
Programa - Comunicação Oral - CO2.3 - Insegurança alimentar em diferentes contextos
30 DE NOVEMBRO | DOMINGO
15:00 - 16:30
15:00 - 16:30
DESIGUALDADES NA JORNADA DE TRABALHO E INSEGURANÇA ALIMENTAR NOS DOMICÍLIOS BRASILEIROS
Comunicação Oral
1 FSP/USP
Apresentação/Introdução
No Brasil, a distribuição de trabalhos formais com jornadas superiores a 40 horas semanais é bastante desigual, concentrando-se entre indivíduos de menor escolaridade e com atividades laborais repetitivas, serviços domésticos e no meio rural. Esses empregos se caracterizam, dentre outros fatores, pela baixa remuneração, comprometendo o acesso à alimentação adequada e saudável.
Objetivos
Descrever a prevalência de escalas de trabalho superiores à 40 horas semanais segundo perfil sociodemográfico e verificar sua associação com a situação de segurança alimentar nos domicílios brasileiros.
Metodologia
Utilizou-se dados da POF 2017/2018. A jornada de trabalho semanal do indivíduo de referência do domicílio foi classificada em: <40h, >40h (ocupação principal) e >40h (soma de múltiplos empregos). A insegurança alimentar foi avaliada pela EBIA e dicotomizada em segurança e insegurança (leve, moderada e grave). Utilizou-se modelo de regressão logística para estimar a associação entre jornada de trabalho e insegurança alimentar, ajustando por variáveis sociodemográficas (sexo, idade, cor, escolaridade, tipo de ocupação, carteira assinada, composição e renda familiar per capita, macrorregião de residência e situação domiciliar).
Resultados
Jornadas de trabalho superiores a 40h semanais e a renda familiar per capita apresentaram distribuição desigual por sexo e cor. Entre homens brancos, jornadas >40h se associaram a maior renda per capita, enquanto entre mulheres e pessoas negras, observaram-se menores rendas. Modelos ajustados indicaram que domicílios cujo pessoa de referência têm jornadas de trabalho >40h na ocupação principal tem 11% mais chances de estar em situação de insegurança alimentar (OR 1,11; IC95% 1,00–1,23), aumentando para 38% no caso de múltiplos empregos (OR 1,38; IC95% 1,04–1,84).
Conclusões/Considerações
Pretos/pardos, em específico as mulheres se concentraram em escalas de trabalho excessivas e nos menores estratos de renda domiciliar per capita. Jornadas de trabalho mais extensas (tanto na ocupação principal quanto pelo acúmulo de trabalhos) se associaram à maior chance de insegurança alimentar nos domicílios brasileiros. Esses achados evidenciam profundas desigualdades sociais nas condições laborais e de acesso à alimentação no país.
INSEGURANÇA ALIMENTAR E ESTRESSE EM UNIVERSITÁRIOS: EVIDÊNCIAS DO ESTUDO BRAZUCA COVID PARA AS POLÍTICAS DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL.
Comunicação Oral
1 UFRN
2 UFAC
3 UFSC
4 USP
Apresentação/Introdução
A Insegurança Alimentar (IA) é um problema crescente entre universitários brasileiros, resultado de diversos fatores, como dificuldade financeira, falta de acesso a alimentos de qualidade e consumo elevado de alimentos ultraprocessados. A IA, junto a pressão acadêmica e a rotina exaustiva podem contribuir para prejuízos à saúde, como aumento dos níveis de estresse.
Objetivos
Analisar a insegurança alimentar de jovens universitários brasileiros e a associação com nível de estresse.
Metodologia
Trata-se de estudo analítico transversal, parte do projeto multicêntrico Brazuca Covid. A coleta de dados foi feita por meio de formulário eletrônico, entre maio e dezembro de 2023. Participaram do estudo estudantes universitários regularmente matriculados em instituições públicas da região norte, nordeste, sul e sudeste do Brasil. Os participantes responderam a um questionário sociodemográfico, a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA) e a Escala do Estresse Percebido (EEP). Para análise dos dados, foi realizado teste de qui-quadrado para determinar associação entre as variáveis, sendo considerada associação significativa quando valor de p<0,05.
