Sessão Assíncrona


SA8.2 - A DIVERSIDADE EPISTEMÓLOGICA NA SAÚDE COLETIVA (TODOS OS DIAS)

43079 - SONHOS ENTRE OS KATOKINN INFORMAM PROCESSOS INTERCULTURAIS AFRO-INDÍGENA COMO PRODUÇÃO DE CUIDADO NO ENFRENTAMENTO DA COLONIALIDADE
SANDRA BOMFIM DE QUEIROZ - USP, IVAN FRANÇA JUNIOR - USP, DIEGO MADI DIAS - USP


Apresentação/Introdução
As estratégias de produção de vida dos Katokinn, no sertão alagoano, informam o sonhar e interpretar como ponto de partida para as suas conexões com os Encantados - espíritos dos ancestrais. Mais de duas mil famílias indígenas, ainda sem terras demarcadas, produzem cuidados em diálogo com a diversidade epistêmica afro-indígena, que potencializa o enfrentamento da colonialidade.

Objetivos
O objetivo da pesquisa foi compreender como a pragmática indígena Katokinn engendra a relacionalidade entre as estratégias de produção de vida, o sonhar e interpretar e a produção de cuidado.

Metodologia
Trata-se de estudo etnográfico realizado durante doze meses entre os Katokinn. A produção de dados foi realizada através da vivência etnográfica, tendo como instrumentos o caderno de campo, a observação participante e entrevistas semi estruturadas. O critério de escolha dos entrevistados foi ser liderança ou ter envolvimento com os rituais. Os relatos sobre sonhos foram estimulados a partir de conversas e entrevistas. Os dados foram sistematizados a partir da imersão em leituras e releituras do material produzido. Anibal Quijano, abordando a decolonialidade e Catherine Walsh, teorizando sobre a interculturalidade, foram alguns dos referenciais teóricos para a discussão dos resultados.

Resultados
Os Katokinn apresentam geralmente nos sonhos e seus relatos interpretados dois indicativos: necessidade produção de cuidados em saúde, o que leva aos rituais indígenas e os que se mesclam com entidades afro. Os Encantados quando não identificam necessidade de “médico”, recuperam a saúde mental ou física com tratamentos dos índios. Sonhos com mulheres usando turbantes na cabeça têm sido relatados. Entidades indígenas e afro se misturam nos sonhos. Para eles, a exclusão de entidades afro em rituais foi imposição do Estado, para o reconhecimento étnico. Alguns procuram atendimento na linha afro, a partir dos sonhos como uma construção de interculturalidade em suas formas de produção de cuidado.


Conclusões/Considerações
Os Katokinn não relatam dificuldades ao lidar com as epistemologias distintas dos serviços de saúde e suas formas ritualísticas na produção de cuidados. A interculturalidade se apresenta em construção quanto à produção de cuidados híbridos, devido aos sonhos com entidades indígena e afro. Esse processo potencializa o enfrentamento da colonialidade, ao mesmo tempo em que se afirma como desafio de afirmação identitária indígena Katokinn.