Programa - Comunicação Oral - CO2.1 - Produtos alimentícios ultraprocessados e Doenças Crônicas Não Transmissíveis
30 DE NOVEMBRO | DOMINGO
15:00 - 16:30
CONSUMO DE ALIMENTOS ULTRAPROCESSADOS E O DESGASTE BIOLÓGICO EM ADULTOS DO ELSA-BRASIL
Comunicação Oral
MACHADO, A. V.1, GIATTI, L.1, COELHO, C. G.1, BARRETO, S. M.1
1 UFMG
Apresentação/Introdução
A idade biológica, estimada pela combinação de ampla gama de biomarcadores, pretende indicar o real estado do organismo em envelhecimento, para além da sua idade cronológica. Evidências apontam que o consumo de alimentos ultraprocessados pode acelerar o envelhecimento biológico, mas o tema ainda é pouco explorado na literatura, principalmente no Brasil.
Objetivos
Investigar a associação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e o desgaste biológico em adultos brasileiros.
Metodologia
Utilizamos dados de 11.794 participantes na linha de base do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil). O consumo de alimentos ultraprocessados (gramas/dia) foi avaliado considerando a classificação NOVA e quantificado por meio de questionário de frequência alimentar. A idade biológica foi estimada pela combinação de biomarcadores clínicos utilizando o método de Klemera e Doubal. O desgaste biológico (∆ idade) foi obtido pela subtração da idade biológica pela idade cronológica. Modelos de regressão linear com erros robustos e ajustados por idade, sexo, raça/cor, escolaridade, tabagismo, nível de atividade física e consumo calórico diário total foram utilizados.
Resultados
O consumo médio de ultraprocessados foi de 440,3g/dia. A média de ∆ idade foi de 0, variando de -12,7 a 16,9. As médias foram maiores para indivíduos pretos (0,50) e indígenas (0,73), com ensino fundamental incompleto (1,25), tabagistas (0,19), sedentários (0,15) e que consomem álcool em excesso (0,53). Os modelos de regressão ajustados demonstraram que a cada aumento de 150 gramas no consumo de ultraprocessados, a ∆ idade aumentou, em média, 0,11 anos. Participantes no 4° e 5° quintis de consumo de ultraprocessados apresentaram maiores médias de ∆ idade quando comparados aos do 1° quintil (menor) [Q4 β (IC95%)=0,27 (0,13 a 0,40) e Q5 β (IC95%)=0,53 (0,38 a 0,68)].
Conclusões/Considerações
O consumo de ultraprocessados pode levar a um envelhecimento biológico mais acelerado quando comparado à idade cronológica dos indivíduos. Este potencial de promover um desgaste biológico precoce e, consequentemente, o adoecimento, salienta a urgência de políticas públicas que dificultem a produção e comercialização de tais alimentos, visando o aumento da expectativa e qualidade de vida dos indivíduos e populações.
EFEITO COMBINADO DO CONSUMO DE ALIMENTOS ULTRAPROCESSADOS E DA ATIVIDADE FÍSICA SOBRE O GANHO DE PESO: RESULTADOS DA COORTE NUTRINET-BRASIL
Comunicação Oral
Leite, M. A.1, Rezende, L. F. M.2, Werneck, A. O.3, Camargo, J. M.2, Hallal, P. C.4, Levy, R. B.1
1 Departamento de Medicina Preventiva, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
2 Departamento de Medicina Preventiva, Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo
3 Departamento de Nutrição, Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo
4 Departamento de Saúde e Cinesiologia, Faculdade de Ciências da Saúde Aplicadas, Universidade de Illinois em Urbana-Champaign
Apresentação/Introdução
Padrões alimentares baseados em alimentos ultraprocessados (AUP) e a inatividade física estão, individualmente, associados a maior risco de ganho de peso. No entanto, seus efeitos combinados e a possibilidade de interação entre essas exposições ainda não foram explorados em relação ao risco de ganho de peso.
Objetivos
Avaliar a associação combinada entre o consumo de AUP e a prática de atividade física (AF) com o ganho de peso em adultos brasileiros.
