Sessão Assíncrona


SA8.3 - CUIDADO E POPULAÇÕES VULNERABILIZADAS (TODOS OS DIAS)

38552 - SÍNTESES MALANDRAS: ENVELHECIMENTOS FEMININOS NO MUNDO DO SAMBA
ADRIANA MIRANDA DE CASTRO - FIOCRUZ


Apresentação/Introdução
Sob a preocupação com a longevidade e a qualidade de vida, o arranjo epidemiologia-biomedicina-promoção da saúde produz discursos, práticas e subjetividades que se articulam à lógica neoliberal e seus efeitos. Tensionando a ideia do empresário de si, a cosmogonia afro-diaspórica presente no mundo do samba abre brechas para sínteses malandras das mulheres da Ala dos Cabelos Brancos

Objetivos
Visibilizar outros modos de viver o envelhecimento feminino a partir da análise dos processos de produção de si que reinventam os discursos hegemônicos de medicalização da vida no diálogo com as epistemologias do mundo do samba.

Metodologia
Realizada revisão bibliográfica para (re)construção sócio-histórica do mundo do samba e suas malandragens no “enfrentamento” ao racismo estrutural e na invenção de um espaço de reconhecimento social. Análise dos discursos e práticas do arranjo epidemiologia-biomedicina-promoção da saúde na produção de um sujeito empresário de si, privatizando a ideia de saúde e investindo na veridificação da relação obediência às prescrições/ longevidade/ qualidade de vida. Observação participante e entrevistas junto às mulheres da Ala dos Cabelos Brancos, velha guarda do GRES Império Serrano, na cartografia dos processos de construção de seus territórios existenciais e na experimentação do envelhecimento.

Resultados
Longe da imagem das “tias”, consagrada na mídia ao falar das mulheres mais velhas do mundo do samba, as mulheres dos Cabelos Brancos afirmam modos de viver em que o envelhecimento não tem centralidade na vida nem as prescrições do saber/fazer que a pretende medicalizar. Trabalho, sexualidade, liberdade, relações de cuidado sem tutela, transformações da sociedade e da cidade estão entre os assuntos priorizados em suas conversas. São mulheres de seu tempo e seu tempo é hoje. O que não significa que não escutem o que falam as doutoras nem que não incorporem estratégias de autocuidado, mas que investem mais em sínteses malandras vinculadas à tradição afro-diaspórica.

Conclusões/Considerações
As mulheres dos Cabelos Brancos constroem-se entre os discursos vinculados à medicalização da vida e os sentidos e práticas do mundo do samba. Afirmam a potência de vida, que transborda as prescrições, inventando (re)existências, rompendo com o etarismo e a compreensão binária do envelhecimento. Inventam linhas de fuga do enquadre homogeneizante do discurso científico, ratificando a importância da escuta das singularidades na produção de saúde.