Resultados
Participaram do estudo 2525 estudantes, com idade média de 27,3 (DP 10,3) anos. Desses, 64,2% estavam em segurança alimentar, 19,8% em insegurança leve, 8,5% em insegurança moderada e 7,5% em insegurança grave. Os níveis de estresse foram classificados em leve (10,9%), moderado (19,5%) e elevado (69,5%). A insegurança alimentar esteve associada ao estresse (p<0,001) entre os estudantes avaliados. Dos participantes que auto relataram estresse elevado, 35,8% estão em algum nível de IA, sendo 7,5% em IA grave, 8,5% em IA moderada e 19,8% em IA leve (p< 0,001).
Conclusões/Considerações
Os resultados do estudo reforçam a necessidade de ações integradas nas universidades que promovam a segurança alimentar e o suporte psicossocial aos discentes, por meio de políticas assistenciais estudantis que garantam acesso tanto a uma alimentação adequada como condições de estudo melhores. Tais medidas são essenciais para diminuir os impactos negativos sobre a saúde e o desempenho acadêmico, além de reduzir a evasão universitária.
LEITURA TERRITORIALIZADA DA (IN)SEGURANÇA ALIMENTAR EM BELO HORIZONTE, MG
Comunicação Oral
1 UFMG
Apresentação/Introdução
A circulação, o acesso e a regulação do alimento nas cidades refletem desigualdades históricas e a segregação territorial que marca o espaço urbano. Apesar dos avanços na caracterização de ambientes alimentares, ainda é limitada a atenção às mediações territoriais — materiais e simbólicas — que influenciam o acesso ao alimento, permeado por disputas, barreiras e sentidos atribuídos ao território.
Objetivos
Compreender como as dinâmicas e contradições territoriais urbanas influenciam o acesso à Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) em Belo Horizonte, MG, a partir das percepções e reflexões de diversos informantes-chave da cidade acerca desta temática.
Metodologia
Esta pesquisa qualitativa integra o projeto internacional Change Stories-UFMG/OSUBH e baseia-se em 36 entrevistas semiestruturadas realizadas entre 2024 e 2025 com informantes-chave provenientes da gestão pública, movimentos sociais, sociedade civil e pesquisa. As entrevistas foram transcritas e codificadas com o auxílio do software Atlas.TI. Para este estudo, foram analisados 179 trechos associados ao código “território”, por meio da Análise Temática Reflexiva (ATR). A partir da familiarização com os dados, codificação e interpretação reflexiva crítica, construíram-se seis temas analíticos que revelam sentidos compartilhados e tensões na relação entre território e SAN.
Resultados
Os temas construídos foram: (1) Conflitos e disputas territoriais em torno da alimentação, evidenciando o tensionamento de diferentes territorialidades da alimentação; (2) Direito à cidade e SAN, reconhecendo a alimentação como mediadora da circulação e do acesso à cidade; (3) Invisibilidades no acesso à SAN, especialmente entre populações vulnerabilizadas; (4) (Des)articulação das políticas públicas, apontando para falhas na integração intersetorial; (5) Regionalização metropolitana e SAN, discutindo os limites da escala municipal para o enfrentamento da insegurança alimentar; e (6) Territorialidades alimentares insurgentes, que expressam tradições, resistências e inovações locais.
Conclusões/Considerações
Os resultados indicam que o acesso à SAN em BH está marcado por desigualdades territoriais, disputas e práticas de resistência. Os temas identificados revelam a importância de políticas públicas de SAN que considerem os territórios em sua complexidade e dialoguem horizontalmente com os atores sociais que vêm construindo alternativas e apontando caminhos para abordagens mais integradas e territorializadas da SAN.
