SA13.3 - INTERSECCIONALIDADE, GÊNERO E SAÚDE (TODOS OS DIAS)
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39096 - O QUE VÊ DONA CHIQUINHA? – FRANCISCA GONÇALVES DOS SANTOS (EM MEMORIA) THAIS MARA DIAS GOMES - ISC/UFBA
Apresentação/Introdução A relação entre COVID-19 e trabalho doméstico no Brasil é um retrato da vulnerabilidade social dessa categoria profissional e do passado escravocrata que percorre a estrutura da incipiente democracia brasileira. Dona Chiquinha, como era conhecida a trabalhadora doméstica e diretora do Sindoméstico Bahia, Francisca Gonçalves dos Santos, faleceu em 8 de março de 2021, vítima da COVID-19.
Objetivos Poetizar a vida de Francisca Gonçalves dos Santos, empregada doméstica e diretora do Sindoméstico Bahia, vítima da COVID-19 em Salvador/BA.
Metodologia "O que vê Dona Chiquinha?" é uma poesia de experimentação estética e também uma femenagem pós morte a Francisca Gonçalves dos Santos, empregada doméstica que atuava com diretora do Sindoméstico Bahia. A poesia escrita pela autora a partir dos relatos de Creuza Maria Oliveira, amiga de trabalho e luta de Dona Chiquinha, e é parte de uma devolutiva, de ouvidos sensíveis e narrativas densas a tudo que esta fez em vida.
Resultados Apresenta-se a primeira estrofe da poesia "O que vê, Dona Chiquinha?
Temporão, tempos que se vão.
Vejo a mistificação da fome, doméstica companheira
Tempos turvos de tamanha indiferença e desilusão
Repenso planos de uma vida inteira
Atropelados há 500 anos por violência e escravidão
Trago as vidas dos engenhos de minha capital Cachoeira
Erguida por corpos da cor da noite, trabalhos à luz do vão
Onde o descanso ocorria, o lugar não nos cabia, nem meia, tampouco inteira
E não se engane você, minha irmã e meu irmão
A lua trazia medos, de corpos a se esconder
Dos homens ditos de bem, que mal sabiam fazer"
Conclusões/Considerações O falacioso reconhecimento da essencialidade do trabalho doméstico remunerado na pandemia é a expressão da colonialidade de gênero. Em muitas regiões do país tais trabalhadoras foram incorporadas aos profissionais de linha de frente, no entanto, a inclusão na lista de prioridades da imunização ocorreu apenas em junho de 2021 (Emenda à lei 1011/20), três meses após a partida precoce de Dona Chiquinha, aos 66 anos.
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