
Programa - Comunicação Oral - CO5.17 - DESAFIOS DA APS EM ÁREAS RURAIS E REMOTAS
30 DE NOVEMBRO | DOMINGO
15:00 - 16:30
15:00 - 16:30
A INFLUÊNCIA DA SAZONALIDADE NA OFERTA E LONGITUDINALIDADE DO CUIDADO EM ZONAS RURAIS E REMOTAS DA AMAZÔNIA LEGAL
Comunicação Oral
1 ILMD/Fiocruz
Apresentação/Introdução
As Unidades Básicas de Saúde Fluvial são modelo previsto na Política Nacional de Atenção Básica para ofertar serviços da Atenção Primária às populações da Amazônia Legal e do Pantanal. Território marcado pela diversidade, ecossistemas únicos e modos de vida variados, os rios estruturam a vida e reforçam a necessidade de políticas públicas que garantam acesso e longitudinalidade do cuidado aos seus povos.
Objetivos
Analisar a regularidade das viagens realizadas pelas Unidades Básicas de Saúde Fluviais no ano de 2024 e a influência da sazonalidade sobre o acesso à saúde e continuidade do cuidado nos munícipios da Amazônia Legal.
Metodologia
Trata-se de um estudo observacional, de corte transversal e abordagem quantitativa, no qual foi realizada análise descritiva dos dados. Foram visitados 51 municípios de 5 estados da Amazônia (Pará, Amazonas, Roraima, Amapá e Acre). A coleta de dados ocorreu de março a maio de 2025, durante a cheia parcial dos rios. A população do estudo constituída por profissionais de saúde que atuam nas UBSF. O instrumento da pesquisa foi o questionário inserido na plataforma digital RedCap e aplicados por meio tablets, foram realizadas 6 expedições de viagens de acordo com a melhor rota logística. Foram entrevistados 54 profissionais de saúde. Os resultados preliminares foram gerados pela plataforma RedCap.
Resultados
A maioria dos entrevistados eram enfermeiros (60,7%), com 2 a 3 anos de atuação na UBS Fluvial (32,7%), e 73,2% não receberam formação específica para atuar na área rural. As UBSF atendem de 1 a 10 comunidades por expedição (24,1%), realizando em média 3 viagens por ano (16,7%), principalmente em março (42,3%) e setembro (40,4%). As expedições duram de 15 (17%) a 20 dias (18,9%), com 68,5% permanecendo um dia por comunidade. A sazonalidade afeta o acesso, com dificuldades de navegação no segundo semestre, especialmente em outubro (70,8%), e maior viabilidade no primeiro, destacando março (90%). Em 2024, 52,8% relataram viagens suspensas, principalmente por falta de recursos (35,7%).
Conclusões/Considerações
A análise dos dados mostra que a maioria das UBS Fluviais não realiza o mínimo de viagens preconizadas pelo Ministério da Saúde, comprometendo a continuidade do cuidado. A sazonalidade impacta negativamente o acesso e a longitudinalidade do cuidado, gerando fragmentação na assistência às populações amazônicas. Além disso, outros fatores também interferem nesse processo e devem ser considerados pelas instâncias públicas.
A PROMOÇÃO E PREVENÇÃO DA SAÚDE BUCAL NO PROCESSO DE TRABALHO DAS EQUIPES DE SAÚDE BUCAL EM ÁREAS RIBEIRINHAS
Comunicação Oral
1 FSP/USP
2 CGSB
3 SESSP
4 ISC/UFF
Apresentação/Introdução
O acesso universal e equânime aos serviços de saúde bucal compõem uma diretriz da Política Nacional de Saúde Bucal. Dentre estratégias para cumpri-la, destacam-se a ampliação da oferta de serviços de saúde bucal na Estratégia Saúde da Família, o fornecimento regular de kits de higiene e a fixação de profissionais das Equipes de Saúde Bucal (ESB) nos vazios assistenciais, como em áreas ribeirinhas.
Objetivos
Analisar a realização de procedimentos individuais e atividades coletivas de promoção e prevenção à saúde bucal pelas ESB que atendem populações ribeirinhas no Brasil, com base em dados do Censo Nacional das Unidades Básicas de Saúde (UBS), de 2024.