Metodologia
Foram analisados dados de 23.088 participantes da coorte NutriNet-Brasil que completaram na linha de base dois ou três recordatórios alimentares Nova24h e uma ou duas avaliações de AF. O percentual calórico dos AUP na dieta foi categorizado em terços. AF foi classificada em >300 min/semana de atividade moderada, 150–300 min/semana e <150 min/semana. As exposições foram combinadas em uma variável com nove categorias autoexcludentes. O desfecho foi definido como aumento ≥5% ou ≥10% do peso corporal ao longo do seguimento. Modelos de riscos proporcionais de Cox foram utilizados considerando as exposições individuais e combinadas.
Resultados
Em 30 meses de seguimento, houve 9.157 casos incidentes de ganho ≥5% do peso e 4.308 casos de ≥10%. Aqueles no maior terço de AUP tiveram risco 15% (IC95% 1,09–1,21) e 25% (1,15–1,35) maior para ganho de peso ≥5% e ≥10%, respectivamente, em comparação ao menor terço. AF <150 min/semana, em relação a >300 min/semana, apresentou risco 9% (1,03–1,14) e 16% (1,08–1,25) maior. A combinação de alto consumo de AUP e AF <150 min/semana resultou em RR 1,23 (1,14–1,34) para ≥5% e 1,47 (1,30–1,65) para ≥10%, comparado a menor terço de AUP e AF >300 min/semana. Para ≥10%, o risco combinado superou a soma de individuais, sugerindo interação aditiva, confirmada pelo índice de sinergia em ambos desfechos.
Conclusões/Considerações
O consumo de ultraprocessados e a inatividade física foram associados, de forma independente, ao ganho de peso. Sua combinação resultou em risco ainda maior do que o esperado pela soma dos efeitos isolados. Os achados reforçam a importância de estratégias integradas de saúde pública que promovam tanto a melhoria da alimentação quanto o aumento da atividade física para prevenir o ganho excessivo de peso.
ESTRATÉGIA NACIONAL DE ENFRENTAMENTO ÀS DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS NO BRASIL (2022-2030): ANÁLISE DE METAS E PROJEÇÕES
Comunicação Oral
Santos, N. J. S.1, Cardoso, L. B. O.1, Macedo, E. O.1, Cesar, A. V. M.1
1 Centro Universitário Internacional UNINTER
Apresentação/Introdução
As Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), como obesidade e doenças cardiovasculares, configuram-se como grandes desafios da saúde pública e estão associadas a fatores de risco, como alimentação inadequada, sedentarismo, tabagismo e consumo de álcool. No Brasil, estima-se que aproximadamente 72% dos óbitos estejam associados a essas enfermidades.
Objetivos
Analisar as metas estabelecidas por meio do Plano de Ações Estratégicas para Enfrentamento das Doenças Crônicas não Transmissíveis até 2030 e realizar projeções.
Metodologia
Estudo com abordagem analítica e descritiva com dados públicos do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para DCNT por Inquérito Telefônico (VIGITEL) no período entre 2010 e 2023, com projeções até 2030 para as metas: redução da prevalência da obesidade em adultos; aumento da prática de atividade física no tempo livre; ampliação do consumo de frutas, legumes e verduras; redução do consumo de ultraprocessados; diminuição de bebidas adoçadas e bebidas alcoólicas; e controle do uso do tabaco. Para as projeções, utilizou-se a fórmula de regressão linear simples (y=a*x+b), em que y, representa a prevalência projetada, x, o ano de análise, a, o coeficiente angular e b, o intercepto.
Resultados
Em relação à obesidade, aumentou de 15,1% (2010) para 24,3% (2023) e projeção negativa em 2030 (27,9%). No que se refere à prática de atividade física, observou-se melhora, de 30,5% (2010) para 40,6% (2023), com projeções positivas para 2030 (44,9%). O consumo regular de frutas, legumes e verduras (FLV) melhorou (2010: 19,5%; 2023: 21,4%), mas as projeções mostram que tende a cair (18,9%), para ultraprocessados, parece seguir estável. O consumo de bebidas adoçadas deve reduzir em 30% até 2030 (projeção:7,1%). Apesar da diminuição de fumantes, a meta não deve ser alcançada em 2030. Quanto ao consumo de bebida alcoólica, a tendência é de aumento (2010:18,1%; 2023:20,8 e 2030:22,0%).
