Comunicação Coordenada

22/11/2022 - 13:10 - 14:40
CC13.5 - FEMINISMO, GÊNERO E SAÚDE COLETIVA

38396 - A “POBREZA MENSTRUAL” COMO PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL: REFLEXÕES ETNOGRÁFICAS SOBRE UM SABER EM CONSTRUÇÃO
ROBERTA SIQUEIRA MOCAIBER DIEGUEZ - USP


Apresentação/Introdução
A expressão “pobreza menstrual” designa dificuldades vividas por pessoas que menstruam devido à falta de acesso à informação, produtos e condições básicas de higiene. A ideia de que esse cenário pode expô-las a problemas de saúde, aliada a um movimento global sobre o tema tem influenciado a formulação de projetos de lei e a organização de grupos com o objetivo de sanar esse “problema” no Brasil.

Objetivos
O trabalho se propõe a realizar uma análise socioantropológica sobre a construção da ideia/fenômeno/conceito de “pobreza menstrual” como problema de saúde pública no Brasil e que disputas e contradições ocorrem nos bastidores desse processo.

Metodologia
Recorremos a Latour (2000) e a conceitos como “redes sociotécnicas” a fim de analisar a “pobreza menstrual” e os significados culturais da menstruação, corpo e gênero enquanto conhecimentos em construção coletiva no dia-a-dia, buscando identificar as contribuições dos atores envolvidos na produção e disseminação desse saber. A pesquisa também se orienta por elaborações de George Marcus (1995) sobre uma etnografia contemporânea multi-situada, que se propõe a examinar a circulação de objetos, significados culturais ou identidades pelo tempo e espaço. Esse método não se ancora em um espaço definido, mas constrói redes de conexões que elucidam as características do fenômeno estudado.

Resultados
Em etapa inicial da pesquisa, identificou-se que a expressão “pobreza menstrual” é de uso recente na literatura acadêmica, embora a transformação da higiene menstrual em objeto de interesse público remonte ao fim dos anos 2000. A princípio, a higiene menstrual obteve notoriedade a partir de um movimento global que buscava reduzir a desigualdade de gênero na educação. Desde então, organizações como a ONU, UNICEF e empresas privadas de higiene – como a P&G, Johnson&Johnson e Bodyform – têm se mobilizado para produzir dados, fornecer informações – e produtos – a pessoas que menstruam e se encontram em situação de vulnerabilidade.

Conclusões/Considerações
Em geral, essas ações ocorrem em países pouco desenvolvidos, embora utilizem noções de corpo, menstruação e higiene características do norte global e de países de alta renda. Por vezes, usam-se os termos “menina” e “mulher” para se referir àqueles afetados pela “pobreza menstrual”, e em outras, é empregada a expressão “pessoas que menstruam”, a fim de incluir pessoas trans e não-binárias, indicando disputas internas na formulação dessa ideia.