Sessão Assíncrona


SA3.39 - DESAFIOS DO ENFRENTAMENTO DA VIOLENCIA (TODOS OS DIAS)

43150 - O ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER E O ATENDIMENTO A CASOS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: DESAFIOS PARA A GESTÃO
BEATRIZ DINIZ KALICHMAN - USP, LILIA BLIMA SCHRAIBER - USP, CECÍLIA GUIDA VIEIRA GRAGLIA - USP, JANAÍNA MARQUES DE AGUIAR - USP, MARINA SILVA DOS REIS - USP, NAYARA PORTILHO LIMA - USP, STEPHANIE PEREIRA - USP, YURI NISHIJIMA AZEREDO - USP, ANA FLÁVIA LUCAS PIRES D’OLIVEIRA - USP


Apresentação/Introdução
A dificuldade de transformar a violência doméstica contra a mulher (VDCM) em objeto de trabalho da saúde, devida à racionalidade biomédica, coloca desafios específicos à gestão das Unidades Básicas de Saúde (UBS) que, no caso paulistano, devem ser pensados dentro do contexto da Atenção Primária à Saúde (APS) gerida por entidades privadas (EPs) subordinadas à Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

Objetivos
Entender, com foco na gestão, barreiras e facilitadores à implementação de uma intervenção para fortalecer a resposta da APS ao cuidado dos casos de VDCM para, a partir deles, pensar as especificidades da lida com a violência para a gestão das UBS.

Metodologia
Pesquisa qualitativa exploratória. Este trabalho integra pesquisa multicêntrica que teve como objetivo adaptar, implementar e avaliar uma intervenção para fortalecer a resposta da APS ao cuidado dos casos de VDCM. Participaram do estudo 8 Unidades Básicas de Saúde (UBS) em dois territórios da cidade de São Paulo. Entre julho de 2019 e agosto de 2021, 15 entrevistas semi-estruturadas foram conduzidas com os 8 gerentes das UBS, antes e após a intervenção, sendo gravadas em áudio e transcritas. Os dados foram analisados segundo análise de conteúdo, surgindo as categorias analíticas: 1. Obstáculos para a implementação da intervenção; 2. Facilitadores para a implementação da intervenção.

Resultados
Identificamos como obstáculos: falta e rotatividade de profissionais; metas assistenciais limitando o tempo de consulta; pouca privacidade devido à estrutura física dos serviços; duplo mando entre EPs e a SMS; baixa priorização da violência pelas instâncias superiores, com demandas consideradas pouco úteis para o trabalho com o tema; e sobrecarga de demandas administrativas e sua perda de sentido. Como facilitadores, os entrevistados citaram: respeito da pesquisa ao tempo e às necessidades da UBS; o caráter prático da intervenção; e a possibilidade de autonomia para organizar o tempo e o trabalho. Identificamos também diferenças significativas entre as EPs envolvidas na gestão das UBS.

Conclusões/Considerações
As complexidades da atenção à VDCM parecem exacerbar dificuldades já enfrentadas pela gestão das UBS ao exigir dos serviços mais tempo, espaço e flexibilidade em um contexto de precarização. Além disso, a dificuldade de transformar a violência em objeto do trabalho na saúde parece também refletida na escassez de métricas e instrumentos que possam visibilizar esse trabalho para a gestão, dificultando a implantação e monitoramento de ações.