Sessão Assíncrona


SA8.2 - A DIVERSIDADE EPISTEMÓLOGICA NA SAÚDE COLETIVA (TODOS OS DIAS)

38858 - O CORAÇÃO NO YOGA: UM ESTUDO HERMENÊUTICO SOBRE A ONTOLOGIA E EPISTEMOLOGIA DO YOGA EM DIÁLOGO COM A PREVENÇÃO DAS DOENÇAS CARDIOVASCULARES
LÉO FERNANDES PEREIRA - UFSC, CHARLES DALCANALE TESSER - UFSC


Apresentação/Introdução
A concepção atual do yoga como “um tipo de atividade física” decorre do processo de cientificização, em específico, de medicalização desse saber tradicional indiano. Predominam ensaios clínicos cujo foco é a aferição de alterações fisiológicas advindas da prática, ao passo que faltam estudos que explorem os benefícios do yoga a partir de sua própria epistemologia e outras concepções de yoga.

Objetivos
Investigar potenciais contribuições da filosofia do yoga para as estratégias de prevenção das doenças cardíacas, articulando o yoga e a biomedicina a partir das concepções de “coração” apresentadas por ambas.

Metodologia
A pesquisa (em andamento), de natureza teórico-hermenêutica e de orientação decolonial, norteia-se por um método presente em uma escritura selecionada de yoga, adaptado e organizado em: 1) escuta (do pesquisador frente à exposição do tema por meio de um professor vinculado à tradição); 2) raciocínio e ponderação (sobre os conteúdos expostos); 3) consideração contemplativa (sobre os assuntos que passaram ao crivo da razão). Investiga-se o conceito nativo de hṛdayam (coração) em uma escritura de yoga, incluindo os arredores semânticos do termo que se associam, de alguma forma, à saúde. Tais achados serão, então, colocados em diálogo com a lógica biomédica da prevenção cardiovascular.

Resultados
Achados preliminares constataram diferenças radicais entre a racionalidade biomédica e a racionalidade yóguica no que tange ao entendimento de 'coração'. Além de apresentar uma morfofisiologia em particular, algumas características associadas ao hṛdayam merecem destaque: 1) o coração é considerado a sede do Si-mesmo (ātman); 2) o coração possui ‘nós’ (desejos que ‘aprisionam’ o coração) que, por sua vez, são sustentados por uma ignorância ontológica (avidyā), passível de ser removida. Yoga, então, é todo e qualquer recurso que permite, ao interessado, a apreensão do conhecimento soteriológico contido nas escrituras (vistas como autoridade epistemológica).

Conclusões/Considerações
A 'saúde do coração', do ponto de vista da tradição yóguica, parece mais relacionada ao impacto dos desejos sobre o grau de apego do sujeito à dimensão empírica de sua existência, do que aos marcadores fisiológicos associados ao sistema cardiovascular. Essa visão, que conflui com métodos interpretativos e fenomenológicos, levanta a importância de pesquisas POEM (Patient-Oriented Evidence that Matters) em estudos de saúde sobre yoga.