22/11/2022 - 13:10 - 14:40 CC12.2 - DIVERSIDADE DISCURSIVA E CONSTRUÇÃO DA REALIDADE EM SAÚDE |
44676 - “CURTO A VIDA, ESTOU SAUDÁVEL, ESCOLHI ME TRATAR”: RELATOS BIOGRÁFICOS EM UMA CAMPANHA PELO HIV INDETECTÁVEL ROBSON EVANGELISTA DOS SANTOS FILHO - FIOCRUZ, IGOR SACRAMENTO - FIOCRUZ
Apresentação/Introdução O maior avanço biotecnológico para o controle da aids foi o advento dos medicamentos antirretrovirais, que reduzem o HIV no organismo até que não seja detectado em exames, o que consiste na carga viral indetectável. Essa condição garante qualidade e expectativa de vida aos soropositivos e, como já comprovado cientificamente, impede a transmissão do vírus, daí o tratamento ser um modo de prevenção.
Objetivos Como parte de uma pesquisa maior em andamento, esse trabalho busca analisar como a categoria indetectável emerge na contemporaneidade e constrói uma nova bioidentidade, com subjetividades e regulações, para as pessoas que vivem com HIV.
Metodologia Para tanto, tomamos como objeto a campanha Indetectável, lançada pelo Ministério da Saúde em 2018, a primeira vez que o órgão abordou a informação de que indetectável é intransmissível (I=I). A campanha possui 13 apresentações biográficas de pessoas soropositivas que contam, em textos e vídeos publicados na página www.aids.gov/indetectavel, sobre a descoberta do diagnóstico, o tratamento e como é viver com HIV e estar indetectável. Centrados nesses perfis e em mais duas produções audiovisuais que apresentam a campanha, realizamos uma análise discursiva a partir da noção de posições de sujeito proposta por Foucault.
Resultados A carga viral indetectável aparece nos relatos como oportunidade de viver, estar saudável e se relacionar sexualmente com segurança, contrariando as associações ainda comuns do HIV à morte, doença e risco, mas, sobretudo, é tida como uma vitória almejada. Apesar de os relatos partirem de experiências, são mediados pelo discurso médico, de modo que a campanha se vale estrategicamente dos perfis como exemplos para outras pessoas aderirem ao tratamento, caracterizado como escolha individual. Nesse sentido, para conseguirem se tornar ou continuar indetectáveis, os próprios sujeitos assumem, em uma perspectiva neoliberal, a responsabilidade pelo tratamento.
Conclusões/Considerações A celebração do indetectável pela campanha contribui para desconstruir estigmas sobre soropositivos, mas ao trazer relatos de quem atingiu a meta para convencer os demais a se tratarem, não só os responsabiliza sem considerar diferentes realidades e fatores, como também demarca uma posição indesejável a não indetectáveis, objetivando um ajuste à norma, já que, segundo o paradoxo foucaultiano, não há saúde sem controle de corpos e comportamentos.
|