Conclusões/Considerações
Os resultados evidenciam a necessidade de ações que contribuam para a redução da obesidade, consumo de bebidas adoçadas, bebidas alcoólicas e tabagismo, além de seguir estimulando o consumo de FLV e desestimulando o de ultraprocessados. Recomenda-se políticas fiscais e regulatórias, como a taxação de bebidas adoçadas e controle da publicidade de ultraprocessados, promoção de ambientes saudáveis, estímulo à mobilidade ativa e ao lazer acessível.
O ÍNDICE DE ADIPOSIDADE VISCERAL ESTÁ ASSOCIADO A MAIOR PRESSÃO ARTERIAL EM ADOLESCENTES: ESTUDO PASE
Comunicação Oral
Filgueiras, M. S.1, Morais, R. N. G1, Silva, G. A.1, Dias, N. P.1, Ribeiro, G. J. S.1, Fonseca, R. M. S.1, Cota, B. C.1, Priulli, E.1, Garcia, M. S.1, Novaes, J. F.1
1 UFV
Apresentação/Introdução
A pressão arterial elevada é um componente da síndrome metabólica, com alta prevalência na adolescência. Marcadores não tradicionais, como o índice de adiposidade visceral (VAI), podem ser úteis na detecção precoce de alterações pressóricas e de desequilíbrios cardiometabólicos no público pediátrico.
Objetivos
Investigar a relação entre o índice de adiposidade visceral (VAI) e a pressão arterial em adolescentes.
Metodologia
Estudo transversal realizado com 274 adolescentes entre 15 e 18 anos participantes da coorte prospectiva “Pesquisa de Avaliação da Saúde do Escolar (PASE)” de Viçosa-MG. O VAI foi calculado utilizando fórmula específica por sexo, considerando o IMC, perímetro da cintura, HDL-c e triglicerídeos. A pressão arterial média (PAM) foi calculada pela mediana das pressões sistólica e diastólica [PAM = ⅓ (PAS) + ⅔ (PAD)]. A associação foi avaliada por regressão linear, com coeficiente β e intervalos de confiança de 95%, ajustada por sexo, idade, renda familiar per capita e tempo de tela. Esse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (4.982.479/2021).
Resultados
Os participantes apresentaram média de idade de 16,3 ± 0,8 anos, sendo 52,2% (n=143) do sexo feminino. A média da PAM foi de 81,63 ± 7,88 mmHg e do VAI 0,98 ± 0,69. Houve associação positiva entre o VAI e a PAM, onde o aumento de uma unidade no VAI elevou em 3,40 mmHg a pressão arterial dos adolescentes (β: 3,40; IC95%: 1,94; 4,87).
Conclusões/Considerações
O VAI apresentou associação positiva com níveis mais elevados de pressão arterial em adolescentes, destacando seu potencial como marcador complementar, simples e acessível. Seu uso pode apoiar a triagem precoce do risco cardiometabólico, contribuindo para ações preventivas na saúde pública.
“Ô LÁ EM CASA!: RECEITAS PARA SUBSTITUIR OS PRODUTOS ULTRAPROCESSADOS”: O E-BOOK PARA RESGATE DO HÁBITO DE COZINHAR E PROMOÇÃO DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL
Comunicação Oral
Tavares, L. F.1, Passos, M. E. A.1, Ponte, R.1
1 UFRJ
Período de Realização
A produção das receitas, fotos, vídeos, edição e diagramação do livro aconteceram de 2021 a 2025.
Objeto da produção
Livro eletrônico interativo que reúne receitas e dicas sobre técnicas culinárias, apresentados por meio de fotos e vídeos curtos.
Objetivos
Promover a saúde através da alimentação e incentivar as pessoas a cozinharem em casa. Além disso, difundir o conhecimento através de material interativo que facilita a compreensão e a aplicação do conteúdo por diferentes públicos, promovendo uma experiência de aprendizagem acessível e envolvente.
Descrição da produção
Etapas para o desenvolvimento do e-book:Pesquisa bibliográfica sobre o alimentos ultraprocessados (AUP) mais consumidos no Brasil; criação, teste e seleção de receitas para substituição os AUP; produção das fichas técnicas de preparo; aquisição dos insumos; organização de calendário para execução das receitas; organização do ambiente de gravação; produção final das receitas com vídeo e fotos; revisão de texto; editoração de fotos e vídeo; elaboração do projeto gráfico; revisão produto final.
