Sessão Assíncrona


SA13.4 - POPULAÇÕES VULNERABILIZADAS E INIQUIDADES EM SAÚDE (TODOS OS DIAS)

42410 - O PRAZER EM COMER NA PERSPECTIVA DE MULHERES EM SITUAÇÃO DE RUA - UM ESTUDO ETNOGRÁFICO NO CENTRO DA CIDADE DE SÃO PAULO.
FERNANDA SABATINI - USP - FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA., RAMIRO FERNANDEZ UNSAIN - USP - FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA., PRISCILA DE MORAIS SATO - UFBA, FERNANDA BAEZA SCAGLIUSI - USP - FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA.


Apresentação/Introdução
A construção de segurança alimentar e nutricional para mulheres em situação de rua no Brasil, prevalentemente negras, esbarra em heranças coloniais de negligência a prazeres, desejos e histórias de vida. Pensar prazer alimentar para estas mulheres é reivindicar por uma produção de ciência crítica a elementos desumanizantes acionados numa cultura capitalista, cisheteropatriarcal e racista.


Objetivos
Discutir sobre prazeres em comer na situação de rua, a partir de olhares de mulheres que pernoitam na região central de São Paulo, Brasil.

Metodologia
Trabalho etnográfico entre agosto de 2018 e junho de 2022, com observações participantes, diário de campo e entrevistas com mulheres cis e trans em situação de calçada ou em abrigos sociais na região da Sé, cidade de São Paulo. Partimos das perguntas “existe prazer em comer por mulheres em situação de rua? Como se dá a noção de prazer em comer para elas?”. As entrevistas e observações foram realizadas nas próprias calçadas de pernoite ou dentro de instituições de acolhida. Para a interpretação dos dados, nos debruçamos em saberes do feminismo negro, além de outros autores e autoras decoloniais, visto que as populações em situação de rua no Brasil e em São Paulo são majoritariamente negras.


Resultados
Algumas estratégias para sentir prazer ao comer emergiram do campo: pedir dinheiro para comprar o que se tem vontade de comer; pedir comida em restaurantes cuja comida despertam-lhe vontade; negação de doações de marmitas não coerentes com seus gostos alimentares. Alguns direitos básicos foram ainda trazidos pelas mulheres enquanto indispensáveis para o alcance de prazer e dignidade. Entre estes direitos, esteve a moradia, que pelas percepções das mulheres facilitaria: vivência de habilidades culinárias para o acesso a sabores coerentes com memórias alimentares afetivas; e acesso e armazenamento de temperos e alimentos coerentes com suas histórias de vida.

Conclusões/Considerações
O prazer em comer foi atrelado a discussões sobre vontade alimentar, memórias e acesso a direitos humanos. Na luta por direitos como moradia, as mulheres em situação de rua visionaram um comer mais prazeroso. A moradia surgiu como possível propiciadora de privacidade e coerência identitária para o ato de comer, podendo facilitar escolhas alimentares mais coerentes com o que as próprias mulheres percebem como adequado em qualidade, quantidade e sabor.