SA13.3 - INTERSECCIONALIDADE, GÊNERO E SAÚDE (TODOS OS DIAS)
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42597 - RETARDOS NA ATENÇÃO HOSPITALAR E COMPLICAÇÕES PÓS-ABORTO EM UM CONTEXTO DE ILEGALIDADE ROMINA MARGARITA HAMUI - INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA - UFBA, ESTELA MARIA MOTA LIMA LEÃO DE AQUINO - INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA - UFBA, GREICE MARIA DE SOUZA MENEZES - INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA - UFBA, THÁLIA VELHO BARRETO DE ARAÚJO - UFPE, MARIA TERESA ALVES - UFMA, SANDRA VALONGUEIRO ALVES - UFPE, MARIA DA CONCEIÇÃO CHAGAS DE ALMEIDA - INSTITUTO GONÇALO MONIZ - FIOCRUZ
Apresentação/Introdução O aborto expressa as iniquidades sociais presentes nas populações, principalmente em contextos onde sua prática é criminalizada. Tanto o retardo na procura de atendimento quanto a demora em receber tratamento adequado e oportuno têm se destacado como fatores determinantes de complicações graves, potencialmente ameaçadoras da vida, near miss (quase mortes) e óbitos decorrentes de abortos inseguros.
Objetivos Analisar a associação entre o retardo na atenção hospitalar e a ocorrência de complicações potencialmente ameaçadoras da vida relacionadas ao aborto.
Metodologia Estudo se insere na pesquisa GravSus-NE, inquérito hospitalar realizado entre agosto e dezembro de 2010, avaliando todas as mulheres maiores de 18 anos, internadas com aborto em 19 hospitais públicos de Salvador, Recife e São Luís, por meio de entrevistas e extração de dados de prontuários. Procedeu-se a análises descritivas, estratificadas e multivariadas, e o cálculo do Índice de Youden, estabelecendo um ponto de corte para o retardo, definido como o intervalo entre a internação hospitalar e o esvaziamento uterino. Foram avaliados dois modelos para associação entre retardo e complicações, um reunindo todas as mulheres e outro somente com aquelas que chegaram em boas condições de saúde.
Resultados Um total de 2371 mulheres foram incluídas no estudo. Em geral, chegaram ao hospital em boas condições de saúde (90,5%), mas 5,5% apresentavam condições graves ou muito graves. A partir do cálculo do Índice de Youden, chegou-se a um ponto de corte de 10 horas, a partir do qual a ocorrência de complicações graves aumentava. Mulheres pretas e aquelas admitidas em plantões noturnos estiveram mais representadas entre as que esperaram mais de 10 horas para o esvaziamento uterino. Este retardo mostrou-se associado à ocorrência de complicações graves (OR 1,97; IC95% 1,55-2,51), e na subanálise das mulheres que chegaram em boas condições de saúde, confirmou-se a associação (OR 2,56; IC95% 1,85-3,55).
Conclusões/Considerações O perfil das mulheres expressa a situação de vulnerabilidade social daquelas que se internam por aborto no SUS no Brasil. A contribuição deste estudo é o estabelecimento de um ponto de corte, com base em critérios conceituais e epidemiológicos, para definir retardo. Fazem-se necessárias mais pesquisas para testar o retardo proposto no presente estudo em outras amostras ou populações, assim como para desenvolver novas mensurações do mesmo.
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