Sessão Assíncrona


SA5.1 - ENFRENTAMENTO À PANDEMIA DE COVID-19 E SEUS IMPACTOS (TODOS OS DIAS)

41122 - CONFLITO DE INTERESSES NA PRODUÇÃO CIENTÍFICA SOBRE VITAMINA D NO CONTEXTO DA PANDEMIA DA COVID-19
CAROLINA S. PASSINI - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (UNIRIO), INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA (IESC), MARIA B. CAVALCANTI - ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SÉRGIO AROUCA, SIMONE A. RIBAS - DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA, UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DE RIO DE JANEIRO (UNIRIO), CAMILA M. CARVALHO - DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO SOCIAL, UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE (UFF), FERNANDO LAMARCA - DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO APLICADA, ESCOLA DE NUTRIÇÃO, UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (UNIRIO). DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO APLICADA, INSTITUTO DE NUTRIÇÃO, UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (UERJ)


Apresentação/Introdução
O uso de evidências científicas para subsidiar a formulação de políticas públicas pode ser enviesado por situações de conflito de interesses (CDI) causadas por financiamento privado de pesquisas. Durante a pandemia de COVID-19, o uso de vitamina D para sua prevenção e tratamento ganhou notoriedade e foi objeto de estudos com resultados distintos, que podem ter atendido a interesses corporativos.

Objetivos
Analisar a ocorrência de CDI em estudos sobre vitamina D e COVID-19 e avaliar se o financiamento da indústria farmacêutica e de alimentos está associada a conclusões favoráveis à recomendação da suplementação da vitamina.

Metodologia
Foi realizada uma revisão de escopo de estudos observacionais que relataram ou avaliaram o uso de vitamina D para prevenção ou tratamento da COVID-19 em indivíduos não hospitalizados, publicados entre dezembro/2019 e agosto/2021. As buscas foram realizadas em agosto/2021 nas bases de dados Medline, Lilacs e Google Scholar. Buscas adicionais foram realizadas nas referências dos artigos selecionados. A seleção foi realizada independentemente por dois pesquisadores e os resultados foram relatados de acordo com as recomendações do PRISMA-ScR. A presença de CDI foi identificada a partir de informações presentes nos artigos e em outras publicações dos autores nos últimos dois anos.

Resultados
Foram selecionados 29 estudos. Em 5 destes, CDI foi declarado pelos autores e em outros 8, CDI foi identificado pelos revisores em publicações anteriores, totalizando 13 estudos com CDI (44,8%). Esses artigos foram financiados por empresas dos setores de diagnóstico, farmacêutico e alimentício. A maioria dos estudos concluiu que a vitamina D não estava associada à COVID-19 (16/29, 55,2%). Conclusões favoráveis à suplementação de vitamina D foram minoria em artigos com financiamento independente e maioria em artigos em que CDI foi identificado (4/16, 25,0% vs 9/13, 69,2%). A razão de chance de conclusão favorável à suplementação foi quase 7 vezes maior em estudos com CDI [OR 6,8 (1,3-34,6)].

Conclusões/Considerações
Quase metade dos estudos que associam vitamina D e COVID-19 apresentaram CDI. Omissão da declaração de financiamento e ausência de divulgação do papel do patrocinador foram frequentes. Presença de CDI parece introduzir vieses na conclusão dos estudos sobre essa temática. Para mitigar a influência do financiamento privado na ciência e na saúde pública são necessárias prevenir e tornar transparentes situações de CDI na pesquisa biomédica.