Metodologia
Trata-se de um estudo transversal, com base em dados secundários do Censo das UBS. Profissionais lotados nas UBS dos municípios responderam a um questionário estruturado que investigou, dentre outras questões, a existência de ribeirinhos em seus territórios de abrangência e a realização de procedimentos e atividades coletivas. Em relação aos procedimentos, foram considerados a aplicação tópica de flúor para grupos de risco, a raspagem e a profilaxia. Como atividades coletivas, foram consideradas a realização de escovação supervisionada e a distribuição de kits de saúde bucal com escova e pasta fluoretada. Para análise, foram mensuradas as frequências absolutas e relativas das respostas.
Resultados
Participaram do Censo das UBS 2024 um total de 44.938 UBS, das quais, 33.406 (74%) possuem ao menos uma ESB. 2194 (5%) UBS confirmaram a presença de ribeirinhos em seus territórios, sendo que as ESB estão presentes em 1356 (62%). Em relação aos procedimentos, 76% dessas UBS realizam aplicação de flúor, 72% realizam raspagem e 86% realizam profilaxia. Valores próximos aos das UBS que não atendem ribeirinhos: 80% aplicam flúor, 75% realizam raspagem e 88% realizam profilaxia. Quanto às atividades coletivas, a escovação e a entrega de kits de saúde bucal é realizada em 76% e 71% das UBS que atendem ribeirinhos, respectivamente. Naquelas que não atendem, esses valores chegam a 78% e 73%.
Conclusões/Considerações
As ações de promoção e prevenção em saúde bucal estão sendo realizadas por grande parte das UBS, com pouca diferença entre as que atendem e as que não atendem ribeirinhos. Contudo, a presença de ESB em apenas 62% dessas UBS indica a necessidade de políticas direcionadas e capazes de reconhecer as especificidades dos territórios em que vivem essas populações tradicionais, contribuindo para a efetivação da equidade.
ANÁLISE DOS ATRIBUTOS COORDENAÇÃO DO CUIDADO E ORIENTAÇÃO FAMILIAR EM COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO PIAUÍ UTILIZANDO O PRIMARY CARE ASSESSMENT TOOL (PCATOOL).
Comunicação Oral
1 UFPI
2 FIOCRUZ
Apresentação/Introdução
Atenção Primária à Saúde é o primeiro contato das pessoas com o cuidado à saúde. Dentre seus atributos, a coordenação do cuidado e a orientação familiar destacam-se como fatores para garantir um tratamento integral. Em locais historicamente marcados pela desigualdade e pelo preconceito, como comunidades quilombolas, é essencial analisar a distribuição desses atributos por macrorregiões.
Objetivos
Comparar a extensão dos atributos Coordenação do Cuidado e Orientação Familiar segundo a perspectiva de usuários quilombolas entre as macrorregiões de saúde do Piauí
Metodologia
Utilizou-se estudo transversal de abordagem quantitativa realizado em 8 comunidades quilombolas piauienses, de 2023 a 2025, com indivíduos de ≥18 anos de idade. O instrumento Primary Care Assessment Tool versão adulto reduzida e um questionário sociodemográfico foram aplicados em uma amostra por conveniência de 280 pessoas. Por meio do instrumento, obtiveram-se os escores médios dos atributos de coordenação do cuidado e de orientação familiar. Escores ≥ 6,6 indicam alta qualidade da APS. Adotou-se o software SPSS para aplicação dos testes estatísticos: ANOVA de Welch, Games Howell e Correlação de Spearman. Esse estudo seguiu normas éticas e foi aprovado pelo CEP. CAAE: 78510124.5.0000.5214.
Resultados
Foram entrevistados 280 moradores (260 questionários válidos) em sua maioria residentes no Meio Norte (35,7%) e no Cerrado (30,7%). Os escores médios dos atributos “Coordenação do Cuidado” (4,56) e “Orientação Familiar” (5,51) foram baixos. Não houve escore bom nas macrorregiões para a Coordenação do Cuidado e apenas o Semiárido apresentou escore bom para a Orientação Familiar (6,75). ANOVA de Welch mostrou que não há efeito da macrorregião sobre o escore da orientação familiar [F(3, 78,694) = 1,339; p = 0,268] e nem sobre o escore da coordenação do cuidado /[F( 3, 76,346) = 0,561; p = 0,642]. A correlação de Spearman indicou associação fraca entre os atributos (r = 0,260; p = 0,00).
