas
Objetivos
Compreender, a partir da fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty, a percepção de famílias de alcoolistas sobre o cuidado em liberdade no contexto da saúde mental.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa fenomenológica, fundamentada na filosofia de Maurice Merleau-Ponty. As descrições vivenciais foram produzidas por meio da realização de quatro Rodas de Terapia Comunitária Integrativa do tipo temática. Participaram 18 familiares de pessoas alcoolistas, acompanhadas por uma Unidade de Saúde da Família situada em um município do interior baiano, entre os meses de setembro e dezembro de 2024. Os relatos foram analisados utilizando a Técnica da Analítica da Ambiguidade. O estudo atendeu às prerrogativas exigidas para pesquisas com seres humanos, sendo aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia sob Parecer nº 6.824.229.
Resultados
As rodas de Terapia Comunitária Integrativa proporcionaram a criação de um espaço de escuta, troca e expressão das vivências familiares. Assim, foi possível compreender os sentidos atribuídos à experiência do cuidar, valorizando a subjetividade das percepções desses familiares. De forma espontânea, as famílias revelaram sentimentos ambíguos como amor e exaustão, esperança e frustração. O cuidado diário se apresentou marcado por sobrecarga emocional, medo e conflitos. As rodas permitiram a identificação de vínculos solidários, mas também de isolamento e sofrimento. A escuta compartilhada revelou o quanto o cuidado em liberdade requer suporte emocional e social contínuo.
Conclusões/Considerações
A convivência com o alcoolismo crônico fragiliza os vínculos familiares e gera sentimentos ambíguos. A compreensão das vivências revela a complexidade dessas relações e reforça a importância de estratégias de cuidado sensíveis, voltadas à realidade das famílias. Destaca-se a necessidade de novas pesquisas que abordem o cuidado em saúde mental no contexto familiar marcado pelo sofrimento
CUIDADO EM SAÚDE COM PESSOAS TRANS USUÁRIAS DE DROGAS: REFLEXÕES A PARTIR DE UMA EXPERIÊNCIA ETNOGRÁFICA NO SUS
Comunicação Oral
1 Universidade Federal de São Paulo
Apresentação/Introdução
Travestis e transexuais enfrentam barreiras significativas no acesso à saúde pública, marcadas por transfobia, racismo e desigualdade social (Mello, 2011). Transgeneridade refere-se a vivências de gênero que rompem com as normas impostas ao sexo atribuído no nascimento, como no caso de travestis, pessoas trans e não binárias (Silva et al., 2022)
Objetivos
Analisar práticas inovadoras de cuidado voltadas a pessoas trans usuárias de substâncias psicoativas no Ambulatório Diversidades, localizado em São Paulo, buscando compreender os desafios e estratégias adotadas no atendimento.
Metodologia
Com base etnográfica, o estudo foi conduzido no Ambulatório Diversidades (IPER/HCFMUSP) entre fevereiro/2024 e janeiro/2025. A coleta de dados envolveu observação participante e 14 entrevistas: abertas com usuários e semiestruturadas com profissionais. O foco recaiu sobre travestis, mulheres e homens transexuais, por amostragem de conveniência. O projeto foi aprovado pelos Comitês de Ética da UNIFESP (6.611.146) e do IPER (6.690.731).
Resultados
O Ambulatório conta com psicólogos, assistente social, fonoaudióloga e psiquiatras. A fonoaudiologia trabalha a adequação vocal. O grupo “Transformar” aborda temas como uso de drogas, transfobia, violência, relações familiares, afetivas e projetos de vida. Crack e álcool são as substâncias mais comuns, associadas à situação de rua e vulnerabilidade social. A interseccionalidade (Crenshaw, 2002) é central para compreender essas opressões. Há ausência de apoio familiar, e o ambulatório orienta sobre riscos da hormonização sem supervisão.
Conclusões/Considerações
A baixa presença de pessoas negras revela desigualdade no acesso. Falhas no uso de nomes sociais por funcionários terceirizados indicam necessidade de educação continuada. Profissionais relatam lacunas na formação sobre questões trans. É essencial considerar os fatores sociais e econômicos que sustentam a exclusão e a vulnerabilidade dessa população.
ENTRE SENTIDOS E PRÁTICAS: REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL SEGUNDO USUÁRIOS E PROFISSIONAIS DE UM CAPS AD
Comunicação Oral
1 Instituto Israelita de Responsabilidade Social Albert Einstein
Período de Realização
Março de 2024 a maio de 2025.
Objeto da experiência
Análise dos sentidos atribuídos ao conceito de reabilitação psicossocial por usuários e profissionais de um CAPS AD.
Objetivos
Compreender como o conceito de reabilitação psicossocial é interpretado por usuários e profissionais de um CAPS AD e refletir sobre os impactos desses sentidos na condução do cuidado neste serviço.
Metodologia
A iniciativa surgiu de um processo de educação permanente promovido pelo Núcleo Local de Pesquisa e Melhores Práticas. Foram realizadas oficinas com a equipe e com os usuários, em reunião geral e assembleia respectivamente, nas quais os participantes foram convidados a fazer uma associação de palavras ao conceito “Reabilitação Psicossocial”. As respostas foram analisadas coletivamente, sem categorias pré-definidas, utilizando a técnica de Análise de Conteúdo, conforme Bardin.
Resultados
Foram identificadas convergências entre usuários e profissionais em temas como rede social e cuidado, mas também diferenças significativas. Usuários valorizam aspectos relacionais, cotidianos e ligados à autonomia; profissionais também deram destaque à palavra “autonomia”, mas recorrem com frequência a termos técnico-normativos. A análise revelou que, embora haja alinhamentos pontuais, os sentidos atribuídos à reabilitação psicossocial nem sempre são compartilhados entre os sujeitos do cuidado.
Análise Crítica
Observou-se que a reabilitação psicossocial, embora central na política pública, é interpretada de formas diversas, por vezes contraditórias. A ideia de reinserção associada à adequação a modelos normativos ainda atravessa práticas. O processo coletivo de análise revelou a necessidade de aproximar o cuidado ao norte ético/clínico/político da Redução de Danos, reposicionando a autonomia como eixo estruturante, reconhecendo múltiplos modos de existir e produzir vida fora de padrões instituídos.
Conclusões e/ou Recomendações
É necessário tensionar concepções de reabilitação psicossocial que associam cuidado ao retorno a padrões de normalidade. A escuta dos sentidos atribuídos pelos usuários mostra que a reabilitação deve ampliar possibilidades de vida, não restringi-las. Recomenda-se o fortalecimento de espaços de construção coletiva e educação permanente como ferramentas para sustentar práticas mais implicadas com a potência e singularidade dos sujeitos.

Realização: