Comunicação Coordenada

22/11/2022 - 13:10 - 14:40
CC13.5 - FEMINISMO, GÊNERO E SAÚDE COLETIVA

44027 - NOVAS E ANTIGAS BARREIRAS: ITINERÁRIOS ABORTIVOS EM TEMPOS DE PANDEMIA
NANDA DUARTE - IFF/FIOCRUZ, CLAUDIA BONAN - IFF/FIOCRUZ, ANA PAULA DOS REIS - ISC/UFBA, ANDREZA RODRIGUES - EEAN/UFRJ, CECÍLIA MCCALLUM - ISC/UFBA, GREICE MENEZES - ISC/UFBA, ULLA MACEDO - IGM/FIOCRUZ BAHIA, MAIARA DAMASCENO DA SILVA SANTANA - ISC/UFBA, DÉBORA CECÍLIA CHAVES DE OLIVEIRA - IFF/FIOCRUZ, MARIA DA CONCEIÇÃO CHAGAS DE ALMEIDA - IGM/FIOCRUZ BAHIA


Apresentação/Introdução
Os itinerários abortivos de mulheres que vivem em contexto de criminalização da prática, como no Brasil, são permeados de riscos que vêm sendo cada vez mais desvelados pelas pesquisas em ciências sociais/de saúde. A emergência da crise sócio-sanitária da Covid-19 adicionou novas dificuldades a este já conturbado cenário, que exige mais investigações para uma compreensão interseccional do problema.


Objetivos
Investigar, em perspectiva interseccional, como a pandemia de Covid-19 afetou os itinerários abortivos de diferentes mulheres residentes no Brasil e quais as estratégias criadas por elas para contornar esses efeitos.

Metodologia
Trata-se de pesquisa quanti-qualitativa - “Pandemia de Covid-19 e práticas reprodutivas de mulheres no Brasil”, realizada pelo Grupo de Pesquisa Gênero, Reprodução e Justiça/RepGen (Fiocruz, UFBA e UFRJ). Na primeira etapa, foi desenvolvido inquérito online de julho a outubro de 2021, com 8.313 respondentes. Na segunda, mulheres participantes foram convidadas a escrever sobre os efeitos da pandemia em sua vida e saúde reprodutiva no blog Juntas na Pandemia. A terceira etapa envolve entrevistas narrativas com as participantes do inquérito que aceitaram conceder entrevistas. Aqui são apresentados os resultados da análise do material referente às mulheres que relataram aborto provocado.

Resultados
Entre as participantes do inquérito, 134 tiveram aborto espontâneo, uma passou por interrupção legal e 49 informaram aborto provocado, a maior parte com uso de medicamentos. Os itinerários de aborto provocado foram diversificados, a depender de rede de apoio e acesso a informações e recursos. Para algumas, a solidão associada ao segredo do aborto se intensifica com a solidão do isolamento da pandemia. Para outras, apoio de familiares, amigas e parceiros e de grupos feministas surge como mitigador de riscos e associado a experiências positivas. A pandemia aumenta o medo de precisar de atendimento hospitalar e compromete a realização de exames de preparação ou confirmação do procedimento.

Conclusões/Considerações
Somada à criminalização da prática do aborto, a crise sócio-sanitária intensificou as injustiças reprodutivas no Brasil, sobrepondo barreiras e riscos à saúde e à vida das mulheres. Ao lado da agenda pela descriminalização, os resultados indicam o acesso à informação, a humanização do atendimento hospitalar e o repertório de cuidados do acompanhamento feminista como estratégias de promoção de abortos seguros mesmo em contextos restritivos.