Conclusões/Considerações
Estudos das populações quilombolas indicaram que as macrorregiões possuem um perfil semelhante e que em geral os serviços de saúde não garantem os atributos de coordenação do cuidado e de orientação familiar de modo pleno (apenas o Semiárido possui escore bom para a Orientação Familiar dentre os analisados). Os resultados revelam a necessidade do aprimoramento dos serviços de saúde para a melhora da qualidade de vida desse grupo.
ANÁLISE DOS ATRIBUTOS INTEGRALIDADE E LONGITUDINALIDADE NA PERSPECTIVA DA POPULAÇÃO DOS TERRITÓRIOS QUILOMBOLAS DO PIAUÍ, SEGUNDO MACRORREGIÃO DE SAÚDE
Comunicação Oral
1 UFPI
2 FIOCRUZ
Apresentação/Introdução
A qualidade da Atenção Primária à Saúde pode ser medida através da extensão de atributos como a Integralidade, que assegura o cuidado em todas as necessidades de saúde, e a Longitudinalidade, que envolve o acompanhamento contínuo. A avaliação da extensão desses atributos segundo os usuários é essencial, especialmente em comunidades quilombolas que enfrentam barreiras históricas ao acesso à saúde.
Objetivos
Comparar a extensão dos atributos Integralidade e Longitudinalidade entre as macrorregiões de saúde do Piauí segundo a perspectiva de usuários quilombolas.
Metodologia
Estudo transversal de abordagem quantitativa realizado em 8 comunidades quilombolas piauienses, de 2023 a 2025, com indivíduos de ≥18 anos de idade. Aplicou-se o instrumento Primary Care Assessment Tool versão adulto reduzida e um questionário sociodemográfico em uma amostra por conveniência de 280 pessoas. Através do instrumento, obtiveram-se os escores médios dos atributos Integralidade e Longitudinalidade. Escores ≥ 6,6 indicam alta qualidade da APS. Utilizou-se o software SPSS para aplicação dos testes estatísticos: ANOVA de Welch, Games Howell e Correlação de Spearman. O estudo seguiu normas éticas e foi aprovado pelo CEP. CAAE: 78510124.5.0000.5214
Resultados
Dos 280 moradores entrevistados, 260 foram válidos. A maioria residia nos territórios Meio Norte (35,8%) e Cerrados (30,8%). Os escores médios de "Integralidade" (4,34) e "Longitudinalidade" (6,34) foram baixos. O único escore alto observado foi no Meio Norte para Longitudinalidade (6,64). O menor escore para Integralidade foi no Litoral (3,82) e para Longitudinalidade no Cerrados (6,01). A ANOVA de Welch mostrou que não há efeito da macrorregião sobre o escore da integralidade [F(3, 81,755) = 0,803; p = 0,496] e nem sobre o escore da longitudinalidade [F( 3, 74,570) = 1,023; p = 0,387]. A correlação de Spearman indicou associação fraca entre os atributos (r = 0,174; p = 0,005).
Conclusões/Considerações
As macrorregiões apresentam perfil semelhante quanto à extensão dos atributos e os serviços de saúde não asseguram plenamente os atributos de Integralidade e Longitudinalidade, com exceção do escore satisfatório de Longitudinalidade no Meio Norte. A baixa qualidade percebida reflete a necessidade de aprimorar a atenção primária para garantir cuidado contínuo e integral à população quilombola.
PARA ALÉM DOS DESAFIOS: O SUS QUE NAVEGA NO TERRITÓRIO LÍQUIDO DA AMAZÔNIA
Comunicação Oral
1 IESC/UFRJ
2 SEMSA
Período de Realização
20 dias de atuação na saúde no período de cheia dos rios amazônicos (02/05/2025 - 21/05/2025).
Objeto da experiência
Relato de uma residente em Saúde Coletiva que acompanhou uma equipe de saúde ribeirinha no interior do Amazonas durante o período da cheia dos rios.
Objetivos
Evidenciar os desafios e potencialidades do cuidado em saúde durante a cheia dos rios amazônicos, refletindo sobre o impacto no processo de trabalho e os aprendizados da atuação em um território líquido, onde o rio é caminho de presença do Estado na vida das populações ribeirinhas.
Metodologia
Durante 20 dias, uma residente atuou com equipe de saúde ribeirinha em 25 comunidades rurais, usando embarcação simples. A cheia impôs desafios: ausência de moradores, escolas fechadas, mudança na logística, necessidade de apoio fluvial, correntezas, falta de energia e aumento de doenças hídricas. Contudo, revelou potencialidades: maior acesso a comunidades isoladas durante a seca, adaptação do cuidado itinerante e fortalecimento de vínculos no “território de vida das pessoas”.
