Sessão Assíncrona


SA13.3 - INTERSECCIONALIDADE, GÊNERO E SAÚDE (TODOS OS DIAS)

41703 - PROGRAMA ATENAS, UM SERVIÇO DE ATENÇÃO AO ABORTO COM TELEMEDICINA NO BRASIL: PERSPECTIVAS DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE
ANA GABRIELA LIMA BISPO DE VICTA - UFBA, CECILIA ANNE MCCALLUM - UFBA, GREICE MARIA DE SOUZA MENEZES - UFBA


Apresentação/Introdução
O Programa Atenas, serviço inédito de atenção ao aborto irreversível, no primeiro trimestre gestacional, de uma maternidade pública nordestina, dentro dos permissivos legais, oferece atendimento extra-hospitalar e multidisciplinar, via monitoramento telefônico por enfermeiras, e à luz das normas de humanização da atenção.

Objetivos
Contribuir para a literatura relativa à humanização do aborto, a partir do detalhamento das perspectivas de profissionais de saúde sobre o trabalho relativo ao Atenas.

Metodologia
Trata-se de recorte de tese doutoral, cuja pesquisa etnográfica ocorreu na Maternidade Climério de Oliveira-UFBA. Além da análise documental dos protocolos do Atenas, o estudo envolveu observação participante e entrevistas semi-estruturadas com ex-participantes do Programa , e profissionais da Maternidade. Neste recorte, retrataram-se as perspectivas dos 34 profissionais (que atuavam direta e indiretamente no Atenas) interrogados em 2018. Pesquisa autorizada pelo Comitê de Ética institucional, que permitiu a identificação do hospital e do serviço investigado.

Resultados
Profissionais de saúde apontam o serviço como humanizado pelo respeito à autonomia das mulheres; atenção individualizada; e incentivo ao esvaziamento uterino por métodos menos invasivos. Creditavam benefícios do Atenas à Maternidade, como melhor gestão dos leitos, redirecionamento dos recursos humanos e insumos hospitalares. Percebeu-se um silenciamento do aborto provocado durante o percurso da participante na iniciativa. O telemonitoramento da equipe de enfermagem foi reconhecido, ainda que os profissionais acentuassem o componente médico. A frágil institucionalização do Atenas foi evidenciada pela personificação das ações em integrantes da iniciativa e o pouco alcance dos treinamentos.

Conclusões/Considerações
Silenciamento do aborto legal e provocado, desde a gênese da iniciativa, contribuiu para que a maioria dos profissionais acreditasse que o serviço destinava-se às mulheres com abortos espontâneos. Número desconhecido de mulheres, que induziram, foi objeto de cuidado (não se questionava o tipo de aborto no Atenas). Não confrontado o ímpeto de “salvar vidas”, parece que os profissionais sentiram-se menos desconfortáveis em lidar com estas mulheres.