Sessão Assíncrona


SA13.3 - INTERSECCIONALIDADE, GÊNERO E SAÚDE (TODOS OS DIAS)

39266 - A MEDICINA DOS ÓBITOS GESTACIONAIS E NEONATAIS: UMA ANÁLISE CRÍTICA DAS CATEGORIAS DE SAÚDE
CELINA MOREIRA MESQUITA MERCIO FIGUEIRA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO


Apresentação/Introdução
Na contemporaneidade, as perdas gestacionais e neonatais são categorizadas no espectro da disseminação social do discurso biomédico em torno da reprodução e da família, das relações de gênero e da finitude. A descrição do fenômeno ultrapassa critérios diagnósticos; está em jogo a forma pela qual a medicina reconhece a (in)humanidade de conceptos e os falecimentos (im)passíveis de luto.

Objetivos
Delinear as normas atuais de conduta associadas à saúde materno-infantil; desvelar moralidades e marcas de intenções em torno da reprodução feminina e de seus produtos procriativos.

Metodologia
A abordagem etnográfica dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS/MeSH), produzido pela National Library of Medicine (NML) e usado para indexar/recuperar informações nas bases de dados da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), é capaz de evidenciar éticas seletivas. Diante da ausência de termo específico atinente ao tema, foram utilizadas as categorias “morte” e “aborto”. O primeiro termo é revelador dos valores presentes na qualificação médica de conceptos e seus consequentes óbitos. A opção pela palavra “aborto” indica esclarecimentos acerca do manejo de responsabilidades frente às fatalidades e avaliações sobre a legitimidade da vida.

Resultados
Os códigos linguísticos e as qualificações médicas hierarquizam as vidas humanas e contraditam as teorias jurídicas de semelhança entre os seres. Agrupados em esquemas, esses registros constroem e fortalecem estratégias de governo dos corpos. A apresentação dos óbitos em parâmetros mensuráveis e homogêneos contribui para uma negação coletiva do luto e da fragilidade. As Ciências Sociais e Humanas traçam perspectivas críticas em torno da anátomo-política. A duração da vida é objeto de regulação social. O saber médico reforça os propósitos civilizatórios por meio da instrumentalização de bioidentidades, com intervenções nos corpos femininos e destituição material de produtos reprodutivos.

Conclusões/Considerações
O capital simbólico da biomedicina deriva de valores engendrados e transformados em dados populacionais e técnicas de assistência. A regularidade do emprego das categorias permite reflexões sobre disposições a serviço da produção de conhecimento epidemiológico e desenvolvimento de políticas de saúde. O ângulo de apreciação biomédico sustenta relações de poder invisíveis e garante a assunção da medicina como ciência neutra, objetiva e universal.