Resultados
A necessidade do apoio fluvial elevou os custos e exigiu reorganização logística. Sem energia, os atendimentos ocorreram com iluminação improvisada. Ainda assim, a cheia viabilizou o acesso a localidades antes remotas, favorecendo uma atuação mais integrada. A equipe adaptou os atendimentos ao território, com escuta ativa, práticas tradicionais e vínculos fortalecidos, revelando que, mesmo em meio à instabilidade geográfica, é possível promover um cuidado digno, contextualizado e eficaz.
Análise Crítica
A atuação no território líquido exige escuta, criatividade e humildade cultural. A cheia mostrou-se não apenas desafio, mas oportunidade de ressignificar o cuidado, tornando-o mais próximo e dialogado. A vivência ampliou a visão da residente sobre a potência do SUS em contextos geográficos adversos, o valor da interprofissionalidade e a importância da articulação com saberes locais, revelando que o cuidado pode (e deve) se moldar às águas, às pessoas e aos caminhos possíveis.
Conclusões e/ou Recomendações
A experiência, além dos desafios, revela potências do cuidado no território líquido. Para a saúde coletiva, atuar nesse contexto é essencial para promover equidade, reconhecer os determinantes sociais, fortalecer políticas públicas que se moldem às realidades locais com humildade cultural e ampliar o apoio a estágios em áreas remotas. Relatos como este evidenciam desigualdades regionais e fortalecem estratégias mais eficazes no SUS.
ENTRE ÁGUAS E SAÚDE: EXPERIÊNCIA DE UMA EQUIPE DE SAÚDE DA FAMÍLIA RIBEIRINHA DO MUNICÍPIO DE CAREIRO DA VÁRZEA, AMAZONAS, NO DIAGNÓSTICO SITUACIONAL
Comunicação Oral
1 UEA
Período de Realização
Experiência vivenciada de janeiro a dezembro de 2024
Objeto da experiência
Diagnóstico situacional de uma unidade de saúde da família ribeirinha nos distritos de Terra Nova e Marimba, no município de Careiro da Várzea-AM.
Objetivos
O presente estudo propõe-se a relatar a experiência de uma equipe de Saúde da Família ribeirinha na realização do diagnóstico situacional das comunidades acompanhadas pela equipe no distrito de Terra Nova/Marimba, município de Careiro da Várzea – AM.
Metodologia
A experiência foi desenvolvida pela equipe de saúde do Terra Nova, que atende três comunidades de várzea no município do Careiro da Várzea-AM. A equipe é composta por médicos, enfermeiros, cirurgião dentista, técnicos e 13 agentes comunitários de saúde(ACS). A metodologia incluiu análise de dados do e-SUS, observações in loco e entrevistas com moradores e profissionais de saúde. A área apresenta limitações de infraestrutura, como falta de saneamento, energia instável e transporte majoritariamente fluvial.
Resultados
Identificaram-se como principais doenças e agravos à saúde a hipertensão arterial, diabetes, uso de álcool e tabaco, além de acidentes aquáticos fatais. Observou-se elevada cobertura no pré-natal. As barreiras geográficas dificultam o acesso à atenção secundária e à contrarreferência, porém, a implantação da telemedicina e o apoio da UBS fluvial ampliaram o alcance da assistência. O trabalho ativo dos ACS foi essencial para o monitoramento dos usuários e cobertura das famílias.
Análise Crítica
A experiência evidenciou a importância do vínculo entre equipe de saúde e comunidade para superação das barreiras geográficas e sociais. A atuação dos ACS é central para o cuidado contínuo e para o sucesso das ações. A ausência de transporte adequado e a precariedade dos serviços especializados comprometem a integralidade da atenção. A escuta qualificada da comunidade e o planejamento participativo fortaleceram as ações intersetoriais e a autonomia da equipe diante de contextos adversos.
Conclusões e/ou Recomendações
É fundamental ampliar o investimento em infraestrutura de transporte, comunicação e rede de apoio à atenção secundária. A experiência aponta que estratégias adaptadas ao território líquido, como o uso de UBS fluvial e a valorização do agentes comunitários de saúde, são eficazes na ampliação do cuidado. Recomenda-se fortalecer políticas públicas específicas para populações ribeirinhas, com foco na equidade e na integralidade do SUS.

Realização: