Sessão Assíncrona


SA13.3 - INTERSECCIONALIDADE, GÊNERO E SAÚDE (TODOS OS DIAS)

38668 - TODAS AS MULHERES TEM A MESMA CHANCE DE MORRER POR ABORTO? UMA ANÁLISE DOS ÓBITOS POR ABORTAMENTO NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE SEGUNDO RAÇA/COR
INGRYD GUIMARÃES DE OLIVEIRA - UFMG, MARIÂNGELA LEAL CHERCHIGLIA - UFMG, FLÁVIA BULEGON PILECCO - UFMG


Apresentação/Introdução
A mortalidade materna por aborto no Brasil é uma importante questão de saúde pública. Mesmo diante de um contexto social nacional díspar, poucas pesquisas investigam a associação entre raça e óbitos por aborto. Neste sentido, o presente estudo é um dos primeiros a verificar de forma individuada a associação entre raça e óbitos por abortamento a nível nacional.

Objetivos
Investigar a associação entre raça e óbito materno em mulheres internadas no SUS por abortamento no período de 2008 a 2014.

Metodologia
Estudo de coorte retrospectivo, com o uso de dados secundários, que incluiu mulheres de 10 a 49 anos, autodeclaradas pretas, pardas ou brancas, que internaram no SUS entre 2008 e 2014 com diagnóstico de aborto. A variável independente foi óbito em até 42 dias após a internação e o principal fator independente foi raça/cor da pele. A associação entre variáveis independentes e o desfecho foi avaliada com o uso do método de Equações de Estimações Generalizadas (GEE). As análises foram ajustadas para idade, ano do aborto, região de residência, número de abortos, diagnóstico segundo o Código Internacional de Doenças – versão 10, procedimentos, tempo da internação e número de comorbidades.

Resultados
Foram avaliadas 818.464 mulheres que internaram por abortamento no período estudado, 34,9% brancas, 61,1% pardas e 4,0% pretas. Do total, 0,06%, foram a óbito em até 42 dias após a internação: 0,06% das brancas, 0,05% das pardas e 0,14% das pretas. Na análise bruta, mulheres pretas tiveram maior chance de ir a óbito que mulheres brancas (OR 2,54, IC95% 3,53-1,83) e a associação se manteve após ajustes. Não foi encontrada diferença estatisticamente significativa entre pardas e brancas.

Conclusões/Considerações
A associação demonstrada no presente estudo indica a persistência de disparidades na atenção à saúde de mulheres pretas, em especial à saúde obstétrica e ao abortamento. Os resultados evidenciam a necessidade da efetivação do princípio de equidade nos serviços de planejamento reprodutivo, pré-natal, assim como na assistência ao abortamento, garantindo o direito de acesso à saúde e diminuindo as iniquidades nos diferentes grupos raciais.