Resultados
E-book interativo com 39 receitas (). O livro aborda desde quais alimentos estão na safra até como fazer caldos, pães, massas, doces, lanches e bebidas. São receitas com rendimento, tempo de preparo, utensílios necessários, ingredientes e modo de preparo, além de fotos ilustrando as etapas do preparo e um vídeo completo legendado com o passo a passo. A apresentação do e-book pode ser feita em 10-15 minutos com auxílio de computador, projetor e caixa de som.
Análise crítica e impactos da produção
O “Ô lá em casa!” reflete o trabalho coletivo de diversos atores na promoção do conhecimento sobre alimentação saudável. Este e-book, com receitas, fotos e vídeos, visa apoiar as recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira, incentivando hábitos saudáveis e conscientizando sobre os impactos dos alimentos ultraprocessados na saúde. Destina-se a promover mudanças positivas na rotina alimentar da população e atuar como ferramenta de educação em serviços de saúde.
Considerações finais
Este livro, viabilizado pela integração entre atividades de ensino, pesquisa e extensão, tem potencial para grande impacto social pela sua fácil aplicabilidade. Destaca-se o caráter inovador do livro interativo para ajudar a cozinhar e substituir os ultraprocessados. Que o “Ô lá em casa!” seja uma inspiração para que os lares estejam de portas (e cozinhas) abertas para dar boas-vindas aos benefícios da prática culinária.
TENDÊNCIA TEMPORAL DE INDICADORES DE SAUDABILIDADE DO AMBIENTE ALIMENTAR DE UMA UNIVERSIDADE FEDERAL BRASILEIRA, 2015- 2024
Comunicação Oral
Tavares, L. F.1, Passos, M. E. A.1, Tinoco, M. R. C.1, Paulac, C. M.1, Santiago, G. F.1
1 UFRJ
Apresentação/Introdução
O ambiente alimentar (AA) é caracterizado por fatores que determinam o acesso aos alimentos e bebidas. O AA universitário influencia os hábitos alimentares da comunidade acadêmica. A análise da disponibilidade de alimentos ao longo do tempo permite o monitoramento dessa dinâmica e subsidia o desenvolvimento de intervenções para promover a alimentação adequada e saudável no contexto universitário.
Objetivos
Analisar a tendência temporal da disponibilidade de alimentos e dos indicadores de saudabilidade do ambiente alimentar do campus Cidade Universitária da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) no período de 2015 a 2024.
Metodologia
Este estudo de série temporal utilizou dados coletados entre 2015 e 2024. A população de estudo foi composta por um censo dos estabelecimentos de alimentação do campus Cidade Universitária da UFRJ. Foram realizados inquéritos a cada dois anos e o instrumento de coleta de dados teve sua confiabilidade e validade avaliadas. Os estabelecimentos foram agrupados com base nos tipos de alimentos mais frequentemente vendidos. Foram aplicados quatro indicadores relacionados à disponibilidade de “alimentos in natura, minimamente processados ou processados e preparações culinárias baseadas nestes alimentos” (AIMPP) e “alimentos ultraprocessados e preparações culinárias contendo estes alimentos” (AUPP).
Resultados
Em média, 62 estabelecimentos foram avaliados por inquérito. Nos três primeiros, observou-se maior proporção de estabelecimentos mistos (não há predomínio de disponibilidade de AIMPP ou AUPP). Nos dois últimos, houve aumento de estabelecimentos com predomínio da oferta de AUPP. Ao longo de todos os anos, aproximadamente 40% dos AIMPP e mais de 60% dos AUPP investigados foram disponibilizados pelos estabelecimentos. A Razão AUPP/AIMPP indicou que, em todos os inquéritos, a quantidade de itens AUPP comercializados foi pelo menos 100% maior do que a de AIMPP. O índice de saudabilidade, que varia de 0 a 100 (quanto mais próximo de 100, melhor), manteve-se próximo de 40 nos cinco inquéritos.
Conclusões/Considerações
O AA da UFRJ manteve-se estável ao longo dos anos, com uma maior disponibilidade de AUPP. Este estudo evidencia a necessidade de propostas para a melhoria do AA universitário, que podem ser implementadas por meio de políticas públicas e ações internas da própria universidade, em parceria com projetos de pesquisa e extensão voltados ao tema.