Sessão Assíncrona


SA5.1 - ENFRENTAMENTO À PANDEMIA DE COVID-19 E SEUS IMPACTOS (TODOS OS DIAS)

42139 - OS HERÓIS NA LINHA DE FRENTE: METÁFORAS, ENQUADRAMENTOS NORMATIVOS E A SUBJETIVAÇÃO DOS TRABALHADORES DA SAÚDE NA PANDEMIA DE COVID-19
CARLOS EDUARDO COLPO BATISTELLA - EPSJV/FIOCRUZ, MICHELE NACIF - EPSJV/FIOCRUZ, MONICA VIEIRA - EPSJV/FIOCRUZ, ROBERTA CORÔA - EPSJV/FIOCRUZ


Apresentação/Introdução
Desde o início da pandemia de Covid-19, quando as dificuldades em lidar com a nova doença ficaram evidentes, os profissionais da saúde passaram a ser chamados de anjos e heróis, e a metáfora da guerra ganhou força nos noticiários e redes sociais. Os efeitos dessa significação vão além do suposto reconhecimento profissional, atualizando penosidades e indicando (re)existências no trabalho em saúde.

Objetivos
Investigar os processos de subjetivação do trabalho e dos trabalhadores da saúde no contexto da Covid-19, procurando entender as práticas articulatórias que permitem a hegemonização de determinados discursos e seus efeitos sobre os trabalhadores.

Metodologia
Tomando o discurso como “uma prática articulatória que constitui e organiza as relações sociais”, assumimos a importância das metáforas e seu poder na construção na significação da doença e das representações sobre o trabalho em saúde e seus trabalhadores. Como superfície de inscrição destas representações, são analisadas a produções da mídia, artigos científicos e relatos de trabalhadores da saúde coletados em diversas ações do projeto Respiro, como entrevistas, lives e fóruns. Procuramos entender tanto a produção da instabilidade na significação como os processos de produção de sua estabilidade, por meio da hegemonização de discursos e de seus efeitos sobre os trabalhadores.

Resultados
O discurso que transforma os trabalhadores em heróis aciona processos de identificação ligados à dimensão vocacional e sagrada do trabalho em saúde. Articulado às metáforas militares, sanciona a atuação em contexto adverso, e o trabalho na “linha de frente” se converte em ato sacrificial e magnânimo, transcendendo o sofrimento, o cansaço e a precarização do trabalho. A desumanização é acompanhada da desresponsabilização das sociedades e modelos produtivos na emergência de novos patógenos. Ao fixar o enquadramento na antropocênica divisão natureza e cultura, as metáforas militares mantêm os microorganismos no papel de algozes e fazem dos humanos vítimas suscetíveis da invasão estrangeira.

Conclusões/Considerações
A pandemia reitera circuitos metafóricos que promovem o enquadramento dos profissionais em matrizes de inteligibilidade ligadas ao vocacionalismo e ao trabalho como sacerdócio. A desconstrução destes projetos normativos de reconhecimento é parte de um processo de descentramento e instabilização que também constitui a política e que permite abertura às múltiplas possibilidades de significação do trabalho e do ser trabalhador de saúde.