Comunicação Coordenada

24/11/2022 - 08:30 - 10:00
CC5.23 - NEGACIONISMO, DESINFORMAÇÃO E RESPOSTAS À COVID-19

38588 - A ATUAÇÃO DA CORPORAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA NA PANDEMIA DE COVID-19: RAÍZES E DESDOBRAMENTOS DO ALINHAMENTO À AGENDA NEGACIONISTA DO GOVERNO FEDERAL
HENRIQUE SANTANNA DIAS - ENSP/FIOCRUZ, LUCIANA DIAS DE LIMA - ENSP/FIOCRUZ, MARIA STELLA DE CASTRO LOBO - IESC/UFRJ


Apresentação/Introdução
No Brasil, a pandemia de COVID-19 foi marcada por tensões e disputas políticas alicerçadas no negacionismo às recomendações científicas de controle. A atuação da corporação médica revelou narrativas e posicionamentos contraditórios, com interesses políticos de grupos médicos alinhados ao governo federal, divergências e polêmicas para a representação da profissão e a opinião pública.

Objetivos
Analisar a dinâmica de atuação da corporação médica na pandemia de COVID-19, de março de 2020 a julho de 2021, suas raízes e desdobramentos, com foco nas relações entre entidades, grupos representativos de médicos e atores políticos e governamentais.

Metodologia
Foram analisados documentos e materiais institucionais, coletados nas páginas e redes sociais das entidades médicas nacionais, com destaque para a Associação Médica Brasileira (AMB) e o Conselho Federal de Medicina (CFM); de organizações estudantis e sindicais na medicina; e de coletivos associativos de médicos de expressão nacional. Outras fontes consistiram em matérias jornalísticas e publicações da literatura científica sobre o tema. Buscou-se explorar elementos da atuação corporativa, em perspectiva histórica e institucional, destacando interesses, posicionamentos e articulações políticas no interior da corporação e em torno das políticas de saúde e do SUS.

Resultados
O alinhamento da corporação médica à agenda negacionista do governo federal na pandemia de COVID-19 expressou articulações de dirigentes do CFM e da AMB, e de médicos de viés conservador com membros do governo, contrapostas por associações médicas progressistas, minoritárias. A autorização para prescrição de medicamentos sem eficácia no tratamento da doença ensejou posicionamentos, a favor e contra, das sociedades de especialidades. A postura governista tem raízes no embate corporativo contra o Programa Mais Médicos (PMM), do governo Dilma. O pleito de encerramento do PMM, ocorrido em 2019, definiu a aproximação das entidades médicas com a agenda do governo Bolsonaro, revelada na pandemia.

Conclusões/Considerações
As conexões entre esses dois momentos históricos demonstram o duplo negacionismo da corporação médica brasileira (PMM e pandemia de COVID-19) e a encruzilhada da profissão. Novos consensos da identidade e do projeto da medicina exigirão diálogos internos e com a sociedade. Compreender os rumos da atuação da medicina corporativa permitem identificar problemas de raízes políticas que impedem avançar na consolidação do Sistema Único de Saúde.