Comunicação Coordenada

22/11/2022 - 13:10 - 14:40
CC13.7 - POPULAÇÃO VULNERABILIZADA E INIQUIDADES EM SAÚDE

41444 - CAROLINA E OS SENTIDOS DA MATERNIDADE EM SITUAÇÃO DE RUA
GILNEY COSTA SANTOS - DEPARTAMENTO DE ESTUDOS SOBRE VIOLÊNCIA E SAÚDE JORGE CARELI/ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SÉRGIO AROUCA/FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (CLAVES/ENSP/FIOCRUZ), TATIANA WARGAS DE FARIA BAPTISTA - DEPARTAMENTO DE ENSINO/INSTITUTO DA MULHER, DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE FERNANDES FIGUEIRA/FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (IFF/FIOCRUZ), PATRICIA CONSTANTINO - DEPARTAMENTO DE ESTUDOS SOBRE VIOLÊNCIA E SAÚDE JORGE CARELI/ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SÉRGIO AROUCA/FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (CLAVES/ENSP/FIOCRUZ)


Apresentação/Introdução
As experiências de maternidade em situação de rua desestabilizam conhecimentos e práticas biomédicas hegemônicas. Tornar-se “mãe” diz respeito a processos biológicos e também sociais que envolvem a capacidade de seguir “ordens médicas e normas familiares”. Conectadas à história brasileira de escravidão, essas experiências revelam linhas abissais de gênero, classe e raça que estruturam a sociedade.

Objetivos
Neste trabalho, buscamos na voz de Carolina, mulher preta, pobre e mãe em situação de rua, reconhecer sentidos sobre ser mulher e mãe no contexto das ruas e as relações com as políticas públicas de saúde, assistência e judiciária.

Metodologia
Este foi um estudo etnográfico que buscou olhar para cenas do cotidiano de vida de mulheres com experiências de maternidade em situação de rua no Circuito da Pequena África, Rio de Janeiro. Para acessar essas experiências as mulheres foram acompanhadas entre agosto de 2018 e janeiro de 2019 em diferentes espaços, tanto na rua quanto institucionais (defensorias, maternidades, unidades de saúde e do poder judiciário). Foram realizadas também entrevistas com essas mulheres com o objetivo de reunir mais elementos sobre a trajetória percorrida até se chegar a rua, os sentidos do ser mulher, da maternidade e da rua. A pesquisa obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa.

Resultados
Há treze anos vivendo nas ruas, Carolina nos ajuda a entender o drama de não conseguir conviver com os limites de uma casa. Expõe o modo pelo qual mulheres em situação de rua, esquecidas pelo Estado, se tornam alvo de políticas. Carolina tem sentidos apurados sobre a rua, vista como espaço de liberdade, mas também de precariedade, o “ser mulher” entendido sinônimo de “ser mãe”. A maternidade na rua, para ela era incompatível com as necessidades de um bebê, mas possível na manutenção do vínculo mãe-bebê. Assim, sua estratégia é entregar seu filho para alguém, que não seja “estranho”. A entrega não significa falta de amor, mas a crença de que o filho terá mais possibilidades de realização.

Conclusões/Considerações
O enredo que forja a vida de Carolina – violência, desfiliação, precariedade e desproteção social – é a expressão moderna da mulher preta que está em situação de rua, e também, nos rincões e periferias do Brasil. É urgente reinventarmos a forma de fazer políticas para essas mulheres reconhecendo os efeitos da escravidão sob a estrutura social. É na loja da reparação que essas maternidades – complexas e desafiadoras – precisam ser pautadas.