SA13.3 - INTERSECCIONALIDADE, GÊNERO E SAÚDE (TODOS OS DIAS)
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42469 - ITINERÁRIOS TERAPÊUTICOS DE MULHERES QUE SOBREVIVERAM A COMPLICAÇÕES DURANTE O CICLO GRAVÍDICO-PUERPERAL – UMA ABORDAGEM INTERSECCIONAL LEONILDO SEVERINO DA SILVA - ISC / MCO / UFBA, GREICE MARIA DE SOUZA MENEZES - ISC / UFBA, CECILIA ANNE MCCALLUM - ISC / UFBA
Apresentação/Introdução As complicações ocorridas durante a gravidez, parto, ou até 42 dias do fim da gestação são classificadas entre near miss materno e condições potencialmente ameaçadoras a vida. Uma análise das circunstâncias envolvidas pela voz das mulheres pode identificar fatores modificáveis de evitabilidade dessa ocorrência, considerando os contextos de gênero e raça, enquanto determinantes sociais em saúde.
Objetivos Analisar os itinerários terapêuticos das mulheres que sobreviveram a complicações do ciclo gravídico puerperal, apontando retardos envolvidos no cuidado em saúde e sua evitabilidade por meio de uma abordagem interseccional.
Metodologia Estudo socioantropológico, baseado na etnografia como perspectiva epistemológica e na Interseccionalidade. Foram realizadas 19 entrevistas semiestruturadas com mulheres que vivenciaram complicações obstétricas numa maternidade pública em Salvador e extraídos dados de prontuários entre maio e dezembro de 2020, após aprovação ética, por meio telefônico. Após transcrição e leitura exaustiva das entrevistas foram feitas as descrições e análises dos itinerários terapêuticos baseada no modelo dos três retardos assistenciais relativos à decisão de buscar ajuda, acesso e cuidados em tempo oportuno considerando como contextos de gênero e raça influenciaram as vivências das mulheres.
Resultados A decisão na procura de cuidados em saúde nas intercorrências durante a gestação foi influenciada e retardada por experiências anteriores de discriminação de gênero e racismo, pessoais e familiares, inscritos nos corpos das mulheres. O acesso aos serviços obstétricos ocorreu, sobretudo, por meio da rede de apoio familiar baseado na proximidade ou no contato prévio com funcionários institucionais. Já o cuidado em tempo oportuno, diante de uma complicação, foi marcado pelos lapsos de diagnóstico onde foram ignorados/negligenciados sintomas relatados pelas pacientes, ou seja, não ser ouvida foi relatado como determinante para gravidade, o que pode ser classificado como racismo obstétrico.
Conclusões/Considerações Os retardos assistenciais permitem uma análise dos itinerários terapêuticos das mulheres diante da necessidade de cuidados obstétricos marcados por determinantes de gênero e raça. As formas de racismo obstétrico, como lapsos de diagnóstico e negligência, interseccionalmente, fornecem elementos que elucidam o risco de complicações no ciclo gravídico puerperal das mulheres negras, sendo seu combate ligado diretamente a sobrevivência destas.
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