LIMITES DAS POLÍTICAS INSTITUCIONAIS DE PERMANÊNCIA FRENTE À INSEGURANÇA ALIMENTAR EM UMA MORADIA ESTUDANTIL UNIVERSITÁRIA
Comunicação Oral
1 UFMG
2 UFLA
Apresentação/Introdução
Apesar dos avanços nas políticas públicas de assistência estudantil, a insegurança alimentar (IA) persiste como desafio nos espaços universitários, afetando especialmente estudantes vulneráveis. Este estudo analisa os limites das políticas institucionais de acesso à alimentação e de permanência acadêmica, na efetivação do direito à alimentação adequada, no ambiente de uma universidade pública.
Objetivos
Investigar percepções e experiências de estudantes em vulnerabilidade socioeconômica, da moradia estudantil, sobre a insegurança alimentar, avaliando a efetividade das políticas de acesso à alimentação e permanência acadêmica.
Metodologia
Trata-se de um estudo qualitativo, exploratório e descritivo, realizado em uma universidade federal do sul de Minas Gerais. Foram utilizadas três estratégias de coleta de dados: a) Entrevista semiestruturada com o Pró-reitor responsável pela Assistência Estudantil da universidade; b) Questionário com base na Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA) e no Índice de Vulnerabilidade Social (IVS); c) Grupos focais com estudantes residentes, além de análise documental das políticas institucionais. Os dados foram tratados por Análise de Conteúdo Temática, com apoio do software NVivo. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e os resultados foram devolvidos aos discentes participantes.
Resultados
A pesquisa evidenciou IA entre todos os estudantes, mesmo com acesso ao Restaurante Universitário (RU) e à Bolsa. As políticas institucionais mostraram-se insuficientes para garantir uma alimentação plena e adequada aos estudantes. Relatos indicam falhas nos horários e capacidade do RU, questionamentos sobre a qualidade e continuidade dos serviços de alimentação, além da limitação dos valores das bolsas. Estratégias como pular refeições ou depender de doações são comuns, somadas a sentimentos de humilhação, sobrecarga e desamparo, que levam a percepção da assistência estudantil mais como favor do que como direito, denunciando o abismo entre o discurso institucional e a experiência concreta.
Conclusões/Considerações
As políticas institucionais de acesso à alimentação são essenciais, mas ainda operam de forma paliativa diante da complexidade da IA entre estudantes. A fome dentro da universidade denuncia a fragilidade do pacto institucional com o direito à alimentação. O estudo reafirma a necessidade de inclusão dos estudantes nos processos decisórios e nas ações políticas que valorizem a alimentação como condição de permanência plena.
MITIGAÇÃO À INSEGURANÇA ALIMENTAR EM EMERGÊNCIAS DE SAÚDE PÚBLICA: PARA UMA ANÁLISE COMPARADA DE COZINHAS COLETIVAS EM SÃO PAULO E TORONTO DURANTE A COVID-19
Comunicação Oral
1 FSP-USP
2 FSP/IRI-USP
3 University of Toronto
Apresentação/Introdução
A pesquisa analisa o papel de cozinhas coletivas na mitigação da insegurança alimentar em emergências de saúde pública, com estudos de caso em São Paulo e Toronto. Com destaque para o Quebrada Alimentada (SP) e a 5N2 (Toronto), a pesquisa conta com uma parceria internacional, com estádio de pesquisa de 4 meses na Universidade de Toronto, para refletir sobre soberania e justiça alimentar.
Objetivos
Analisar a atuação de cozinhas coletivas na mitigação da insegurança alimentar em emergências de saúde pública, a partir de estudos comparados entre São Paulo e Toronto, com foco nas experiências da pandemia de covid-19.
Metodologia
A pesquisa utilizou entrevistas semiestruturadas e observação participante para realizar uma análise comparada de duas cozinhas coletivas: Quebrada Alimentada (São Paulo) e 5N2 (Toronto). As categorias analíticas foram definidas a partir de análise documental, e a amostragem foi orientada pelo método bola de neve. A participação voluntária nas atividades da 5N2 possibilitou uma compreensão aprofundada das dinâmicas internas, estratégias e desafios enfrentados pela iniciativa. O estudo foi conduzido com orientação de uma equipe interdisciplinar do Brasil e do Canadá, por meio de reuniões periódicas e inserção em redes internacionais.
