Comunicação Coordenada

22/11/2022 - 08:30 - 10:00
CC13.2 - POPULAÇÃO LGBTQIA+, CUIDADO E DIREITOS HUMANOS NA SAÚDE - 2

39191 - STEALTHING NAS RELAÇÕES SEXUAIS ENTRE HOMENS: NOTAS PARA UM DEBATE CONTEMPORANEO SOBRE VIOLÊNCIA
WENDELL FERRARI - INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRA, MARCOS ANTONIO FERREIRA DO NASCIMENTO - INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRA


Apresentação/Introdução
Stealthing é o ato no qual um dos parceiros, sem o consentimento do outro, retira o preservativo no momento da relação sexual, quebrando o acordo previamente estabelecido. A prática pode resultar na transmissão de ISTs/HIV ou numa gravidez não planejada, sendo reconhecida também como uma violência que ocorre durante a relação sexual

Objetivos
Discutir como o stealthing é um fenômeno que pode acontecer na relação sexual entre homens. Buscamos ainda apontar estruturas de poder e abuso que sustentam a prática, para além da visão binária sobre a violência de gênero (homem/mulher).

Metodologia
Este trabalho é oriundo da pesquisa de doutorado sobre trajetórias afetivo-sexuais de homens jovens gays, entre 18 e 24 anos, de camadas populares do Rio de Janeiro. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, com realização de entrevistas em profundidade, cuja seleção dos participantes se deu a partir do método “bola de neve”. A presente entrevista chamou atenção pelo relato da experiência de stealthing. Acionamos a perspectiva interseccional para iluminar como articulações entre sexualidade, raça, classe social e gênero, acontecem nas relações sociais e nas experimentações da sexualidade, demarcando relações de poder no sexo entre homens.

Resultados
Em uma das entrevistas realizadas, um jovem de 22 anos relatou que durante uma relação sexual episódica, seu parceiro retirou o preservativo sem o seu conhecimento, caracterizando a prática de stealthing. Ao notar a falta do preservativo, o jovem foi a uma unidade de saúde para buscar a profilaxia pós-exposição ao HIV, onde foi vítima de julgamentos morais pela sua homossexualidade com suspeitas sobre a veracidade de sua história. Ou seja, o jovem teve que enfrentar duas situações de violência: o stealthing e a violência institucional baseada em preconceitos da profissional de saúde. Em ambos casos, nota-se a vulnerabilidade de jovens gays frente a questões de saúde sexual.

Conclusões/Considerações
Enfatizamos dois pontos neste trabalho: (1) o stealthing precisa ser visibilizado e compreendido como um fenômeno nas relações sexuais entre homens; (2) a violência institucional com atitudes de julgamento moral por parte dos profissionais de saúde em relação à homossexualidade precisa ser enfrentada. Ser vítima de stealthing acarreta danos psicológicos e físicos, afetando a saúde das vítimas, e demandando maior amparo jurídico e de saúde mental.