Sessão Assíncrona


SA8.3 - CUIDADO E POPULAÇÕES VULNERABILIZADAS (TODOS OS DIAS)

40881 - “NHANDEREKO GUARANI-MBYÁ” - FUNDAMENTO ORGANIZADOR DO TRABALHO EM SAÚDE EM UM SERVIÇO DE APS NA TERRA INDÍGENA JARAGUÁ, NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO.
ADALTO ALFREDO PONTES FILHO - UBS ALDEIA JARAGUÁ - KWARAY DJEKUPÉ - SPDM PAIS/SMS SÃO PAULO


Período de Realização
Ações em desenvolvimento desde janeiro de 2020 até o momento atual.

Objeto da experiência
Tem-se por objeto a organização do trabalho em um serviço de APS das aldeias Guarani- Mbyá, na Terra Indígena Jaraguá, no município de São Paulo.

Objetivos
1. Compreender o conceito de saúde para a população local, a partir do “modo de ser” Guarani (nhandereko);
2. Entender a organização do serviço de saúde local;
3. Relacionar o modelo de atenção à saúde atual com o nhandereko;
4. Experimentar a organização do serviço fundamentado no nhandereko.

Metodologia
A compreensão do nhandereko e o registro da organização do trabalho na UBS local tem sido possível por meio da prestação de serviços direto à população (consultas clínicas, procedimentos, atividades em grupo). Em momentos de discussões em grupo e reuniões de equipe, busca-se revisar as ações desenvolvidas e propor mudanças na organização do trabalho que fundamentem-se no nhandereko, objetivando seu fortalecimento. A interação constante com a população é essencial em todo processo.

Resultados
Busca-se preservar o nhandereko em eventos e rituais coletivos. Saúde é entendida como a autopercepção de bem-estar como parte da comunidade e do mundo. A UBS, a princípio organizada em protocolos padronizados, tem se modificado na interação cotidiana com os usuários, adaptando-se à realidade local, com acompanhantes indígenas para os atendimentos fora do território, tradutores para os atendimentos na UBS e flexibilização dos horários de atendimento, com agenda aberta para demanda espontânea.

Análise Crítica
Modelos pré-definidos de organização da APS podem ser de difícil implementação e questionável efetividade em comunidades como esta. Detentores de uma cosmovisão própria, os Guarani-Mbyá possuem uma compreensão de saúde dificilmente apreendida por meio de protocolos e indicadores aos moldes sanitários ocidentais. A implementação obstinada e sem crítica de tais estratégias podem violar o direito à autodeterminação desses povos, revelando um Estado colonialista transvestido em promotor de saúde.

Conclusões e/ou Recomendações
A organização do trabalho das equipes de saúde indígenas deve ser moldada na interação com as populações em que estão inseridas. Não se trata de abandonar o saber ocidental de inquestionável valor para a manutenção da saúde, mas de inverter sua lógica de uso, colocando-o a serviço da visão de saúde destes povos, com equipes e modelos de atenção à saúde formados a partir desta concepção.