Sessão Assíncrona


SA13.3 - INTERSECCIONALIDADE, GÊNERO E SAÚDE (TODOS OS DIAS)

44768 - METÁFORAS SOBRE A GRAVIDEZ NO LIVRO REZENDE OBSTETRÍCIA
CAMILA MIRANDA VENTURA DE OLIVEIRA - UFRJ, JAQUELINE TERESINHA FERREIRA - UFRJ


Apresentação/Introdução
O relato visa a oferecer uma discussão sobre a associação da gravidez à uma condição frágil, explorando metáforas existentes no livro Rezende Obstetrícia (2016), clássico no ensino da Obstetrícia no Brasil. Para tanto, é necessário abarcar o conceito de medicalização, a fim de debater gênero e ciência nas pesquisas das Ciências Sociais em Saúde. O estudo é parte de dissertação de mesma autoria.

Objetivos
Compreender a relação de saber-poder dos discursos médicos e das práticas de saúde sobre o corpo da gestante. Apresentar o debate sobre gênero e ciência nas pesquisas sociais em saúde e relatar significados que a atribuem a um estado de fragilidade.

Metodologia
A metodologia utilizada foi a Pesquisa Documental, que permitiu agregar ao livro Rezende Obstetrícia (2016) um tratamento científico próprio à abordagem socioantropológica em saúde. Foi realizado trabalho de campo na biblioteca da Maternidade-Escola da UFRJ, no Rio de Janeiro. A entrada da biblioteca ostenta uma placa em homenagem a Fernando Magalhães, conhecido como o pai da obstetrícia brasileira. O interesse nesta tema teve relação com a minha prática profissional em Grupos de Gestantes, enquanto trabalhadora da Atenção Primária à Saúde. Ao me deparar com Rezende Obstetrícia chamou a atenção as imagens da capa e contracapa. A edição analisada foi a 13ª. O livro é reeditado desde 1976.

Resultados
A imagem estampadas na capa de Rezende Obstretrícia (2016) apresenta uma figura grávida, cabisbaixa, olhos tristes, mãos segurando a barriga em formato de embrulho. Na contracapa, a gestante acima pariu e é puérpera. Embala o seu bebê que parece não ter vida. É inerte. Aspecto doente, melancólico. A mãe e o bebê parecem estar numa condição de vulnerabilidade. As imagens transmitem tristeza e desconforto. Ocorreu estranhamento ao deparar com obra importante da Obstetrícia exibindo tais imagens. Quis entender o que estava sendo transmitido: mulheres cabisbaixas com sinais de sofrimento e sua relação com o processo de medicalização do corpo feminino.

Conclusões/Considerações
As representações médicas não estão isentas de pressupostos. Emily Martin e Fabiola Rohden revelam que a racionalidade científica pode estar repleta de pressupostos de gênero e ideológicos. A metáfora da gestante frágil está alinhada a outra: do obstetra portador da condição de salvar a grávida. Nesta interpretação, gestar é evento de risco.