Resultados
A análise comparada de Quebrada Alimentada e 5N2 revelou diferentes estratégias no enfrentamento da insegurança alimentar. O Quebrada Alimentada atua com base territorial e promove acolhimento em saúde e engajamento local. Já a 5N2 apresenta maior institucionalização, com distribuição de alimentos em maior escala. Ambas destacam a ausência de políticas públicas efetivas e a importância da mobilização social. A pesquisa revela caminhos complementares para garantir segurança alimentar e fortalecer redes comunitárias. A pesquisa reforça o papel essencial das cozinhas coletivas como estratégias de soberania alimentar, inclusão social e resposta a crises sanitárias.
Conclusões/Considerações
As cozinhas coletivas são estratégias eficazes na resposta à insegurança alimentar, especialmente em contextos de crise. A análise entre Quebrada Alimentada e 5N2 evidencia que diferentes modelos podem coexistir e se complementar. As experiências analisadas reforçam a importância de políticas públicas que dialoguem com práticas territoriais, valorizem o protagonismo popular e reconheçam a alimentação como direito e instrumento de justiça social.
MORTES PREMATURAS POR DOENÇAS CRÔNICAS ATRIBUÍVEIS À INSEGURANÇA ALIMENTAR NO BRASIL
Comunicação Oral
1 IMSHC/UERJ
Apresentação/Introdução
A insegurança alimentar (IA) é reconhecida por afetar a diversidade, a quantidade e a qualidade dos alimentos ingeridos. O efeito da IA no consumo de alimentos saudáveis e não saudáveis tem sido objeto de investigação em diversos estudos. No entanto, o impacto da IA, via alimentação, no aumento da mortalidade por DCNT é desconhecido.
Objetivos
Estimar o número de mortes prematuras por DCNT atribuíveis a fatores de risco dietéticos em domicílios com insegurança alimentar.
Metodologia
Dados da POF 17-18 IBGE foram usados para estimar diferenças de consumo entre indivíduos com e sem IA de vegetais, frutas, cereais integrais, fibras e carne vermelha. Para considerar o tempo entre exposição-efeito, as diferenças de 17-18 foram aplicadas aos dados de consumo da POF 08-09, definindo dois cenários: baseline (consumo observado) e contrafactual (consumo que seria observado na ausência de IA). Estimou-se as frações atribuíveis na população (FAP) pela avaliação comparativa de risco, correspondendo ao número de mortes por DCNT ocorridas em 2019 atribuídas à insegurança alimentar 10 anos antes. Dados de mortalidade e riscos relativos obtidos do estudo Carga Global de Doenças (2019).
Resultados
O total de mortes prematuras por doença isquêmica do coração (DIC), acidente vascular cerebral (AVC) e diabetes mellitus tipo 2 (DM2) atribuíveis ao consumo inadequado de frutas na população que permaneceu em insegurança alimentar de 2009 até 2018 no Brasil foi de 2.199, 1.897 e 613, respectivamente. O menor consumo de vegetais entre os IA foi responsável por 3.365 mortes prematuras por DIC e 1.845 por AVC. Os cereais integrais atribuíram um total de 1.188 mortes prematuras por DIC. O menor consumo de fibras foi responsável 729 mortes prematuras por DM2 e 6.050 por DIC. Já o menor consumo de carnes vermelhas entre IA pode ter evitado entre 5.241 e 315 mortes por DM2 e DIC, respectivamente.
Conclusões/Considerações
A transição da IA para SAN poderia evitar número substancial de mortes em função do maior consumo de alimentos protetores à saúde. Porém, esta transição também levaria ao aumento de alimentos relacionados ao risco de DCNT (em particular, carnes vermelhas), o que aumentaria o risco de morte nesta população. Estratégias para diminuir a mortalidade prematura por DCNT devem estar integrados às de combate à insegurança alimentar no país.

Realização: